segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Relato Bíblico da Criação

Outras nações tinham, como os hebreus, os seus relatos da origem do universo material, e da maneira pela qual o caos original foi transformado num cosmos ou num mundo habitável. Alguns desses relatos mostra, traços de similaridade com o registro bíblico, mas contém diferenças mais notáveis. Em geral são caracterizados por elementos dualistas ou politeístas, apresentam o mundo como resultado de uma feroz luta entre os deuses, e estão bem longe da simplicidade e sobriedade do relato bíblico. Talvez seja aconselhável antepor às nossas considerações dos seus pormenores algumas observações gerais. 1. O PONTO DE VISTA DO QUAL A BÍBLIA CONTEMPLA A OBRA DA CRIAÇÃO. É significativo que a narrativa que a narrativa da criação, embora mencione a criação dos céus, não dá mais atenção ao mundo espiritual. Seu interesse é unicamente o mundo material, e o apresenta primordialmente como a habitação do homem e como o teatro das suas atividades. Ela não trata de realidades invisíveis, como os espíritos, mas de coisas que se vêem. E porque estas coisas são apalpáveis aos sentidos humanos, são objeto de discussão, não somente da teologia, mas também doutras ciências e da filosofia. Mas, enquanto a filosofia procura entender a origem e natureza de todas as coisas pela luz da razão, a teologia toma o seu ponto de partida em Deus, deixa-se guiar por Sua revelação especial concernente à obra da criação, e pondera todas as coisas relacionando-as com Ele. A narrativa da criação é o começo da auto-revelação de Deus, e nos põe a par da relação fundamental em que tudo, o homem inclusive, está com Ele. Ela mostra enfaticamente a posição originária do homem, para que os homens de todas as eras possam ter adequada compreensão do restante da Escritura como revelação da redenção. Apesar de não pretender dar-nos uma completa cosmologia filosófica, contém elementos importantes para a elaboração de uma cosmogonia correta. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.143)

ORIGEM DA NARRATIVA DA CRIAÇÃO

A questão quanto à origem da narrativa da criação tem sido levantada repetidamente, e o interesse por ela foi renovado pelo descobrimento da estória babilônica da criação. Esta estória, pelo que sabemos, tomou forma na cidade de Babilônia, fala da geração de vários deuses, dos quais fica provado que Marduck é o maior. Só ele foi suficientemente poderoso para subjugar o primevo dragão Tiamat, vindo a ser o criador do mundo, e a quem os homens adoram. Há alguns pontos de semelhança entre a narrativa da criação de Gênesis e esta estória babilônica. Ambas falam de um caos primevo, e de uma divisão das águas de baixo e de cima do firmamento. Gênesis fala de sete dias, e o relato babilônico compõe-se de sete tabuinhas. Ambos os relatos ligam os céus à quarta criação, e a criação do homem à sexta. Algumas destas semelhanças são de pequena significação, e as diferenças dos dois relatos são muito mais importantes. A ordem hebraica difere em muitos pontos da babilônica. A maior diferença acha-se, porém, nas concepções religiosas de ambos os relatos. O relato babilônico, diversamente do da Escritura, é mitológico e politeísta. Os deuses não estão em alto nível, mas planejam, conspiram e brigam. E Marduck consegue, somente depois de prolongada luta, que põe à prova o seu poder, dominar as forças malignas e reduzir à ordem o caos. Em Gênesis, por outro lado, encontramos o mais sublime monoteísmo, e vemos Deus produzir o universo e todas as coisas criadas pela simples palavra do Seu poder. Quando foi descoberto o relato babilônico, muitos estudiosos logo supuseram que a narrativa bíblica provinha da fonte babilônica, esquecidos de que existem pelo menos outras duas possibilidades, a saber: (a) que a estória babilônica é uma reprodução pervertida da narrativa de Gênesis; ou (b) que ambas provêm de uma fonte comum, mas primitiva. Mas, seja qual for a resposta a esta questão, não resolverá o problema da origem da narrativa. Como é que a fonte original, escrita ou oral, veio a existência? Alguns a consideram simples produto da reflexão do homem sobre a origem das coisas. Mas esta explicação é extremamente improvável, em vista dos seguintes fatos: (a) a idéia da criação é incompreensível; (b) a ciência e a filosofia opõem-se igualmente à doutrina da criação do nado; e (c) é somente pela fé que entendemos que os mundos foram estruturados pela palavra de Deus, Hb 11.3. Portanto, chegamos à conclusão de que a história da criação foi revelada a Moisés ou a um dos patriarcas anteriores. Se esta revelação foi pré-mosaica, passou como tradição (oral ou escrita) de geração a geração, provavelmente perdeu algo da sua pureza original e, finalmente, foi incorporada, em forma pura, sob a direção do Espírito Santo, no primeiro livro da Bíblia. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.144)

A INTERPRETAÇÃO DE GN 1.1, 2

Alguns consideram Gn 1.1 como sobrescrito ou título da narrativa completa da criação. Mas isso é objetável, por três razões: (a) porque a narrativa subseqüente está ligada ao versículo primeiro pela conjunção hebraica waw, ou vav (e), o que não aconteceria se o versículo primeiro fosse um título; (b) porque, com base nessa suposição, não haveria relato de nenhuma espécie da criação original e imediata; e (c) visto que os versículos subseqüentes não contém nenhum relato da criação dos céus. A interpretação mais geralmente aceita é que Gn 1.1 registra a criação original e imediata do universo, hebraisticamente chamado “céus e terra”. Nesta expressão, a palavra “céus” refere-se à ordem invisível das coisas nas quais a glória de Deus se revela de maneira a mais perfeita. O termo não pode ser considerado como um designativo dos céus cósmicos, quer das nuvens quer dos astros, pois estes foram criados no segundo e no quarto dia da obra criadora. Em seguida, no versículo 2, o autor descreve a condição originária da terra (comp. Sl 104.5, 6). É uma questão discutível, se a criação original da matéria fazia parte da obra do primeiro dia, ou se estava separada desta por um período de tempo mais curto ou mais longo. Dos que interpõem um longo período entre ambas, uns sustentam que o mundo era originariamente um lugar de habitação de anjos, foi destruído como resultado de uma queda ocorrida no mundo angélico, e foi então reclamado e transformado numa adequada habitação para os homens. Referir-nos-emos a esta teoria da restituição noutro contexto. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.144)

O Hexameron, ou a Obra dos Dias Separados

Depois da criação do universo do nada, num momento, o caos existente foi sendo aos poucos transformado num cosmos, num mundo habitável, em seis dias sucessivos. Antes de se indicar a obra realizada dia por dia, a questão quanto à extensão dos dias da criação requer breve exame.

