segunda-feira, 22 de outubro de 2012

TESTEMUNHO DA REVELAÇÃO ESPECIAL QUANTO À IMORTALIDADE DA ALMA

As provas históricas e filosóficas da sobrevivência da alma não são absolutamente demonstrativas e, portanto, a ninguém compelem à crença. Para maior segurança nesta matéria, pe necessário dirigir os olhos da fé para a Escritura. Aqui também devemos firmar-nos na voz da autoridade. Ora, a posição da Escritura com respeito a esta questão pode, a princípio, parecer um tanto dúbia. Ela fala de Deus como o único que tem imortalidade (1 Tm 6.15), e nunca afirma isso a respeito do homem. Não há nenhuma menção explícita da imortalidade da alma, e muito menos qualquer tentativa de provar isso de maneira formal. Daí, os russelitas ou os da aurora do milênio freqüentemente desafiam os teólogos a indicarem uma única passagem em que a Bíblia ensine que a alma do homem é imortal. Mas, mesmo que a Bíblia não afirme explicitamente que a alma do homem é imortal, e não procure provar isso de maneira formal, como tampouco procura apresentar prova formal da existência de Deus, não significa que a Escritura o negue ou o contradite ou o ignore. Ela pressupõe claramente em muitas passagens que o homem continua sua existência consciente após a morte. De fato, ela trata da verdade da imortalidade do homem de modo muito parecido ao modo como trata de existência de Deus, isto é, ela a pressupõe como um postulado incontestável. 1. A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO VELHO TESTAMENTO. Repetidamente se assevera que o Velho Testamento, particularmente o Pentateuco, não ensina, de modo nenhum, a imortalidade da alma. Ora, é mais que certo que essa grande verdade é revelada com menor clareza no Velho Testamento que no Novo; mas os fatos a respeito não autorizam a asserção de que ela está completamente ausente do Velho Testamento. É um fato bem conhecido e geralmente reconhecido que a revelação de Deus na Escritura é progressiva e aumenta gradativamente em clareza; e é evidente que a doutrina da imortalidade, no sentido de uma vida eterna e bem-aventurada, só poderia ser revelada em todos os seus aspectos depois da ressurreição de Jesus Cristo, que “trouxe à luz a vida e a imortalidade” 2 Tm 1.10. Mas, embora tudo isso seja verdade, não se pode negar que o Velho Testamento dá a entender a existência continuada e consciente do homem, quer no sentido de uma pura imortalidade ou sobrevivência da alma, quer no de uma bem-aventurada vida futura. Isso está implícito: a. Em sua doutrina de Deus e do homem. As próprias raízes da esperança de Israel quanto à imortalidade estavam e sua crença em Deus como o seu Criador e Redentor, o Deus da Aliança, que nunca falharia com ele. Ele era para os israelitas o Deus vivo, eterno e fiel, em cuja comunhão eles encontravam alegria, vida, paz e perfeita satisfação. Teriam eles palpitado por Ele como palpitaram, ter-se-iam confiado a Ele completamente, na vida e na morte, e O teriam exaltado em seus cânticos como sua porção para sempre, se achassem que tudo que Ele lhes oferecia era apenas uma breve fração de tempo? Como poderiam auferir real consolo da redenção prometida por Deus, se considerassem a morte como o fim de sua existência? Além disso, o Velho Testamento descreve o homem como criado à imagem de Deus, criado para a vida, e não para a mortalidade. Em distinção dos animais irracionais, ele possui uma vida que transcende o tempo e já contém em si uma garantia de imortalidade. Foi criado para comunhão com Deus, é pouco menor do que os anjos, e Deus pôs a eternidade no seu coração, Ec 3.11. b. Em sua doutrina do sheol. O Velho Testamento nos ensina que os mortos descem ao sheol. A discussão desta doutrina pertence ao capítulo subseqüente. Mas, seja qual for a interpretação válida do sheol veterotestamentário, e o que quer que se possa dizer da condição dos que descem para esse lugar, certamente este é descrito como um estado de existência mais ou menos consciente, embora não de bem-aventurança. O homem só entra no estado de perfeita bem-aventurança se libertado do sheol. Nesta libertação chegamos ao verdadeiro âmago da esperança veterotestamentária de uma imortalidade bem-aventurada. Isso é ensinado claramente em diversas passagens, como Sl 16.10; 49.14, 15. c. Em suas freqüentes advertências contra a consulta aos mortos ou a “espíritos familiares” (segundo a versão utilizada pelo Autor, em todas as passagens abaixo citadas), isto é, pessoas que podiam invocar os espíritos dos mortos e comunicar as suas mensagens aos consulentes, Lv 19.31; 20.27; Dt 18.11; Is 8.19; 29.4. Não diz a Escritura que é impossível consultar os mortos, mas, antes, parece pressupor a possibilidade, condenando a prática.* d. Em seus ensinamentos a respeito da ressurreição dos mortos. Esta doutrina não é ensinada explicitamente nos livros mais antigos do Velho Testamento. Contudo, Cristo assinala que ela foi ensinada implicitamente na declaração, “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”, Mt 22.32, cf. Êx 3.6, e repreende os judeus por não compreenderem as Escrituras sobre este ponto. Alem disso, a doutrina da ressurreição é ensinada explicitamente em passagens como Jó 19.23-27; Sl 16.9-11, 17.15; 49.15; 73.24; Is 26.19; Dn 12.2. e. Em certas passagens notáveis do Velho Testamento, que falam da alegria do crente em comunhão com Deus depois da morte. Estas são, no mais importante, idênticas às passagens citadas no item anterior, quais sejam Jó 19.25-27; Sl 16.9-11; 17.15; 73.23, 24, 26. elas exalam a confiante expectação de venturas na presença de Jeová.** 2. A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO NOVO TESTAMENTO. No Novo Testamento, depois que Cristo trouxe à luz a vida e a imortalidade, naturalmente as provas de multiplicam. Outra vez as passagens que as contêm podem ser divididas em várias classes como referentes: a. À sobrevivência da alma. Ensina-se claramente uma existência continuada dos justos e dos ímpios. Que as almas dos crentes sobreviverão, vê-se de passagens como Mt 10.28; Lc 23.43; Jo 11.25, 26; 14.3; 2 Co 5.1; e várias outras passagens evidenciam muito bem que se pode dizer a mesma coisa das almas dos ímpios, Mt 11.21-24; 12.41; Rm 2.5-11; 2 Co 5.10. b. À ressurreição pela qual o corpo também é levado a participar da existência futura. Para os crente, a ressurreição significa a redenção do corpo e a entrada na perfeita vida de comunhão com Deus, na plena bem-aventurança da imortalidade. Esta ressurreição é ensinada em Lc 20.35, 36; Jo 5.25-29; 1 Co 15; 1 Ts 4.16; Fp 3.21, e noutras passagens. Para os ímpios, a ressurreição também significará uma renovada e continuada existência do corpo, mas isto dificilmente poderá chamar-se vida. A Escritura a denomina morte eterna. A ressurreição dos ímpios é mencionada em Jo 5.29; At 24.15; Ap 20.12-15. c. À vida bem-aventurada dos crentes, na comunhão com Deus. Há numerosas passagens no Novo Testamento que acentuam o fato de que a imortalidade dos crentes não é uma simples existência sem fim, mas uma encantadora vida de felicidade na comunhão com Deus e com Jesus Cristo, a pela fruição da vida que é implantada na alma enquanto ainda na terra. Dá-se clara ênfase a isso em passagens como Mt 13.43; 25.34; Rm 2.7, 10; 1 Co 15.49; Fp 3.21; 2 Tm 4.8; Ap 21.4; 22.3, 4. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg680)

