quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Os Atributos Incomunicáveis

(Deus como o Ser Absoluto) É muito comum, na teologia, falar de Deus como o Ser absoluto. Ao mesmo tempo, o termo “absoluto” é mais característico da filosofia que da teologia. Na metafísica a expressão “o Absoluto” é um designativo do fundamento último de toda a existência; e, uma vez que o teísta fala também de Deus como o fundamento último de toda existência, às vezes se pensa que o Absoluto da filosofia e o Deus do teísmo são um só e o mesmo Ser. Não necessariamente, porém. De fato, a concepção usual do Absoluto impossibilita igualá-la ao Deus da Bíblia e da teologia cristã. O termo “Absoluto” é derivado do termo latino absolutus, composto de ab (preposição de, indicando procedência) e solvere (soltar) e, assim, significa livre quanto à condição, ou livre de limitação ou restrição. Esta idéia fundamental foi formulada da vários modos, de sorte que o Absoluto foi considerado como aquilo que é livre de todas as condições (ou Incondicionado ou Auto-existente), de todas as relações (o Irrelacionado), de todas as imperfeições (o perfeito), ou livre de todas as diferenças ou distinções fenomenológicas, como matéria e espírito, ser e atributos, sujeito e objeto, aparência e realidade (o Real, a Realidade última). A resposta à questão, se o Absoluto da filosofia pode ser identificado com o Deus da teologia, depende do conceito que se tenha do Absoluto. Se Spinoza concebe o Absoluto como único Ser Auto-subsistente, do qual todas as coisas particulares são apenas modos transitórios, identificando assim Deus e o mundo, não podemos compartir sua idéia de que este Absoluto é Deus. Quando Hegel vê o Absoluto é Deus. Quando Hegel vê o Absoluto como a unidade do pensamento e do ser, como totalidade de todas as coisas, que inclui todas as relações, e em que todas as discordâncias do presente se resolvem em perfeita unidade, de novo achamos impossível segui-lo na consideração deste Absoluto como Deus. E quando Bradley declara que o seu Absoluto não se relaciona com nada, e que não pode existir nenhuma relação prática entre ele e a vontade finita, concordamos com ele que o seu Absoluto não pode ser o Deus da religião cristã, pois este Deus entra em relação com criaturas finitas. Bradley não consegue conceber o Deus da religião senão como um Deus finito. Mas quando o Absoluto é definido como a Causa Primeira de todas as coisas existentes, ou como o fundamento último de toda realidade, ou como o único Ser auto-existente, pode ser considerado idêntico ao Deus da teologia. Ele é auto-suficiente, mas ao mesmo tempo pode entrar livremente em várias relações com Sua criação como um todo e com Suas criaturas. Enquanto os atributos incomunicáveis salientam o Ser Absoluto de Deus, os atributos comunicáveis acentuam o fato de que ele entra em várias relações com as Suas criaturas. No presente capítulo serão consideradas as Seguintes perfeições de Deus: (Teologia Sistemática - Louis Berkhof. Pg. 50)

Existência Autônoma de Deus

Deus é auto-existente, isto é, ele tem em Si mesmo a base da Sua existência. Às vezes esta idéias é expressa dizendo-se que Ele é a causa sui (a Sua própria causa), mas não se pode considerar exata esta expressão, desde que Deus é o não causado, que existe pela necessidade do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente. O homem, por outro lado, não existe necessariamente, e tem a causa da sua existência fora dele próprio. A idéia da auto-existência de Deus era geralmente expressa pelo termo aseitas (asseidade), significando auto-originado, mas os teólogos reformados em geral o substituíram pela palavra indenpendentia (independência), expressando com ela não somente que Deus é independente em Seu Ser, mas também que é independente em tudo mais: em Suas virtudes, decretos, obras, e assim por diante. Pode-se dizer que há um tênue vestígio desta perfeição na criatura, mas isto só pode significar que a criatura, conquanto absolutamente dependente, tem sua existência própria e distinta. Mas, naturalmente, longe está de ser auto-existente. Este atributo de Deus é reconhecido geralmente, e está implícito nas religiões pagãs e no Absoluto da filosofia. Quando se concebe o Absoluto como a base ultima e auto-existente, Ele não só é independente, como também faz tudo depender dele. Esta auto-existência de Deus acha expressão no nome Jeová. É somente como o Ser auto-existente e independente que Deus pode dar a certeza de que permanecerá eternamente o mesmo, com relação ao Seu povo. Encontram-se indicações adicionais disso na afirmação presente em Jo 5.26, “Porque assim como o pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho Ter vida em si mesmo”, na declaração de que Ele é independente de todas as coisas e que todas as coisas só existem por meio dele, Sl 94.8s.; Is 40.18s.; At 7.25; e nas afirmações que implicam que Ele é independente em Seu pensamento, Rm 11.33, 34, em sua vontade, Dn 4.35; Rm 9.19; Ef 1.5; Ap. 4.11, em Seu poder, Sl 115.3, e em Seu conselho, Sl 33.11. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 51)

