segunda-feira, 29 de abril de 2013

O HOMEM NA ALIANÇA DA GRAÇA

I. Nome e Conceito da Aliança A. O Nome. 1. NO VELHO TESTAMENTO. A palavra hebraica para aliança é sempre berith, de derivação incerta. A opinião mais geral é a de que deriva do verbo hebraico barah, cortar, e que, portanto, contém uma reminiscência da cerimônia mencionada em Gn 15.17. mas alguns preferem pensar que deriva da palavra assíria beritu, que significa “ligar”, “atar”. Isto levaria logo a entender a aliança como um laço. A questão da derivação não tem grande importância para a elaboração da doutrina. A palavra berith pode indicar um acordo mútuo voluntário (diplêurico), mas também uma disposição ou um arranjo imposto por uma parte a outra (monoplêurico).* Seu sentido exato não depende da etimologia da palavra, nem do desenvolvimento histórico do conceito, mas, simplesmente das partes interessadas. Na medida em que uma das partes é subordinada e tem menos que dizer, a aliança adquire o caráter de uma disposição ou de um arranjo imposto por uma ou outra parte. Berith, então, vem a ser sinônimo de choq (estatuto ou ordenança determinada), Ex. 34.10; Is 59.21; Jr 31.36; 33.20; 34.13. Daí vemos também que Karath beith (cortar uma aliança) é expressão que se constrói não somente com as preposições ‘am e ben (com), mas também com lamedh (a, para), Js 9.6; Is 55.3; 61.8; Jr 32.40. naturalmente, quando Deus estabelece uma aliança com o homem, este caráter monoplêurico fica em muita evidência pois Deus e o homem não são partes iguais. Deus é o Soberano que impõe as Suas ordenanças às Suas criaturas. 2. NO NOVO TESTAMENTO. Na Septuaginta a palavra berith é traduzida por diatheke em todas as passagens em que ocorre, exceto em Dt 9.15 (martyrion) e 1 Rs 11.11 (entole). A palavra diatheke foi limitada a este uso, exceto em quatro passagens. Este uso da palavra parece, com efeito, peculiar, em vista do fato de que ela não é a palavra grega habitualmente empregada para designar aliança, mas, na verdade, indica uma disposição ou arranjo e, conseqüentemente, também um testamento. A palavra ordinariamente utilizada com referência a aliança é syvtheke. Os tradutores tiveram a intenção de substituir a idéias de aliança por outra? Evidentemente não, pois em Is 28.15 eles empregam as duas palavras sinonimamente, e ali diatheke significa evidentemente um pacto ou acordo. Daí, não atribuem este sentido a diatheke .Mas permanece a questão: Por que evitam eles tão geralmente o uso de syntheke e a substituem por uma palavra que denota disposição e não acordo? Com toda a probabilidade, a razão jaz no fato de que no mundo grego a idéia de aliança expressa por syntheke baseava-se tão amplamente na igualdade legal das partes que não podia, sem considerável modificação, ser incorporada no sistema escriturístico de pensamento. A idéia de que a prioridade pertence a Deus no estabelecimento da aliança, e de que Ele impõe soberanamente a Sua aliança ao homem, estava ausente da palavra grega usual. Daí a substituição desta pela palavra em que essa idéia era proeminente. Assim, semelhantemente a muitas outras palavras, a palavra diatheke recebeu novo significado, quando se tornou veículo do pensamento divino. Esta mudança é importante, em relação ao uso neotestamentário da palavra. Tem havido considerável diferença de opinião a respeito da apropriada tradução da palavra. Em cerca da metade das passagens nas quais ocorre, as versões Holandesa e Autorizada (AV) a traduzem por “aliança”. Enquanto que na outra metade, por “testamento”. A versão Revista Americana (ARV), porém, a traduz por “aliança” em toda parte, menos em Hb 9.156,17.* Não é senão natural, pois, que se levante a questão: Qual é o sentido neotestamentário da palavra? Alguns alegam que ela tem o seu sentido clássico de disposição ou testamento onde quer que se ache, no Novo Testamento, ao passo que outros afirmam que significa testamento nalguns lugares, mas que na grande maioria das passagens a idéia de aliança está proeminentemente em primeira plana. Este é indubitavelmente o conceito correto. Era de esperar, aprioristicamente, que o uso neotestamentário geralmente estaria de acordo com o da LXX; e um cuidadoso estudo das passagens pertinentes mostra que as versões que, como a Versão Revista Americana (ARV), traduzem diatheke por “testamento” somente em Hb 9.16, 17, estão na trilha certa, sem dúvida nenhuma. Com toda a probabilidade, não há nenhuma outra passagem onde esta tradução estaria certa, nem mesmo 2 Co 3.6,14. O fato de que várias traduções do Novo Testamento usam “testamento” em lugar de “aliança” em tantas passagens deve-se provavelmente a três causas: (a) o desejo de acentuar a prioridade de Deus na transação: (b) a suposição de que a palavra deve, quanto possível, ser traduzida em harmonia com Hb 9.16, 17; e (c) a influência da tradução latina, que uniformemente verteu diatheke para “testamentum”. B. O conceito. A idéia da aliança desenvolveu-se na história antes de Deus fazer uso formal do conceito na revelação da redenção. Foram feitas alianças entre os homens muito tempo antes de Deus estabelecer a Sua aliança com Noé e com Abraão, e isso preparou os homens para entenderem o sentido de uma aliança num mundo dividido pelo pecado, e os ajudou a compreenderem a revelação divina, quando esta apresentou a relação do homem com Deus em termos de uma relação pactual. Não significa, porém, que a idéia da aliança se originou do homem, sendo posteriormente copiada por Deus como uma forma apropriada de descrição da relação mútua entre Ele e o homem. O oposto é a verdade; o arquétipo de toda vida pactual acha-se no ser trinitário de Deus, e o que ser vê entre os homens é apenas uma pálida cópia (éctipo) do modelo divino. Deus ordenou a vida do homem de modo que a idéia da aliança nela se desenvolvesse como uma das colunas da vida social e, depois de desenvolvida, Ele introduziu formalmente como expressão da relação existente entre Ele e o homem. A relação pactual entre Deus e o homem existe desde o princípio mesmo e, portanto, já existia muito antes do estabelecimento formal da aliança com Abraão. Embora a palavra berith seja empregada muitas vezes com referencia a alianças entre os homens, sempre inclui uma idéia religiosa. Uma aliança é um pacto ou acordo entre duas partes ou mais. Pode ser, e entre os homens geralmente o é, um acordo a que as partes, que podem encontrar um terreno básico de igualdade, chegam voluntariamente, depois de uma cuidadosa estipulação de seus deveres e privilégios mútuos; mas também pode ser da natureza de uma disposição ou de um arranjo imposto por uma parte superior à outra, que lhe é inferior, sendo aceito por esta. Geralmente é ratificado por uma cerimônia solene, com a consciência da presença de Deus, e, com isso, obtém caráter inviolável cada parte de obriga ao cumprimento de certas promessas, com base nas condições estipuladas. Agora, não devemos dizer que não podemos falar com propriedade de uma aliança entre Deus e o homem pelo fato de serem desiguais as partes e, daí, partir do pressuposto de que a aliança da graça nada mais é, senão a promessa de salvação na forma de uma aliança. Se a aliança da graça nada mais é, senão a promessa de salvação n forma de uma aliança. Se o fizermos, não faremos justiça à idéia da aliança revelada na escritura. É mais que certo que, tanto a aliança das obras (como subseqüentemente se verá) como a aliança da graça, são originariamente monoplêuricas, são de natureza de arranjos ordenados e instituídos por Deus, e Deus tem a prioridade em, ambas; mas, sem embargo, são alianças. Por Sua graça, Deus condescendeu em baixar ao nível do homem e a honrá-lo, tratando-o mais ou menos na base da igualdade. Ele estipula as Suas exigências e outorga as Suas promessas e o homem assume os seus deveres assim impostos a ele e, desta maneira, herda as bênçãos divinas. Na aliança das obras o homem não podia satisfazer as exigências da aliança, em virtude dos seus dotes naturais, mas na aliança da graça ele é capacitado a satisfazê-las, unicamente pela influencia regeneradora e santificante do Espírito Santo. Deus realiza no homem o querer e o efetuar, concedendo-lhe de graça tudo quanto dele requer. Chama-se aliança da graça porque é a revelação ímpar da graça de Deus, e porque o homem recebe todas as bênçãos prometidas na aliança como dádivas da graça divina. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 260)

A Aliança da Redenção

A. A discussão Separada Disto é Desejável. Há diferentes explanações a respeito das partes da aliança da graça. Alguns entendem que são o Deus triúno e o homem, este sem qualificação ou qualificado de algum modo, como por exemplo, “o pecador”, “o eleito” ou “o homem em Cristo”; outros entendem que são Deus o Pai, representando a Trindade, e Cristo, representando os eleitos; outros ainda, desde o dia de Coccejus (Coceio), distinguem as duas alianças, a saber, a aliança da redenção (pactum salutis) entre o Pai e o Filho, e, baseada nesta, a aliança da graça entre o Deus triúno e os eleitos, ou entre Aquele e o pecador eleito. Dessas explanações, a segunda leva certa vantagem, de um ponto de vista sistemático. Pode reivindicar o apoio de passagens como Rm 5.12-21 e 1 Co 15.21, 22, 47-49, e salienta a inseparável conexão que há entre o pactum salutis e a aliança da graça. Ela põe em relevo a unidade da aliança em Cristo. Defendem-na, entre outros, Boston, Gib, Dick, A. Kuyper, H Kuyper e A.Kuyper Jr. Todavia, a terceira explanação é mais precisa, mais fácil de entender e, portanto, mais proveitosa numa discussão prática da doutrina da aliança. Ela evita muita confusão que incide sobre a outra teoria, e é seguida pela maioria dos teólogos reformados (calvinistas), como Mastricht, à Marck, Turretino, Witsius, Heppe, os Hodge, Shedd, Vos, Bavinck e Honing. Não há diferença essencial entre essas duas explanações. Diz o Dr. Hodge: “Não há diferença doutrinária entre os que preferem uma exposição às outra; entre os que encerram todos os fatos da Escritura relativos a este assunto numa só aliança entre Deus e Cristo como o representante do Seu povo, e os que os distribuem em duas alianças”. Sendo assim, está fora de dúvida que a terceira maneira de apresentar a matéria merece a preferência. Mas, ao segui-la, devemos atentar para o que diz Shedd: “Apesar desta distinção (entre a aliança da redenção e a da graça) ser favorecida pelas afirmações bíblicas, não se segue que há duas alianças separadas e independentes, em antítese à aliança das obras. A aliança da graça e a da redenção são dois modos ou duas fases da única aliança evangélica da misericórdia”. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 261)

Dados Bíblicos Quanto à Aliança da Redenção

O nome “conselho de paz” é derivado de Zc 6.13.* Coceio e outros viam nesta passagem referencia a um acordo entre o pai e o Filho. Foi um erro, pois as palavras se referem à união dos ofícios real e sacerdotal do messias. O caráter escriturístico do nome não pode ser defendido, mas, naturalmente, isto não põe em descrédito a realidade do conselho de paz. A doutrina deste conselho eterno repousa na seguinte base escriturística: 1. A escritura indica claramente o fato de que o plano da redenção estava incluído no decreto ou conselho eterno de Deus, Ef 1.4 em diante; 3.11; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9; Tg 2.5; 1 Pe 1.2 etc. Pois bem, vemos que na economia da redenção, em certo sentido, há uma divisão de trabalho: o Pai é o originador, o Filho o executor e o Espírito Santo o aplicador. Isto só pode ser resultado de um acordo voluntário entre as pessoas da Trindade, de sorte que as Suas relações internas assumem a forma de uma vida pactual. De fato, é exatamente na vida trinitária que vemos o arquétipo das alianças históricas; vemos nela uma aliança no sentido próprio e mais completo da palavra, encontrando-se as partes num terreno de igualdade – uma verdadeira Syntheke. 2. Há passagens da Escritura que não somente mostram que o plano divino de salvação dos pecadores é eterno, Ef 1.4; 3.9,11, mas também indicam que esse plano é da natureza de uma aliança. Cristo fala das promessas a Ele feitas antes do Seu advento, e repetidamente se refere a uma comissão ou delegação de poderes que recebeu do Pai, Jo 5.30, 43; 6.38-40; 17.4-12. E em Rm 5.12-21 e 1 Co 15.22, Ele é claramente considerado o chefe representativo, isto é, o chefe de uma aliança. 3. Sempre temos os elementos essenciais de uma aliança, a saber, partes contratantes, promessas e condição ou condições, temos uma aliança. No Sl 2.7-9 mencionam-se as partes e se indica uma promessa. O caráter messiânico desta passagem é afiançado por At 13.33; Hb 1.5; 5.5. No Sl 40.7-9, também atestado como messiânico pelo Novo Testamento, (Hb 10.5-7), o Messias expressa a Sua prontidão para fazer a vontade do pai tornando-se um sacrifício pelo pecado. Cristo fala repetidamente de uma tarefa que o Pai Lhe confiou, Jo 6.38, 39; 10.18; 17.4. A declaração registrada em Lc 22.29 é particularmente significativa: “Assim como o Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio”. O verbo empregado aqui é diatithemi, do qual deriva a palavra diatheke, e cujo sentido é designar por disposição voluntária, testamento ou aliança. Além disso, em Jo 17.5 Cristo reivindica uma recompensa, em Jo 17.6, 9, 24 (cf. também Fp 2.9-11), Ele se refere ao Seu povo e à Sua glória vindoura como uma recompensa a Ele dada pelo Pai. 4. Há duas passagens veterotestamentárias que ligam diretamente a idéia da aliança ao Messias, a saber, o Sl 89.3, que se baseia em 2 Sm 7.12-14, e que Hb 1.5 prova tratar-se de uma passagem messiânica; e Is 42.6, onde a pessoa aludida é o Servo do Senhor. O contexto mostra claramente que este Servo não é simplesmente Israel. Além disso, há passagens nas quais o Messias fala de Deus como Seu Deus, a saber, Sl 22.1, 2 e 30.8, empregando assim a linguagem pactual de hábito. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 262)