CONSIDERAÇÃO DA TEORIA DE QUE FORAM LONGOS PERÍODOS DE TEMPO

Alguns estudiosos presumem que os dias de Gn 1 foram longos períodos de tempo, com o fim de harmonizá-los com os períodos geológicos. A opinião de que esses dias não eram dias comuns de vinte e quatro horas não era inteiramente alheia à teologia cristã primitiva, como E. C. Messenger o demonstra detalhadamente em sua erudita obra sobre Evolução e Teologia (Evolution and Theology). Mas alguns dos “pais da igreja” que declaravam que esses dias provavelmente não eram considerados como dias comuns, expressavam a opinião de que toda a obra da criação foi concluída num só momento, e que os dias constituíam apenas uma estrutura simbólica que facilitava a descrição da obra da criação de maneira ordenada, tornando-a mais inteligível para as mentes finitas. A opinião de que os dias da criação foram longos períodos tornou a vir para o primeiro plano em anos recentes, não, porém, como resultado de estudos exegéticos, mas sob a influência de declarações da ciência. Anteriormente ao século dezenove, os dias da criação eram geralmente considerados como dias literais. Mas, naturalmente, a interpretação humana é falível, e poderia ser revista à luz de novas descobertas. Se a exegese tradicional estiver em conflito, não meramente com teorias científicas – elas também são interpretações – mas com fatos bem estabelecidos, a reconsideração e a reinterpretação serão válidas. Contudo, dificilmente se pode sustentar que os supostos períodos geológicos requerem uma mudança frontal, desde que de modo nenhum são geralmente reconhecidos, mesmo nos círculos científicos, como fatos bem estabelecidos. Alguns eruditos cristãos, como Harris, Miley, Bettex e Geesink, supõem que os dias de Gênesis são dias geológicos, e tanto Shedd como Hodge chamam a atenção para o extraordinário acordo existente entre o registro bíblico da criação e o testemunho das rochas, e tendem a considerar os dias de Gênesis como períodos geológicos. Pode-se levantar a questão sobre se será exegeticamente possível conceber os dias de Gênesis como longos períodos de tempo. E então se deve admitir que a palavra yom nem sempre indica um período de vinte e quatro horas na Escritura, e nem sempre é empregada no mesmo sentido, mesmo na narrativa da criação. Pode significar o período de claridade, em distinção das trevas, Gn 1.5, 16, 18; dia e noite juntos, Gn 1.5, 8, 13 etc.; os seis dias juntos, Gn 2.4; e um período indefinido, assinalado em toda a sua extensão por algum traço característico, como tribulação, Sl 20.1, ira, Jó 20.28, prosperidade, Ec 7.14, ou salvação, 2 Co 6.2. Pois bem, alguns sustentam que a Bíblia favorece a idéia de que os dias da criação foram períodos indefinidos de tempo, e chamam a atenção para o seguinte: (a) O sol não foi criado antes do quarto dia e, portanto, a extensão dos dias anteriores ao quarto ainda não poderia ser determinada pela relação da terra com sol. Perfeitamente, mas isso não prova o ponto. É evidente que Deus estabelecera uma alternativa rítmica de luz e trevas, mesmo antes do quarto dia, e não há base para a suposição de que os dias assim mensurados tinham duração mais prolongada que os dias posteriores. Por que haveríamos de admitir que Deus aumentou enormemente a velocidade das revoluções da terra depois que a luz foi concentrada no sol? (b) Os referidos dias são dias de Deus, dias arquetípicos, dos quais os dias dos homens são meras copias ectípicas; e para Deus, mil anos são como um dia, Sl 90.4; 2 Pe 3.8. Mas este argumento se funda numa confusão do tempo e a eternidade. Deus ad intra não tem dias, mas habita na eternidade, exaltado muito acima de todas as limitações de tempo. Esta é também a idéia Ada em Sl 90.4 e 2 Pe 3.8. Os únicos dias reais de que Deus tem conhecimento são os dias deste mundo temporal-espacial. Como poderá seguir-se do fato de que Deus é exaltado acima das limitações de tempo, como existem neste mundo, onde o tempo é medido por dias, semanas, meses e anos – sim, como poderá resultar daí que um dia tanto pode ser um período de 100.000 anos como um período de vinte e quatro horas? (c) O sétimo dia, dia em que Deus descansou da Sua obra criadora, continua, segundo se diz, até à época atual e, portanto, deve ser considerado como um período de mil anos. É o sábado (sabbath, repouso), e esse repouso sabático jamais termina. Este argumento representa uma confusão semelhante à anterior. Toda a idéia de Deus iniciado a obra da criação num certo ponto do tempo e cessando depois de um período de seis dias, não se aplica a Deus como ele é em Si mesmo, mas somente aos resultados temporais da Sua atividade criadora. Ele é imutavelmente o mesmo por todas as eras. Seu repouso não é um período de tempo indefinidamente prolongado; é eterno. Por outro lado, o sábado da semana da criação teve duração igual à dos outros dias. Deus não somente descansou naquele dia, mas também o abençoou e o santificou, separando-o como dia de descanso para o homem, Ex 20.11. Dificilmente se aplicaria a todo o período que se estende da época d criação até aos dias atuais. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)