A Imutabilidade de Deus

A imutabilidade de Deus é necessariamente concomitante com a Sua asseidade. É a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em Seus propósitos e em suas promessas. Em virtude deste atributo, Ele é exaltado acima de tudo quanto há, e é imune de todo acréscimo ou diminuição e de todo desenvolvimento ou decadência em Seu Ser e em Suas perfeições. Seu conhecimento e Seus planos, Seus princípios morais e Suas Volições permanecem sempre os mesmos. Até a razão nos ensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que qualquer mudança é para melhor ou para pior. Mas em Deus, a perfeição absoluta,, melhoramento e deterioração são igualmente impossíveis. A imutabilidade de Deus é claramente ensinada em passagens da Escritura como Êx. 3.14; Sl 102.26-28; Is 41.4; 48.12; Ml 3.6; Rm 1.23; Hb 1.11, 12; Tg 1.17. Ao mesmo tempo, há muitas passagens bíblicas que parecem atribuir mudança a Deus. Não é certo que Aquele que habita a eternidade passou à criação do mundo, encarnou-se em Cristo, e no Espírito Santo fez morada na Igreja? Não é Ele apresentado como revelando-se e ocultando-se, como vindo e indo, como se arrependendo e mudando de intenção, e como procedendo diferentemente com o homem antes e depois da sua conversão? Cf. Êx 32.10-14; Jn 3.10; Pv 11.20; 12.22; Sl 18.26, 27. A objeção aqui presente baseia-se até certo ponto em errônea compreensão. A imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de imobilidade, como se não houvesse movimento em Deus. É hábito na teologia falar-se de Deus como actus purus, Deus sempre em ação. A Bíblia nos ensina que Deus entra em multiformes relações com os homens e, por assim dizer, vive sua vida com eles. Ele está cercado de mudanças, mudanças nas relações dos homens com Ele, mas não há nenhuma mudança em Seu Ser, em Seus atributos, em Seus propósitos, em Seus motivos de ação, nem em Suas promessas. Seu propósito de criar o mundo é eterno como Ele, mas não houve mudança nele quando esse propósito foi levado a efeito por um único ato de Sua vontade. A encarnação não produziu mudança no Ser e nas perfeições de Deus, nem em Seu propósito, pois era do Seu eterno beneplácito enviar ao mundo o Filho do Seu amor. E se a Escritura fala do seu arrependimento, de Sua mudança de intenção, e da alteração que faz de sua relação com pecadores quando estes se arrependem, devemos lembrar-nos de que se trata apenas de um modo antropopático de falar. Na realidade, a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus. É importante sustentar a doutrina da imutabilidade de Deus contra a doutrina pelagiana e arminiana de que Deus é sujeito a mudança, na verdade não em Seu Ser, mas em Seu conhecimento e em Sua vontade, de modo que Suas decisões dependem em grande medida das ações do homem; contra a noção panteísta de que Deus é um eterno vir-a-ser, e não um Ser absoluto, e de que o Absoluto inconsciente vai-se desenvolvendo gradativamente rumo à personalidade consciente no homem; e contra a tendência atual de alguns, de falar de um Deus finito, que se esforça e que se desenvolve gradativamente. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 52)