O Filho na Aliança da Redenção

1. A POSIÇÃO OFICIAL DE Cristo NESTA ALIANÇA. A posição de Cristo na aliança da redenção é dupla. Em primeiro lugar, Ele é Penhor ou Fiador (grego eggyos); a palavra grega é usada somente em Hb 7.22. A derivação desta palavra é incerta e, daí, não nos pode ajudar a estabelecer o seu sentido. Mas este não é duvidoso. Penhor ou Fiador é aquele que se faz responsável pelo cumprimento das obrigações legais de outrem. Na aliança da redenção Cristo se encarregou de expiar os pecados do Seu povo, sofrendo pessoalmente a punição necessária, e de satisfazer as exigências da lei pelo mesmo povo. E, ao tomar o lugar do homem delinqüente, Ele se fez o ‘’ultimo Adão e, como tal, é o Chefe da aliança, o Representante de todos quantos o Pai Lhe deu. Então, na aliança da redenção Cristo é o Penhor ou Fiador e o Chefe. Ele tomou sobre Si as responsabilidades do Seu povo. É também o seu Fiador na aliança da graça, que desabrocha da aliança da redenção. Tem-se levantado a questão, se o ofício de Cristo como Penhor ou Fiador no conselho de paz foi condicional ou incondicional. A jurisprudência romana reconhece dois tipos de fiador, um designado fidejussor e o outro expromissor. O primeiro é condicional; o segundo é incondicional. O primeiro é um fiador que se encarrega de pagar por outra pessoa, dado que esta não paga o que deve. O peso da culpa permanece sobre os ombros da parte culpada até a hora do pagamento. O segundo, porém, é um fiador que se encarrega incondicionalmente de pagar de pagar por outrem, livrando imediatamente a parte culpada da sua responsabilidade. Coceio e sua escola sustentavam que, no conselho de paz, Cristo se fez fidejussor e que, conseqüentemente, os crentes do tempo do Velho Testamento não gozavam pleno perdão dos pecados. Inferiam de Rm 3.25 que para aqueles santos só havia uma paresis, um passar por alto o pecado, e não a aphesis, isto é, o perdão completo, enquanto Cristo não fez realmente a expiação pelo pecado. Entretanto, os seus oponentes afirmavam que Cristo encarregou-se incondicionalmente de prestar satisfação por Seu povo e, portanto, foi um fiador no sentido especifico de expromissor. Esta é a única posição sustentável, pois: (a) Os crentes veterotestamentários receberam plena justificação ou perdão, embora o seu conhecimento disto não fosse tão completo e tão claro como é na dispensação do Novo testamento. Não há diferença essencial entre a situação dos crentes do Velho Testamento e a dos crentes do Novo, Sl 32.2, 2, 5; 51.1-3, 9-11; 103.3, 12; Is 43.25; Rm 3.3, 6-16; Gl 3.6-9. A posição de Coceio lembra uma das posições dos católicos romanos, com o seu Limbus Patrum. (b) A teoria de Coceio faz a obra de Deus, em Sua provisão para a redenção dos pecadores, depender da incerta obediência do homem, de maneira inteiramente sem base. Não há sentido em dizer que Cristo se fez fiador condicional, como se ainda fosse possível ao pecador pagar por si mesmo. A provisão para a redenção dos pecadores é absoluta. Não equivale a dizer que Ele não trata o pecador como pessoalmente culpado enquanto não for justificado pela fé, pois o que Deus faz é exatamente isso. (c) Em Rm 3.25, a passagem a que Coceio recorre, o apóstolo emprega a palavra paresis (deixar de lado ou passar por alto), não porque os crentes individuais da dispensação do Velho Testamento não receberam pleno perdão do pecado, mas porque, durante o tempo daquela dispensação, o perdão do pecado tinha a forma de uma paresis, dado que o pecado não fora adequadamente punido em Cristo e a justiça absoluta de Cristo não fora revelada na cruz. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 263)

O CARÁTER DESTA ALIANÇA ASSUMIDA POR CRISTO

Conquanto seja um fato que a aliança da redenção constitui a base eterna da aliança da graça e, no que interessa aos pecadores, constitui também o seu protótipo eterno, para Cristo foi uma aliança das obras, e não da graça. Para Ele a lei da aliança original estava em vigor, a saber, que a vida eterna só poderia ser obtida pelo cumprimento das exigências da lei. Como o último Adão, Cristo obtém a vida eterna para os pecadores como recompensa por Sua fiel obediência, e de modo nenhum como uma dádiva imerecida da graça. E aquilo que Ele fez, na qualidade de Representante e Fiador de todo o Seu povo, este já não tem a obrigação de fazer. A obra está realizada, a recompensa é merecida, e os crentes são feitos participantes dos frutos da obra consumada, mediante a graça. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 265)

A OBRA REALIZADA POR Cristo NA ALIANÇA, LIMITADA PELO DECRETO DA ELEIÇÃO

Alguns identificam a aliança da redenção com a eleição, mas é evidente que é um erro. A eleição faz referência à seleção das pessoas destinadas a serem herdeiras da glória eterna em Cristo. Por outro lado, o conselho de redenção se refere ao modo e aos meios pelos quais a graça e a glória são preparadas para os pecadores. Na verdade, a eleição também faz referencia a Cristo e conta com Cristo, pois se afirma que os crentes são eleitos nele. Num sentido, Cristo mesmo é objeto da eleição, mas no conselho de redenção Ele é uma das partes contratantes. O Pai trata o filho como Fiador do Seu povo. Logicamente, a eleição precede ao conselho de redenção, porquanto a obra realizada por Cristo na qualidade de Fiador, como a Sua obra expiatória, é particular. Se não houvesse uma eleição prévia, ela seria necessariamente universal. Além disso, inverter os termos seria equivalente a fazer da fiança de Cristo a base da eleição, mas a Escritura baseia a eleição inteiramente no beneplácito de Deus. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 265)

RELAÇÃO DOS SACRAMENTOS USADOS POR CRISTO COM A ALIANÇA

Cristo fez uso dos sacramentos do Velho Testamento. É evidente, contudo, que eles não podiam significar para Ele o que de fato significam para os crentes. No caso dele, não podiam ser nem símbolos nem selos da graça salvadora; tampouco podiam servir de instrumentos para fortalecimento da fé salvadora. Se distinguirmos, como estamos fazendo, entre a aliança da redenção e a aliança da graça, será fácil ver que, para Cristo, os sacramentos, com toda a probabilidade, tinham que ver com aquela, e não com esta. Na aliança da redenção, Cristo se incumbiu de satisfazer as exigências da lei. Estas assumiram forma definida quando Cristo esteve na terra, e também incluíam regulamentos religiosos positivos. Os sacramentos faziam parte desta lei e, portanto, Cristo teve que sujeitar-se a eles, Mt 3.15. Ao mesmo tempo, eles puderam servir de selos das promessas que o Pai fizera ao filho. Pode-se levantar contra esta explicação a objeção de que, na verdade, os sacramentos são símbolos e selos próprios para remover o pecado e para nutrir a vida espiritual, mas, pela natureza do caso, não podiam ter este significado para Cristo, que não tinha pecado e não precisava de nutrição espiritual. Pode-se responder satisfatoriamente à objeção, pelo menos em certa medida, chamando a atenção para o fato de que Cristo apareceu na terra com habilitação pública e oficial. Embora não tenha nenhum pecado pessoal, e, portanto, nenhum sacramento pudesse simbolizar e selar, em favor dele, a remoção do pecado, não obstante, Ele foi feito pecado por Seu povo, 2 Co 5.21, levando sobre Si o peso da sua culpa; e, conseqüentemente, os sacramentos podiam simbolizar a remoção deste peso, de acordo com a promessa do Pai, depois que Ele completasse a Sua obra expiatória. Ainda, conquanto não possamos falar de Cristo como exercendo a fé salvadora, no sentido em que isto se requer de nós, todavia, como Mediador Ele teve que exercer a fé num sentido mais amplo, aceitando com fé as promessas do Pai, e confiando no Pai quanto ao seu suprimento. E os sacramentos podiam servir de sinais e selos para fortalecer esta fé, naquilo que era concernente à Sua natureza humana. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 265)

Requisitos e Promessas da Aliança da Redenção

1. REQUISITOS. O Pai exigiu do Filho que comparecesse nesta aliança como Fiador e Chefe do Seu povo, e como último Adão, para que fizesse correções pelo pecado de Adão, e dos que o Pai Lhe dera, e fizesse o que Adão deixou de fazer, guardando a lei e, assim, garantindo a vida eterna a toda a Sua progênie espiritual. Este requisito incluía as seguintes particularidades: a. Que Ele assumisse a natureza humana nascendo de uma mulher, e assim adentrasse as relações temporais; e que assumisse esta natureza com as suas presentes fraquezas, mas sem pecado, Gl 4.4,5; Hb 2.10, 11, 14, 15; 4.15. Era absolutamente essencial que Ele se tornasse membro da raça humana. b. Que Ele, como o Filho de Deus e superior à lei, se colocasse debaixo da lei; que Ele entrasse, não apenas na relação natural com a lei, mas também na relação penal e federal com ela, a fim de pagar a penalidade pelo pecado e merecesse a vida eterna para os eleitos, Sl 40.8; Mt 5.17, 18; Jo 8.28, 29; Gl 4.4; Fp 2.6-8. c. Que Ele, depois de merecer o perdão dos pecados e a vida eterna para os Seus, aplicasse a estes os frutos dos Seus méritos: o perdão completo e a renovação das suas vidas pela poderosa operação do Espírito Santo. Fazendo isto, Ele tornaria absolutamente certo e seguro que os crentes consagrariam as suas vidas a Deus, Jo 10.16; 16.14, 15; 17.12, 19-22; Hb 2.10-13; 7.25. 2. PROMESSAS. As promessas do Pai correspondem aos requisitos exigidos para a realização da Sua grandiosa e compreensiva tarefa, excluindo com isso toda incerteza quanto ao êxito operacional desta aliança. Eis o que estas promessas incluíam: a. Que Ele prepararia um corpo para o Filho, corpo que seria um tabernáculo próprio para Ele; um corpo em parte preparado pela ação imediata de Deus e não contaminado pelo pecado, Lc 1.35; Hb 10.5. b. Que Ele O dotaria dos necessários dons e graças para a realização da Sua tarefa, e particularmente O ungiria para os ofícios messiânicos, dando-lhe o Espírito sem medida – promessa cumprida especialmente no Seu batismo, Is 42.1, 2; 61.1; Jo 3.31. c. Que Ele O apoiaria na realização da Sua obra, livrá-Lo-ia do poder da morte habilitando-o, assim, a destruir os domínios de Satanás e a estabelecer o reino de Deus, Is 42.1-7; 49.8; Sl 16.8-11; At 2.25-28. d. Que Ele O capacitaria, como recompensa por Sua obra consumada, a enviar o Espírito Santo para a formação do Seu corpo espiritual, e para a instrução, direção e proteção da igreja, Jo 14.26; 15.26; 16.13, 14; At 2.33. e. Que Ele Lhe daria numerosa semente em recompensa por Sua obra consumada, uma tão numerosa semente que seria uma incontável multidão, de modo que, finalmente, o reino do Messias abarcaria o povo de todas as nações e línguas, Sl 22.27; 72.17. f. Que Ele O comissionaria, delegando-lhe todo o poder, no céu e na terra, para o governo do mundo e de Sua igreja, Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.9-11; Hb 2.5-9; e finalmente O recompensaria, como Mediador, com a glória que, como Filho de Deus, tinha com o Pai antes de existir o mundo, Jo 17.5. E. Relação desta Aliança com a Aliança da Graça. Os seguintes pontos indicam a relação existente entre esta aliança e a aliança da graça: 1. O conselho de redenção é o eterno protótipo da aliança histórica da graça. Isto explica o fato de muitos combinarem as duas numa só aliança. Aquela é eterna, isto é, é oriunda da eternidade, e esta é temporal, no sentido de que se concretiza no tempo. Aquela consiste num pacto entre o Pai e o Filho, como o Fiador e o Chefe dos eleitos, enquanto que esta consiste num pacto entre o Deus triúno e o pecador eleito no Fiador. 2. O conselho de redenção é o firme e eterno fundamento da aliança da graça. Se não tivesse havido nenhum conselho de paz entre o Pai e o Filho, não poderia ter havido nenhum acordo entre o Deus triúno e os homens pecadores. O conselho de redenção torna possível a aliança da graça. 3. Conseqüentemente, o conselho de redenção também dá eficácia à aliança da graça, pois naquele são providenciados os meios para o estabelecimento e a execução desta. É somente pela fé que o pecador pode obter as bênçãos da aliança, e no conselho de redenção abre-se o caminho da fé. O Espírito Santo, que produz a fé no coração do pecador, foi prometido a Cristo pelo Pai, e a aceitação do caminho da vida pela fé foi garantida por Cristo. Pode-se definir a aliança da redenção como o acordo entre o Pai, dando o Filho como o Chefe e Redentor dos eleitos, e o Filho, tomando voluntariamente o lugar dos que Lhe foram dados pelo Pai. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 266)

Comparação da Aliança da Graça com a Aliança das Obras

1. PONTOS DE SEMELHANÇA. Os pontos de acordo são de natureza geral. As duas alianças concordam quanto (a) ao autor: Deus é o autor de ambas; somente Ele poderia estabelecer tais alianças; (b) às partes contratantes que, em ambos os casos, são Deus e o homem; (c) à forma externa, a saber, a condição e promessa; (d) ao conteúdo da promessa que, nos dois casos, é a vida eterna; e (e) ao objetivo geral, que é a glória de Deus. 2. PONTOS DE DIFERENÇA. (a) na aliança das obras Deus comparece como Criador e Senhor; na aliança da graça, como Redentor e pai. O estabelecimento daquela foi motivado pelo amor e bondade de Deus; o desta, por Sua misericórdia e graça especial. (b) Na aliança das obras o homem comparece simplesmente como criatura de Deus, corretamente relacionada com o seu Deus; na aliança da graça ele comparece como um pecador que perverteu os caminhos, e só pode comparecer como parte, em Cristo, o Fiador. Conseqüentemente, não há mediador naquela, ao passo que nesta há. (c) A Aliança das obras dependia da incerta obediência de um homem mutável, enquanto que a aliança da graça repousa na obediência de Cristo como Mediador, que é absoluta e certa. (d) Na aliança das obras a guarda da lei é o caminho da vida; na aliança da graça é a fé em Jesus Cristo. Qualquer fosse a fé requerida na aliança das obras, fazia parte da justiça da lei ; na aliança da graça, porém, a fé é simplesmente o instrumento pelo qual tomamos posse da graça de Deus em Jesus Cristo. (e) A aliança das obras era parcialmente conhecida por natureza, uma vez que a lei de Deus foi escrita no coração do homem; mas a aliança da graça é conhecida exclusivamente pela revelação especial positiva. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 268)