CONSIDERAÇÃO DO CONCEITO DE QUE FORAM DIAS LITERAIS

A idéia predominante sempre foi que os dias de Gênesis 1 devem se entendidos como dias literais. Alguns dos primeiros “pais da igreja” não os consideravam como reais indicações do tempo em que se completou a obra da criação, mas, antes, como formas literais nas quais o escritor de Gênesis moldou a narrativa da criação, a fim de retratar a obra da criação – que realmente se completou num momento – de maneira ordenada, para facilitar a compreensão humana. Foi só depois que as ciências relativamente novas da geologia e da paleontologia vieram com as suas teorias da excessivamente longa idade da terra, que os teólogos começaram a mostrar uma inclinação para identificar os dias da criação com as longas eras geológicas. Hoje alguns deles consideram fato estabelecido que os dias de Gênesis foram longos períodos geológicos; outros são um tanto propensos a assumir esta posição, mas mostram considerável hesitação. Hodge, Sheldon, Van Oosterzee e Dabney, alguns dos que não são inteiramente avessos a este conceito, concordam que esta interpretação dos dias é exegeticamente duvidosa, se não impossível. Kuyper e Bavinck sustentam que, conquanto os três primeiros dias possam ter sido de duração um tanto diversa, os últimos três certamente foram dias comuns. Naturalmente eles não consideravam nem os três primeiros dias como períodos geológicos. Vos, em sua Gereformeerde Dogmatiek defende a posição de que os dias da criação foram dias comuns. Hepp toma a mesma posição em sua obra, Calvinism and the Philosophy of Nature. Noortzij, em Gods Woord em der Eeuwen Getuigenis, afirma que a palavra yom (dia) em Gn 1 não pode designar senão um dia comum, mas sustenta que o escritor de Gênesis não atribuía muita importância ao conceito “dia”, porem o introduziu simplesmente como parte de uma estrutura básica para a narrativa da criação, não para indicar a seqüência histórica, e, sim, para descrever a gloria das criaturas à luz do grande propósito redentor de Deus. Daí o sábado é o grande ponto culminante, em que o homem chega ao seu real destino. Esta idéia traz-nos vivamente à memória a posição de alguns dos primeiros “pais da igreja”. Os argumentos aduzidos em seu favor não são muito convincentes, como Aalders o demonstra em sua obra, De Eerste Drie Hoofdstuken van Gênesis. Baseado em Gn 1.5, este especialista em Velho Testamento sustenta que o termo yom, em Gn 1, denota simplesmente o período de luz como distinto do das trevas; mas esta opinião pareça envolver, antes, uma interpretação antinatural da repetida expressão, “houve tarde e manha”. Então, esta terá que ser interpretada no sentido de, houve tarde precedida por manhã. Segundo o dr. Aalders, também a Escritura certamente favorece a idéia de que os dias da criação foram dias comuns, embora não seja possível determinar a sua duração exata, e os três primeiros dias podem ter diferido em alguma proporção dos últimos três. A interpretação literal do termo “dia” em Gn 1 é favorecida pelas seguintes considerações: (a) Em seu significado primário, apalavra yom denota um dia natural; e é boa regra de exegese não abandonar o significado primário de uma palavra, a menos que isto seja exigido pelo contexto. O dr. Noortzij salienta o fato de que esta palavra simplesmente não significa outra coisa senão “dia”, como este é conhecido pelo homem na terra. (b) O autor de Gênesis parece ter-nos aprisionado absolutamente na interpretação literal acrescentando, quanto a cada dia, as palavras: “houve tarde e houve manhã”. Cada um dos dias mencionados tem precisamente uma tarde e uma manhã, coisa que dificilmente se poderia aplicar a um período de mil anos. E se se disser que os períodos da criação foram dias extraordinários, cada um deles consistindo de um longo dia e uma longa noite, levantar-se-á naturalmente a questão: Que seria da vegetação durante a compridíssima noite? (c) Em Ex 20.9-11 ordena-se a Israel que trabalhe seis dias e descanse no sétimo, porque Jeová fez os céus e aterra em seis dias e descansou no sétimo. Uma boa exegese parece exigir que a palavra “dia” seja tomada no mesmo sentido em ambos os casos. Além disso, o sábado separado para descanso e certamente um dia literal; e o que se pode presumir é que os outros dias eram da mesma espécie. (d) Os últimos três dias certamente foram dias precedentes não diferiam nem um pouco deles em duração, é exatamente improvável que diferissem deles como períodos de milhares de anos diferem dos dias comuns. Pode-se também indagar por que se requeria um período tão longo assim para, por exemplo, a separação de luz e trevas. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)

A OBRA DOS DIAS SEPARADOS

Observamos na obra da criação uma definida graduação, sendo que a obra de cada dia se encaminha para a obra do dia subseqüente e a prepara; culminado tudo na criação do homem, a coroa das obras das mãos de Deus e aquém foi confiada a tarefa de fazer que toda a criação fosse subserviente à glória de Deus. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)

O primeiro dia

No primeiro dia a luz foi criada e, pela separação da luz e trevas, o dia e a noite foram constituídos. Esta criação da luz no primeiro dia tem sido ridicularizada em vista do fato de que o sol não foi criado antes do quarto dia, mas a própria ciência fez calar o ridículo ao provar que a luz não é uma substância que emana do sol, mas consiste de ondas de éter produzidas por elétrons energéticos. Note-se também que gênesis não fala do sol como luz (or), mas como luzeiro, ou portador de luz (ma’or), exatamente o que a ciência descobriu que é. Em vista do fato de que a luz é a condição de toda forma de vida, nada mais natural que fosse criada primeiro. Deus também instituiu logo a ordem de alternância de luz e trevas, chamando à luz dia e às trevas noite. Não nos é dito, porém, como se efetuou esta alternância, O relato da obra de cada dia termina com estas palavras: “houve tarde e houve manhã”. Os dias não são computados de tarde a tarde, mas de manhã a manhã. Depois de doze horas houve tarde, e depois doutras doze horas houve manhã. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)

O segundo dia

A obra do segundo dia também foi uma obra de separação: o firmamento foi estabelecido com a divisão das águas de cima e as águas de baixo. As águas de cia são as nuvens, e não, como dizem alguns, o mar de vidro, Ap 4.6; 15.2, e o rio da vida, Ap 22.1. Alguns têm procurado desacreditar o relato mosaico com a suposição de que apresenta o firmamento como uma abobada sólida; mas isso não tem base nenhuma, pois a palavra hebraica raqia absolutamente não indica uma abobada sólida, mas é equivalente ao termo “expansão”. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)