A Infinidade de Deus

Infinidade é a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver quaisquer limitações do Ser divino e dos Seus atributos. Isto implica que Ele não é limitado de maneira nenhuma pelo universo, por este mundo caracterizado pela relação tempo-espaço, e que Ele não fica encerrado no universo. Isto não implica Sua identidade com a soma total das coisas existentes, nem exclui a coexistência das coisas finitas e derivadas, comas quais Ele mantém relação. A infinidade de Deus deve ser concebida como intensiva, antes que extensiva, e não deve ser confundida com extensão ilimitada, como se Deus estivesse espalhado pelo universo todo, uma parte aqui, outra ali, pois Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão espacial. Tampouco deve ser considerada como um conceito meramente negativo, embora seja perfeitamente verdadeiro que não podemos formar uma idéia positiva da infinidade. É uma realidade em Deus e só por Ele compreendida plenamente. Distinguimos vários aspectos da infinidade de Deus. 1. SUA PERFEIÇÃO ABSOLUTA. Esta é a infinidade do Ser Divino considerada em si mesma. Não deve ser considerada num sentido quantitativo, mas qualitativo; ela qualifica todos os atributos comunicáveis de Deus. O poder infinito não é um quantum absoluto, mas sim, uma santidade qualitativamente livre de toda limitação ou defeito. O mesmo se pode dizer do conhecimento infinito, da sabedoria infinita, do amor infinito e da justiça infinita. Diz o dr. Orr: “Talvez possamos dizer que, em última análise a infinidade de Deus é: (a) interna e qualitativamente, ausência de toda limitação e defeito;(b) potencialidade ilimitada”. Neste sentido da palavra, a infinidade de Deus é simplesmente idêntica à perfeição do Seu divino Ser. A prova bíblica disto acha-se em Jó 11.7-10; Sl 145.3; Mt 5.48. 2. SUA ETERNIDADE. A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade – Sua eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim, Sl 90.2; 102.12; Ef 3.21. Devemos lembrar, porém, que ao falar como fala, a Bíblia emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Geralmente pensamos na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, é adstrita àquilo que transcende todas as limitações temporais. Que o termo se aplica a Deus nesse sentido é ao menos ensinado em 2 Pe 3.8. “O tempo”, diz o dr. Orr, “estritamente falando, tem relação com o mundo de objetos existentes em sucessão. Deus preenche o tempo; Ele está em cada partícula dele; mas a Sua eternidade , todavia, não é realmente este estar no tempo. É antes, aquilo com o que o tempo forma um contraste”. Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não é assim a existência de Deus. A nossa vida se divide em passado, presente e futuro, mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua eternidade pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado. Acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível. A relação da eternidade com o tempo constitui um dos mais difíceis problemas da filosofia e da teologia, talvez de impossível solução em nossa condição atual. 3. SUA IMENSIDADE. A infinidade de Deus também pode ser vista com referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Esta pode ser definida como a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. Ela tem um lado negativo e um lado positivo, negando todas as limitações do espaço ao Ser Divino, e afirmando que Deus está acima do espaço e ocupa todas as partes deste com todo o Seu Ser. As últimas palavras são acrescentadas para evitar a idéia de que Deus se difunde pelo espaço, como se uma parte do Seu Ser estivesse num lugar e outra parte noutro. Distinguimos três modos de presença no espaço. Os corpos ocupam o espaço circunscritivamente, porque são limitados por ele; os espíritos finitos ocupam o espaço definidamente, visto que não estão em toda parte, mas somente num dado e definido lugar; e, em distinção de ambos estes modos, Deus ocupa o espaço repletivamente, porque ele preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra. Em certo sentido, os termos “imensidade” e “onipresença”, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa e, portanto, podem ser considerados sinônimos. Todavia, há um ponto de diferença que deve ser observado cuidadosamente. “Imensidade” aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, ao passo que “onipresença” denota que, não obstante, Ele preenche todas as partes do espaço com todo o Seu Ser. O primeiro salienta a Transcendência, e o último, a imanência de Deus. Deus é imanente em todas as Suas criaturas, na Sua criação inteira, mas de modo nenhum é limitado a esta. No que diz respeito à relação de Deus com o mundo, devemos evitar, por um lado, o erro do panteísmo, tão característico de grande parte do pensamento atual, com a sua negação da transcendência de Deus e a sua suposição de que o Ser de Deus é realmente substância de todas as coisas; e, por outro lado, o conceito deísta de que Deus está de fato de que Deus está de fato presente na criação per potentiam (com o Seu poder), não porém per essentiam et naturam (com a essência e natureza do Seu Ser), e age sobre o mundo à distância. Apesar do fato de que Deus é distinto do mundo e não pode ser identificado com ele, não obstante está presente em cada parte da Sua criação, não somente per potentiam, mas também per essentiam. Não significa, porém, que ele está igualmente presente, e presente no mesmo sentido em todas as Suas criaturas. A natureza da Sua permanência está em harmonia com a das Suas criaturas. Ele não habita na terra do mesmo modo como habita no céu, nem nos animais como habita no homem, nem na criação inorgânica como na orgânica, nem dos ímpios como nos piedosos, nem na Igreja como em Cristo. Há uma infinda variedade nas maneiras pelas quais ele é imanente em Suas criaturas, e na medida em que elas revelam Deus aos que têm olhos para ver. A onipresença de Deus é revelada claramente na Escritura. O céu e aterra não podem contê-lo, 1 Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48, 49; e ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus acessível, Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24; At 17.27, 28. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática. Pg. 54)