AS PARTES CONSTANTES NA ALIANÇA

Como na aliança das obras, na aliança da graça Deus é a primeira parte contratante, a parte que toma a iniciativa, e por Sua graça determina a relação que a segunda parte manterá com Ele. Contudo, Ele comparece nesta aliança não apenas como um Deus soberano e bondoso, mas também, e especialmente, como um Pai misericordioso e perdoador, disposto a perdoar o pecado e a restaurar os pecadores à Sua bem-aventurada comunhão. Não é fácil determinar precisamente quem é a segunda parte. Em geral se pode dizer que, naturalmente, Deus estabeleceu a aliança da graça como o homem decaído. Historicamente, não há nenhuma indicação definida de qualquer limitação, até chegarmos ao tempo de Abraão. No transcorrer do tempo, porém, ficou perfeitamente evidente que esta nova relação pactual não visava a inclusão de todos os homens. Quando Deus estabeleceu formalmente a aliança com Abraão, Ele a limitou ao patriarca e sua semente. Conseqüentemente, surge a questão quanto aos limites exatos da aliança. Os teólogos reformados (calvinistas) não são unânimes na resposta a esta questão. Alguns dizem simplesmente que Deus fez a aliança com o pecador, mas isto não sugere limitação nenhuma e, portanto, não satisfaz. Outros asseveram que Ele a estabeleceu com Abraão e sua semente, isto é, seus descendentes naturais, mas, especialmente seus descendentes espirituais; ou, colocando-o numa forma geral, com os crentes e sua semente. Contudo, a grande maioria deles sustenta que Deus entrou em relação pactual com os eleitos ou com o pecador eleito em Cristo. Esta posição foi tomada tanto pelos primeiros como pelos mais recentes representantes da teologia federal. Mesmo Bullinger afirma que “a aliança de Deus inclui a semente completa de Abraão, isto é, os crentes”. Acha ele que isso está em harmonia com a interpretação que Paulo faz de “semente” em Gl 3.* Ao mesmo tempo, ele afirma também que, em certo sentido, os filhos dos crentes estão incluídos na aliança. E Oleviano, co-autor com Ursino do catecismo de Heidelberg, assevera que Deus estabeleceu a aliança com “todos os que Deus, da multidão de perdidos decretou adotar pela graça como filhos, e dotar de fé”. Esta é também posição de mastricht, Turretino, Owen, Gib, Boston, Witsius, à Marck, Francken, Brakel, Comrie, Kuyper, Bavinck, Hodge, Vos e outros. Mas Surge agora a questão: “O que terá induzido esses teólogos a falar que a aliança foi feita com os eleitos, a despeito de todas as dificuldades práticas envolvidas?” Não estariam cientes dessas dificuldades? Segundo os seus escritos, parece que estavam plenamente cônscios delas. Mas achavam que era necessário considerar a aliança primeiramente em seu sentido mais profundo, como concretizada nas vidas dos crentes . Apesar de entenderem que, nalgum sentido da palavra, outros tinham um lugar na aliança, não obstante, achavam que este era um lugar subordinado, e que a relação deles com a aliança fora planejada para ser subserviente à plena realização dela numa vida de comunhão com Deus. E com isso não é surpreendente, em vista das seguintes ponderações: 1. Os que identificam a aliança da redenção e a aliança da graça e consideram antibíblico distinguir entre ambas, naturalmente entendem que a aliança primeiramente foi estabelecida com Cristo como o Chefe representante dos que o pai Lhe seu: aliança na qual Ele se fez Fiador dos eleitos e, assim, garantiu a sua redenção completa. De fato, na aliança da redenção, somente os eleitos entram em consideração. A situação é praticamente a mesma no caso dos que distinguem as duas alianças, mas insistem em sua estreita relação mútua e descrevem a aliança de redenção como base da aliança da graça, pois, na primeira somente a graça de Deus, glorificada e manifestada perfeitamente nos eleitos, entra em consideração. 2. Mesmo na história do estabelecimento da aliança com Abraão, interpretada à luz do restante da escritura, os teólogos reformados (calvinistas) encontraram farta prova de que, fundamentalmente, a aliança da graça é uma aliança estabelecida com aqueles que estão em Cristo. A Bíblia distingue uma dupla semente de Abraão. O princípio disto acha-se definidamente em Gn 21.12, onde vemos Deus dizendo a Abraão: “Em Isaque será chamada a tua semente” (Almeida, Rev e Corr). Interpretando estas palavras, Paulo fala de Isaque como o filho da promessa e, com a expressão “filho da promessa”, ele não se refere simplesmente a um filho prometido, mas, sim, a um filho que não nasceu pelo processo comum, e, sim, em virtude de uma promessa, nasceu graças a uma operação sobrenatural de Deus. Ele também lida com esta idéia a de um filho a quem pertence a promessa. Segundo ele, a expressão, “em Isaque será chamada a tua semente”, indica que “estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9.8). A mesma idéia é expressa em Gl 4.28, “Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque”,* e, como tais, também herdeiros das bênçãos prometidas, vers. 30. Isso está em perfeita harmonia com o que o apóstolo diz em Gl 3.16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente.** Não diz: E os descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”. Mas a semente não se limita a Cristo; inclui todos os crentes. “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”, Gl 3.29. Em sua obra intitulada Dissertação Sobre as Duas Alianças (Discurse of the Two Covenants), W. Strong chama a atenção para a seguinte subordinação, no estabelecimento da aliança: Diz ele que ela foi feita “(1) primeira e imediatamente com Cristo, o segundo Adão; (2) nele, com todos os fiéis; (3) neles, com a sua semente”. . 3. Ainda outro fator deve ser levado em consideração. Os teólogos reformados (calvinistas) estavam profundamente cientes do contraste entre a aliança das obras e a aliança da graça. Sabiam que na primeira a recompensa da aliança dependia da incerta obediência do homem e, como resultado, não pôde concretizar-se, ao passo que na aliança da graça a plena realização das promessas é absolutamente segura e certa, em virtude da perfeita obediência de Jesus Cristo. Sua realização é segura, devido à operação da graça de Deus, mas, naturalmente, é segura somente para os que são participantes dessa graça. Eles se sentiram constrangidos a salientar este aspecto da aliança especialmente contra os arminianos e os neonômios, que virtualmente a transformaram numa nova aliança das obras e mais uma vez tornaram a salvação dependente da obra do homem, isto é, da fé e da obediência evangélica. Por esta razão, deram ênfase à estreita relação entre a aliança da redenção e a aliança da graça, e até hesitavam em falar da fé como a condição da aliança da graça. Diz-nos Walker que alguns dos teólogos escoceses se opunham à distinção das duas alianças por que viam nela uma “tendência....para o neonomismo, ou, como a aliança da reconciliação (isto é, a aliança da graça considerada distintamente da aliança da redenção) era externa na igreja visível, viam nela até mesmo uma espécie de barreira para um relacionamento imediato com o Salvador e para a entrada numa viva comunhão com Ele mediante uma fé apta e capacitadora.”. 4. Em suma, parece seguro dizer que a teologia reformada (calvinista) viu a aliança, não primariamente como um meio para atender a um fim, mas como um fim em si própria, uma relação de amizade; não primeiramente como representando e incluindo certo número de privilégios externos, uma série de promessas, condicionalmente estendidas ao homem, um bem meramente oferecido a ele; mas primeiramente como expressão de bênçãos dadas gratuitamente, de privilégios utilizados pela graça de Deus para fins espirituais, de promessas aceitas por uma fé que é dom de Deus, e de um bem efetuado, pelo menos em princípio, mediante a operação do Espírito Santo no coração. E porque em sua opinião tudo isso estava incluído na idéia da aliança, e as bênçãos da aliança só se realizam naqueles que efetivamente estão salvos, essa teologia acentuava o fato de que a aliança da graça foi estabelecida entre Deus e os eleitos. Mas, ao faze-lo, não tencionavam negar que a aliança tem também um aspecto mais amplo. Com referência a este conceito, diz o dr. Vos: “Het behoeft nauwelijks herinnerd to worden, hoe met dit alles geenszins bedoeld is, dat de verdbondsbediening van de verkiezing uitgaat, noch ook dat alle niet-uitverkorenen buiten iedere relatie tot deze verbonds-bediening staan. Het is veelmeer zôo bedoeld, dat uit’t gesterkt verbonds-bewustzijn de zekerheid aangaande de verkiezing zich ontwikkelen moet; dat door heel deverbonds-bediening heen, ook de volstrekte beloften Gods, zooals zij uit de verkiezing voortvloeien moeten in het oog gehouden, bij Woord en Sacrament beide; dat eindelijk het wezen des verbonds, deszelfs volle realiseering slechts bij de ware kinderen Gods wordt aangetroffen, en dus niet wijder is dan de uitverkiezing. Vooral op het tweede punt dient gelet te worden. Behalve dat er overall, waar Gods verbond bediend wordt, eene verzegeling is van dezen inhoud: In de vooronderstelling der aanwezingheid van gellof, wordt u het recht op alle verbondsgoederen verzekerd – behalve dat, zeggen wij, is er steeds plechtige en verzegeling, dat God in alle uitverkorenen den geheelen om vang des verbonds will verwerkelijken”. A idéia de que a aliança só é realizada plenamente nos leitos é uma idéia perfeitamente bíblica, como se vê, por exemplo, em Jr 31. 31-34; Hb 8.8-12. Além disso, ela está em plena harmonia com a relação da aliança da graça com a aliança da redenção. Se nesta Cristo é Fiador somente para os eleitos, então a substância real da primeira se limita necessariamente a eles também. A escritura salienta vigorosamente o fato de que a aliança da graça, em distinção da aliança das obras, é uma aliança inviolável, na qual as promessas de Deus sempre são cumpridas, Is 54.10. isto não pode ser planejado condicionalmente pois, neste caso, não seria uma característica especial da aliança da graça, mas se aplicaria à aliança das obras também. Todavia, precisamente este é um dos pontos mais importantes em que aquela difere desta, que não depende da incerta obediência do homem, mas unicamente da absoluta fidelidade de Deus. As promessas da aliança serão cumpridas com certeza, mas – somente nas vidas dos eleitos. Mas agora surge a questão se, na opinião desses teólogos reformados, todos os não eleitos estão fora da aliança da graça em todos os sentidos da palavra. Brakel virtualmente toma esta posição, mas ele não está de acordo com a maioria. Eles entendiam muito bem que uma aliança da graça que nenhum sentido da palavra incluísse outros que não os eleitos, seria puramente individual, ao passo que a aliança da graça é descrita na Escritura como uma idéia orgânica. Estavam plenamente cientes do fato de que, segundo a revelação especial de Deus, tanto no Velho como no Novo Testamento, a aliança, como fenômeno histórico, é perpetuada em sucessivas gerações e inclui muitos nos quais a vida pactual nunca se realiza. E sempre que desejavam incluir este aspecto da aliança em sua definição, diziam que ela foi estabelecida com os crentes e sua semente. Deve-se ter em mente, porém, que esta descrição da segunda parte da aliança não implica que a aliança é estabelecida com os homens na qualidade de crentes, pois a própria fé é fruto da aliança. Diz acertadamente o dr. Bavinck: “Maar het verbond der genade gaat aan het geloof vooraf. Het geloof is geen voorward tot het verbond; de weg, om al de andere goederen van dat verbond deelachtig te worden en te genieten”. A descrição “crentes e sua semente” é útil apenas como um designativo conveniente e prático dos limites da aliança. A questão de harmonizar estes dois aspectos da aliança virá mais tarde. Pode-se definir a aliança da graça como o acordo feito, com base na graça, entre o Deus ofendido e o pecador ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação mediante a fé em Cristo, e o pecador a aceita confiantemente, prometendo uma vida de fé e obediência. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 272)

O Conteúdo da Aliança da Graça

1. AS PROMESSAS DE DEUS. A principal promessa de Deus, que inclui todas as outras promessas, está contida nas seguintes palavras, freqüentemente repetidas: “serie Deus para ti e para atua semente, depois de ti”, Gn 17.7.* Encontra-se esta promessa em várias passagens do Velho e do Novo Testamentos que falam da introdução de uma nova fase da vida pactual, ou se referem a uma renovação da aliança, Jr 31.33; 32.38-40; Ez 34.23-25, 30, 31; 36.25-28; 37.26,27; 2 Co 6.16-18; Hb 8.10. A promessa será cumprida plenamente quando, afinal, a nova Jerusalém descer do céu, da parte de Deus, e o tabernáculo de Deus for montado entre os homens. Conseqüentemente, ouvimos o seu derradeiro eco em Ap 21.3. esta grande promessa ressoa muitas vezes na jubilosa exaltação dos que se acham na relação pactual com Deus: “Jeová é o meu Deus”, Esta única promessa realmente inclui todas as outras promessas, tais como: (a) a promessa de diversas bênçãos temporais, que muitas vezes servem para simbolizar as de natureza espiritual; (b) a promessa de jurisdição, incluindo a adoção de filhos e o direito à vida eterna; (c) a promessa do Espírito de Deus para a plena e livre aplicação da obra de redenção e de todas as bênçãos da salvação; e (d) a promessa de glorificação final numa vida que jamais terá fim. Cf. Jó 19.25-27; Sl 16.11; 73.24-26; Is 43.25; Jr 31.33, 34; Ez 36.27; Dn 12.2, 3; Gl 4.5, 6; Tt 3.7; Hb 11.7; Tg 2.5. 2. A RESPOSTA FAVORÁVEL DO HOMEM. Naturalmente, o assentimento ou resposta favorável do homem a essas promessas de Deus aparece em várias formas, sendo que a natureza da resposta é determinada pelas promessas. (a) Em geral, a relação entre a aliança de Deus e o crente individual ou os crentes coletivamente considerados, é representada pela íntima relação de noivo e noiva, esposo e esposa, pai e filhos. Isto implica que a resposta positiva dos que compartem as bênçãos da aliança será caracterizada por um amor verdadeiro, fiel, confiante, consagrado e devotado. (b) À promessa geral, “Eu serei o teu Deus”, o homem responde dizendo, “pertencerei ao Teu povo”, e lançado a sua sorte com o povo de Deus. (c) E à promessa de justificação para perdão de pecados, a adoção de filhos e a vida eterna, ele responde com a fé salvadora em Jesus Cristo, com a confiança depositada nele para o tempo e a eternidade, e com uma vida de obediência e consagração a Deus. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 273)