O terceiro dia

A separação é levada avante ainda com a separação entre o mar e a terra seca, cf. Sl 104.8. Em acréscimo a isso, foi estabelecido o reino vegetal de plantas e arvores. Três grandes classes de vegetais são mencionadas, a saber, deshe’, isto é plantas que não dão flores, que não frutificam umas das outras da maneira usual; ’esebh, consistindo de vegetais e grãos que dão semente; e ’ets peri ou arvores frutíferas, que dão frutos segundo a sua espécie. Deve-se notar aqui: (1) Que, quando Deus disse, “Produza a terra relva” etc., isso não equivale a dizer: Desenvolva-se a matéria inorgânica, por sua própria energia inerente, tornando-se vida vegetal. Foi uma palavra de poder pela qual Deus implantou o principio de vida na terra, e assim capacitou-a a produzir relva, ervas e árvores. Gn 2.9 evidencia que se trata de uma palavra criadora. (2) Que a declaração, “A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, e arvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie” (vers. 12), favorece definitivamente a idéia de que as diferentes espécies de plantas foram criadas por Deus, e não que se desenvolveram umas das outras. Cad qual produzia semente segundo a sua espécie e, portanto, só podia reproduzir a sua espécie. A doutrina da evolução nega, naturalmente, ambas estas asserções; mas devemos ter em mente que tanto a geração espontânea como o desenvolvimento de uma espécie provindo doutra, são suposições não provadas e, hoje em dia, grandemente desacreditadas. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.149)

O quarto dia

Sol, lua e estrelas foram criados como luzeiros ou portadores de luz para servirem a uma variedade de propósito: (1) dividir o dia e a noite; (2) ser para sinais, isto é, indicar os pontos cardeais, pressagiar mudanças nas condições do tempo, e servir de sinais de importantes eventos futuros e juízos vindouros; (3) ser para estações e para dias e anos, isto é, para atender ao propósito de efetuar a mudança das estações, a sucessão dos anos e a regular ocorrência de dias festivos especiais; e (4) servir como luzes para a terra e, assim, possibilitar o desenvolvimento da vida orgânica na terra. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.149)

O quinto dia

Este dia traz a criação das aves e dos peixes, habitantes das águas e dos ares. Aves e peixes estão juntos porque há grande similaridade em sua estrutura orgânica. Alem disso, são caracterizados por uma instabilidade e mobilidade que eles têm em comum com o elemento em que se movem, em distinção do terreno sólido. Também se assemelham em seu processo de procriação. Observe-se que eles também foram criados segundo a sua espécie, isto é, as espécies foram criadas. Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.149)

O sexto dia

Este dia traz o clímax da obra da criação. Em conexão com a criação dos animais, emprega-se mais uma vez a expressão, “Produza a terá”, e isto de novo deve ser interpretado do modo indicado no item (c). Os animais não se desenvolveram naturalmente da terra, mas foram produzidos pelo fiat criador de Deus. De maneira definida se nos diz no versículo 25 que Deus fez os animais selváticos, os animais domésticos e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. Mas, mesmo que a expressai se referisse ao desenvolvimento natural, não estaria em harmonia com a doutrina da evolução, visto que não ensina que os animais se desenvolveram diretamente do mundo mineral. A criação do homem se distingue pelo solene conselho que a precede: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”; e não é para espantar-nos, desde que tudo que a precedeu foi apenas uma preparação para o surgimento do homem, a coroa da obra de Deus, o rei da criação; e porque o homem foi destinado a ser a imagem de Deus. As palavras tselem e demuth não indicam exatamente a mesma coisa, mas, não obstante, são empregadas umas pela outras. Quando se diz que o homem foi criado à imagem de Deus, significa que Deus é o arquétipo do qual o homem é o éctipo; e quando se acrescenta que ele foi criado conforme a semelhança de Deus, isto meramente acrescenta a idéia de que a imagem é de todos os modos semelhante ao original. Em todo o seu ser o homem é a própria imagem de Deus. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.149)

O sétimo dia

O descanso de Deus no sétimo dia contém, antes de tudo, um elemento negativo. Deus cessou a Sua obra criadora. Mas a isso deve ser acrescentado um elemento positivo, a saber, que Ele teve prazer em Sua obra completa. Seu repouso foi o repouso do artista que, após haver completado a sua obra prima, agora a observa com profunda admiração e deleite, e se satisfaz perfeitamente contemplando sua produção. “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Ela respondeu ao propósito de Deus e correspondeu ao ideal divino. Daí, Deus se regozija com a Sua criação, pois reconhece nela o reflexo das Suas gloriosas perfeições. Seu resplandecente semblante brilha sobre ela e lhe derrama chuvas de bênçãos. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.150)

NÃO HÁ UM SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃO EM GÊNESIS 2

É comum a alta critica avançada supor que Gn 2 contem um segundo e independente relato da criação. O primeiro relato é considerado como obra do autor eloista, e o segundo, do jeovista. Os dois, é o que diz, não concordam, mas conflitam em diversos pontos. Conforme o segundo relato, em distinção do primeiro, aterra ficou seca antes da criação das plantas; o homem foi criado antes dos animais, e o homem somente, não o homem e a mulher; depois Deus criou os animais para ver se eles serviam de companheiros para o homem; vendo que falharam nisso, Deus criou a mulher como auxiliadora do homem; e, finalmente, colocou o homem no jardim que preparara para ele. Mas é evidente que isso é uma completa incompreensão do capitulo dois. Gênesis 2 não é, e não pretende ser, uma narrativa da criação. O titulo introdutório ’eleh toledoth (estas são as gerações), que se acha dez vezes em Gênesis, nunca se refere ao nascimento ou à origem das coisas, mas sempre aos nascimentos ou geração delas decorrente, isto é, à sua historia posterior. A expressão data de um tempo em que a historia ainda consistia da descrição das gerações. O capitulo dois de Gênesis começa com a descrição da historia do homem, dispõe o seu material com vistas a adequá-lo a esse propósito, e do capitulo primeiro sé repete o necessário para cumprir o propósito do autor, e o repete sem levar em conta a ordem cronológica. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.151)