OBJEÇÕES À DOUTRINA DA IMORTALIDADE PESSOAL E SEUS MODERNOS SUBSTITUTOS

1. A PRINCIPAL OBJEÇÃO. A crença na imortalidade da alma sofreu declínio por algum tempo, sob a influencia de uma filosofia materialista. O principal argumento contra ela foi forjado nas oficinas da psicologia fisiológica, e corre mais ou menos como segue: A mente ou a alma não tem existência substancial independente, mas é simples produto ou função da atividade cerebral. O cérebro humano é a causa produtora dos fenômenos mentais, exatamente como o fígado é a causa produtora da bílis. A função não pode persistir quando o órgão decai. Quando o cérebro deixa de agir, o fluxo da vida mental pára. 2. SUBSTITUTOS DA DOUTRINA DA IMORTALIDADE PESSOAL. O desejo de imortalidade está implantado tão profundamente na alma humana que, mesmo os que aceitam os ditames de uma filosofia materialista, procuram algum tipo de substituto para a rejeitada noção da imortalidade pessoal da alma. Sua esperança quanto ao futuro assume uma das seguintes formas: a. Imortalidade racial. Há os que se consolam com a idéia de que o individuo continuará a viver nesta terra em sua posteridade, em seus filhos e netos, até gerações intermináveis. O individuo busca compensação para a sua falta de esperança numa imortalidade pessoal na noção de que ele contribui com sua parte para a vida da raça e continuará vivendo nela. Mas a idéia de que o homem continua a viver em sua progênie, seja qual for a porção de verdade que contenha, dificilmente poderá servir de substituto da doutrina da imortalidade pessoal. Certamente não faz justiça aos dados da Escritura, e não satisfaz aos anseios mais profundos do coração humano. b. Imortalidade de comemoração. De acordo com o positivismo, esta é a única imortalidade que devemos desejar e buscar. Cada qual deve ter em vista fazer alguma coisa para estabelecer um nome para si mesmo e que passe para os anais da história. Se o fizer, continuará a viver nos corações e mentes de uma posteridade agradecida. Isso também fica aquém da imortalidade pessoal que a Escritura nos leva a esperar. Além disso, é uma imortalidade da qual uns poucos participam. Os nomes da maioria dos homens não ficam registrados nas páginas da história, e muitos dos que estão registrados nas páginas da história, e muitos dos que estão registrados logo são esquecidos. E numa grande extensão se pode dizer que os melhores e os piores participam igualmente dela. c. Imortalidade de influencia. Esta se relaciona de perto com a imediatamente anterior. Se o homem deixar sua marca na vida e realizar alguma coisa de valor duradouro, sua influencia continuará por muito tempo depois de sua partida. Jesus e Paulo, Agostinho e Tomaz de Aquino, Lutero e Calvino – todos eles estão bem vivos na influencia que até hoje exercem. Embora isto seja perfeitamente verdadeiro, esta imortalidade de influencia é apenas um pobre substituto da imortalidade pessoal. Todas as objeções levantadas contra a imortalidade de comemoração aplicam também a este caso. 3. RECUPERAÇÃO DA FÉ NA IMORTALIDADE. No presente, a interpretação materialista do universo está dando caminho a uma interpretação mais espiritual: e o resultado é que a fé na imortalidade pessoal voltou a obter apoio. Embora o doutor William James subscreva a fórmula, “O pensamento é uma função do cérebro”, nega que isto nos force logicamente a descrer da doutrina da imortalidade. Ele sustenta que esta conclusão dos cientistas se baseia na equivocada noção de que a função da qual aquela fórmula fala é necessariamente uma função produtiva, e assinala que também pode ser uma função permissiva ou transmissiva. O cérebro pode simplesmente transmitir, e na transmissão da cor, o pensamento, justamente como um vidro colorido, um prisma ou uma lente refratária, pode transmitir luz e ao mesmo tempo pode determinar sua cor e direção. A luz existe independentemente do vidro ou da lente; assim também o pensamento existe independentemente do cérebro. James chega à conclusão de que, pela estrita lógica, é possível crer na imortalidade. Alguns evolucionistas agora baseiam a doutrina da imortalidade condicional na luta pela existência. E cientistas como William James, Sir Oliver Lodge e James H. Hyslop, atribuem grande significação às supostas comunicações com os mortos. Com base nos fenômenos psíquicos, o primeiro inclinou-se a crer na imortalidade, enquanto que os outros dois a abraçaram como um fato estabelecido. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. A doutrina da imortalidade se acha no Pentateuco? 2. Que explica a relativa escassez de provas em seu favor no Velho Testamento? 3. Em que Platão baseou sua crença na imortalidade da alma? 4. Como Kant julgava os argumentos naturais comumente usados em prol da doutrina da imortalidade? 5. Há algum lugar para a crença na imortalidade pessoal, quer no materialismo, quer no panteísmo? 6. Por que a doutrina da “imortalidade social”, assim chamada, não satisfaz? 7. A imortalidade da alma, no sentido filosófico, é a mesma coisa que a vida eterna? 8. Como devemos julgar as supostas comunicações espíritas com os mortos? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 645-655; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 3-24; Hodge, Syst., Theol. III, p. 713-730; Dabney, Syst. and Polem. Theol., p. 817-823; Dick, Lect. On Theol., Lectures LXXX, LXXXI; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 535-548; Heagle, Do the Dead Still Live?; Dahl, Life After Death, p. 59-84; Salmond. Christian Doctrine of Immortality, cf. Índice; Mackintosh, Immortality and the Future, p. 164-179; Brown, The Christian Hope, cf. Índice; Randall, The New Light on Immortality; Macintosh, Theology as an Empirical Science, p. 72-80; Althaus, Die Letzten Dinge, p. 1-76; A.G. James, Personal Immortality, p. 19-52; Rimmer, The Evidences for Immortality; Lawton, The Drama of Life After Death; Addison, Life Beyond Death, p. 3-132. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg682)

CONCEITO BÍBLICO DE ESTADO INTERMEDIÁRIO

1. DESCRIÇÃO BÍBLICA DOS CRENTES ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO. A posição usual das igrejas reformadas (calvinistas) é que as almas dos crentes, imediatamente após a morte, ingressam nas glórias do céu. Em resposta à pergunta, “Que consolo te dá a ressurreição do corpo?”, o Catecismo de Heidelberg diz: “Que minha alma, após esta vida, não somente é levada de imediato a Cristo, sua Cabeça, mas também que este meu corpo, ressuscitado pelo poder de Cristo, se unirá de novo à minha alma e virá a ser como o corpo glorioso de Cristo”. A Confissão de Westminster fala com o mesmo espírito quando afirma que, na morte, “As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde vêem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos”. De modo similar, a Segunda Confissão Helvética declara: “Cremos que os fiéis, depois da morte física, vão diretamente para Cristo”. Vê-se que este conceito encontra ampla justificação na Escritura, e é bom tomar nota disto, visto que durante o ultimo quarto do século* alguns teólogos reformados (calvinistas) assumiram a posição de que os crentes, ao morrerem, entram num lugar intermediário e ali permanecem até o dia da ressurreição. Todavia, a Bíblia ensina que a alma do crente, quando separada do corpo, entra na presença de Cristo. Diz Paulo, “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”, 2 Co 5.8. Aos filipenses ele escreve que o tem “o desejo de partir e estar com Cristo”, Fp 1.23. E Jesus deu ao malfeitor arrependido a jubilosa certeza, “Hoje estarás comigo no paraíso”, Lc 23.43. E estar com Cristo é também estar no céu. À luz de 2 Co 12.3, 4, “paraíso” só pode ser um designativo do céu. Além disso, Paulo afirma que, “se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”, 2 Co 5.1. E o escritor de Hebreus anima os corações dos seus leitores com este pensamento, entre outros, que eles chegaram “à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus”, Hb 12.22, 23. Que o estado futuro dos crentes, após a morte, merece muito maior preferência, comparado com o estado presente, vê-se claramente nas asserções de Paulo em 2 Co 5.8 e Fp 1.23, acima citadas. É um estado no qual os crentes estão verdadeiramente vivos e plenamente conscientes, Lc 16.19-31; 1 Ts 5.10; um estado de repouso e felicidade sem fim, Ap 14.13. 2. DESCRIÇÃO BÍBLICA DO ESTADO DOS ÍMPIOS ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO. Diz a Confissão de Westminster que as almas dos ímpios, após a morte, “soa lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final”. Ademais, acrescenta: “Além destes dois lugares (céu e inferno) destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar”. E a Segunda Confissão Helvética prossegue, depois da citação acima feita: “De modo semelhante, cremos que os incrédulos são precipitados no inferno, do qual não há retorno aberto para os ímpios, pois coisa alguma que os que vivem façam”. A única passagem que realmente pode ser focalizada aqui é a parábola do rico e Lázaro, em Lucas 16, onde hades denota inferno, o lugar de tormento eterno. O rico achou-se no lugar de tormento; sua condição é descrita como fixa para sempre; e ele estava cônscio da sua condição miserável, procurou lenitivo para a dor que estava sentindo, e mostrou desejo de que os seus irmãos fossem advertidos, para que evitassem semelhante condenação. Em acréscimo a essa prova direta, há também uma prova mediante dedução. Se os justos entram em seu estado eterno imediatamente, a pressuposição é que isso é igualmente verdadeiro quanto aos ímpios também. Deixamos fora de consideração aqui um par de passagens, de interpretação incerta, a saber, 1 Pe 3.19 e 2 Pe 2.9. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg684)

A DOUTRINA DO ESTADO INTERMEDIÁRIO NA HISTÓRIA

Nos primeiros anos da igreja cristã pouco se pensou num estado intermediário. A idéia de que Jesus logo voltaria como Juiz fazia o intervalo parecer pouco importante. O problema do estado intermediário surgiu quando se evidenciou que Jesus não voltaria de imediato. O verdadeiro problema que incomodava os chamados pais primitivos era sobre como conciliar o juízo e a retribuição na morte com o juízo geral e a retribuição após a ressurreição. Atribuir demasiada importância àqueles parecia privar estes da sua significação, e vice-versa. Não havia unanimidade entre os chamados pais primitivos da igreja, mas a maioria deles procurava resolver a dificuldade supondo um estado distinto e intermediário entre a morte e a ressurreição. Diz Addison: “Durante muitos séculos, foi geralmente aceita a conclusão geral de que num hades subterrâneo os justos gozam certa medida de recompensa, não igual ao seu futuro céu, e os ímpios sofrem certo grau de punição, não igual ao seu futuro inferno. Assim, o estado intermediário era uma versão ligeiramente reduzida da retribuição ultima”. Este conceito foi defendido, embora com algumas variantes, por homens como Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Novaciano, Orígenes, Gregório de Nyssa, Ambrósio e Agostinho. Na escola Alexandrina, a idéia do estado intermediário cedeu passo à de uma gradual purificação da alma, isto é, no transcurso do tempo, preparou o caminho para a doutrina católica romana do purgatório. Havia, porém, alguns que apoiavam a idéia de que, na morte, as almas dos justos entravam imediatamente no céu; entre eles estavam Gregório de Nazianzo, Eusébio e Gregório, o Grande. Na Idade Média a doutrina de um estado intermediário foi conservada, e, em conexão com ela, a Igreja Católica Romana desenvolveu a doutrina do purgatório. A opinião dominante era que o inferno recebia imediatamente as almas dos ímpios, mas que somente as dos justos que estivessem livres de toda mácula do pecado eram admitidos imediatamente na bem-aventurança do céu, para desfrutarem o visio Dei (visão de Deus). Os mártires eram geralmente contados entre os poucos favorecidos. Os que precisavam de ulterior purificação eram, segundo o conceito predominante, detidos no purgatório por um menor ou maior período de tempo, conforme o exigisse o grau de pecado restante, e eram purgados do pecado por meio de um fogo purificador. Outra idéia, que também se desenvolveu em conexão com a noção do estado intermediário, era a do limbus patrum (limbo dos pais), onde os santos do Velho Testamento ficaram retidos até à ressurreição de Cristo. Os Reformadores, sem exceção, rejeitaram a doutrina do purgatório, e também toda a idéia de um real estado intermediário, que levava consigo a idéia de um lugar intermediário. Eles sustentavam que os que morriam no Senhor ingressavam imediatamente na bem-aventurança do céu, ao passo que os que morriam em seus pecados desciam imediatamente para o inferno. Contudo, alguns teólogos do período da Reforma admitiam uma diferença de grau entre a felicidade dos primeiros e o julgamento dos últimos, antes do juízo final, e sua felicidade e punição finais, depois do grande tribunal. Entre os socinianos e ao anabatistas houve alguns que reviveram a antiga doutrina, sustentada por alguns da Igreja Primitiva, de que a alma do homem dorme desde a hora da morte até à ressurreição. Calvino escreveu um tratado para combater essa idéia. A mesma noção é defendida por algumas seitas adventistas e pelos da aurora do milênio. Durante o século dezenove, vários teólogos, principalmente na Inglaterra, na Suíça e na Alemanha, abraçaram a idéia de que o estado intermediário é um estado de nova prova (ou de segunda oportunidade) para os que não aceitam a Cristo nesta vida. Este conceito é defendido por alguns até aos dias atuais, e é uma das doutrinas favoritas dos universalistas. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg 685)