CARACTERÍSTICAS DA ALIANÇA DA GRAÇA

1. É ALIANÇA CARACTERIZADA PELA GRAÇA. Pode-se afirmar que é uma aliança caracterizada pela graça, (a) porque nela Deus permite que um Fiador cumpra as nossas obrigações: (b) porque Ele mesmo provê o Fiador na pessoa do Seu Filho, que satisfaz as exigências da justiça; e (c) porque por Sua graça, revelada na operação do Espírito Santo, Ele capacita o homem a cumprir as responsabilidades da Sua aliança. A aliança origina-se na graça de Deus, é executada em virtude da graça de Deus e se concretiza na vida dos pecadores, pela graça de Deus. É graça do começo ao fim para o pecador. 2. É ALIANÇA TRINITÁRIA. O trino Deus age na aliança da graça. Ela tem sua origem no eletivo amor e graça do pai, encontra seu fundamento jurídico no ofício de Fiador exercido pelo Filho, e só se realiza plenamente nas vidas dos pecadores pela eficaz aplicação feita pelo Espírito Santo, Jo 1.16; Ef 1.1-14; 2.8; 1 Pe 1.2. 3. É ALIANÇA ETERNA E, PORTANTO, INVIOLÁVEL. Quando falamos que a aliança é eterna, referimo-nos à eternidade futura, e não à passada, Gn 17.19; 2 Sm 23.5; Hb 13.20. Só poderemos liga-la à eternidade passada, se não fizermos distinção entre ela e a aliança da redenção. O fato de ser eterna implica também que é inviolável; e esta é uma das razões pelas quais ela pode ser chamada testamento, Hb 9.17. Deus permanecerá para sempre fiel à Sua aliança e sem sombra de variação e levará à plena realização nos eleitos. Contudo, não significa que o homem não pode romper e nunca romperá a relação pactual em que se acha. 4. É ALIANÇA PARTICULAR, NÃO UNIVERSAL. Significa (a) que ela não realizará em todos os homens, como alegam alguns universalistas, e também que Deus não teve a intenção de que se realizasse nas vidas de todos, como ensinam os pelagianos, os arminianos e os luteranos; (b) que, mesmo na qualidade de uma relação pactual externa, ela não se estende a todos aqueles a quem o Evangelho é pregado, pois muitos deles não querem ser incorporados na aliança; e (c) que a oferta da aliança não chega a todos, visto que tem havido muitos indivíduos e até nações que jamais tiveram conhecimento do meio de salvação. Alguns dos luteranos mais antigos alegam que se pode dizer que a aliança é universal porque houve períodos da história em que ela foi oferecida à raça humana toda, como, por exemplo, em Adão, em Noé e sua família, e mesmo nos dias dos apóstolos. Mas não há base para fazer de Adão e Noé recebedores representativos do oferecimento da aliança; e o certo é que os apóstolos não evangelizaram o mundo inteiro. Alguns teólogos reformados (calvinistas), como Músculo, Polano, Wolébio e outros, falavam de um foedus generale (aliança geral) em distinção de um foedus speciale ac sempiternum (aliança especial e sempiterna), mas, ao faze-lo, tinham em mente a aliança geral de Deus com todas as criaturas, homens e animais, estabelecida mediante Noé. A dispensação neotestamentária da aliança pode ser chamada universal no sentido de que, nela, a aliança é estendida a todas as nações, não se limitando mais aos judeus, como se limitava na antiga dispensação. 5. É ESSENCIALMENTE A MESMA EM AMBAS AS DISPENSAÇÕES, EMBORA COM MUDANÇAS NA FORMA DA SUA ADMINISTRAÇÃO. Esta afirmação é contraditada por todos os que declaram que os santos veterotestamentários foram salvos de maneira diferente da dos crentes neotestamentários. Exemplos dos que assumem esta posição: Os pelagianos e socinianos, que sustentam que Deus deu ajuda adicional com o exemplo e os ensinos de Cristo; os católicos romanos, que afiram que os santos do Velho Testamento ficaram no Limbus Patrum (Limbo dos Pais) até quando Cristo desceu ao hades; os seguidores de Coceio, que asseveravam que os crentes veterotestamentários só receberam uma paresis (um passar por alto) e não uma aphesis (pleno perdão dos pecados); e os dispensacionalistas atuais, que distinguem várias e diferentes aliança (Scofield menciona 7; Milligan, 9), e insistem na necessidade de mantê-las distintas. A unidade da aliança em ambas as dispensações é comprovada pelas seguintes ponderações: a. A expressão sumária da aliança é a mesma sempre, tanto no Velho como no Novo Testamento: “Eu serei o teu Deus”. Esta é a expressão do conteúdo essencial da aliança com Abraão, Gn 17.7, da aliança davídica, 2 Sm 7.14, e da nova aliança, Jr 31.33; Hb 8.10. Esta promessa é de fato um sumário totalmente abrangente, e contém uma garantia das mais perfeitas bênçãos pactuais. Do fato de que Deus é chamado Deus de Abraão, Isaque e Jacó, Cristo infere que esses patriarcas têm posse da vida eterna, Mt 22.32. b. A Bíblia ensina que há somente um único Evangelho, por meio do qual os homens podem salvar-se. E porque o Evangelho nada é senão a revelação da graça, segue-se que há também somente uma aliança. Este Evangelho já foi ouvido na promessa materna, Gn 3.15, foi pregado a Abraão, Gl 3.8, e não pode ser suplantado por nenhum evangelho judaizante, Gl 1.8,9. c. Paulo argumenta extensamente contra os judaizantes com a tese de que o modo pelo qual Abraão obteve a salvação é típico quanto aos crentes do Novo Testamento, não importando se estes eram judeus ou gentios, Rm 4.9-25; Gl 3.7-9, 17, 18. Ele fala de Abraão como o pai dos crentes e prova claramente que a aliança com Abraão continua vigente.O argumento de Paulo em Rm 4 e Gl 3 esclarece perfeitamente que a lei não anulou nem alterou a aliança. Cf. também Hb 6.13-18. d. O Mediador da aliança é o mesmo ontem, hoje e para sempre, Hb 13.8. Em nenhum outro há salvação, Jo 14.6; pois tampouco há qualquer outro debaixo do céu, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos, At 4.12. A semente prometida a Abraão é Cristo, Gl 3.16, e os que se identificam com Cristo são verdadeiros herdeiros da aliança, Gl 3.16-29. e. O meio de salvação revelado na aliança é o mesmo. A escritura insiste nas condições idênticas em toda a linha, Gn 15.6, comparado com Rm 4.11; Hb 2.4; At 15.11; Gl 3.6, 7; Hb 11.9. As promessas, cuja realização os crentes esperavam, também eram as mesmas, Gn 15.6; Sl 51.12; Mt 13.17; Jo 8.56. E os sacramentos, embora diferindo na forma, têm essencialmente a mesma significação em ambas as dispensações, Rm 4.11; 1 Co 5.7; Cl 2.11, 12. f. É tanto condicional como incondicional. Repetidamente se faz a indagação se a aliança é condicional ou incondicional. É uma indagação que não se pode responder sem uma cuidadosa discriminação, pois a resposta dependerá do ponto de vista segundo o qual se considere a aliança. Por um lado, a aliança é incondicional. Não há aliança da garça nenhuma condição que se possa considerar meritória. O pecador é exortado a arrepender-se e a crer, mas a sua fé e o seu arrependimento de modo nenhum merecem as bênçãos da aliança. Deve-se sustentar isto em oposição às posições católica romana e arminiana. Tampouco é condicional no sentido de que se espera que o homem realize com as suas próprias forças o que a aliança exige dele. Ao coloca-lo diante das exigências da aliança, sempre devemos lembrar-lhe o fato de que somente de Deus ele pode receber as forças necessárias para o cumprimento do seu dever. Num sentido se pode dizer que o próprio Deus preenche a condição nos eleitos. Para os que são escolhidos para a vida eterna, aquilo que se pode considerar como condição da aliança é também uma promessa e, portanto, um dom de Deus. Finalmente, a aliança não é condicional no sentido de que o recebimento de cada bênção particular da aliança depende de alguma condição. Podemos dizer que a fé é aconditio sine qua non da justificação, mas o recebimento da fé propriamente dita na regeneração não depende de nenhuma condição, mas, sim, unicamente da operação da graça de Deus em Cristo. Por outro lado, pode-se dizer a aliança é condicional. Há um sentido em que a aliança é condicional. Se considerarmos a base da aliança, esta se vê claramente condicionada pelo penhor de Jesus Cristo, o Fiador. Para introduzir a aliança da graça, Cristo teve que satisfazer, e de fato satisfez, as condições originariamente estabelecidas na aliança das obras, por Sua obediência ativa e passiva. Pode-se dizer ainda que a aliança é condicional na medida em que se refere ao primeiro ingresso consciente na aliança como uma real comunhão de vida. Este ingresso depende da fé, fé, porém, que em si mesma é dom de Deus. Quando aqui falamos da fé como uma condição, naturalmente nos referimos à fé como uma atividade espiritual da mente. É só mediante s fé que podemos obter um usufruto consciente das bênçãos da aliança. Nosso conhecimento experimental da vida pactual depende inteiramente do exercício da fé. Aquele que não vive a vida da fé está praticamente fora da aliança, no que se refere à sua consciência. Se em nosso exame incluirmos não somente o começo, mas também o gradativo desdobramento e aperfeiçoamento da vida pactual, poderemos considerar a santificação como uma condição, em acréscimo à fé. Todavia, ambas as condições estão dentro da aliança. As igrejas reformadas (calvinistas) se opuseram muitas vezes ao uso da palavra “condição” em conexão com a aliança da graça. Deve-se isto em grande parte a uma reação contra o arminianismo, que empregava o vocábulo “condição” num sentido anti-escriturístico, e, portanto, a uma falha em não discrimina-lo apropriadamente. Tendo em mente o que foi dito acima, parecerá perfeitamente válido falar de uma condição em conexão com a aliança da graça, pois (1) a Bíblia mostra claramente que a entrada na vida pactual é condicionada pela fé, Jo 3.16, 36; At 8.37 (texto que não se acha em alguns manuscritos); Rm 10.9; (2) Muitas vezes a Escritura ameaça os filhos da aliança, mas estas ameaças aplicam-se exatamente aos que ignoram a condição, isto é, aos que se recusam a andar no caminho da aliança; e (3) se não houvesse nenhuma condição, só Deus estaria obrigado à aliança, e não haveria nenhuma “disciplina” ou “vinculo do concerto”* para o homem(mas cf. Ez 20.37); e, assim, a aliança deixaria de ser aliança, pois em todas as alianças há duas partes. g. Há um sentido em que a aliança pode ser chamada testamento. Em vista do fato de que o testamento é uma declaração absoluta e desconhece condições, surge a questão se há alguma propriedade em aplicar o termo “testamento” à aliança. Há somente uma passagem do Novo Testamento em que parece justificável verter a palavra diatheke para “testamento”, a saber, Hb 9.16, 17. Ali Cristo é apresentado como o testador, em cuja morte a aliança da graça, considerada como um testamento, torna-se eficaz. Houve uma disposição testamentária das bênçãos da aliança, e isto entrou em vigor pela morte de Cristo. Esta é a única passagem em que se faz referencia explícita à aliança como testamento. Mas a idéia de que os crentes recebem as bênçãos espirituais da aliança de maneira testamentária está implícita em várias passagens da escritura, conquanto a apresentação implícita seja ligeiramente diversa da de Hb 9.16, 17. Deus, e não Cristo, é o testador . tanto no Velho Testamento como no Novo, mas especialmente no Novo, os crentes são descritos como filhos de Deus, legalmente por adoção e eticamente pelo novo nascimento, Jo 1.12; Rm 8.15, 16; Gl 4.4-6; 1 Jo 3.1-3, 9. Ora, as idéias de herdeiro e herança associam-se naturalmente à filiação e, portanto, não é de admirar que se encontrem freqüentemente na Escritura. Paulo declara: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros”, Rm 8.17; Cf. também Rm 4.14; Gl 3.29; 4.1, 7; Tt 3.7; Hb 6.17; 11.7; Tg 2.5. Em vista dessas passagens, não há dúvida de que a aliança e as bênçãos da aliança são descritas na escritura como uma herança. Mas esta descrição também se baseia ma idéia de testamento, com esta diferença, porém: que a confirmação da aliança não implica a morte do testador. Os crentes são herdeiros de Deus (que não pode morrer) e co-herdeiros com Cristo, Rm 8.17. É mais que evidente que, quanto ao pecador, a aliança tem um lado testamentário e pode ser considerada como uma herança; mas agora surge a questão , se também pode assumir este caráter quanto a Cristo. Parece que se requer uma resposta afirmativa, em vista do fato de que somos chamados co-herdeiros com Cristo. Então, será Ele também um herdeiro? Esta pergunta pode ser respondida na afirmativa, em vista da declaração que se acha em Lc 22.29. A herança aqui referida é a glória de Cristo como Mediador, glória que Ele recebeu como herança do pai, e que Ele, por Seu turno, entrega como herança a todos os Seus. Mas, embora haja indubitavelmente um lado testamentário, este é apenas um lado da questão, e não exclui a idéia de que a aliança é realmente uma aliança. Pode-se-lhe chamar testamento porque (1) é toda ela um dom de Deus; (2) a dispensação do Novo Testamento foi introduzida pela morte de Cristo; (3) é firme e inviolável; e (4) nela Deus mesmo dá o que Ele exige do homem. Todavia, isto não deve ser interpretado no sentido de que não existem dois lados da aliança e que, por conseguinte, ela é absolutamente monoplêurica. Por desiguais que as partes possam ser, Deus condescende em baixar ao nível do homem e, por Sua graça, habilitando-o a agir como a segunda parte da aliança. Uma aliança monoplêurica, no sentido absoluto, é realmente uma contradictio in adjecto (contradição em adjeto). Ao mesmo tempo, os teólogos que darão ênfase ao caráter monoplêurico da aliança o fazem para salientar uma importante verdade, a saber, que Deus e o homem não se encontram a meio caminho na aliança, mas, sim, que Deus desce até o homem e, por Sua graça, estabelece a Sua aliança com ele, dando livremente tudo quanto Ele requer, e que o homem é realmente o único beneficiado pela aliança. É essencial, porém, que o caráter diplêurico da aliança seja mantido, porque o homem aparece nela realmente satisfazendo as exigências da aliança na fé e na conversão, conquanto seja assim somente quando Deus opera nele tanto o querer como o efetuar, de acordo com o Seu beneplácito. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 278)