TENTATIVA PARA HARMONIZAR NARRATIVA DA CRIAÇÃO COM AS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA

a. Interpretação ideal ou alegórica. Dá proeminência à idéia, e não à letra da narrativa. Considera Gênesis 1 como uma descrição poética da obra criadora de Deus, apresentando-a com diferentes pontos de vista. Mas (1) é evidente que a narrativa foi feita com a intenção de construir um registro de fatos históricos, e assim é considerada na Escritura, cf. Ex 20.11; Ne 9.6; Sl 33.6, 9; 145.2-6; (2) ao capitulo inicial de Gênesis “faltam quase todos os elementos da poesia hebraica reconhecida como tal” (Strong); e (3) esta narrativa liga-se indissoluvelmente à historia subseqüente e, portanto, o ,ais natural é considerá-la historia fatual. b. Teoria mítica da filosofia moderna. A filosofia moderna foi alem da posição anterior. Não só rejeita a narrativa histórica da criação, mas também rejeita a idéia da criação, e considera o conteúdo de Gênesis 1 como um mito que incorpora uma lição religiosa. Não há alegoria intencional ai, é que se diz, mas apenas uma representação mítica e ingênua com um cerne ou núcleo religioso. Isso também contraria o fato de que Gênesis 1 certamente nos vem com a pretensão de ser uma narrativa histórica, e nas referencia bíblicas mencionadas acima, por certo que não é considerado mito. c. Teoria da restituição. Alguns teólogos tentaram conciliar a narrativa da criação com as descobertas da ciência no estudo da terra, adotando a teoria da restituição. Esta foi defendida por Chalmers, Buckland, Wisemann e Delitzsch, e supõe que transcorreu um longo período entre a criação primaria, mencionada em Gn 1.1, e a criação secundaria, descrita em Gn 1.3-31. Este longo período foi marcado por varias alterações catastróficas, resultando na destruição supostamente descrita pelas palavras “sem forma e vazia”. Então, deve-se ler o versículo dois: “É a terra se tornou sem forma e vazia”. Esta destruição foi seguida por uma restituição, quando Deus transformou o caos em cosmos, um mundo habitável para o homem. Esta teoria talvez ofereça alguma explicação dos diferentes estratos da terra, mas não oferece explicação dos fosseis das rochas, a menos que se admita que houve também sucessivas criações de animais seguidas de destruições em massa. Esta teoria nunca encontrou apoio nos círculos científicos, e não acha suporte na Escritura. A Bíblia não diz que a terra se tornou, mas que era sem forma e vazia. E mesmo que se possa traduzir o verbo hebraico hayetha por “tornou-se”, as palavras “sem forma e vazia” denotam uma condição não formada, e não uma condição resultante de destruição. Delitzsch combinou com esta teoria a idéia de que originalmente a terra era habitada por anjos, e que a queda ocorrida no mundo angélico foi destruição que resultou no referido no versículo 2. Por uma ou outra razão, este conceito é consideravelmente favorecido pelos dispensacionalistas dos dias atuais, que, para apóia-lo, recorrem a passagens como Is 24.1; Jr 4.23-26; Jó 9.4-7; 2 Pe 2.4. Mas, uma cuidadosa leitura destas mesmas passagens é suficiente para convencer o interessado de que elas não provam o ponto em questão, de maneira nenhuma. Alem disso, a Bíblia nos ensina claramente que Deus criou os céus e a terra “e todo o seu exercito” em seis dias, Gn 2.1; Êx 20.11. d. Teoria da harmonização. Procura harmonizar a Escritura com a ciência presumindo que os dias da criação foram períodos de milhares de anos. Em acréscimos ao que foi dito sobre isto nas considerações sobre os dias da criação, podemos dizer agora que a idéia de que os estratos da terra indicam possivelmente longos e sucessivos períodos de desenvolvimento da historia da sua origem, não passa de mera hipótese dos geólogos, hipótese baseada em generalizações infundadas. Queremos chamar a atenção para as seguintes considerações: (1) A geologia não somente é uma ciência nova, mas também ainda esta presa ao pensamento especulativo. Não pode ser considerada uma ciência indutiva, desde que em grande parte é fruto de um raciocínio a priori ou dedutivo. Spencer chamava-lhe “Ciência Ilógica” e ridicularizava os seus métodos, e Huxley falava da grande hipótese por ela apregoada como “não comprovada e improvável”. (2) Ate o presente, ela tem feito pouco mais que esgaravatar a supervicie da terra, e isso num número muito limitado de lugares. O resultado é que as suas conclusões são muitas vezes meras generalizações, baseadas em dados insuficientes. Fatos ocorridos nalguns lugares contradizem fatos observados noutros. (3) Mesmo que tivesse explorado grandes áreas em todas as partes do globo, só poderia dar-nos informação perfeitamente fidedigna sobre a sua história passada. Não se pode escrever a história de uma nação com base nos fatos observados em sua presente constituição e vida. (4) Os geólogos partiram logo da pressuposição de que os estratos das rochas achavam-se na mesma ordem em todo o globo terráqueo; e isso, calculando que a extensão do tempo requerido para a formação de cada um deles poderia determinar a idade da terra. Mas (a) viu-se que a ordem das rochas difere em várias localidades; (b) as experiências feitas para determinar o tempo requerido para a formação dos diferentes estratos levaram a resultados muito diferentes; e (c) viu-se que a teoria uniformitária de Lyell, de que a ação física e química de hoje é guia seguro para avaliar a de todas as épocas anteriores, não merece confiança. (5) Quando as tentativas de determinar a idade dos diversos estratos ou rochas por sua constituição mineral e mecânica falharam, os geólogos começaram a fazer dos fósseis o fator dominante. A paleontologia veio a ser a disciplina verdadeiramente importante, e sob a influência do princípio uniformitário de Leyll, desenvolveu-se e se tornou uma das importantes provas do evolucionismo. Simplesmente se pressupõe que certos fósseis são mais antigos que outros; e se se levanta a questão sobre qual a base em que se firma essa pressuposição, a resposta é que os fósseis se acham nas rochas mais antigas. Isto não passa de raciocínio em círculo. A idade das rochas é determinada pelos fósseis que elas contém, e a idade dos fósseis é determinada pelas rochas em que eles se acham. Mas nem sempre se encontram os fósseis na mesma ordem; às vezes a ordem é invertida. (6) a ordem dos fósseis, como agora determinada pela geologia, não corresponde à ordem que a narrativa da criação nos leva a esperar, de sorte que, mesmo a aceitação da hipótese geológica não atenderia ao propósito de harmonizar a Escritura com a ciência. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.153)

Teoria mítica da filosofia moderna

A filosofia moderna foi alem da posição anterior. Não só rejeita a narrativa histórica da criação, mas também rejeita a idéia da criação, e considera o conteúdo de Gênesis 1 como um mito que incorpora uma lição religiosa. Não há alegoria intencional ai, é que se diz, mas apenas uma representação mítica e ingênua com um cerne ou núcleo religioso. Isso também contraria o fato de que Gênesis 1 certamente nos vem com a pretensão de ser uma narrativa histórica, e nas referencia bíblicas mencionadas acima, por certo que não é considerado mito. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.151)