A DOUTRINA CATÓLICA ROMANA A RESPEITO DO DOMICILIO DA ALMA DEPOIS DA MORTE

1. PURGATÓRIO. De acordo com a igreja de Roma, as almas dos que são perfeitamente puros por ocasião da morte são imediatamente admitidos no céu ou na visão beatífica de Deus, Mt 25.46; Fp 1.23; mas os que não se acham perfeitamente purificados, que ainda levam sobre si a culpa de pecados veniais e não sofreram o castigo temporal devido aos seus pecados – e esta é a condição da maioria dos fiéis quando morrem – têm que se submeter a um processo de purificação, antes de poderem entrar nas supremas alegrias e bem-aventurança do céu. Em vez de entrarem imediatamente no céu, entram no purgatório. O purgatório não é um lugar de prova (ou de segunda oportunidade), mas de purificação e de preparação para as almas dos crentes que têm a segurança de uma entrada final no céu, mas ainda não estão prontas para apossar-se da felicidade da visão beatífica. Durante a estada dessas almas no purgatório, elas sofrem a dor da perda, isto é, a angústia resultante do fato de que estão excluídas da bendita visão de Deus, e também padecem “castigo dos sentidos”, isto é, sofrem dores positivas, que afligem a alma. A extensão da sua permanência no purgatório não pode ser determinada de antemão. A duração, como também a intensidade dos seus sofrimentos, variam de acordo com o grau de purificação ainda necessitado. Elas podem ser abreviadas e aliviadas pelas orações e boas obras dos fiéis na terra, e especialmente pelo sacrifício da missa. É possível que alguém fique no purgatório até ao dia do juízo final. Supõe-se que o papa tem jurisdição sobre o purgatório. É sua prerrogativa peculiar conceder indulgências, abrandar os sofrimentos purgatoriais e até acabar com eles. O principal apoio para esta doutrina acha-se em 2 Macabeus 12.42-45, e, portanto, num livro não reconhecido como canônico pelos protestantes.* Mas esta passagem prova demais, isto é, mais do que os próprios católicos romanos podem admitir coerentemente, a saber, a possível libertação do purgatório, de soldados que tinham morrido no pecado mortal da idolatria. Também se supõe que certas passagens favorecem essa doutrina, como Is 4.4; Mq 7.8; Zc 9.11; Ml 3.2, 3; Mt 12.32; 1 Co 3.13-15; 15.29. Contudo, é mais que evidente que essas passagens só podem ser levadas a dar suporte à doutrina do purgatório mediante uma exegese forçada. A doutrina não acha suporte nenhum na Escritura, e, além disso, firma-se em várias premissas falsas, tais como: (a) que devemos acrescentar algo à obra realizada por Cristo; (b) que as nossas boas obras são meritórias no sentido estrito da palavra; (c) que podemos realizar obras de supererrogação, obras que excedem o que o dever manda; e (d) que o poder das chaves, que a igreja detém, é absoluto, num sentido judicial. Segundo esse poder, a igreja pode encurtar, suavizar e até mesmo terminar os sofrimentos do purgatório. 2. O LIMBUS PATRUM. A palavra latina limbus (orla, borda) era empregada na Idade Média para denotar dois lugares na orla ou na borda do inferno, a saber, o limbus patrum (dos pais) e o limbus infantum (das crianças). Aquele era o lugar onde, segundo os ensinos de Roma, as almas dos santos do Velho Testamento ficaram detidos, num estado de expectativa, até a ressurreição do Senhor dentre os mortos. Supõe-se que, após Sua morte na cruz, Cristo desceu ao lugar de habitação dos pais para livra-los do seu confinamento temporário e levá-los em triunfo para o céu. Esta é a interpretação católica romana da descida de Cristo ao hades. O hades é considerado como o lugar de habitação dos espíritos dos mortos, tendo duas divisões, uma para os justos e a outra para os ímpios. A divisão habitada pelos espíritos dos justos era o limbus patrum, que os judeus conheciam como seio de Abraão, Lc 16.23, e paraíso, Lc 23.43. Afirma-se que o céu não foi aberto para nenhum homem, enquanto Cristo não realizou a propiciação pelo pecado do mundo. 3. O LIMBUS INFANTUM. Este é o lugar de habitação das almas de todas as crianças não batizadas, independentemente de sua descendência, que de pagãos, quer de cristãos. De acordo com a Igreja Católica Romana, as crianças não batizadas não podem ser admitidas no céu, não podem entrar no reino de Deus, Jo 3.5. Sempre houve natural repugnância, porém, pela idéia de que essas crianças devem ser torturadas no inferno, e os teólogos católicos romanos procuraram um meio de escapar da dificuldade. Alguns achavam que tais crianças talvez sejam salvas pela fé dos pais, e outros, que Deus pode comissionar os anjos para batiza-las. Mas a opinião predominante é que, embora excluídas do céu, é-lhes destinado um lugar situado nas bordas do inferno, aonde não chegam as chamas terríveis. Elas permanecem nesse lugar para sempre, sem nenhuma esperança de livramento. A igreja de Roma jamais definiu a doutrina do limbus infantum, e as opiniões dos teólogos variam quanto às precisas condições das crianças ali confinadas. Todavia prevalece a opinião de que elas não sofrem nenhuma punição positiva, nenhuma “dor dos sentidos”, mas simplesmente estão excluídas das bênçãos do céu. Elas conhecem e amam a Deus pelo uso das suas faculdades naturais, e gozam completa felicidade natural. (Louis Berkhof – Teologia SistemáticaPg692)

O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE, UM ESTADO DE EXISTÊNCIA CONSCIENTE