Relação de Cristo com a Aliança da Graça

Cristo é apresentado na Escritura como o Mediador da aliança. A palavra grega mesites não se acha no grego clássico, mas ocorre em Filo e em escritores mais recentes. Na Septuaginta encontra-se apenas uma vez em Jó 9.33. A palavra “Mediador” (“Mediator” em inglês), como também a palavra holandesa “Middelaar” e a alemã “Mittler”, podem levar-nos a pensar que mesites designa simplesmente um árbitro entre duas partes, um intermediário, no sentido comum da palavra. Deve-se ter em mente, porém que a idéia bíblica é muito mais profunda. Cristo é Mediador, em mais de um sentido. Ele intervém entre Deus e o homem, não apenas para pedir paz e persuadir a isto, mas revestido de pleno poderes, como um plenipotenciário, para fazer tudo que seja necessário para estabelecer a paz. O emprego da palavra mesites no Novo Testamento justifica nossa menção de uma dupla obra mediatária de Cristo, a saber, a de garantia ou fiança e a de acesso (grego, prosagoge, Rm 5.2). Na maioria das passagens em que se acha a palavra no Novo Testamento, equivale a eggyos e, portanto, indica Cristo como Aquele que, tomando sobre Si a culpa dos pecados, pôs termo à relação penal destes com a lei e lhes restabeleceu a correta e legal relação com Deus. É este o sentido do vocábulo em Hb 8.6; 9.15; 12.24. Em Hb 7.22 o termo eggyos é aplicado a Cristo. Contudo, há uma passagem em que a palavra mesites tem um sentido que está mais de acordo com o sentido comum da palavra “mediador”, como alguém chamado para servir de árbitro entre duas partes e reconciliá-las, a saber, 1 Tm 2.5. Aí Cristo reúne Deus e o homem. A obra de Cristo, no sentido de que, com base em Seu sacrifício, Ele reúne Deus e o homem. A obra de Cristo, no sentido indicado pela palavra mesites, é dupla. Ele trabalha em coisas pertencentes a Deus e em coisas pertencentes ao homem, na esfera legal objetiva e na esfera moral subjetiva. Na primeira Ele faz propiciação pelo justo desprazer de Deus, expiando a culpa do pecado, intercede por aqueles que o pai Lhe deu, e realmente torna as suas pessoas e os seus serviços aceitáveis a Deus. E na última Ele revela aos homens a verdade concernente a Deus e à relação dos homens com Ele, juntamente com as condições de serviço aceitável, persuade-os e capacita-os a receberem a verdade, e os dirige e lhes dá suporte em todas as circunstâncias da vida, visando a consumar com perfeição o seu resgate. Ao realizar esse trabalho, Ele emprega o ministério dos homens, 2 Co 5.20. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 279)

Uma Aliança Externa e uma Interna

Há os que distinguem entre uma aliança externa e uma interna. Concebia-se a aliança externa como uma aliança na qual a posição da pessoa depende inteiramente da realização de certos deveres religiosos. Sua posição é inteiramente correta, se ela faz o que dela se requer, mais ou menos no sentido católico romano. Em Israel essa aliança assumiu forma nacional. Talvez ninguém tenha elaborado a doutrina de uma aliança externa com maior coerência do que o fez Thomas Blake. A linha divisória entre a aliança externa e a interna nem sempre foi apresentada da mesma maneira. Alguns ligavam o batismo à aliança externa, e a confissão de fé e a Ceia do Senhor à interna; outros entendiam que o batismo e a confissão de fé pertenciam à aliança externa, e que a Ceia do Senhor é o sacramento da aliança interna. Mas o problema é que toda essa explicação redunda em dualismo na concepção da aliança, dualismo não comprovado pela Escritura; seu produto é uma aliança externa não entrosada com a interna. Cria-se a impressão de que existe uma aliança na qual o homem pode assumir uma posição inteiramente correta sem a fé salvadora; mas a Bíblia ignora tal aliança. Há, na verdade, privilégios e bênçãos externos da aliança, e há pessoas que só gozam esses privilégios e bênçãos; ms casos como esses são anômalos, e não podem ser sistematizados. A distinção entre a aliança externa e a interna não tem sustentação. Não se deve confundir esse conceito com outro, relacionado com ele, a saber, que há um aspecto externo e um aspecto interno da aliança da graça (Mastricht e outros). De acordo com essa idéia, alguns aceitam as suas responsabilidades pactuais de maneira verdadeiramente espiritual, de coração, enquanto outros as aceitam somente por uma profissão de fé externa, de boca, e, portanto, só estão aparentemente na aliança. Mastricht refere-se a Judas Iscariotes, a Simão o mágico, aos que tem fé temporal e outros. Mas o problema é que, segundo esse conceito, os não eleitos e não regenerados são apenas apêndices externos adicionados à aliança, e são considerados por nós como filhos da aliança, simplesmente devido à nossa visão estreita, mas absolutamente nenhum deles é filho da aliança aos olhos de Deus. Eles não estão realmente na aliança, e, portanto, tampouco poderão tornar-se verdadeiros infratores da aliança. Essa idéia não soluciona esta questão: Em que sentido os não eleitos e não regenerados, que sejam membros da igreja visível, são filhos da aliança também aos olhos de Deus e, portanto, podem tornar-se infratores da aliança? (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 280)

A Essência e a Administração da Aliança

Outros, como por exemplo Oleviano e Turretino, distinguem entre a essência e a administração da aliança. De acordo com Turretino, aquela corresponde à vocação interna e à igreja invisível formada por meio dessa vocação; e esta, à vocação externa e à igreja visível, composta pelos que são chamados externamente pela Palavra. A administração da aliança consiste somente da oferta da salvação na pregação da palavra e dos outros privilégios de que participam todos os que têm um lugar na igreja, incluindo-se os não eleitos. Todavia, a essência da aliança inclui também o recebimento espiritual de todas as bênçãos da aliança, a vida em união com Cristo, e, portanto, estende-se unicamente aos eleitos. É certo que esta distinção contem um elemento de verdade, mas não é inteiramente lógica e clara. Enquanto que a essência e a forma constituem uma antítese, a essência e a administração não constituem. Elas podem referir-se à igreja invisível e à visível, como Turretino parece pretender, ou ao fim ultimo ou à realização final e ao anuncio da aliança, como Oleviano entende a distinção. Mas, se tem em vista a primeira, seria melhor falar de essência e revelação; e se pretende a ultima, seria preferível falar do objetivo e do meio de sua realização. Aqui igualmente continua sem resposta a questão sobre se os não eleitos são filhos da aliança também aos olhos de Deus, e até que ponto o são. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 281)

Uma Aliança Condicional e uma Absoluta

Ainda outros, como por exemplo Koelman, falam de uma aliança condicional e uma absoluta. Koelman acentua o fato de que, quando se faz distinção entre uma aliança externa e uma interna, só se tem em vista uma aliança, e os termos “externa” e “interna” servem simplesmente para salientar o fato de que nem todos estão na aliança exatamente do mesmo modo. Alguns se acham nela por uma confissão meramente externa, para usufruto dos privilégios externos, e outros por aceitá-la de coração, para gozo das bênçãos da salvação. Semelhantemente, ele deseja que se compreenda claramente que, quando afirma que alguns estão na aliança externa e condicionalmente, não pretende dizer que eles não estão realmente na aliança, mas somente que eles não podem obter as bênçãos da aliança prometidas, exceto pelo cumprimento da condição da aliança. É indubitável que esta descrição também contém um elemento de verdade, mas em Koelman ela está de tal modo ligada à noção de uma aliança externa e uma interna, que ele se aproxima perigosamente do erro de aceitar duas alianças, especialmente quando alega que durante a dispensação do Novo Testamento Deus incorpora todas as nações e reinos na aliança. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 281)

A Aliança como Relação Puramente Legal e como Comunhão de Vida

Teólogos reformados da estirpe de Kuyper, Bavinck e Honing falam de dois lados da aliança, um externo e o outro interno. O dr. Vos emprega expressões mais específicas, quando distingue entre a aliança como uma relação e um lado moral. Pode-se considerar a aliança como um acordo entre duas partes, com condições e estipulações mútuas, e, portanto, como algo pertencente à esfera legal. Nesse sentido, a aliança pode existir, mesmo quando não se faz nada para realizar o seu propósito, a saber, a condição indicada por ela e para a qual ela chama, tendo-a como o verdadeiro ideal. As partes que vivem sob este acordo estão na aliança, visto que estão sujeitas às estipulações mútuas sobre as quais concordam. Na esfera legal tudo é considerado e regulado de maneira puramente objetiva. O fator determinante nessa esfera é simplesmente a relação que foi estabelecida, e não a atitude que se assume para com essa relação. A relação existe independentemente da inclinação ou falta de inclinação, gostos e aversões da pessoa quanto a ela. Parece que, à luz desta distinção, é preciso responder a pergunta: Quem faz parte da aliança da graça? Se se a pergunta com a relação legal em mente, e só com esta em mente, e realmente culminar na interrogativa, Quem são os que têm o dever de viver na aliança, e de quem se pode esperar que o façam? – a resposta será: Os crentes e seus filhos. Mas se a pergunta for feita com vistas à aliança como comunhão de vida, e assumir esta forma completamente diversa, em quem esta relação legal resulta numa viva comunhão com Cristo? – a resposta só poderá ser: Unicamente nos regenerados, que são dotados do princípio da fé; quer dizer, nos eleitos. Esta distinção tem base na Escritura. Quase não é necessário citar passagens que provam que a aliança é um pacto na esfera legal, pois é mais que evidente que temos um pacto dessa natureza sempre que duas partes concordam, na presença de Deus, em fazer certas coisas que afetam a sua relação mútua, ou que uma parte promete conferir certos benefícios à outra, pressupondo-se que a última cumpre as condições estabelecidas. Há na Escritura copiosas evidências de que a aliança da graça é um pacto dessa natureza. Há a condição da fé, Gn 15.6, comparado com Rm 4.3 em diante e 20 em diante; Hc 2.4; Gl 3.14-28; Hb 11; e há também a promessa de bênçãos espirituais e eternas, Gn 12.3; 17.7; Is 43.25; Ez 36.27; Rm 4.5 em diante; Gl 3.14, 18. Mas também é evidente que a aliança, em sua plena realização, é mais que isso, a saber, é comunhão de vida. Esta já pôde ser expressa simbolicamente no ato de passar entre as partes do animal imolado quando do estabelecimento da aliança com Abraão, Gn 15.9-17. Além disso, é indicada em passagens como Sl 25.14; 89.33, 34; 103.17, 18; Jr 31.33, 34 (Hb 8.10-12); Ez 36.25-28; 2 Co 6.16; Ap 21.2, 3. Surge agora a questão quanto à relação entre a permanência do pecador sob a “disciplina da aliança”, como uma relação legal, e sua vida na comunhão da aliança. Não se pode conceber a coexistência de ambas sem alguma ligação interna, mas ambas devem ser consideradas como sendo intimamente relacionadas uma com a outra, a fim de evitar-se todo dualismo. Quando alguém assume a relação pactual voluntariamente, naturalmente as duas devem ir juntas; do contrário, o resultado será uma relação falsa. Mas no caso dos que nascem na aliança a questão é mais difícil. Será então possível uma sem a outra? A aliança será, nesse caso, uma pura e simples relação legal na qual aquilo que devia ser- mas não é – toma o lugar das gloriosas realidades que constituem a razão de ser da aliança? Haverá alguma base razoável para esperar-se que a relação pactual resultará numa comunhão viva; que para o pecador, que por si mesmo é incapaz de crer, a aliança se tornará de fato uma viva realidade? Em resposta a essa questão pode-se dizer que, sem dúvida nenhuma, Deus deseja que a relação pactual redunde numa vida pactual. E Ele próprio garante, com Suas promessas ligadas à semente dos crentes, que isto se efetuará, não no caso de cada indivíduo, mas na semente da aliança, coletivamente. Com base na promessa de Deus, podemos crer que, sob uma fiel administração da aliança, a relação pactual, como regra geral, se concretizará plenamente numa vida pactual. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283)

