quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A Unidade de Deus

Distingue-se entre as unitas singularitatis e a unitas simplicitatis. 1. UNITAS SINGULARITATIS. Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o fato de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que existe somente um Ser Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm sua existência dele, por meio dele e para Ele. Em várias passagens a Bíblia nos ensina que existe somente um Deus verdadeiro. Salomão pleiteou com Deus que defendesse a causa do Seu povo, “para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro”. 1. Rs 8.60. E Paulo escreve aos coríntios: “todavia, para nós há um só Deus, o pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também por ele”, 1 Co 8.6. Semelhantemente, escreve a Timóteo, “porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”, 1 Tm 2.5. Outras passagens salientam, não a unidade numérica de Deus, mas a sua unicidade. É o caso das bem conhecidas palavras de Dt 6.4, “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. A palavra hebraica ‘echad, traduzida por “um” (na versão inglesa utilizada pelo Autor) também pode ser traduzida por “somente um” (único, como na Versão de Almeida), o equivalente do termo alemão “einig” e do holandês “eenig”. E esta é uma tradução melhor, ao que parece. Keil acentua o fato de que esta passagem não ensina a unidade numérica de Deus, mas, sim, que Jeová é o único Deus que faz jus ao nome Jeová. Também é este o sentido do vocábulo em Zc 14.9. A mesma idéia é lindamente expressa na interrogação retórica de Êx 15.11, “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?” Isto exclui todos os conceitos politeístas de Deus. 2. UNITAS SIMPLICITATIS. Embora a unidade discutida no item anterior distinga a Deus dos demais seres, a perfeição agora em foco expressa a unidade interior e qualitativa do Ser Divino. Quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado ou qualidade que consiste em ser simples, a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto, de composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível de divisão em nenhum sentido da palavra. Isto implica, entre outras coisas, que as três pessoas da Divindade não são outras tantas partes das quais se compõe a essência divina, que não há distinção entre a essência e as perfeições de Deus, e que os atributos não são adicionados à Sua essência. Desde que aqueles e esta são uma só coisa, a Bíblia pode falar de Deus como luz e vida, como justiça e amor, identificando-o assim com as Suas perfeições. A simplicidade de Deus segue-se de algumas de Suas outras perfeições: de Sua auto-existência, que exclui a idéia de que alguma coisa O precedeu, como no caso dos compostos; e de Sua imutabilidade, que não poderia ser um predicado da Sua natureza, se sta fosse feita de partes. Esta perfeição foi discutida durante a Idade Média, e foi negada pelos socinianos e arminianos. A Escritura não afirma explicitamente, mas ela está implícita onde a Bíblia fala de Deus como justiça, verdade, sabedoria, luz, vida, amor, etc. e, assim, indica que cada uma destas propriedades, devido à sua perfeição absoluta, é idêntica ao Seu Ser. Nas recentes obras teológicas a simplicidade de Deus raramente é mencionada. Muitos teólogos positivamente a negam, quer por ser considerada como pura abstração metafísica, quer porque, na opinião deles, ela entra em conflito com a doutrina da Trindade. Dabney crê que não há composição na substância de Deus, mas nega que nele a substância e os atributos sejam uma e a mesma coisa. Ele defende a idéia de que, neste sentido, Deus não é mais simples que os espíritos finitos. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1.Que diferentes concepções do Absoluto encontramos na filosofia? 2. O Absoluto da filosofia pode ser sempre identificando com o Deus da teologia? 3. Como Bradley distingue entre ambos? 4. Como o Deus finito de James, Schiller, Ward, Wells e outros, se relaciona com o Absoluto? 5. Como os atributos incomunicáveis de Deus se ligam ao Absoluto? 6. A imutabilidade de Deus exclui todo movimento em Deus? 7. Até que ponto ela exclui mudanças de ações e de relações? 8. Deve-se considerar a absoluta perfeição de Deus um atributo? 9. Por que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus como duração sem fim? 10. É possível harmonizar a transcendência e a imanência de Deus? 11. Como se interpreta freqüentemente a transcendência na teologia moderna? 12. O que é que está implícito na simplicidade de Deus? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II, p.137-171; Kuyper, Dict. Dogm., Deo I, p. 287-318; Hodge, Syst. Theol. I, p.380-393; Shedd, Dogm. Theol. I, p.338-335; Dabney, Syst. And Polm. Theol., p. 151-154; Thornwell, Collected Works I, p. 189-205; Strong, Syst. Theol., p.254-260, 275-279; Pieper, Christl. Dogm. I, p.536-543; 547-549; Knudson, The Doct. of God, p.242-284; Steenstra, God as Unity and Trinity, p. 112-139; Charnock, Existence and Attributes of God, p.276-405. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 56)