1. O ENSINO DA ESCRITURA SOBRE ESTE PONTO. Tem-se levantado a questão dobre se, após a morte, a alma continua ativamente consciente e é capaz de ação racional e religiosa. Por vezes isso tem sido negado, sobre a base geral de que a alma, em sua atividade consciente, depende do cérebro e, portanto, não pode continuar a funcionar quando o cérebro é destruído. Mas, como já foi assinalado anteriormente (III.D), a validade desse argumento pode ser posta em dúvida. “Ele se baseia”, para usar as palavras de Dahle, “no erro de confundir o operário com a sua máquina”. Do fato de que a consciência humana, na presente vida, transmite os seus efeitos pelo cérebro, não se segue necessariamente que não possa agir de nenhum outro modo. Ao argumentarmos a favor da existência consciente da alma depois da morte, não nos apoiamos nos fenômenos do espiritismo dos dias atuais, e nem mesmo dependemos de argumentos filosóficos, embora estes não sejam destituídos de força. Buscamos nossas provas na Palavra de Deus, e particularmente no Novo Testamento. O rico e Lázaro participam de uma conversação, Lc 16.19-31. Paulo descreve o estado desencarnado como “habitar com o Senhor”, e como uma coisa preferível à vida presente, 2 Co 5.6-9; Fp 1.23. Decerto que dificilmente ele falaria dessa maneira acerca de uma existência inconsciente, que seria uma virtual não existência. Em Hb 12.23 se diz que os crentes têm chegado “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”, o que certamente implica sua existência consciente. Além disso, os espíritos debaixo do altar clamam por vingança contra os perseguidores da igreja, Ap 6.9, e se afirma que as almas dos mártires reinam com Cristo, Ap 20.4. Esta verdade da existência consciente da alma depois da morte tem sido negada em mais de uma forma. 2. A DOUTRINA DO SONO DA ALMA (PSICOPANIQUIA). a. Exposição da doutrina. Esta é uma das formas em que a existência consciente da alma depois da morte é negada. Ela afirma que, depois da morte, a alma continua a existir como um ser espiritual individual, mas num estado de repouso inconsciente. Eusébio faz menção de uma pequena seita da Arábia que tinha esse conceito. Durante a Idade Média havia bem poucos dos chamados psicopaniquianos, e na época da Reforma esse erro era defendido por alguns anabatistas. Calvino chegou a escrever um tratado contra eles, intitulado Psychopanychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por alguns dos irvingitas* da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dos russelitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos. Segundo estes últimos, o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono que de fato equivale a um estado de não existência. O que é chamado ressurreição, na realidade é uma nova criação. Durante o milênio os ímpios terão uma segunda oportunidade, mas, se eles não mostrarem um assinalado melhoramento durante os cem primeiros anos, serão aniquilados. Se nesse período evidenciarem alguma correção da vida, continuarão em prova, mas somente para acabar na aniquilação, se permanecerem impenitentes. Não existe inferno, não existe nenhum lugar de tormento eterno. A doutrina do sono da alma parece exercer peculiar fascínio sobre os que acham difícil acreditar na continuidade da vida consciente fora do organismo corpóreo. b. Suposta base bíblica desta doutrina. A prova escriturística desta doutrina acha-se especialmente no seguinte: (1) Muitas vezes a Escritura descreve a morte como um sono, Mt 9.24; At 7.60; 1 Co 15.51; 1 Ts 4.13. Este sono, dizem, não pode ser sono do corpo, e, portanto, só pode ser sono da alma. (2) Certas passagens da Escritura ensinam que os mortos estão inconscientes, Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4; Ec 9.10; Is 38.18, 19. Isto vai contra a idéia de que a alma continua sua existência consciente. (3) A Bíblia ensina que os destinos dos homens serão determinados por um julgamento final e que haverá surpresa para alguns. Conseqüentemente, é impossível imaginar que a alma entra em seu destino imediatamente após a morte, Mt 7.22, 23; 25.37-39, 44; Jo 5.29; 2 Co 5.10; Ap 20.12, 13. (4) nenhum dos que ressuscitaram dentre os mortos jamais deu algum relato das suas experiências. Pode-se entender melhor isso com a suposição de que as almas estavam inconscientes, em seu estado desencarnado. c. Consideração dos argumentos apresentados. Os argumentos supra mencionados podem ser respondidos como segue, na ordem em que foram expostos: (1) Deve-se notar que a Bíblia nunca diz que a alma cai no sono, nem que o corpo cai no sono, mas somente que a pessoa que morre o faz. E esta descrição escriturística baseia-se simplesmente na similaridade existente entre um corpo e um corpo dormente. Não é improvável que a Escritura empregue esta expressão eufemística a fim de lembrar aos crentes a consoladora esperança da ressurreição. Além disso, a morte é um rompimento com a vida do mundo que nos rodeia e, neste sentido, é sono, é repouso. Finalmente, não devemos esquecer que a Bíblia retrata os crentes como desfrutando vida consciente na comunhão com Deus e com Jesus imediatamente após a morte, Lc 16.19-31; 23.43; At 7.59; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9; 7.9; 20.4. (2) As passagens que parecem ensinar que os mortos estão inconscientes visam claramente a salientar o fato de que , no estado de morte, o homem não pode mais tomar parte nas atividades do presente mundo. Diz Hovey: “A obra do artista é interrompida, a voz do cantor é silenciada, o cetro do rei cai. O corpo volta ao pó, e o louvor de Deus neste mundo cessa para sempre”. (3) às vezes se faz descrição como se o destino eterno do homem dependesse de um julgamento no ultimo dia, mas evidentemente isso é um engano. O dia do juízo não é necessário para chegar-se a uma decisão a respeito da recompensa ou da punição de cada homem, mas somente para o solene anúncio da sentença, e para a revelação da justiça de Deus na presença dos homens e dos anjos. A surpresa evidenciada por algumas passagens tem que ver com a base sobre a qual o julgamento repousa, e não com o julgamento propriamente dito. (4) É verdade que não lemos que algum dos que ressuscitaram dentre os mortos alguma vez tenha contado as experiências pelas quais passou entre a sua morte e a sua ressurreição. Mas este é um simples argumento extraído do silêncio, argumento completamente sem valor neste caso, desde que a Bíblia ensina claramente a existência consciente dos mortos. Todavia, pode muito bem ser que as pessoas se mantivessem caladas acerca das experiências, mas isto pode ser prontamente explicado partindo-se do pressuposto de que não lhes foi permitido falar delas, ou que não podiam relatá-las com linguagem humana. Cf. 2 Co 12.4. 3. AS DOUTRINAS DO EXTINCIONISMO E DA IMORTALIDADE CONDICIONAL. a. Exposição destas doutrinas. De acordo com estas doutrinas, não há existência consciente, se é que há alguma existência, dos ímpios após a morte. Ambas estão unidas em sua concepção do estado dos ímpios após a morte, mas divergem num par de pontos fundamentais. O extincionismo ensina que o homem foi criado imortal, mas que a alma, que continua em pecado, está privada, por um ato positivo de Deus, do dom da imortalidade e, finalmente, é destruída, ou (segundo alguns), para sempre é despojada da consciência, o que equivale praticamente a ser reduzida à não existência. Por outro lado, segundo a doutrina da imortalidade condicional, a imortalidade não é um dote natural da alma, mas um dom de Deus em Cristo aos que crêem. A alma que não aceita a Cristo, finalmente deixa de existir, ou perde toda a consciência. Alguns dos defensores destas doutrinas ensinam uma duração limitada de sofrimentos conscientes para os ímpios na vida futura, e, assim, conservam algo da idéia de punição positiva. b. Estas doutrinas na história. A doutrina do extincionismo foi ensinada por Arnóbio e pelos primeiros socinianos, como também pelos filósofos Locke e Hobbes, mas não foi popular em sua forma originária. No século anterior ao nosso, porém, a antiga idéia da aniquilação foi revivida com algumas modificações, com o nome de imortalidade condicional, e em sua nova forma encontrou considerável apoio. Foi defendida por E. White, J. B. Heard, pelos prebendados Constable e Row, na Inglaterra, por Richard Rothe na Alemanha, por A. Sabatier em França, por E. Petavel e Ch. Secretan na Suíça, e por C. F. Hudson, W. R. Huntingon, L.C. Baker e L.W. Bacon em nosso país (Estados Unidos da América), e, portanto, merece atenção especial. Nem todos colocam a doutrina na mesma forma, mas todos concordam na posição fundamental de que o homem não é imortal em virtude da sua constituição original, mas é feito imortal por um ato ou dom especial da graça. No que se refere aos ímpios, alguns afirmam que eles conservam mera existência, embora com total perda da consciência, enquanto outros asseveram que eles perecem completamente, como os animais, conquanto isto possa ocorrer depois de períodos mais longos ou mais curtos de sofrimento. c. Argumentos aduzidos em favor desta doutrina. Acha-se suporte para esta doutrina, em parte na linguagem de alguns dos chamados pais primitivos da igreja, que parece também nalgumas das mais recentes teorias da ciência, que negam que haja alguma prova científica da imortalidade da alma. Contudo, o principal suporte para ela é procurado na Escritura. O que se diz é que a Bíblia: (1) ensina que somente Deus é inerentemente imortal, 1 Tm 6.16; (2) nunca fala da imortalidade da alma em geral, mas apresenta a imortalidade como um dom de Deus aos que estão em Cristo Jesus, Jo 10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; e (3) ameaça os pecadores com a “morte” e com “destruição”, afirmando que eles “perecerão”, termos que devem ser entendidos no sentido de que os descrentes serão reduzidos à não existência, Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16; Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9. d. Consideração destes argumentos. Não se pode dizer que os argumentos em favor desta doutrina são conclusivos. A linguagem dos chamados pais primitivos da igreja nem sempre é exata e coerente, e admite outra interpretação. E, no geral, o pensamento especulativo dos séculos tem sido favorável à doutrina da imortalidade da alma, ao passo que a ciência não tem sucesso ao reprová-la. Os argumentos escriturísticos podem ser respondidos em ordem, como segue: (1) Deus é de fato o único ser que tem imortalidade inerente. A imortalidade do homem é derivada, mas isto não é o mesmo que dizer que ele não a possui em virtude da sua criação. (2) No segundo argumento, a mera imortalidade ou existência continuada da alma é confundida com a vida eterna, quando esta constitui um conceito muito mais rico. A vida eterna é, na verdade, dom de Deus em Jesus Cristo, dom que os ímpios não recebem, mas isto não significa que eles não continuarão existindo. (3) O último argumento pressupõe arbitrariamente que os termos “morte”, “destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. Só o literalismo mais cru pode afirmar isto, e, neste caso, unicamente em conexão com algumas das passagens citadas pelos defensores desta teoria. e. Argumentos contra esta doutrina. A doutrina da imortalidade condicional é claramente contraditada pela Escritura onde esta ensina: (1) que os pecadores, como os santos, continuarão a existir para sempre, Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10; (2) que os ímpios sofrerão punição eterna, o que significa que estarão para sempre cônscios de uma dor que reconhecerão como seu justo prêmio, e, portanto, não serão aniquilados, cf. as passagens recém-mencionadas; e (3) que haverá graus na punição dos ímpios, enquanto que a extinção do ser ou da consciência não admite graus, mas constitui uma punição igual para todos, Lc 12.47, 48; Rm 2.12 As seguintes ponderações também são decididamente opostas a esta doutrina particular: (1) A aniquilação seria contrária a toda analogia. Deus não aniquila a Sua obra, por mais que possa mudar-lhe a forma. A idéia bíblica da morte não tem nada em comum com a aniquilação ou extinção. A vida e a morte são opostos exatos na Escritura. Se a morte significasse a continuação destes; mas o fato é que significa muito mais que isso, cf. Rm 8.6; 1 Tm 4.8; 1 Jo 3.14. O termo tem uma conotação espiritual, o mesmo acontecendo com a palavra morte. O homem está espiritualmente morto antes de cair presa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1 Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1. (2) Dificilmente se pode dizer que a aniquilação é uma punição, desde que esta implica consciência de sofrimento e demérito, ao passo que, quando termina a existência, cessa também a consciência. Poder-se-ia dizer, no máximo, que o medo da aniquilação é uma punição, mas esta punição não seria proporcional à transgressão. E, naturalmente, o medo do homem que nunca teve dentro de si a centelha da imortalidade, jamais será igual ao daquele que tem a eternidade em seu coração, Ec 3.11. (3) Muitas vezes sucede que as pessoas consideram a extinção do ser e da consciência uma coisa muito desejável, quando se cansam da vida. Para elas, essa punição seria na realidade uma bênção. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg696)

O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE, UM ESTADO DE EXISTÊNCIA CONSCIENTE