Teoria da restituição

Alguns teólogos tentaram conciliar a narrativa da criação com as descobertas da ciência no estudo da terra, adotando a teoria da restituição. Esta foi defendida por Chalmers, Buckland, Wisemann e Delitzsch, e supõe que transcorreu um longo período entre a criação primaria, mencionada em Gn 1.1, e a criação secundaria, descrita em Gn 1.3-31. Este longo período foi marcado por varias alterações catastróficas, resultando na destruição supostamente descrita pelas palavras “sem forma e vazia”. Então, deve-se ler o versículo dois: “É a terra se tornou sem forma e vazia”. Esta destruição foi seguida por uma restituição, quando Deus transformou o caos em cosmos, um mundo habitável para o homem. Esta teoria talvez ofereça alguma explicação dos diferentes estratos da terra, mas não oferece explicação dos fosseis das rochas, a menos que se admita que houve também sucessivas criações de animais seguidas de destruições em massa. Esta teoria nunca encontrou apoio nos círculos científicos, e não acha suporte na Escritura. A Bíblia não diz que a terra se tornou, mas que era sem forma e vazia. E mesmo que se possa traduzir o verbo hebraico hayetha por “tornou-se”, as palavras “sem forma e vazia” denotam uma condição não formada, e não uma condição resultante de destruição. Delitzsch combinou com esta teoria a idéia de que originalmente a terra era habitada por anjos, e que a queda ocorrida no mundo angélico foi destruição que resultou no referido no versículo 2. Por uma ou outra razão, este conceito é consideravelmente favorecido pelos dispensacionalistas dos dias atuais, que, para apóia-lo, recorrem a passagens como Is 24.1; Jr 4.23-26; Jó 9.4-7; 2 Pe 2.4. Mas, uma cuidadosa leitura destas mesmas passagens é suficiente para convencer o interessado de que elas não provam o ponto em questão, de maneira nenhuma. Alem disso, a Bíblia nos ensina claramente que Deus criou os céus e a terra “e todo o seu exercito” em seis dias, Gn 2.1; Êx 20.11. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.152)

Teoria da harmonização

Procura harmonizar a Escritura com a ciência presumindo que os dias da criação foram períodos de milhares de anos. Em acréscimos ao que foi dito sobre isto nas considerações sobre os dias da criação, podemos dizer agora que a idéia de que os estratos da terra indicam possivelmente longos e sucessivos períodos de desenvolvimento da historia da sua origem, não passa de mera hipótese dos geólogos, hipótese baseada em generalizações infundadas. Queremos chamar a atenção para as seguintes considerações: (1) A geologia não somente é uma ciência nova, mas também ainda esta presa ao pensamento especulativo. Não pode ser considerada uma ciência indutiva, desde que em grande parte é fruto de um raciocínio a priori ou dedutivo. Spencer chamava-lhe “Ciência Ilógica” e ridicularizava os seus métodos, e Huxley falava da grande hipótese por ela apregoada como “não comprovada e improvável”. (2) Ate o presente, ela tem feito pouco mais que esgaravatar a supervicie da terra, e isso num número muito limitado de lugares. O resultado é que as suas conclusões são muitas vezes meras generalizações, baseadas em dados insuficientes. Fatos ocorridos nalguns lugares contradizem fatos observados noutros. (3) Mesmo que tivesse explorado grandes áreas em todas as partes do globo, só poderia dar-nos informação perfeitamente fidedigna sobre a sua história passada. Não se pode escrever a história de uma nação com base nos fatos observados em sua presente constituição e vida. (4) Os geólogos partiram logo da pressuposição de que os estratos das rochas achavam-se na mesma ordem em todo o globo terráqueo; e isso, calculando que a extensão do tempo requerido para a formação de cada um deles poderia determinar a idade da terra. Mas (a) viu-se que a ordem das rochas difere em várias localidades; (b) as experiências feitas para determinar o tempo requerido para a formação dos diferentes estratos levaram a resultados muito diferentes; e (c) viu-se que a teoria uniformitária de Lyell, de que a ação física e química de hoje é guia seguro para avaliar a de todas as épocas anteriores, não merece confiança. (5) Quando as tentativas de determinar a idade dos diversos estratos ou rochas por sua constituição mineral e mecânica falharam, os geólogos começaram a fazer dos fósseis o fator dominante. A paleontologia veio a ser a disciplina verdadeiramente importante, e sob a influência do princípio uniformitário de Leyll, desenvolveu-se e se tornou uma das importantes provas do evolucionismo. Simplesmente se pressupõe que certos fósseis são mais antigos que outros; e se se levanta a questão sobre qual a base em que se firma essa pressuposição, a resposta é que os fósseis se acham nas rochas mais antigas. Isto não passa de raciocínio em círculo. A idade das rochas é determinada pelos fósseis que elas contém, e a idade dos fósseis é determinada pelas rochas em que eles se acham. Mas nem sempre se encontram os fósseis na mesma ordem; às vezes a ordem é invertida. (6) a ordem dos fósseis, como agora determinada pela geologia, não corresponde à ordem que a narrativa da criação nos leva a esperar, de sorte que, mesmo a aceitação da hipótese geológica não atenderia ao propósito de harmonizar a Escritura com a ciência. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.153)

A hipótese evolucionista não pode tomar o lugar da doutrina da criação

Alguns falam como se a hipótese da evolução oferecesse uma explicação da origem do mundo; mas isto é evidentemente um erro, pois ela não faz tal coisa. Evolução é desenvolvimento, e todo desenvolvimento pressupõe a existência prévia de uma entidade ou princípio ou a energia da qual alguma coisa se desenvolve. A não existência não pode desenvolver-se e tornar-se existência. A matéria e a energia não poderiam evoluir do nada. Tem sido costumeiro voltarem os evolucionistas à hipótese nebular para a explicação da origem do sistema solar, apesar de que no presente ela foi suplantada pela hipótese planetesimal.* Mas ambas só fazem o problema retroceder um passo mais, e não conseguem soluciona-lo. O evolucionista tem que recorrer à teoria de que a matéria é eterna, ou aceitar a doutrina da criação. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.153)