Participação na Aliança como uma Relação Legal

Ao discutir a participação como membros da aliança como uma relação legal, deve-se ter em mente que a aliança, neste sentido, não é meramente um sistema de exigências e promessas, exigências que devem ser satisfeitas e promessas que devem ser cumpridas; mas que inclui também uma razoável expectativa de que a relação legal e externa levará consigo a gloriosa realidade de uma vida de íntima comunhão com o Deus da aliança. Esta é a única maneira pela qual a idéia da aliança se realiza plenamente. 1. OS ADULTOS NA ALIANÇA. Os adultos só podem entrar nesta aliança voluntariamente, pela fé e confissão. Segue-se disto que, no caso, deles, se a sua confissão não for falsa, a entrada na aliança como uma relação legal coincide com a entrada nela como uma comunhão de vida. Eles não assumem apenas a responsabilidade de cumprir certos deveres externos; tampouco meramente prometem, em acréscimo a isso, que exercerão a fé salvadora no futuro; mas confessam que aceitam a aliança com uma fé viva, e que o seu desejo e intenção é continuar nesta fé. Portanto, eles entram imediatamente na plena vida pactual, e esta é a única maneira pela qual podem entrar na aliança. Esta verdade é implícita ou explicitamente negada por todos aqueles que ligam a confissão de fé a uma aliança meramente externa. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283) 2. OS FILHOS DOS CRENTES NA ALIANÇA. Com respeito aos filhos dos crentes, que entram na aliança por nascimento, naturalmente a situação é tanto diversa. A experiência ensina que, embora entrem por nascimento na aliança como uma relação legal, não significa necessariamente que também entram imediatamente na aliança como comunhão de vida. Nem sequer significa que a relação pactual alguma vez chegara à sua plena realização em suas vidas. Todavia, mesmo no caso deles deve haver razoável segurança de que a aliança não é ou não continuara sendo mera relação legal, com deveres e privilégios externos, apontando para aquilo que devia ser, mas também é, ou com o tempo vira a ser uma realidade viva. Esta segurança esta baseada na promessa de Deus, que é absolutamente confiável, de que Ele agira nos corações dos jovens ligados à aliança com a Sua graça salvadora e os transformara em vivos membros da aliança. A aliança é mais que mero oferecimento da salvação, mais até que o oferecimento da salvação acrescido da promessa de fé no Evangelho. Ela também traz consigo a certeza, baseada nas promessas de Deus, que opera nos filhos da aliança “quando, onde e como lhe apraz”, que a fé salvadora será produzida nos corações. Enquanto os filhos da aliança não revelarem o contrário, temos que partir do pressuposto de que estão de posse da vida pactual. Naturalmente, o curso dos acontecimentos poderá provar que esta vida ainda não está presente; poderá até provar que ela nunca se realizou em suas vidas. As promessas de Deus são dadas à semente dos crentes coletivamente, não individualmente. A promessa de Deus, de continuar a Sua aliança e de leva-la à plena realização nos filhos dos crentes, não significa que Ele dotará da fé salvadora cada um deles, até o último. E se alguns deles permanecerem na incredulidade, deveremos ter em mente o que Paulo diz em Rm 9.6-8: “Nem todos os de Israel são de fato israelitas”; nem todos os filhos de crentes são filhos da promessa. Daí, é necessário lembrar constantemente, mesmo aos filhos da aliança, a necessidade de regeneração e conversão. O simples fato de que alguém está na aliança não traz segurança da salvação. Quando os filhos dos crentes crescem e chegam à idade da discrição, compete-lhes, é claro, aceitar voluntariamente as suas responsabilidades pactuais, com uma sincera confissão de fé. Deixar de faze-lo é, estritamente falando, uma negação da sua relação pactual. Pode-se dizer, pois, que a relação legal em que se acham os filhos dos crentes precede à aliança como comunhão de vida e é um meio para a sua realização. Mas, ao acentuar a significação da aliança como meio para um fim, não devemos frisar exclusivamente, e nem mesmo primordialmente, as exigências de Deus e o resultante dever do homem, mas especialmente a promessa da eficaz operação nos corações dos filhos da aliança. Se salientarmos única ou excessivamente as responsabilidades da aliança, e deixarmos de dar a devida proeminência ao fato de que na aliança Deus dá tudo quanto requer de nós, noutras palavras, que as Suas promessas cobrem todas as Suas exigências, corremos o risco de cair na armadilha do arminianismo. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283) 3. OS NÃO REGENERADOS NA ALIANÇA. Do que acima foi dito infere-se que mesmo pessoas não regeneradas e inconversas podem estar na aliança. Ismael e Esaú estiveram originalmente na aliança, os ímpios filhos de Eli eram filhos da aliança, e a grande maioria dos judeus dos dias de Jesus e dos apóstolos pertencia ao povo da aliança e partilhava as promessas pactuais, apesar de não seguir a fé que caracterizara o seu pai Abraão. Daí surge a questão: Em que sentido essas pessoas podem ser consideradas como pertencentes à aliança? Diz o dr. Kuyper que eles não são partícipes essenciais da aliança, embora estejam realmente nela; e diz o dr. Bavinck que eles estão in foedere (na aliança), mas não são de foedere (da aliança). Pode –se dizer o seguinte, sobre a posição dos não regenerados na aliança. a. Estão na aliança no que se refere à sua responsabilidade. Porque se acham numa relação pactual legal com Deus, têm o dever de arrepender-se e crer. Se não se converterem a Deus e não aceitarem a Cristo pela fé, quando chegarem à idade da discrição, serão julgados como infratores da aliança. Portanto, a relação especial com Deus em que estão postos, significa responsabilidade adicional. b. Estão na aliança no sentido de que podem reivindicar as promessas que Deus lhes fez quando estabeleceu a Sua aliança com os crentes e sua semente. Paulo chega a dizer dos seus ímpios compatriotas: “pertence-lhes a adoção, e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.4). Como regra geral, Deus reúne os Seus eleitos dentre os que se acham nesta relação pactual. c. Estão na aliança no sentido de que estão sujeitos às ministrações da aliança. São constantemente admoestados e exortados a viverem de acordo com as exigências da aliança. A igreja os trata como filhos da aliança, oferece-lhes os selos da aliança, e os exorta a fazerem apropriado uso deles. São eles os primeiros convidados a serem chamados para a ceia, os Filhos do reino, aos quais a palavra deve ser pregada primeiramente, mt 8.12; Lc 14.16-24; At 13.46. d. estão na aliança também na medida em que as bênçãos da aliança constituem objeto de interesse. Embora não experimentem a influência regeneradora do Espírito Santo, estão não obstante, sujeitos a certas operações e influências especiais do Espírito Santo. O Espírito peleja com eles de maneira especial, convence-os do pecado, ilumina-os em certa medida, e os enriquece com as bênçãos da graça comum, Gn 6.3; Mt 13.18-22; Hb 6.4-6. Deve-se notar que, enquanto que a aliança é eterna e inviolável, aliança que Deus jamais anula, é possível aos que se acham na aliança quebrá-la. Se alguém que se acha na relação pactual legal não ingressar na vida pactual, será ainda considerado membro da aliança. O fato de não cumprir as exigências da aliança envolve culpa e faz dele um infrator da aliança, Jr 31.32; Ez 44.7. isto explica como pode haver, não apenas uma fração temporária, mas uma infração definitiva e final da aliança, se bem que não há nenhuma queda definitiva dos santos. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 285)

OS ADULTOS NA ALIANÇA

Os adultos só podem entrar nesta aliança voluntariamente, pela fé e confissão. Segue-se disto que, no caso, deles, se a sua confissão não for falsa, a entrada na aliança como uma relação legal coincide com a entrada nela como uma comunhão de vida. Eles não assumem apenas a responsabilidade de cumprir certos deveres externos; tampouco meramente prometem, em acréscimo a isso, que exercerão a fé salvadora no futuro; mas confessam que aceitam a aliança com uma fé viva, e que o seu desejo e intenção é continuar nesta fé. Portanto, eles entram imediatamente na plena vida pactual, e esta é a única maneira pela qual podem entrar na aliança. Esta verdade é implícita ou explicitamente negada por todos aqueles que ligam a confissão de fé a uma aliança meramente externa. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283)

OS FILHOS DOS CRENTES NA ALIANÇA

Com respeito aos filhos dos crentes, que entram na aliança por nascimento, naturalmente a situação é tanto diversa. A experiência ensina que, embora entrem por nascimento na aliança como uma relação legal, não significa necessariamente que também entram imediatamente na aliança como comunhão de vida. Nem sequer significa que a relação pactual alguma vez chegara à sua plena realização em suas vidas. Todavia, mesmo no caso deles deve haver razoável segurança de que a aliança não é ou não continuara sendo mera relação legal, com deveres e privilégios externos, apontando para aquilo que devia ser, mas também é, ou com o tempo vira a ser uma realidade viva. Esta segurança esta baseada na promessa de Deus, que é absolutamente confiável, de que Ele agira nos corações dos jovens ligados à aliança com a Sua graça salvadora e os transformara em vivos membros da aliança. A aliança é mais que mero oferecimento da salvação, mais até que o oferecimento da salvação acrescido da promessa de fé no Evangelho. Ela também traz consigo a certeza, baseada nas promessas de Deus, que opera nos filhos da aliança “quando, onde e como lhe apraz”, que a fé salvadora será produzida nos corações. Enquanto os filhos da aliança não revelarem o contrário, temos que partir do pressuposto de que estão de posse da vida pactual. Naturalmente, o curso dos acontecimentos poderá provar que esta vida ainda não está presente; poderá até provar que ela nunca se realizou em suas vidas. As promessas de Deus são dadas à semente dos crentes coletivamente, não individualmente. A promessa de Deus, de continuar a Sua aliança e de leva-la à plena realização nos filhos dos crentes, não significa que Ele dotará da fé salvadora cada um deles, até o último. E se alguns deles permanecerem na incredulidade, deveremos ter em mente o que Paulo diz em Rm 9.6-8: “Nem todos os de Israel são de fato israelitas”; nem todos os filhos de crentes são filhos da promessa. Daí, é necessário lembrar constantemente, mesmo aos filhos da aliança, a necessidade de regeneração e conversão. O simples fato de que alguém está na aliança não traz segurança da salvação. Quando os filhos dos crentes crescem e chegam à idade da discrição, compete-lhes, é claro, aceitar voluntariamente as suas responsabilidades pactuais, com uma sincera confissão de fé. Deixar de faze-lo é, estritamente falando, uma negação da sua relação pactual. Pode-se dizer, pois, que a relação legal em que se acham os filhos dos crentes precede à aliança como comunhão de vida e é um meio para a sua realização. Mas, ao acentuar a significação da aliança como meio para um fim, não devemos frisar exclusivamente, e nem mesmo primordialmente, as exigências de Deus e o resultante dever do homem, mas especialmente a promessa da eficaz operação nos corações dos filhos da aliança. Se salientarmos única ou excessivamente as responsabilidades da aliança, e deixarmos de dar a devida proeminência ao fato de que na aliança Deus dá tudo quanto requer de nós, noutras palavras, que as Suas promessas cobrem todas as Suas exigências, corremos o risco de cair na armadilha do arminianismo. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283)

OS NÃO REGENERADOS NA ALIANÇA

Do que acima foi dito infere-se que mesmo pessoas não regeneradas e inconversas podem estar na aliança. Ismael e Esaú estiveram originalmente na aliança, os ímpios filhos de Eli eram filhos da aliança, e a grande maioria dos judeus dos dias de Jesus e dos apóstolos pertencia ao povo da aliança e partilhava as promessas pactuais, apesar de não seguir a fé que caracterizara o seu pai Abraão. Daí surge a questão: Em que sentido essas pessoas podem ser consideradas como pertencentes à aliança? Diz o dr. Kuyper que eles não são partícipes essenciais da aliança, embora estejam realmente nela; e diz o dr. Bavinck que eles estão in foedere (na aliança), mas não são de foedere (da aliança). Pode –se dizer o seguinte, sobre a posição dos não regenerados na aliança. a. Estão na aliança no que se refere à sua responsabilidade. Porque se acham numa relação pactual legal com Deus, têm o dever de arrepender-se e crer. Se não se converterem a Deus e não aceitarem a Cristo pela fé, quando chegarem à idade da discrição, serão julgados como infratores da aliança. Portanto, a relação especial com Deus em que estão postos, significa responsabilidade adicional. b. Estão na aliança no sentido de que podem reivindicar as promessas que Deus lhes fez quando estabeleceu a Sua aliança com os crentes e sua semente. Paulo chega a dizer dos seus ímpios compatriotas: “pertence-lhes a adoção, e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.4). Como regra geral, Deus reúne os Seus eleitos dentre os que se acham nesta relação pactual. c. Estão na aliança no sentido de que estão sujeitos às ministrações da aliança. São constantemente admoestados e exortados a viverem de acordo com as exigências da aliança. A igreja os trata como filhos da aliança, oferece-lhes os selos da aliança, e os exorta a fazerem apropriado uso deles. São eles os primeiros convidados a serem chamados para a ceia, os Filhos do reino, aos quais a palavra deve ser pregada primeiramente, mt 8.12; Lc 14.16-24; At 13.46. d. estão na aliança também na medida em que as bênçãos da aliança constituem objeto de interesse. Embora não experimentem a influência regeneradora do Espírito Santo, estão não obstante, sujeitos a certas operações e influências especiais do Espírito Santo. O Espírito peleja com eles de maneira especial, convence-os do pecado, ilumina-os em certa medida, e os enriquece com as bênçãos da graça comum, Gn 6.3; Mt 13.18-22; Hb 6.4-6. Deve-se notar que, enquanto que a aliança é eterna e inviolável, aliança que Deus jamais anula, é possível aos que se acham na aliança quebrá-la. Se alguém que se acha na relação pactual legal não ingressar na vida pactual, será ainda considerado membro da aliança. O fato de não cumprir as exigências da aliança envolve culpa e faz dele um infrator da aliança, Jr 31.32; Ez 44.7. isto explica como pode haver, não apenas uma fração temporária, mas uma infração definitiva e final da aliança, se bem que não há nenhuma queda definitiva dos santos. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 285)