1. O ENSINO DA ESCRITURA SOBRE ESTE PONTO. Tem-se levantado a questão dobre se, após a morte, a alma continua ativamente consciente e é capaz de ação racional e religiosa. Por vezes isso tem sido negado, sobre a base geral de que a alma, em sua atividade consciente, depende do cérebro e, portanto, não pode continuar a funcionar quando o cérebro é destruído. Mas, como já foi assinalado anteriormente (III.D), a validade desse argumento pode ser posta em dúvida. “Ele se baseia”, para usar as palavras de Dahle, “no erro de confundir o operário com a sua máquina”. Do fato de que a consciência humana, na presente vida, transmite os seus efeitos pelo cérebro, não se segue necessariamente que não possa agir de nenhum outro modo. Ao argumentarmos a favor da existência consciente da alma depois da morte, não nos apoiamos nos fenômenos do espiritismo dos dias atuais, e nem mesmo dependemos de argumentos filosóficos, embora estes não sejam destituídos de força. Buscamos nossas provas na Palavra de Deus, e particularmente no Novo Testamento. O rico e Lázaro participam de uma conversação, Lc 16.19-31. Paulo descreve o estado desencarnado como “habitar com o Senhor”, e como uma coisa preferível à vida presente, 2 Co 5.6-9; Fp 1.23. Decerto que dificilmente ele falaria dessa maneira acerca de uma existência inconsciente, que seria uma virtual não existência. Em Hb 12.23 se diz que os crentes têm chegado “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”, o que certamente implica sua existência consciente. Além disso, os espíritos debaixo do altar clamam por vingança contra os perseguidores da igreja, Ap 6.9, e se afirma que as almas dos mártires reinam com Cristo, Ap 20.4. Esta verdade da existência consciente da alma depois da morte tem sido negada em mais de uma forma. 2. A DOUTRINA DO SONO DA ALMA (PSICOPANIQUIA). a. Exposição da doutrina. Esta é uma das formas em que a existência consciente da alma depois da morte é negada. Ela afirma que, depois da morte, a alma continua a existir como um ser espiritual individual, mas num estado de repouso inconsciente. Eusébio faz menção de uma pequena seita da Arábia que tinha esse conceito. Durante a Idade Média havia bem poucos dos chamados psicopaniquianos, e na época da Reforma esse erro era defendido por alguns anabatistas. Calvino chegou a escrever um tratado contra eles, intitulado Psychopanychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por alguns dos irvingitas* da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dos russelitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos. Segundo estes últimos, o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono que de fato equivale a um estado de não existência. O que é chamado ressurreição, na realidade é uma nova criação. Durante o milênio os ímpios terão uma segunda oportunidade, mas, se eles não mostrarem um assinalado melhoramento durante os cem primeiros anos, serão aniquilados. Se nesse período evidenciarem alguma correção da vida, continuarão em prova, mas somente para acabar na aniquilação, se permanecerem impenitentes. Não existe inferno, não existe nenhum lugar de tormento eterno. A doutrina do sono da alma parece exercer peculiar fascínio sobre os que acham difícil acreditar na continuidade da vida consciente fora do organismo corpóreo. b. Suposta base bíblica desta doutrina. A prova escriturística desta doutrina acha-se especialmente no seguinte: (1) Muitas vezes a Escritura descreve a morte como um sono, Mt 9.24; At 7.60; 1 Co 15.51; 1 Ts 4.13. Este sono, dizem, não pode ser sono do corpo, e, portanto, só pode ser sono da alma. (2) Certas passagens da Escritura ensinam que os mortos estão inconscientes, Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4; Ec 9.10; Is 38.18, 19. Isto vai contra a idéia de que a alma continua sua existência consciente. (3) A Bíblia ensina que os destinos dos homens serão determinados por um julgamento final e que haverá surpresa para alguns. Conseqüentemente, é impossível imaginar que a alma entra em seu destino imediatamente após a morte, Mt 7.22, 23; 25.37-39, 44; Jo 5.29; 2 Co 5.10; Ap 20.12, 13. (4) nenhum dos que ressuscitaram dentre os mortos jamais deu algum relato das suas experiências. Pode-se entender melhor isso com a suposição de que as almas estavam inconscientes, em seu estado desencarnado. c. Consideração dos argumentos apresentados. Os argumentos supra mencionados podem ser respondidos como segue, na ordem em que foram expostos: (1) Deve-se notar que a Bíblia nunca diz que a alma cai no sono, nem que o corpo cai no sono, mas somente que a pessoa que morre o faz. E esta descrição escriturística baseia-se simplesmente na similaridade existente entre um corpo e um corpo dormente. Não é improvável que a Escritura empregue esta expressão eufemística a fim de lembrar aos crentes a consoladora esperança da ressurreição. Além disso, a morte é um rompimento com a vida do mundo que nos rodeia e, neste sentido, é sono, é repouso. Finalmente, não devemos esquecer que a Bíblia retrata os crentes como desfrutando vida consciente na comunhão com Deus e com Jesus imediatamente após a morte, Lc 16.19-31; 23.43; At 7.59; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9; 7.9; 20.4. (2) As passagens que parecem ensinar que os mortos estão inconscientes visam claramente a salientar o fato de que , no estado de morte, o homem não pode mais tomar parte nas atividades do presente mundo. Diz Hovey: “A obra do artista é interrompida, a voz do cantor é silenciada, o cetro do rei cai. O corpo volta ao pó, e o louvor de Deus neste mundo cessa para sempre”. (3) às vezes se faz descrição como se o destino eterno do homem dependesse de um julgamento no ultimo dia, mas evidentemente isso é um engano. O dia do juízo não é necessário para chegar-se a uma decisão a respeito da recompensa ou da punição de cada homem, mas somente para o solene anúncio da sentença, e para a revelação da justiça de Deus na presença dos homens e dos anjos. A surpresa evidenciada por algumas passagens tem que ver com a base sobre a qual o julgamento repousa, e não com o julgamento propriamente dito. (4) É verdade que não lemos que algum dos que ressuscitaram dentre os mortos alguma vez tenha contado as experiências pelas quais passou entre a sua morte e a sua ressurreição. Mas este é um simples argumento extraído do silêncio, argumento completamente sem valor neste caso, desde que a Bíblia ensina claramente a existência consciente dos mortos. Todavia, pode muito bem ser que as pessoas se mantivessem caladas acerca das experiências, mas isto pode ser prontamente explicado partindo-se do pressuposto de que não lhes foi permitido falar delas, ou que não podiam relatá-las com linguagem humana. Cf. 2 Co 12.4. 3. AS DOUTRINAS DO EXTINCIONISMO E DA IMORTALIDADE CONDICIONAL. a. Exposição destas doutrinas. De acordo com estas doutrinas, não há existência consciente, se é que há alguma existência, dos ímpios após a morte. Ambas estão unidas em sua concepção do estado dos ímpios após a morte, mas divergem num par de pontos fundamentais. O extincionismo ensina que o homem foi criado imortal, mas que a alma, que continua em pecado, está privada, por um ato positivo de Deus, do dom da imortalidade e, finalmente, é destruída, ou (segundo alguns), para sempre é despojada da consciência, o que equivale praticamente a ser reduzida à não existência. Por outro lado, segundo a doutrina da imortalidade condicional, a imortalidade não é um dote natural da alma, mas um dom de Deus em Cristo aos que crêem. A alma que não aceita a Cristo, finalmente deixa de existir, ou perde toda a consciência. Alguns dos defensores destas doutrinas ensinam uma duração limitada de sofrimentos conscientes para os ímpios na vida futura, e, assim, conservam algo da idéia de punição positiva. b. Estas doutrinas na história. A doutrina do extincionismo foi ensinada por Arnóbio e pelos primeiros socinianos, como também pelos filósofos Locke e Hobbes, mas não foi popular em sua forma originária. No século anterior ao nosso, porém, a antiga idéia da aniquilação foi revivida com algumas modificações, com o nome de imortalidade condicional, e em sua nova forma encontrou considerável apoio. Foi defendida por E. White, J. B. Heard, pelos prebendados Constable e Row, na Inglaterra, por Richard Rothe na Alemanha, por A. Sabatier em França, por E. Petavel e Ch. Secretan na Suíça, e por C. F. Hudson, W. R. Huntingon, L.C. Baker e L.W. Bacon em nosso país (Estados Unidos da América), e, portanto, merece atenção especial. Nem todos colocam a doutrina na mesma forma, mas todos concordam na posição fundamental de que o homem não é imortal em virtude da sua constituição original, mas é feito imortal por um ato ou dom especial da graça. No que se refere aos ímpios, alguns afirmam que eles conservam mera existência, embora com total perda da consciência, enquanto outros asseveram que eles perecem completamente, como os animais, conquanto isto possa ocorrer depois de períodos mais longos ou mais curtos de sofrimento. c. Argumentos aduzidos em favor desta doutrina. Acha-se suporte para esta doutrina, em parte na linguagem de alguns dos chamados pais primitivos da igreja, que parece também nalgumas das mais recentes teorias da ciência, que negam que haja alguma prova científica da imortalidade da alma. Contudo, o principal suporte para ela é procurado na Escritura. O que se diz é que a Bíblia: (1) ensina que somente Deus é inerentemente imortal, 1 Tm 6.16; (2) nunca fala da imortalidade da alma em geral, mas apresenta a imortalidade como um dom de Deus aos que estão em Cristo Jesus, Jo 10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; e (3) ameaça os pecadores com a “morte” e com “destruição”, afirmando que eles “perecerão”, termos que devem ser entendidos no sentido de que os descrentes serão reduzidos à não existência, Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16; Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9. d. Consideração destes argumentos. Não se pode dizer que os argumentos em favor desta doutrina são conclusivos. A linguagem dos chamados pais primitivos da igreja nem sempre é exata e coerente, e admite outra interpretação. E, no geral, o pensamento especulativo dos séculos tem sido favorável à doutrina da imortalidade da alma, ao passo que a ciência não tem sucesso ao reprová-la. Os argumentos escriturísticos podem ser respondidos em ordem, como segue: (1) Deus é de fato o único ser que tem imortalidade inerente. A imortalidade do homem é derivada, mas isto não é o mesmo que dizer que ele não a possui em virtude da sua criação. (2) No segundo argumento, a mera imortalidade ou existência continuada da alma é confundida com a vida eterna, quando esta constitui um conceito muito mais rico. A vida eterna é, na verdade, dom de Deus em Jesus Cristo, dom que os ímpios não recebem, mas isto não significa que eles não continuarão existindo. (3) O último argumento pressupõe arbitrariamente que os termos “morte”, “destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. Só o literalismo mais cru pode afirmar isto, e, neste caso, unicamente em conexão com algumas das passagens citadas pelos defensores desta teoria. e. Argumentos contra esta doutrina. A doutrina da imortalidade condicional é claramente contraditada pela Escritura onde esta ensina: (1) que os pecadores, como os santos, continuarão a existir para sempre, Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10; (2) que os ímpios sofrerão punição eterna, o que significa que estarão para sempre cônscios de uma dor que reconhecerão como seu justo prêmio, e, portanto, não serão aniquilados, cf. as passagens recém-mencionadas; e (3) que haverá graus na punição dos ímpios, enquanto que a extinção do ser ou da consciência não admite graus, mas constitui uma punição igual para todos, Lc 12.47, 48; Rm 2.12 As seguintes ponderações também são decididamente opostas a esta doutrina particular: (1) A aniquilação seria contrária a toda analogia. Deus não aniquila a Sua obra, por mais que possa mudar-lhe a forma. A idéia bíblica da morte não tem nada em comum com a aniquilação ou extinção. A vida e a morte são opostos exatos na Escritura. Se a morte significasse a continuação destes; mas o fato é que significa muito mais que isso, cf. Rm 8.6; 1 Tm 4.8; 1 Jo 3.14. O termo tem uma conotação espiritual, o mesmo acontecendo com a palavra morte. O homem está espiritualmente morto antes de cair presa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1 Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1. (2) Dificilmente se pode dizer que a aniquilação é uma punição, desde que esta implica consciência de sofrimento e demérito, ao passo que, quando termina a existência, cessa também a consciência. Poder-se-ia dizer, no máximo, que o medo da aniquilação é uma punição, mas esta punição não seria proporcional à transgressão. E, naturalmente, o medo do homem que nunca teve dentro de si a centelha da imortalidade, jamais será igual ao daquele que tem a eternidade em seu coração, Ec 3.11. (3) Muitas vezes sucede que as pessoas consideram a extinção do ser e da consciência uma coisa muito desejável, quando se cansam da vida. Para elas, essa punição seria na realidade uma bênção. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg696)

O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE, UM ESTADO DE EXISTÊNCIA CONSCIENTE