A ETERNIDADE DE DEUS

A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade – Sua eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim, Sl 90.2; 102.12; Ef 3.21. Devemos lembrar, porém, que ao falar como fala, a Bíblia emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Geralmente pensamos na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, é adstrita àquilo que transcende todas as limitações temporais. Que o termo se aplica a Deus nesse sentido é ao menos ensinado em 2 Pe 3.8. “O tempo”, diz o dr. Orr, “estritamente falando, tem relação com o mundo de objetos existentes em sucessão. Deus preenche o tempo; Ele está em cada partícula dele; mas a Sua eternidade , todavia, não é realmente este estar no tempo. É antes, aquilo com o que o tempo forma um contraste”. Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não é assim a existência de Deus. A nossa vida se divide em passado, presente e futuro, mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua eternidade pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado. Acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível. A relação da eternidade com o tempo constitui um dos mais difíceis problemas da filosofia e da teologia, talvez de impossível solução em nossa condição atual. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 53)

A IMENSIDADE DE DEUS

A infinidade de Deus também pode ser vista com referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Esta pode ser definida como a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. Ela tem um lado negativo e um lado positivo, negando todas as limitações do espaço ao Ser Divino, e afirmando que Deus está acima do espaço e ocupa todas as partes deste com todo o Seu Ser. As últimas palavras são acrescentadas para evitar a idéia de que Deus se difunde pelo espaço, como se uma parte do Seu Ser estivesse num lugar e outra parte noutro. Distinguimos três modos de presença no espaço. Os corpos ocupam o espaço circunscritivamente, porque são limitados por ele; os espíritos finitos ocupam o espaço definidamente, visto que não estão em toda parte, mas somente num dado e definido lugar; e, em distinção de ambos estes modos, Deus ocupa o espaço repletivamente, porque ele preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra. Em certo sentido, os termos “imensidade” e “onipresença”, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa e, portanto, podem ser considerados sinônimos. Todavia, há um ponto de diferença que deve ser observado cuidadosamente. “Imensidade” aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, ao passo que “onipresença” denota que, não obstante, Ele preenche todas as partes do espaço com todo o Seu Ser. O primeiro salienta a Transcendência, e o último, a imanência de Deus. Deus é imanente em todas as Suas criaturas, na Sua criação inteira, mas de modo nenhum é limitado a esta. No que diz respeito à relação de Deus com o mundo, devemos evitar, por um lado, o erro do panteísmo, tão característico de grande parte do pensamento atual, com a sua negação da transcendência de Deus e a sua suposição de que o Ser de Deus é realmente substância de todas as coisas; e, por outro lado, o conceito deísta de que Deus está de fato de que Deus está de fato presente na criação per potentiam (com o Seu poder), não porém per essentiam et naturam (com a essência e natureza do Seu Ser), e age sobre o mundo à distância. Apesar do fato de que Deus é distinto do mundo e não pode ser identificado com ele, não obstante está presente em cada parte da Sua criação, não somente per potentiam, mas também per essentiam. Não significa, porém, que ele está igualmente presente, e presente no mesmo sentido em todas as Suas criaturas. A natureza da Sua permanência está em harmonia com a das Suas criaturas. Ele não habita na terra do mesmo modo como habita no céu, nem nos animais como habita no homem, nem na criação inorgânica como na orgânica, nem dos ímpios como nos piedosos, nem na Igreja como em Cristo. Há uma infinda variedade nas maneiras pelas quais ele é imanente em Suas criaturas, e na medida em que elas revelam Deus aos que têm olhos para ver. A onipresença de Deus é revelada claramente na Escritura. O céu e aterra não podem contê-lo, 1 Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48, 49; e ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus acessível, Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24; At 17.27, 28. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática. Pg. 54)