O CONCEITO DISPENSACIONALISTA

Segundo Scofield, “uma dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado quanto à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus”. Dando mais ampla explicação disso, diz ele na página 20 do seu folheto sobre a Correta Divisão da Palavra de Deus (Rightly Dividing the Word of Ttuth): “Cada dispensação pode ser considerada como uma nova prova do homem natural, e cada uma delas termina em juízo – assinalando o seu fracasso”. Toda dispensação tem suas próprias características, e é tão distinta das demais que não pode ser misturada com nenhuma delas. Geralmente se distinguem sete dispensações: as dispensações da inocência, do governo humano, da promessa, da lei, da graça e do reino. Em resposta à questão sobre se Deus é assim tão inconstante que precisou mudar a Sua vontade, a respeito do homem, sete vezes, Frank E. Gaebelein replica: “Não é Deus que vacilou. Embora haja sete dispensações, em princípio são uma só, totalmente baseada na prova única da obediência. E se o homem fosse achado capaz de preencher as condições baixadas pela primeira dispensação, as outras seis seriam desnecessárias. Mas o homem falhou. Contudo, em vez de expulsar a Sua criatura culpada, Deus se compadeceu e o submeteu a nova prova sob novas condições. Assim, cada dispensação termina com o fracasso do homem e, cada dispensação demonstra a misericórdia de Deus”. Há sérias objeções a esse conceito. (a) A palavra dispensação (oikonomia), que é um termo bíblico (cf. Lc 16.2-4; 1 Co 9.17; Ef 1.10; 3.2, 9; Cl 1.25; 1 Tm 1.4), aqui é empregada num sentido antibíblico. A referida palavra indica mordomia, uma disposição ou uma administração, mas nunca um período de prova ou de experiência. (b) É evidente que as distinções são completamente arbitrárias. Já o patenteia o fato de que os próprios dispensacionalistas dizem que elas se sobrepõem umas às outras. A segunda dispensação é chamada dispensação da consciência, mas, segundo Paulo, a consciência continuava sendo o inspetor dos gentios nos seus dias, Rm 2.14,15. A terceira é conhecida como dispensação do governo humano, mas o seu mandamento específico, que foi desobedecido e que, portanto, tornou o homem passível de julgamento, não foi o mandamento para governar o mundo em lugar de Deus – coisa da qual não há vestígio – mas o mandamento para encher a terra. A quarta recebe o designativo de dispensação da promessa e se supõe haver terminado com a dádiva da lei, mas Paulo afirma que a lei não anulou a promessa e que esta continuava vigente nos seus dias, Rm 4.13-17; Gl 3.15-29. A dispensação da lei, assim chamada, está repleta de gloriosas promessas, e a dispensação da graça, assim chamada, não abrogou a lei como regra de vida. A graça só oferece escape da lei como condição de salvação (como ocorre na aliança das obras), da maldição da lei e da lei como poder suplementar. (c) De acordo com a descrição usual desta teoria, o homem está sempre em prova. Ele falhou na primeira prova e assim perdeu a recompensa da vida eterna, mas Deus se compadeceu dele e, por Sua misericórdia, deu-lhe nova oportunidade de experiência. Repetidos fracassos levaram a repetidas manifestações da misericórdia de Deus com a introdução de novas experiências que, todavia, mantiveram o homem em prova o tempo todo. Isto não é equivalente a dizer que Deus com justiça prende o homem natural à condição da aliança das obras – o que é perfeitamente verdadeiro – mas que Deus, com misericórdia e compaixão e, portanto, aparentemente para salvar o homem, dá-lhe oportunidade após oportunidade de satisfazer as condições sempre variantes e, assim, obter a vida eterna pela prestação de obediência a Deus. Esta representação é contrária à Escritura, que não descreve o homem decaído como ainda em prova, mas como um completo fracasso, totalmente incapaz de prestar obediência a Deus, e absolutamente dependente da graça de Deus para a salvação. Bullinger, ele próprio um dispensacionalista, se bem que de um tipo algo diferente, está certo quando diz: “O homem estava então (na primeira dispensação) no que se chama ‘sob prova’. Isso marca aquela administração aguda e absolutamente; pois agora o homem não está sob prova. Supor que está é uma falácia popular que fere a raiz das doutrinas da graça. O homem foi experimentado e provado, e provou que é uma ruína”. (d) Esta teoria é também de tendência divisora, desmembrando o organismo da Escritura com resultados desastrosos. Segundo a teoria em foco, as partes da escritura que pertencem a uma das dispensações são dirigidas ao povo dessa dispensação e a mais ninguém, e só têm significação para esse povo. Significa, nas palavras de Charles C. Cook, “que no velho testamento não há uma única sentença que se aplique ao cristão como regra de fé e prática – nem um só mandamento que o obrigue, como também não há ali uma única promessa dada a ele em primeira mão, exceto aquilo que está incluído na vasta corrente do plano de redenção, ali ensinado por meio de símbolos e profecias”. Não significa, diz a teoria em apreço, que não podemos extrair lições do Velho testamento. A Bíblia está dividida em dois livros, o Livro do Reino, que compreende o Velho Testamento; e o Livro da Igreja, que consiste do restante do Novo testamento e é dirigido a nós. Desde que as dispensações não se misturam, segue-se que na dispensação da lei não há nenhuma revelação da graça de Deus, e na dispensação da graça, nenhuma revelação da lei no sentido de obrigar o povo de Deus do tempo do Novo testamento. Se o espaço no-lo permitisse, não nos seria difícil provar que esta posição é inteiramente insustentável. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 287)

TEORIA DAS TRÊS DISPENSAÇÕES

Irineu falava em três alianças, a primeira caracterizada pela lei escrita no coração, a segunda, pela lei como mandamento externo dado no Sinai, e a terceira, pela lei restabelecida no coração pela operação do Espírito Santo; e assim ele sugeriu a idéia de três dispensações. Coceio distinguia três dispensações da aliança da graça, a primeira ante legem, a segunda sub lege e a terceira post legem (respectivamente, antes da lei, sob a lei e após a lei). Ele fazia, pois, aguda distinção entre a administração da aliança posterior a Moisés. Pois bem, é indubitavelmente certo que há considerável diferença entre a administração da aliança antes e depois da dádiva da lei, mas a similaridade é maior que a diferença, de modo que não se justifica coordenar a obra de Moisés com a de Cristo como uma linha divisória da administração da aliança. Pode –se notar os seguintes pontos de diferença: a. Na graça como a manifesta característica da aliança. No período patriarcal a graça, como a característica da aliança, projetou-se mais proeminentemente que no período posterior. A promessa estava mais na primeira plana, Rm 4.13; Gl 3.18. Contudo, mesmo isto não deve ser indevidamente salientado, como se não houvesse fardos legais, quer morais quer cerimoniais, antes do tempo de Moisés, e como se não houvesse promessa da graça durante o período da lei. A substância da lei estava em vigor antes de Moisés, e já exigiam sacrifícios. E promessas decorrentes da graça acham-se com abundancia nos escritos pós-mosaicos. O único ponto real de diferença é este: Uma vez que a lei constituía para Israel uma explícita recordação das exigências da aliança das obras, havia maior perigo de confundir o caminho da lei com o caminho da salvação. E a história de Israel nos ensina que ele não escapou desse perigo. b. Na ênfase ao caráter espiritual das bênçãos. O caráter espiritual das bênçãos sobressaía mais claramente no período patriarcal. Abraão, Isaque e Jacó eram simples residentes temporários na terra da promessa, morando lá como estrangeiros e peregrinos. A promessa temporal da aliança ainda não se cumprira. Daí, havia menor risco de fixar a atenção exclusivamente nas bênçãos materiais, como os judeus fizeram mais tarde. Os primeiros patriarcas tinham uma compreensão mais clara do sentido simbólico daquelas posses materiais, e buscavam uma cidade celestial, Gl 4,25, 26; Hb 11.9,10. c. No entendimento da destinação universal da aliança. A destinação universal da aliança era mais claramente evidente no período patriarcal. Foi dito a Abrão que em sua semente seriam abençoadas todas as nações do mundo, Gn 22.18; Rm 4.13-17; Gl 3.8. Aos poucos os judeus foram perdendo de vista este fato importante, e passaram a supor que as bênçãos da aliança estavam restritas à nação judaica. Todavia, os últimos profetas deram ênfase à universalidade das promessas, e assim reviveram a consciência da significação mundial da aliança. Mas, conquanto existissem essas diferenças, havia diversos pontos importantes em que os períodos pré e pós-mosaicos concordavam e nos quais ambos, em conjunto, diferiam da dispensação cristã. Enquanto a diferença entre ambos era apenas de grau, a sua diferença em comum da dispensação do Novo Testamento é de contraste. Em contraste com a dispensação cristã, os períodos do Velho Testamento concordam: a. Na apresentação do mediador como semente ainda futura. Todo o Velho Testamento aponta para então futura vinda do Messias. Este olhar prospectivo caracteriza o proto-evangelho, a promessa feita aos patriarcas, todo o ritual mosaico e as mensagens centrais dos profetas. b. Na prefiguração em cerimônias e tipos do Redentor por vir. É Certo que estes aumentaram depois da entrega da lei, mas estavam presentes muito tempo antes disso. Já nos primitivos dias de Caim e Abel eram oferecidos sacrifícios, e estes tinham também um caráter peculiar, ou seja, expiatório, apontando para o grande sacrifício de Jesus Cristo. Os que serviam como sacerdotes eram sombras e símbolos do grande Sumo sacerdote vindouro. Em distinção do Velho Testamento, o Novo é mais comemorativo que prefigurativo. c. Na prefiguração das vicissitudes dos que estavam destinados a compartilhar as realidades espirituais da aliança na carreira terrena dos grupos que estavam em relação pactual com Deus. A peregrinação dos patriarcas na Terra Santa, a servidão no Egito, a entrada em Canaã, apontavam para coisas espirituais superiores no futuro. No Novo Testamento, esses tipos todos alcançam o seu cumprimento e, portanto, cessam. Com base em tudo quanto acima foi dito, é preferível seguir as linhas tradicionais distinguindo apenas duas dispensações ou administrações, quais sejam, a do Velho Testamento e a do Novo; e subdividir a primeira em vários períodos ou estágios da revelação da aliança da graça. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 288)