1. O ENSINO DA ESCRITURA SOBRE ESTE PONTO. Tem-se levantado a questão dobre se, após a morte, a alma continua ativamente consciente e é capaz de ação racional e religiosa. Por vezes isso tem sido negado, sobre a base geral de que a alma, em sua atividade consciente, depende do cérebro e, portanto, não pode continuar a funcionar quando o cérebro é destruído. Mas, como já foi assinalado anteriormente (III.D), a validade desse argumento pode ser posta em dúvida. “Ele se baseia”, para usar as palavras de Dahle, “no erro de confundir o operário com a sua máquina”. Do fato de que a consciência humana, na presente vida, transmite os seus efeitos pelo cérebro, não se segue necessariamente que não possa agir de nenhum outro modo. Ao argumentarmos a favor da existência consciente da alma depois da morte, não nos apoiamos nos fenômenos do espiritismo dos dias atuais, e nem mesmo dependemos de argumentos filosóficos, embora estes não sejam destituídos de força. Buscamos nossas provas na Palavra de Deus, e particularmente no Novo Testamento. O rico e Lázaro participam de uma conversação, Lc 16.19-31. Paulo descreve o estado desencarnado como “habitar com o Senhor”, e como uma coisa preferível à vida presente, 2 Co 5.6-9; Fp 1.23. Decerto que dificilmente ele falaria dessa maneira acerca de uma existência inconsciente, que seria uma virtual não existência. Em Hb 12.23 se diz que os crentes têm chegado “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”, o que certamente implica sua existência consciente. Além disso, os espíritos debaixo do altar clamam por vingança contra os perseguidores da igreja, Ap 6.9, e se afirma que as almas dos mártires reinam com Cristo, Ap 20.4. Esta verdade da existência consciente da alma depois da morte tem sido negada em mais de uma forma. 2. A DOUTRINA DO SONO DA ALMA (PSICOPANIQUIA). a. Exposição da doutrina. Esta é uma das formas em que a existência consciente da alma depois da morte é negada. Ela afirma que, depois da morte, a alma continua a existir como um ser espiritual individual, mas num estado de repouso inconsciente. Eusébio faz menção de uma pequena seita da Arábia que tinha esse conceito. Durante a Idade Média havia bem poucos dos chamados psicopaniquianos, e na época da Reforma esse erro era defendido por alguns anabatistas. Calvino chegou a escrever um tratado contra eles, intitulado Psychopanychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por alguns dos irvingitas* da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dos russelitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos. Segundo estes últimos, o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono que de fato equivale a um estado de não existência. O que é chamado ressurreição, na realidade é uma nova criação. Durante o milênio os ímpios terão uma segunda oportunidade, mas, se eles não mostrarem um assinalado melhoramento durante os cem primeiros anos, serão aniquilados. Se nesse período evidenciarem alguma correção da vida, continuarão em prova, mas somente para acabar na aniquilação, se permanecerem impenitentes. Não existe inferno, não existe nenhum lugar de tormento eterno. A doutrina do sono da alma parece exercer peculiar fascínio sobre os que acham difícil acreditar na continuidade da vida consciente fora do organismo corpóreo. b. Suposta base bíblica desta doutrina. A prova escriturística desta doutrina acha-se especialmente no seguinte: (1) Muitas vezes a Escritura descreve a morte como um sono, Mt 9.24; At 7.60; 1 Co 15.51; 1 Ts 4.13. Este sono, dizem, não pode ser sono do corpo, e, portanto, só pode ser sono da alma. (2) Certas passagens da Escritura ensinam que os mortos estão inconscientes, Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4; Ec 9.10; Is 38.18, 19. Isto vai contra a idéia de que a alma continua sua existência consciente. (3) A Bíblia ensina que os destinos dos homens serão determinados por um julgamento final e que haverá surpresa para alguns. Conseqüentemente, é impossível imaginar que a alma entra em seu destino imediatamente após a morte, Mt 7.22, 23; 25.37-39, 44; Jo 5.29; 2 Co 5.10; Ap 20.12, 13. (4) nenhum dos que ressuscitaram dentre os mortos jamais deu algum relato das suas experiências. Pode-se entender melhor isso com a suposição de que as almas estavam inconscientes, em seu estado desencarnado. c. Consideração dos argumentos apresentados. Os argumentos supra mencionados podem ser respondidos como segue, na ordem em que foram expostos: (1) Deve-se notar que a Bíblia nunca diz que a alma cai no sono, nem que o corpo cai no sono, mas somente que a pessoa que morre o faz. E esta descrição escriturística baseia-se simplesmente na similaridade existente entre um corpo e um corpo dormente. Não é improvável que a Escritura empregue esta expressão eufemística a fim de lembrar aos crentes a consoladora esperança da ressurreição. Além disso, a morte é um rompimento com a vida do mundo que nos rodeia e, neste sentido, é sono, é repouso. Finalmente, não devemos esquecer que a Bíblia retrata os crentes como desfrutando vida consciente na comunhão com Deus e com Jesus imediatamente após a morte, Lc 16.19-31; 23.43; At 7.59; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9; 7.9; 20.4. (2) As passagens que parecem ensinar que os mortos estão inconscientes visam claramente a salientar o fato de que , no estado de morte, o homem não pode mais tomar parte nas atividades do presente mundo. Diz Hovey: “A obra do artista é interrompida, a voz do cantor é silenciada, o cetro do rei cai. O corpo volta ao pó, e o louvor de Deus neste mundo cessa para sempre”. (3) às vezes se faz descrição como se o destino eterno do homem dependesse de um julgamento no ultimo dia, mas evidentemente isso é um engano. O dia do juízo não é necessário para chegar-se a uma decisão a respeito da recompensa ou da punição de cada homem, mas somente para o solene anúncio da sentença, e para a revelação da justiça de Deus na presença dos homens e dos anjos. A surpresa evidenciada por algumas passagens tem que ver com a base sobre a qual o julgamento repousa, e não com o julgamento propriamente dito. (4) É verdade que não lemos que algum dos que ressuscitaram dentre os mortos alguma vez tenha contado as experiências pelas quais passou entre a sua morte e a sua ressurreição. Mas este é um simples argumento extraído do silêncio, argumento completamente sem valor neste caso, desde que a Bíblia ensina claramente a existência consciente dos mortos. Todavia, pode muito bem ser que as pessoas se mantivessem caladas acerca das experiências, mas isto pode ser prontamente explicado partindo-se do pressuposto de que não lhes foi permitido falar delas, ou que não podiam relatá-las com linguagem humana. Cf. 2 Co 12.4. 3. AS DOUTRINAS DO EXTINCIONISMO E DA IMORTALIDADE CONDICIONAL. a. Exposição destas doutrinas. De acordo com estas doutrinas, não há existência consciente, se é que há alguma existência, dos ímpios após a morte. Ambas estão unidas em sua concepção do estado dos ímpios após a morte, mas divergem num par de pontos fundamentais. O extincionismo ensina que o homem foi criado imortal, mas que a alma, que continua em pecado, está privada, por um ato positivo de Deus, do dom da imortalidade e, finalmente, é destruída, ou (segundo alguns), para sempre é despojada da consciência, o que equivale praticamente a ser reduzida à não existência. Por outro lado, segundo a doutrina da imortalidade condicional, a imortalidade não é um dote natural da alma, mas um dom de Deus em Cristo aos que crêem. A alma que não aceita a Cristo, finalmente deixa de existir, ou perde toda a consciência. Alguns dos defensores destas doutrinas ensinam uma duração limitada de sofrimentos conscientes para os ímpios na vida futura, e, assim, conservam algo da idéia de punição positiva. b. Estas doutrinas na história. A doutrina do extincionismo foi ensinada por Arnóbio e pelos primeiros socinianos, como também pelos filósofos Locke e Hobbes, mas não foi popular em sua forma originária. No século anterior ao nosso, porém, a antiga idéia da aniquilação foi revivida com algumas modificações, com o nome de imortalidade condicional, e em sua nova forma encontrou considerável apoio. Foi defendida por E. White, J. B. Heard, pelos prebendados Constable e Row, na Inglaterra, por Richard Rothe na Alemanha, por A. Sabatier em França, por E. Petavel e Ch. Secretan na Suíça, e por C. F. Hudson, W. R. Huntingon, L.C. Baker e L.W. Bacon em nosso país (Estados Unidos da América), e, portanto, merece atenção especial. Nem todos colocam a doutrina na mesma forma, mas todos concordam na posição fundamental de que o homem não é imortal em virtude da sua constituição original, mas é feito imortal por um ato ou dom especial da graça. No que se refere aos ímpios, alguns afirmam que eles conservam mera existência, embora com total perda da consciência, enquanto outros asseveram que eles perecem completamente, como os animais, conquanto isto possa ocorrer depois de períodos mais longos ou mais curtos de sofrimento. c. Argumentos aduzidos em favor desta doutrina. Acha-se suporte para esta doutrina, em parte na linguagem de alguns dos chamados pais primitivos da igreja, que parece também nalgumas das mais recentes teorias da ciência, que negam que haja alguma prova científica da imortalidade da alma. Contudo, o principal suporte para ela é procurado na Escritura. O que se diz é que a Bíblia: (1) ensina que somente Deus é inerentemente imortal, 1 Tm 6.16; (2) nunca fala da imortalidade da alma em geral, mas apresenta a imortalidade como um dom de Deus aos que estão em Cristo Jesus, Jo 10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; e (3) ameaça os pecadores com a “morte” e com “destruição”, afirmando que eles “perecerão”, termos que devem ser entendidos no sentido de que os descrentes serão reduzidos à não existência, Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16; Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9. d. Consideração destes argumentos. Não se pode dizer que os argumentos em favor desta doutrina são conclusivos. A linguagem dos chamados pais primitivos da igreja nem sempre é exata e coerente, e admite outra interpretação. E, no geral, o pensamento especulativo dos séculos tem sido favorável à doutrina da imortalidade da alma, ao passo que a ciência não tem sucesso ao reprová-la. Os argumentos escriturísticos podem ser respondidos em ordem, como segue: (1) Deus é de fato o único ser que tem imortalidade inerente. A imortalidade do homem é derivada, mas isto não é o mesmo que dizer que ele não a possui em virtude da sua criação. (2) No segundo argumento, a mera imortalidade ou existência continuada da alma é confundida com a vida eterna, quando esta constitui um conceito muito mais rico. A vida eterna é, na verdade, dom de Deus em Jesus Cristo, dom que os ímpios não recebem, mas isto não significa que eles não continuarão existindo. (3) O último argumento pressupõe arbitrariamente que os termos “morte”, “destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. Só o literalismo mais cru pode afirmar isto, e, neste caso, unicamente em conexão com algumas das passagens citadas pelos defensores desta teoria. e. Argumentos contra esta doutrina. A doutrina da imortalidade condicional é claramente contraditada pela Escritura onde esta ensina: (1) que os pecadores, como os santos, continuarão a existir para sempre, Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10; (2) que os ímpios sofrerão punição eterna, o que significa que estarão para sempre cônscios de uma dor que reconhecerão como seu justo prêmio, e, portanto, não serão aniquilados, cf. as passagens recém-mencionadas; e (3) que haverá graus na punição dos ímpios, enquanto que a extinção do ser ou da consciência não admite graus, mas constitui uma punição igual para todos, Lc 12.47, 48; Rm 2.12 As seguintes ponderações também são decididamente opostas a esta doutrina particular: (1) A aniquilação seria contrária a toda analogia. Deus não aniquila a Sua obra, por mais que possa mudar-lhe a forma. A idéia bíblica da morte não tem nada em comum com a aniquilação ou extinção. A vida e a morte são opostos exatos na Escritura. Se a morte significasse a continuação destes; mas o fato é que significa muito mais que isso, cf. Rm 8.6; 1 Tm 4.8; 1 Jo 3.14. O termo tem uma conotação espiritual, o mesmo acontecendo com a palavra morte. O homem está espiritualmente morto antes de cair presa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1 Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1. (2) Dificilmente se pode dizer que a aniquilação é uma punição, desde que esta implica consciência de sofrimento e demérito, ao passo que, quando termina a existência, cessa também a consciência. Poder-se-ia dizer, no máximo, que o medo da aniquilação é uma punição, mas esta punição não seria proporcional à transgressão. E, naturalmente, o medo do homem que nunca teve dentro de si a centelha da imortalidade, jamais será igual ao daquele que tem a eternidade em seu coração, Ec 3.11. (3) Muitas vezes sucede que as pessoas consideram a extinção do ser e da consciência uma coisa muito desejável, quando se cansam da vida. Para elas, essa punição seria na realidade uma bênção. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg696)