A hipótese da evolução naturalista não se humaniza com a narrativa da criação

Se a evolução não explica a origem do mundo, não dará ao menos uma explicação racional do desenvolvimento das coisas desde a matéria primordial, e assim não explicará a origem das espécies atuais das plantas e animais (o homem inclusive) e também os vários fenômenos da vida, como a consciência, a inteligência, a moralidade e a religião? Estará ela necessariamente em conflito com a narrativa da criação? Ora, é mais que evidente que a evolução naturalista está em conflito com a narrativa bíblica. A Bíblia ensina que as plantas e os animais apareceram em cena ao fiat criador do Todo-poderoso; mas, segundo a hipótese evolucionista, eles evoluíram do mundo inorgânico por um processo de desenvolvimento natural. A Bíblia apresenta Deus criando plantas e animais segundo a espécie destes, e produzindo frutos segundo a sua espécie, isto é, para que reproduzissem a sua espécie, isto é, para que reproduzissem a sua espécie; mas a hipótese evolucionista tem em vista forças naturais, residentes na natureza, que levam ao desenvolvimento de uma espécie a partir de outra. Conforme a narrativa da criação, os reinos vegetal e animal e o homem foram produzidos numa única semana; mas a hipótese evolucionista os considera produtos de um desenvolvimento gradual no transcurso de milhões de anos. A Escritura retrata o homem como estando no plano mais elevado no início da sua carreira, e depois descendo a níveis mais baixos pela influência deteriorante do pecado; por outro lado, a hipótese evolucionista descreve o homem original como apenas ligeiramente diverso dos animais, e pretende que araçá humana, por meio de seus poderes inerentes, foi-se elevando a níveis de existência cada vez mais altos. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.154)

A teoria da evolução naturalista não está bem estabelecida e não explica os fatos

O conflito referido no item anterior seria coisa séria, se a hipótese evolucionista fosse um fato estabelecido. Alguns acham que é, e falam confiantemente do dogma do evolucionismo. Outros, porém, corretamente nos lembram que o evolucionismo ainda é apenas uma hipótese. Mesmo o grande cientista Ambrose Fleming declara que “a rigorosa análise da idéias ligadas ao termo evolução mostra que elas são insuficientes como solução filosófica ou científica do problema da realidade e da existência”. A própria incerteza que prevalece no campo dos evolucionistas é a prova categórica de que o evolucionismo é apenas uma hipótese. Além disso, muitos que ainda se apegam ao princípio evolucionista admitem francamente hoje que não entendem o método de operação do evolucionismo. Houve tempo em que se pensava que Darwin fornecera a chave do problema todo, mas essa chave é geralmente rejeitada hoje em dia. As colunas do alicerce sobre as quais a estrutura darwiniana se encarapitou, tais como os princípios do uso e desuso, da luta pela existência, da seleção natural e da transmissão dos caracteres adquiridos, foram retiradas uma após outra. Evolucionistas como Weissmann, De Vries, Mendel e Bateson, cooperaram todos para o colapso do edifício darwiniano. Em sua História da Biologia (history of Biology), Nordenskioeld fala da “dissolução do darwinismo” como fato consumado. Dennert convida-nos para aproximar-nos do leito de morte do darwinismo, e O’Toole diz: “O darwinismo está morto, e nenhum choro de carpideiras poderá ressuscitar o cadáver”. Morton fala da “bancarrota do evolucionismo”, e Price se refere ao “fantasma da evolução orgânica”. Confessadamente, pois, o darwinismo não pôde explicar a origem das espécies, e os evolucionistas não conseguem oferecer uma explicação melhor. A lei de Mendel explica variações, mas não a origem de novas espécies. De fato, ela se desvia do desenvolvimento de novas espécies por um processo natural. Alguns são de opinião que a teoria das mutações, de De Vries, ou a teoria da evolução emergente de Lloyd Morgan, indica o caminho, mas nem esta nem aquela provaram que constituem uma feliz explicação da origem das espécies pelo desenvolvimento natural puro e simples. Admite-se agora que os mutantes de De Vries são relativos a variedades, e não a espécies, não podendo ser considerados como princípios de novas espécies. E Morgan sente-se constrangido a admitir que não pode explicar os seus emergentes sem cair de novo nalgum poder criador, que poderia chamar-se Deus. Diz Morton: “O fato é que além da criação, não existe nem mesmo uma teoria das origens em campo hoje”. A hipótese evolucionista falha em vários pontos. Ela não pode explicar a origem da vida. Os evolucionistas buscaram a explicação dela na geração espontânea, uma suposição não provada e atualmente desacreditada. É um fato bem estabelecido pela ciência que ávida só pode provir da vida antecedente. Ademais, ela fracassou completamente quanto a aduzir um só exemplo de uma espécie produzindo outra espécie diferente (orgânica, em distinção do caos que constituem variedades). Em 1921 disse Bateson: “Não podemos ver como se deu a diferenciação das espécies. Variações de muitos tipos, com freqüência consideráveis, testemunhamos diariamente, mas nenhuma origem de espécies. ...Enquanto isso, embora a nossa fé no evolucionismo permaneça firme, não temos uma aceitável explicação da origem das espécies”. O evolucionismo não foi capaz também de enfrentar com êxito os problemas apresentados pela origem do homem. Não conseguiu sequer provar que fisicamente o homem descende dos animais. J. A. Thomson, autor de The Outline of Science (Esboço da Ciência) e um dos principais evolucionistas, sustenta que o homem realmente nunca foi um animal, uma criatura de aparência feroz e animalesca, mas que o primeiro homem surgiu abruptamente, por um grande salto, do tronco dos primatas a um ser humano. Muito menos pode explicar o lado psíquico da vida do homem. A alma humana, dotada de inteligência, auto-percepção, liberdade, consciência e aspirações religiosas, continua sendo um enigma não resolvido. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.155)