A DISPENSAÇÃO DO VELHO TESTAMENTO

1. A PRIMEIRA REVELAÇÃO DA ALIANÇA. A primeira revelação da aliança acha-se no proto-evangelho, Gn 3.15. Alguns negam que isso tenha qualquer relação com a aliança; e por certo ela não se refere a algum estabelecimento formal de uma aliança. A revelação de tal estabelecimento só poderia vir depois que a idéia de aliança se desenvolvesse na história. Ao mesmo tempo, Gn 3.15 certamente contém uma revelação da essência da aliança. Os seguintes pontos devem ser observados: a. Ao pôr inimizade entre a serpente e a mulher, Deus estabelece uma relação, como sempre faz ao firmar uma aliança. A queda colocou o homem em associação com Satanás, mas Deus rompe essa recém-formada aliança transformando a amizade do homem com Satanás em inimizade e restabelecendo a amizade do homem com Ele; e esta é a idéia da aliança. Esta reabilitação do homem incluiu a promessa da graça santificante, pois somente por essa graça é que a amizade do homem com Satanás poderia ser transformada em inimizade. Deus teve que inverter a condição por meio da graça regeneradora. Com toda a probabilidade, Ele acionou imediatamente a graça da aliança nos corações dos nossos primeiros pais. E quando Deus, com o Seu poder salvador, gera inimizade a Satanás no coração do homem, isto implica que Ele escolhe o lado do homem, que Ele se torna um confederado do homem na luta contra Satanás, e, assim, virtualmente estabelece uma aliança ofensiva e defensiva. b. Esta relação entre Deus e o homem por um lado, e Satanás por outro, não se limita aos indivíduos, mas se estende à sua semente. A aliança é orgânica em sua forma de operar, e inclui as gerações. Este é um elemento essencial da idéia da aliança. Haverá não somente uma semente do homem, mas também uma semente da serpente, isto é, o diabo, e haverá prolongado conflito entre ambas, do qual a semente do homem sairá vitoriosa. c. Então, o conflito será decisivo. Embora o calcanhar da semente da mulher venha a ser ferido, a cabeça da serpente será esmagada. Esta só poderá picar o calcanhar e, ao fazê-lo, porá em perigo a sua cabeça. Haverá sofrimento por parte da semente da mulher, mas o ferrão mortal da serpente acabará resultando em sua própria morte. A morte de Cristo, que em sentido preeminente é a semente da mulher, será a derrota de Satanás. A profecia da redenção é ainda impessoal no proto-evangelho, mas é, não obstante, uma profecia messiânica. Em última análise, a semente da mulher é Cristo, que assume a natureza humana e, sendo levado à morte na cruz, obtém a vitória decisiva sobre Satanás. Sem deixar de dizer que os nossos pais não entenderam tudo isso. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 290) 2. A ALIANÇA COM NOÉ. É evidente que a aliança com Noé é de natureza muito geral: Deus promete que não destruirá toda a carne pelas águas de um dilúvio, e que a sucessão normal do tempo de semear e colher, frio e calor, inverno e verão, dia e noite continuará. As forças da natureza são contidas, os poderes do mal são postos sob maior restrição, e o homem recebe proteção contra a violência dos seus semelhantes e dos animais. É uma aliança que só confere bênçãos naturais e, portanto, muitas vezes recebe o nome de aliança da natureza ou da graça comum. Não há objeção a essa terminologia, contanto que não dê a impressão de que esta aliança está inteiramente dissociada da aliança da graça. Conquanto ambas difiram, são também estreitamente relacionadas uma com a outra. a. Pontos de diferença. Devemos notar os seguintes pontos de diferença: (1) Enquanto a aliança da graça pertence primária, embora não exclusivamente, a bênçãos espirituais, a aliança da natureza só garante ao homem bênçãos terrenas e temporais. (2) Enquanto a aliança da graça, no sentido mais amplo da palavra, inclui somente os crentes e sua semente, e só se realiza plenamente nas vidas dos eleitos, a aliança com Noé não somente foi universal em seu início, mas foi destinada a permanecer totalmente inclusiva. Até os dias da transação pactual com Abraão não havia selo da aliança da graça, mas a aliança com Noé foi confirmada pelo sinal do arco-íris, sinal completamente diverso daqueles que mais tarde se ligariam à aliança da graça. b. Pontos de ligação. Apesar das diferenças que acabamos de mencionar, há uma relação muito estreita entre as duas alianças. (1) A aliança da natureza também é oriunda da graça de Deus. Nesta aliança, como na aliança da graça, Deus outorga ao homem não somente favores imerecidos, mas bênçãos das quais ele fora privado por causa do pecado. Por natureza o homem não tem direito nenhum às bênçãos naturais prometidas nesta aliança. (2) Esta aliança também repousa na aliança da graça. Foi estabelecida mais particularmente com Noé e sua semente porque havia claras evidencias da realização da aliança da graça nessa família, Gn 6.9; 7.1; 9.9, 26, 27. (3) Ela é também um necessário apêndice (Witsius: “aanhangsel”) da aliança da graça. A revelação da aliança da graça em Gn 3.16-19 já indicava bênçãos terrenas e temporais. Estas eram absolutamente necessárias para a realização da aliança da graça. Na aliança com Noé o caráter geral dessas bênçãos é exposto claramente, e a continuação delas é confirmada. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 291) 3. A ALIANÇA COM ABRAÃO. Com Abraão entramos na época da revelação veterotestamentária da aliança da graça. Há vários pontos que merecem atenção aqui: a. Até ao tempo de Abraão não houve estabelecimento formal da aliança da graça. Embora Gn 3.15 já contenha elementos desta aliança, não registra uma transação formal pela qual a aliança teria sido estabelecida. Nem sequer fala explicitamente de uma aliança. O estabelecimento da aliança com Abrão marcou o início de uma igreja institucional. Nos tempos anteriores a Abrão havia o que se pode denominar “a igreja em casa”. Havia famílias nas quais a religião verdadeira achava expressão, e sem dúvida havia também reuniões de crentes, mas não havia definidamente um corpo assinalado de crentes, separado do mundo e que pudesse chamar-se igreja. Havia “filhos de Deus” e “filhos dos homens”, mas não eram ainda separados por uma linha de demarcação visível. Na época de Abraão, porém, foi instituída a circuncisão como ordenança sinalizadora, como insígnia de membro e selo da justiça da fé. b. Na transação com Abraão a particularista administração veterotestamentária da aliança teve começo, e é mais que evidente que o homem é uma parte da aliança e deve responder com fé às promessas de Deus. O grande fato central salientado na escritura é que Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado com justiça. Deus aparece a Abraão vez após vez, repetindo Suas promessas, com o fim de gerar fé em seu coração e estimular o seu exercício ativo. A grandeza da sua fé foi visível na maneira como ele creu contra a esperança, confiando na promessa mesmo quando o seu cumprimento parecia uma impossibilidade física. c. As bênçãos espirituais da aliança da graça foram muito mais palpáveis na aliança com Abraão do que nunca antes. A melhor exposição escriturística da aliança com Abraão está registrada em Rm 3 e 4, e Gl 3. Em conexão com a narrativa que se acha em Gênesis, estes capítulos ensinam que, na aliança, Abraão recebeu a justificação, incluindo o perdão dos pecados e a adoção na própria família de Deus, e também os dons do Espírito para santificação e para glória eterna. d. A aliança com Abraão já incluía um elemento simbólico. De um lado, referia-se às bênçãos temporais, tais como a terra de Canaã, uma numerosa progênie, proteção contra os inimigos e vitória sobre eles; de outro lado, referia-se às bênçãos espirituais. Contudo, deve-se ter em mente que aquelas não eram coordenadas com estas, mas subordinadas a elas. Estas bênçãos temporais não constituíam um fim em si mesmas, mas serviam para simbolizar e tipificar coisas espirituais e celestes. As promessas espirituais não se concretizaram nos descendentes naturais de Abraão como tais, mas somente nos que seguiram as pegadas de Abraão. e. Em vista deste estabelecimento da aliança da graça com Abraão, às vezes ele é considerado o chefe da aliança da graça. Mas a palavra “chefe” (ou “cabeça”) é ambígua e, portanto, passível de entendimento errôneo. Abraão não pode ser chamado chefe representativo da aliança, como Adão o fora da aliança das obras, pois (1) a aliança com Abraão não inclui os crentes que o precederam e que, todavia, estavam na aliança da graça, e (2) ele não podia aceitar a promessa por nós, nem crer em nosso lugar, eximindo-nos com isso destes deveres. Se há um chefe representativo da aliança da graça, só pode ser Cristo (cf. Bavinck, Geref. Dogm. III, p. 239, 241); mas, estritamente falando, só podemos considerar Cristo como o Chefe com base no pressuposto de que a aliança da redenção e a aliança da graça são um só. Abraão só pode ser chamado chefe da aliança no sentido de que ela foi estabelecida formalmente com ele, e de que ele recebeu a promessa de sua continuação na linhagem dos seus descendentes naturais e espirituais, acima de tudo dos descendentes espirituais. Paulo fala dele como “o pai de todos os que crêem”, Rm 4.11. É evidente que a palavra “pai” só pode ser entendida figuradamente aí, pois os crentes não devem a sua vida espiritual a Abraão. Diz o dr. Hodge em seu Comentário de Romanos (Comentary of Romans), sobre Rm 4.11: “A palavra pai expressa comunidade de caráter, e muitas vezes é aplicada ao chefe ou fundador de alguma escola ou classe de homens, cujo caráter é determinado pela relação com a pessoa assim designada; como Gn 4.20, 21. ... Os crentes são chamados filhos de Abraão por causa desta identidade de natureza ou caráter religioso, pois ele sobressai na Escritura como o crente; porque foi com ele que a aliança da graça, abrangendo todos os filhos de Deus, quer judeus quer gentios, foi revalidada; e porque são seus herdeiros, herdando as bênçãos a ele prometidas”. f. Finalmente, não devemos perder de vista o fato de que o estágio da revelação da aliança veterotestamentária que é mais normativa para nós, na dispensação do Novo Testamento, não é o da aliança sináitica, mas o da aliança estabelecida com Abraão. A aliança sináitica é um interlúdio, cobrindo um período no qual o real caráter da aliança da graça, isto é, seu caráter livre e impregnado pela graça, é um tanto eclipsado por todos os tipos de cerimônias e formas externas que, em conexão com a vida teocrática de Israel, colocavam as exigências da lei proeminentemente no primeiro plano, Cf. Gl 3. Por outro lado, na aliança com Abraão, a ênfase recai na promessa e na fé que responde à promessa. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 292) 4. A ALIANÇA SINÁITICA. A aliança do Sinai era essencialmente a mesma estabelecida com Abraão, embora a forma diferisse um pouco. Isto nem sempre é reconhecido, e os dispensacionalistas dos dias atuais não o reconhecem. Estes insistem em que era uma aliança diferente, na forma e na essência. Scofield fala dela como uma aliança legal, uma “aliança mosaica de obras, e condicional”, sob a qual o ponto de prova era a obediência legal como a condição de salvação. Se essa aliança era uma aliança de obras, certamente não era a aliança da graça. A razão pela qual às vezes é considerada como uma aliança inteiramente nova é que Paulo se refere repetidamente à lei e à promessa como formando uma antítese, Rm 4.13 em diante; Gl 3.17. Deve-se notar, porém, que o apóstolo não contrasta com a aliança abraâmica a sináitica em seu conjunto, mas somente a lei como esta funcionava nesta aliança, e esta função somente como erroneamente entendida pelos judeus. A única exceção a essa regra é Gl 4.21 e seguintes, onde as duas alianças são realmente comparadas. Mas estas são as alianças abraâmica e sináitica. A aliança que provém do Sinai e se centraliza na Jerusalém terrena é colocada em contraste com a aliança que provém do céu e se centraliza na Jerusalém de cima, isto é – a natural e a espiritual. Há na Escritura claras indicações de que a aliança com Abraão não foi suplantada pela aliança sináitica, mas continuou em vigor. Mesmo em Horebe o Senhor lembrou ao povo a aliança com Abraão, Dt. 1.8; e quando o Senhor ameaçou destruir o povo depois que este fizera o bezerro de ouro, Moisés baseou seus apelos em favor deles naquela aliança, ex 32.13. Também Deus repetidamente lhes assegurava que, sempre que se arrependessem e O buscassem, Ele se lembraria da Sua aliança com Abraão, Lv 26.42; Dt 4.31. As duas alianças são claramente apresentadas em sua unidade em Sl 105.8-10: “Lembra-se perpetuamente da sua aliança, da palavra que empenhou para mil gerações; da aliança que fez com Abraão, e do juramento que fez a Isaque; o qual confirmou a Jacó por decreto e a Israel por aliança perpétua”. Esta unidade se infere também da argumentação de Paulo em Gl 3, onde ele dá ênfase ao fato de que um Deus imutável não altera arbitrariamente a natureza essencial de uma aliança uma vez confirmada; e que a lei não foi dada com o propósito de suplantar os fins da promessa da graça, mas, sim, de servi-los, Gl 3.15-22. Se a aliança sináitica fosse de fato uma aliança de obras, na qual a obediência à lei fosse o meio de salvação, então ela seria certamente uma maldição para Israel, pois foi imposta a um povo que não tinha a menor possibilidade de obter a salvação pelas obras. Mas esta aliança é apresentada na Escritura como uma bênção concedida a Israel por um Pai amoroso, Ex 19.5; Lv 26.44, 45; Dt 4.8; Sl 148.20. Mas, embora a aliança com Abraão e a aliança sináitica fossem essencialmente a mesma, a aliança do Sinai tinha certos traços característicos. a. No Sinai a aliança tornou-se uma aliança verdadeiramente nacional. A vida civil de Israel estava de tal modo ligada à aliança que as duas não podiam separar-se. Em grande medida a igreja e o estado se tornaram uma só coisa. Estar na igreja era estar na nação, e vice versa; e abandonar a igreja era abandonar a nação. Não havia excomunhão espiritual; a proscrição significava eliminação pela morte. b. A aliança sináitica incluía um serviço que continha uma recordação positiva das rigorosas exigências da aliança das obras. A lei era posta em primeira plana, dando proeminência uma vez mais ao elemento legal anterior. Mas a aliança do Sinai não era uma renovação da aliança das obras; nela a lei é subserviente à aliança da graça. Isto já vem indicado na introdução dos dez mandamentos, Ex 20.2; Dt 5.6, e ainda em Rm 3.20; Gl 3.24. É verdade que no Sinai foi acrescentado um elemento condicional à aliança, mas o que nela dependia da guarda da lei não era a salvação dos israelitas, mas, sim, a sua posição teocrática na nação e o gozo de bênçãos externas, Dt 28.1-14. A lei servia a um duplo propósito, com relação à aliança da graça: (1) aumentar a consciência de pecado, Rm 3.20; 4.15; Gl 3.19; e (2) ser um ;preceptor conducente a Cristo, Gl 3.24. c. A aliança com a nação de Israel incluía um minucioso cerimonial e serviço típicos. Até certo ponto, isso estava presente no período anterior também, mas, na medida em que foi introduzido no Sinai, era uma coisa nova. Foi instituído um sacerdócio separado, e foi introduzida uma contínua pregação do Evangelho com símbolos e tipos. Estes símbolos e tipos aparecem sob dois aspectos diferentes: como exigências de Deus impostas ao povo; e como uma mensagem divina de salvação dirigida ao povo. Os judeus perderam de vista este aspecto, e fixaram a sua atenção exclusivamente naquele. Eles consideravam cad vez mais, porém equivocadamente, a aliança como uma aliança de obras, e viam nos símbolos e tipos um mero apêndice a isso. d. Na aliança sináitica a lei também servia a Israel como regra de vida, de sorte que a lei una e única de Deus assumia três aspectos, assim designados: lei moral, lei civil e lei cerimonial ou religiosa. A lei civil é simplesmente a aplicação dos princípios da lei moral à vida social e cívica do povo, com todas as suas ramificações. Mesmo as relações sociais e civis em que os componentes do povo estavam uns com os outros tinham que refletir a relação pactual em que se achavam. Tem havido diversas opiniões dissidentes sobre a aliança sináitica que merecem atenção. a. Coceio via no decálogo um sumário da aliança da graça, particularmente aplicável a Israel. Quando após o estabelecimento desta aliança nacional da graça, o povo se tornou infiel e fez um bezerro de ouro, a aliança legal do serviço cerimonial foi instituída como uma dispensação mais estrita e mais dura da aliança da graça. Assim, a revelação da graça acha-se particularmente no decálogo, e a de servidão na lei cerimonial. Antes da aliança do Sinai os pais viviam sob a promessa. Havia sacrifícios, mas estes não eram obrigatórios. b. Outros consideravam a lei como a fórmula de uma aliança de obras estabelecidas com Israel. Deus não tivera realmente a intenção de que Israel merecesse a vida pela observância da lei, dado que isto se tornara completamente impossível. Ele queria simplesmente que eles experimentassem a sua forca e viessem a ter consciência da sua incapacidade. Quando saíram do Egito, fortaleceram-se na convicção de que podiam fazer tudo que o Senhor mandasse; mas no Sinai logo descobriram que não podiam. Em vista da sua consciência de culpa, o Senhor agora restabeleceu a aliança abraâmica da graça, à qual a lei cerimonial também pertencia. Isto inverte a posição do Coceio. A graça é um elemento que se acha na lei cerimonial. Isso está um pouco em harmonia com o conceito dos dispensacionalistas dos dias presentes, que consideram a aliança sináitica uma “aliança mosaica de obras, e condicional” (Scofield), contendo, porém, na lei cerimonial alguns sombreados da vindoura redenção em Cristo. c. Ainda outros são de opinião que Deus estabeleceu três alianças no Sinai – uma aliança nacional, uma aliança da natureza ou das obras, e uma aliança da graça. A primeira foi feita com todos os israelitas, e era a continuação da linha particularista começada com Abraão. Nela Deus exige obediência externa e promete bênçãos temporais. A segunda foi uma repetição da aliança das obras com a dádiva de um decálogo. E a última foi uma renovação da aliança da graça, como fora estabelecida com Abraão, com a dádiva da lei cerimonial. Estes conceitos são todos objetáveis, por mais de uma razão: (1) São contrários à Escritura em sua multiplicação de alianças. É antibíblico presumir que foram estabelecidas no Sinai mais de uma aliança, embora a aliança ali firmada tenha vários aspectos. (2) Estão enganados em procurar impor indevidas limitações ao decálogo e à lei cerimonial. É evidente que a lei cerimonial tem duplo aspecto; e também é claro que o decálogo, embora colocando claramente as exigências da lei no primeiro plano, é subserviente à aliança da graça. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 295)