O ESTADO INTERMEDIÁRIO NÃO É UM ESTADO DE PROVAÇÃO OU PROVA POSTERIOR

1. EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA. A teoria da “segunda prova”, assim chamada, encontrou considerável apoio no mundo teológico do século dezenove. Ela é defendida além de doutros, por Mueller, Dorner e Nitzsch na Alemanha, por Godet e Gretillat na Suíça, por Maurício, Farrar e Plumptre na Inglaterra, e por Newman Smythe, Munger, Cox, Jukes e vários outros teólogos de Andover nos Estados Unidos. Essa teoria pretende que a salvação mediante Cristo é possível no estado intermediário para certas classes de pessoas, ou talvez para todas; e que é oferecida nos mesmos termos como no presente, a saber, a fé em Cristo como Salvador. Cristo é dado a conhecer a todos os que ainda necessitam dele para a salvação, e todos são instados a aceita-lo. Ninguém é condenado sem ser submetido a esta prova, e só são condenados os que resistem a esta oferta da graça. O estado eterno do homem não será fixado irrevogavelmente enquanto não chegar o dia do juízo. A decisão tomada entre a morte e a ressurreição decidirá se a pessoa será salva ou não. O principio fundamental sobre o qual repousa essa teoria é que nenhum homem perecerá sem receber o oferecimento de uma oportunidade favorável para conhecer e aceitar a Jesus. O homem só é condenado por sua obstinada recusa a aceitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Contudo, as opiniões diferem quanto às pessoas às quais a graça divina oferecerá a oportunidade de aceitar a Cristo no estado intermediário. A opinião geral é que certamente será estendida a todas as crianças falecidas na infância e aos pagãos adultos que nesta vida não ouviram falar de Cristo. A maioria sustenta que será concedida até mesmo aos que, tendo vivido em terras cristãs, na presente vida nunca consideraram apropriadamente as reivindicações de Cristo. Há, ainda, grande diversidade de opiniões quanto à instrumentalidade e aos métodos pelos quais essa obra salvadora será levada a efeito no futuro. Além disso, enquanto alguns alimentam as maiores esperanças quanto aos resultados dessa ora, outros são menos entusiasmados em suas expectativas. 2. FUNDAMENTO EM QUE SE BASEIA ESTA DOUTRINA. Essa teoria se funda, em parte, em considerações gerais daquilo que se poderia esperar do amor e da justiça de Deus, e num desejo facilmente compreensível de dar à obra da graça de Cristo Jesus amplitude tão inclusiva quanto possível, e não nalgum sólido alicerce escriturístico. Sua principal base bíblica acha-se em 1 Pe 3.19 e 4.6, com o entendimento de que estas passagens ensinam que Cristo, no período compreendido entre a Sua morte e a Sua ressurreição, pregou aos espíritos no hades. Mas estas passagens dão um fundamento assaz precário, visto que permitem uma interpretação completamente diferente. E mesmo que estas passagens ensinassem que Cristo de fato foi ao mundo subterrâneo para pregar, Seu oferecimento de salvação se estenderia somente aos que tinham morrido antes da Sua crucificação. Eles se referem também a passagens que, em sua opinião, apresentam a incredulidade como a única base para a condenação, tais como, Jo 3.18, 36; Mc 16.15, 16; Rm 10.9-12; Ef 4.18; 2 Pe 2.3, 4; 1 Jo 4.3. Mas estas passagens só provam que a fé em Cristo é o único meio de salvação, o que de modo nenhum equivale a provar que uma consciente rejeição de Cristo é a única base da condenação. A incredulidade é, sem dúvida, um grande pecado, pecado que sobressai em proeminente destaque nas vidas daqueles a quem Cristo é pregado, mas não é a única forma de revolta contra Deus, nem a única base da condenação. Os homens já estão sob condenação quando Cristo lhes é oferecido. Outras passagens, como Mt 13.31, 32; 1 Co 14.24-28; Fp 2.9-11, são igualmente inconclusivas. Algumas delas provam demais e, portanto, nada provam. 3. ARGUMENTOS CONTRA ESTA DOUTRINA. As seguintes considerações podem ser dirigidas contra essa teoria: (a) A Escritura descreve o estado dos descrentes após a morte como um estado fixo. A passagem mais importante a considerar aqui é Lc 16.19-31. Outras passagens são Ec 11.3 (de interpretação incerta); Jo 8,21, 24; 2 Pe 2.4, 9; Jd 7.13 (comp. 1 Pe 3.19). (b) Invariavelmente descreve também o juízo final vindouro como determinado pelas coisas feitas na carne, e nunca fala dele como de algum modo dependente do ocorrido no estado intermediário, Mt 7.22, 23; 10.32, 33; 25.34-46; Lc 12.47, 48; 2 Co 5.9, 10; Gl 6.7,8; 2 Ts 1.8; Hb 9.27. (c) o principio fundamental dessa teoria, segundo o qual unicamente a consciente rejeição de Cristo e Seu Evangelho leva os homens a perecerem, é antibíblico. O homem está perdido por natureza, e mesmo o peado original, bem como os pecados atuais, o torna digno de condenação. A rejeição de Cristo é, indubitavelmente, um grande pecado, mas nunca é apresentada como o único pecado que leva à destruição do pecador. (d) A Escritura nos ensina que os gentios perecem, Rm 1.32; 2.12; Ap. 21.8. Não há na Escritura nenhuma evidencia em que possamos basear a esperança de que gentios adultos, ou mesmo crianças gentílicas que não chegaram aos anos da discrição, serão salvos. (e) A teoria da prova futura leva à extinção de todo o fervor missionário. Se os gentios podem decidir quanto à aceitação de Cristo no futuro, isso só pode resultar num juízo mais rápido e maior para muitos, se são postos ante a escolha agora. Por que não deixa-los na ignorância pelo Maximo de tempo possível? QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. É sustentável a posição de que o sheol-hades sempre designa um mundo subterrâneo para onde vão todos os mortos? 2. Por que é objetável a crença em que a Bíblia, em suas afirmações sobre o sheol e hades, simplesmente reflete as noções populares da época? 3. Devemos supor que, por ocasião da morte, os justos e os ímpios entram nalguma habitação temporária e provisória, e não imediatamente em seu destino eterno? 4. Em que sentido o estado intermediário é apenas transitivo? 5. Como surgiu a noção do purgatório? 6. Como os católicos romanos concebem o fogo purgatorial? 7. Esse fogo é meramente purificador, ou também penal? 8. Que bom elemento alguns luteranos vêem na doutrina do purgatório? 9. Que mescla de heresias encontramos na seita conhecida como “aurora do milênio”? 10. O estado intermediário, de acordo com a Escritura, representa um terceiro aion entre o aion houtos e o aion ho mellon? 11. a ênfase escriturística ao presente como “o dia da salvação” está em harmonia com a doutrina de uma prova futura? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. , p. 655-711; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 25-116; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie, p. 3-14; Hodge, Syst., Theol. III, p. 713-770; Shedd, Dogm. Theol. II, p. 591-640; Dabney, Syst. and Polem. Theol., p. 823-829; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 548-569; Valentine, Chr. Theol. II, p. 392-407; Pieper, Christ. Dogm. III, p. 574-578; Miley, Syst. Theol. II, p. 430-439; Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 385-391; Schaff, Our Father’s Faith and Ours, p. 412-431; Row, Future Retribution, p. 348-404; Shedd, Doctrine of Endless Punishment, p. 19-117; King, Future Retribution; Morris, Is There Salvation After Death?; Hovey, Eschatology, p. 79-144; Dahle, Life After Death, p. 118-227; Salmond, Chr. Doct. Of Immortality, cf. Índice; Mackintosh, Immortality and the Future, p. 195-228; Addison, Life Beyond Death, p. 200-214; De Bondt, Wat Leert Het Oude Testament Aangaande Her Leven Na Dit Leven?, p. 40-129; Kliefoth, Christl. Eschatologie, p. 32-126. (Louis Berkhof – Teologia Sistemática Pg698)