O evolucionismo teísta é insustentável, à luz da Escritura

Alguns cientistas e filósofos cristãos procuram harmonizar a doutrina da criação, ensinada pela Escritura, com a hipótese e evolucionista, aceitando o que denominam evolucionismo teísta. É um protesto contra a tentativa de eliminar Deus, e O defende como o realizador todo-poderoso que está por trás de todo o processo de desenvolvimento. A evolução é tida simplesmente como o método de ação de Deus no desenvolvimento da natureza. O evolucionismo teísta chega realmente ao ponto de dizer que Deus criou o mundo (o cosmos) por um processo de evolução, um processo de desenvolvimento natural, no qual Ele não intervém miraculosamente, exceto nos caos de absoluta necessidade. Ele se dispõe a admitir que o princípio absoluto do mundo só poderia resultar de uma atividade criadora direta de Deus; e, se não pode encontrar uma explicação natural, também garante uma intervenção direta de Deus na originação da vida e do homem. Esse modo de ver tem sido aclamado como evolucionismo cristão, embora não haja necessariamente nada de cristão nele. Muitos que doutro modo se oporiam à hipótese evolucionista, acolheram-no porque ele reconhece Deus no processo e é supostamente compatível com a doutrina escriturística da criação. Daí, é ensinado livremente nas igrejas e nas escolas dominicais. Contudo, é de fato um produto híbrido muito perigoso. O nome é uma contradição terminológica, pois não é nem teísmo nem naturalismo, e não é criação nem evolução no sentido em que os termos são comumente aceitos. E não se requer muita capacidade de penetração para ver-se que p Dr. Fairhust está certo em sua convicção de “que o evolucionismo teísta destrói a Bíblia como livro inspirado e sua autoridade coma mesma eficiência do evolucionismo ateu”. À semelhança do evolucionismo naturalista, o evolucionismo teísta ensina que foram necessários milhões de anos para a produção do presente mundo habitável; e que Deus não criou várias espécies de plantas e animais, e isto para reproduzirem sua espécie; que o homem, ao menos em seu lado físico, é descendente dos animais e, portanto, começou a sua carreira num nível baixo; que não houve queda nenhuma, no sentido bíblico da palavra, mas apenas repetidos deslizes dos homens em seu curso ascensional; que o pecado é apenas uma fraqueza, resultante dos instintos e desejos animais do homem, e não constitui culpa; que a redenção é conseguida pelo sempre crescente domínio do elemento superior presente no homem sobre as suas propensões inferiores; que não ocorrem milagres, quer no mundo natural quer no espiritual; que a regeneração, a conversão e a santificação são simplesmente mudanças psicológicas naturais, e assim por diante. Numa palavra, é uma hipótese que subverte absolutamente a verdade da Escritura. Alguns eruditos dos dias atuais acham que a teoria da evolução criadora, de Bergson,* se recomenda por si mesma aos que não querem deixar Deus fora de consideração. Este filósofo francês pressupõe um élan vital no mundo, como base e princípio dinâmico de toda vida. Este princípio vital não brota da matéria, mas é, antes, a causa originadora da matéria. Ele permeia a matéria, vence sua inércia e sua resistência agindo como uma força viva naquilo que essencialmente está morto, e sempre cria, não material novo, mas novos movimentos adaptados aos seus próprios fins, e assim cria de maneira muito semelhante à criação do artista. Tem direção e propósito e, contudo, embora consciente, não opera segundo um plano preconcebido, conquanto isso seja possível. Ele determina a evolução propriamente dita, bem como a direção em que a evolução se move. Esta vida permanentemente criadora, “da qual todo indivíduo e toda espécie é uma experiência”, é o Deus de Bergson, um Deus finito, de poder limitado e que, ao que parece, é impessoal, embora Hermann diga que “nós talvez não erremos muito se acreditarmos que ele será ‘a tendência ideal da coisas’tornada pessoal”. Haas fala de Bergson como panteísta vitalista, e não teísta. De qualquer forma, seu Deus é um Deus que se acha totalmente dentro do mundo. Essa maneira de ver pode exercer especial atração sobre o teólogo liberal moderno, mas está ainda menos em harmonia com a narrativa bíblica da criação do que o evolucionismo teísta. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA. 1. Qual é a verdadeira alternativa para a doutrina da criação? 2. Onde está a importância da doutrina da criação? 3. Deve-se conceder que os primeiros capítulos de Gênesis se apóiem de alguma forma no estudo científico da origem das coisas? 4. A Bíblia determina de algum modo a data em que o mundo foi criado? 5. Que extremos devem ser evitados quanto à relação mútua entre Deus e o mundo? 6. A Bíblia sempre deve ser interpretada em harmonia com teorias científicas amplamente aceitas? 7. Que posição ocupa a hipótese evolucionista no mundo científico de hoje? 8. Qual é o elemento característico da teoria evolucionista darwinista? 9. Como se pode explicar o seu repúdio generalizado nos dias atuais? 10. Como a evolução criadora de Bergson, ou o neo-vitalismo de Hans Driesch afetam a visão mecanicista do universo? 11. Em que aspecto o evolucionismo teísta é um melhoramento, em relação ao evolucionismo naturalista? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA. Bavinck, Geref. Dogm. II, p.426-543; ibid., Schepping of Ontwikkeling; Kuyper, Dict, Dogm, De Crestione, p. 3-127; De Cresturis A, p. 5-54; B, p. 3-42; ibid, Evolutie; Vos, Geref. Dogm. I, De Schepping; Hodge, Syst. Theol. I p. 550-574; Shedd, Dogm. Theol. I , p. 463-526; McPherson, Chr. Dogm., p.163-174; Dabney, Syst. And Polemic Theol., p.247-274; Harris, God, Creator and Lord of All I, p. 463-518; Hepp, Calvinism and the Philosophy of Nature, Cap. V; Honig, Geref. Dogm.,p.281-324; Noordtzaij, God’s Woord en der Eeuwen Getuigenis,p. 77-98; Aalders, De Goddelijke Openbaring in de Eerste Drie Hoofdstukken van Genesis;Geesink, Van’s Heeren Ordinantien, Inleidend Deel, p. 216-332; várias obras de Darwin, Wallace, Weissman, Osborne, Spencer, Haeckel, Thompson e outros sobre o evolucionismo; Dennert, The Desthbed of Darwinism; Dawson, The Bible Confirmed by Science; Fleming, Evolution and Creation; Hamilton, The Basis of Evolutionary Faith; Johnson, Can the Christian Now Believe in Evolution? McCrady, Reason and Revelation; More, The Dogma of Evolution; Morton, The bankruptcy of Evolution; O’Toole, The case Against Evolution; Price, The Fundamentals of Geology; ibid., The Phantom of Organic Evolution; Messenger, Evolution and Theology; Rimmer, The Theory of Evolution and the Facts of Science. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.157)