A Unidade de Deus

Distingue-se entre as unitas singularitatis e a unitas simplicitatis. 1. UNITAS SINGULARITATIS. Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o fato de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que existe somente um Ser Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm sua existência dele, por meio dele e para Ele. Em várias passagens a Bíblia nos ensina que existe somente um Deus verdadeiro. Salomão pleiteou com Deus que defendesse a causa do Seu povo, “para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro”. 1. Rs 8.60. E Paulo escreve aos coríntios: “todavia, para nós há um só Deus, o pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também por ele”, 1 Co 8.6. Semelhantemente, escreve a Timóteo, “porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”, 1 Tm 2.5. Outras passagens salientam, não a unidade numérica de Deus, mas a sua unicidade. É o caso das bem conhecidas palavras de Dt 6.4, “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. A palavra hebraica ‘echad, traduzida por “um” (na versão inglesa utilizada pelo Autor) também pode ser traduzida por “somente um” (único, como na Versão de Almeida), o equivalente do termo alemão “einig” e do holandês “eenig”. E esta é uma tradução melhor, ao que parece. Keil acentua o fato de que esta passagem não ensina a unidade numérica de Deus, mas, sim, que Jeová é o único Deus que faz jus ao nome Jeová. Também é este o sentido do vocábulo em Zc 14.9. A mesma idéia é lindamente expressa na interrogação retórica de Êx 15.11, “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?” Isto exclui todos os conceitos politeístas de Deus. 2. UNITAS SIMPLICITATIS. Embora a unidade discutida no item anterior distinga a Deus dos demais seres, a perfeição agora em foco expressa a unidade interior e qualitativa do Ser Divino. Quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado ou qualidade que consiste em ser simples, a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto, de composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível de divisão em nenhum sentido da palavra. Isto implica, entre outras coisas, que as três pessoas da Divindade não são outras tantas partes das quais se compõe a essência divina, que não há distinção entre a essência e as perfeições de Deus, e que os atributos não são adicionados à Sua essência. Desde que aqueles e esta são uma só coisa, a Bíblia pode falar de Deus como luz e vida, como justiça e amor, identificando-o assim com as Suas perfeições. A simplicidade de Deus segue-se de algumas de Suas outras perfeições: de Sua auto-existência, que exclui a idéia de que alguma coisa O precedeu, como no caso dos compostos; e de Sua imutabilidade, que não poderia ser um predicado da Sua natureza, se sta fosse feita de partes. Esta perfeição foi discutida durante a Idade Média, e foi negada pelos socinianos e arminianos. A Escritura não afirma explicitamente, mas ela está implícita onde a Bíblia fala de Deus como justiça, verdade, sabedoria, luz, vida, amor, etc. e, assim, indica que cada uma destas propriedades, devido à sua perfeição absoluta, é idêntica ao Seu Ser. Nas recentes obras teológicas a simplicidade de Deus raramente é mencionada. Muitos teólogos positivamente a negam, quer por ser considerada como pura abstração metafísica, quer porque, na opinião deles, ela entra em conflito com a doutrina da Trindade. Dabney crê que não há composição na substância de Deus, mas nega que nele a substância e os atributos sejam uma e a mesma coisa. Ele defende a idéia de que, neste sentido, Deus não é mais simples que os espíritos finitos. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1.Que diferentes concepções do Absoluto encontramos na filosofia? 2. O Absoluto da filosofia pode ser sempre identificando com o Deus da teologia? 3. Como Bradley distingue entre ambos? 4. Como o Deus finito de James, Schiller, Ward, Wells e outros, se relaciona com o Absoluto? 5. Como os atributos incomunicáveis de Deus se ligam ao Absoluto? 6. A imutabilidade de Deus exclui todo movimento em Deus? 7. Até que ponto ela exclui mudanças de ações e de relações? 8. Deve-se considerar a absoluta perfeição de Deus um atributo? 9. Por que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus como duração sem fim? 10. É possível harmonizar a transcendência e a imanência de Deus? 11. Como se interpreta freqüentemente a transcendência na teologia moderna? 12. O que é que está implícito na simplicidade de Deus? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II, p.137-171; Kuyper, Dict. Dogm., Deo I, p. 287-318; Hodge, Syst. Theol. I, p.380-393; Shedd, Dogm. Theol. I, p.338-335; Dabney, Syst. And Polm. Theol., p. 151-154; Thornwell, Collected Works I, p. 189-205; Strong, Syst. Theol., p.254-260, 275-279; Pieper, Christl. Dogm. I, p.536-543; 547-549; Knudson, The Doct. of God, p.242-284; Steenstra, God as Unity and Trinity, p. 112-139; Charnock, Existence and Attributes of God, p.276-405. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 56)