ATITUDES ESTRANHAS EM CRENTES

1 – É SUPERSTIÇÃO ACHAR QUE DEUS SÓ RESPONDE AS SEGUINTES ORAÇÕES: • Orar somente de joelhos; orar no monte; orar impondo as mãos na cabeça de alguém; orar gritando, etc. Isso é estranho aos ensinos bíblicos, apesar de que não há nada de errado orar dessas formas. 2 – É SUPERSTIÇÃO E ESTRANHO ÀS ESCRITURAS COLOCAR OBJETOS DENTRO DA BÍBLIA, como se a Bíblia tivesse algum poder mágico em si mesma; levar foto de familiares para oração; colocar a Bíblia em locais especiais (como se fosse um amuleto), deixar a Bíblia aberta no Salmo 91; colocar um copo de água sobre a geladeira e depois beber, após a oração do teleevangelista. 3 – É ESTRANHO ÀS ESCRITURAS “AMARRAR” OBJETOS como se esses objetos possuíssem algum poder de fazer o mal em alguém. P. ex, “amarrar” uma imagem de um santo. 4 – É ESTRANHO ÀS ESCRITURAS CRIAR A REALIDADE COM A PALAVRA. Será que podemos, como o nosso Deus, criar a realidade, ou as coisas com as nossas palavras? Há poder em nossas palavras? Repetir várias vezes um texto bíblico pode fazer com que algo aconteça? P.Ex. repetir um texto várias vezes para que alguém se converta, ou para que um emprego apareça, como se a Palavra tivesse um poder mágico? É claro que não. Isso é estranho às Escrituras Sagradas. É o mito do livro “Há poder em suas palavras”. Quando a Bíblia diz “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.” (Pv18.21), está querendo afirmar que quando proferimos uma palavra maldosa, ou xingamento, ou depreciação contra alguém, esse alguém se sentirá péssimo. P.ex., se o marido diz para a esposa que ela é gorda ou que é burra repetidamente, como se sentirá essa pessoa? Evidentemente podemos levar a depressão ou até mesmo matar alguém com as nossas palavras negativas. E isso não tem nada haver com criar a realidade com a Palavra de Deus. A Palavra deve ser repetida várias vezes, não para criar a realidade, mas para que nós mesmos sejamos mudados por ela, não as coisas, não a criação de uma realidade como se fosse algo mágico. Se fosse assim, poderíamos dizer ou repetir várias vezes algum texto para ficarmos ricos e isso se tornar realidade. Poderíamos declarar que vamos adquirir um carro importado e isso acontecer só porque chamamos à realidade as coisas e elas vierem a existir. O único que pode chamar as coisas à existência é o nosso Deus, como no princípio Ele disse: “Haja luz e houve luz”. O que apareceu nos últimos tempos foram muitas heresias propaladas por kennet Hagin, as quais têm entrado em nossas igrejas mundo a fora. Pr. Edmilson

“Gospelização” de eventos seculares por parte de igrejas evangélicas

Pastor Ciro Zibordi critica “gospelização” de eventos seculares por parte de igrejas evangélicas. Pense num beco estreito e sombrio, com calçamento de paralelepípedo, cercado de galpões. Imagine-se entrando por uma das portas, de madrugada. Você avista jovens de jeans rasgado e camiseta preta, cabelo eriçado, bracelete, tatuagem e piercing. Com latinhas de energético à mão, eles dançam sorridentes e saltitantes. Casaizinhos em cantos escuros trocam carícias e beijos… A descrição acima é de um encontro evangélico (evangélico?) que está se tornando cada vez mais comum, e com o apoio das lideranças, nesses tempos pós-modernos. Estou falando da “balada gospel”, diferente da balada original, mundana, visto que foi “gospelizada” pelos seus frequentadores, pertencentes à “geração gospel”. Muitos cristãos (cristãos?) do nosso tempo têm usado o adjetivo “gospel” para “santificar” atitudes, posturas, comportamentos, condutas e eventos que outrora estavam relacionados a pessoas que não conhecem o Evangelho. Parte-se da premissa de que o crente tem liberdade para fazer o que quiser e se divertir do jeito que bem entender — mesmo que imite o mundo —, e ninguém tem nada a ver com isso. “Não me diga que você é um daqueles protestantes retrógrados que ainda pensa que participar de festa junina é impróprio para o cristão. Deixa de ser legalista, meu chapa! Acorda, rapá!”, diria um famoso telepregador gospel. Isso mesmo: já existe o “arraiá gospel”, também conhecido como “festa jesuína”, inclusive em algumas pretensas Assembleias de Deus. O mesmo se aplica a baile e desfile de carnaval, música erotizante (que simula o ato sexual), esporte (esporte?) violento e sanguinário — cuja “bola” a ser chutada ou golpeada com a mão é a própria cabeça do “esportista” —, Halloween (conhecido como “Elohim”), “pegação”, etc. Como se depreende da leitura deste artigo, “gospelizar” é, pretensamente, “tornar evangélico”. Uma vez “gospelizado”, o que outrora era considerado pecaminoso pode ser praticado livremente, sem peso de consciência. O lema dos crentes da “geração gospel” é: “Vamos curtir a vida. Afinal, Jesus não é careta”. Os líderes e membros das igrejas “gospelizadas” se conformaram com o mundo. Seus cantores se inspiram em astros mundanos, como declarou, há algum tempo, o integrante de uma famosa banda gospel: “A gente ouve Bob Marley, mas só para se informar”. A tônica das mensagens “evangelísticas” pregadas nessas igrejas é: “Venha como está e fique como quiser”. Empreguei o termo “gospelização” pela primeira vez em abril de 1994, em um texto que escrevi para o jornal Mensageiro da Paz. À época, escrevi: “Os que quiserem podem até pular carnaval, pois já existem blocos de ‘samba evangélico’. Para os apreciadores de bebidas fortes já existe a ‘cerveja gospel’, sem álcool, é claro. E não ficaremos surpresos se lançarem o ‘cigarro gospel’, sem nicotina”. Naquela época, esse texto soou como profético para os conservadores, e ácido demais para os liberais, em razão de o processo de “gospelização” ainda estar em seu início. Não tenho conhecimento de que o “cigarro gospel” tenha sido inventado. Em compensação, hoje temos o “carnaval gospel” , o “arraiá gospel” , o “dia das bruxas gospel” , as “lutas de gladiadores gospel” , o “barzinho gospel” , a “balada gospel” , o “funk pancadão gospel” … Como diz um “meme” do Facebook (imagem acima), “Só está faltando o inferno gospel”. Ciro Sanches Zibordi Posted 25th July by Rubem Rios

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MEDO DA MORTE?

TEMOR DA MORTE – Há muita gente que não gosta de ir a velório. Isso é um indicativo que há algo de errado. Pessoas assim estão despreparadas para o dia da morte. É claro que não é tão simples se preparar para o dia da morte. E as pessoas que se preparam para esse dia não ficam desafiando: “morte, agora pode vir, já estou preparado”. Isso é insensatez. Por outro lado não devemos ficar tremendo de medo ao se falar sobre morte. A morte, apesar de não ser boa (pois é o salário do pecado), deve ser enfrentada com coragem. Por outro lado ninguém poderá enfrentá-la sozinho, precisará da ajuda de Quem já passou por ela e a venceu. Esse alguém é o Autor da vida – JESUS. PERDENDO O MEDO DA MORTE – Quando confessamos Jesus como Senhor, Ele se torna nosso aliado, e a morte deixa de ser um terror e se torna pequena. Passamos a amar o Senhor e o medo desaparece: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.” (1Jo 4.18). DEPOIMENTOS DE PESSOAS ALIADAS A CRISTO, NA HORA DA MORTE: ESTÊVÃO – “Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus. Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele. E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito! Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu”(At7.55-60) DAVI – “Aproximando-se os dias da morte de Davi, deu ele ordens a Salomão, seu filho, dizendo: Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem! Guarda os preceitos do Senhor, teu Deus, para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na Lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores; para que o Senhor confirme a palavra que falou de mim, dizendo: Se teus filhos guardarem o seu caminho, para andarem perante a minha face fielmente, de todo o seu coração e de toda a sua alma, nunca te faltará sucessor ao trono de Israel. Davi descansou com seus pais e foi sepultado na Cidade de Davi.”(1Re2.1-4,10) APÓSTOLO PAULO – “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (FL1.21) “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.”(2Tm4.6-8) Salomão disse que é melhor ir num velório do que numa festa: “É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso.” (Ec7.2). É evidente que essa afirmação é proferida a partir da sabedoria. Aqui ele não está sendo desmancha prazer. Ele não está afirmando que festa não é coisa boa. Mas está dizendo um aforismo, um adágio. Se formos comparar a vida eterna com a vida transitória daremos razão a Salomão. Na festa há descontração enquanto no velório, reflexão sobre a brevidade da vida. Quem reflete sobre a brevidade da vida é sábio, é prudente, é ajuizado. Os que só pensam em festa são levianos, imprudentes e irresponsáveis. Não amam a própria alma.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Escatologia Geral

I. A Segunda Vinda de Cristo Enquanto os profetas não distinguem claramente uma dupla vinda de Cristo, o próprio Senhor e os apóstolos deixam mais que claro que à primeira vinda seguir-se-á uma segunda. Jesus se referiu ao Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu ministério público, Mt 24.30; 25.19, 31; 26.64; Jo 14.3. Ao tempo da Sua ascensão, anjos apontaram para o Seu regresso, At 3.20, 21; Fp 3.20; 1 Ts 4.15, 16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28. Vários termos são empregados para denotar este grande evento, dos quais os seguintes são os mais importantes: (1) apocalypsus (desvendamento, revelação), que indica a remoção daquilo que agora obstrui a nossa visão de Cristo, 1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7, 13; 4.13; (2) epiphaneia (aparecimento, manifestação), termo referente à vinda de Cristo, saindo Ele de um substrato oculto com as ticas bênçãos da salvação, 2 Ts 2.8; 1 Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Tt 2.13; e (3) parousia (literalmente, presença), que assinala a vinda que precede a presença ou que resulta na presença, Mt 24.3, 27, 37; 1 Co 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Ts 2.1-9; Tg 5.7, 8; 2 Pe 1.16; 3,4, 12; 1 Jo 2.28. (Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg 699)

A segunda Vinda, um Evento Único.

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10. Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”. De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ). (Berkhof, L – Teologia Sistemática)

A segunda vinda, um evento único

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10. Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”. De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ). (Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Parousia ou segunda vinda propriamente dida

Imediatamente após os portentos recém-mencionados, “aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem ... e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu”, Mt 24.30. Com relação a isto, os seguintes pontos devem ser observados. 1. DATA DA SEGUNDA VINDA. Não se sabe a ocasião exata da vinda do Senhor, Mt 24.36, e todas as tentativas dos homens para determinar a data exata evidenciaram-se errôneas. A única coisa que se pode dizer com certeza, com base na Escritura, é que Cristo voltará no fim do mundo. Os discípulos perguntaram ao Senhor: “que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século”?, Mt 24.3. Eles ligaram os dois fatos, e de nenhum modo o Senhor deu a entender que isso é um erro, mas, ao contrário, admitiu em Seu discurso que está certo. Cristo apresenta os dois fatos em sincronia, em Mt 24.29-31, 35-44; comp. Mt 13.39, 40. Paulo e Pedro também falam dos dois como coincidentes, 1 Co 15.23, 24; 2 Pe 3.4-10. Um estudo dos concomitantes da segunda vinda leva ao mesmo resultado. A ressurreição dos santos será um dos concomitantes 1 Co 15.23; 1 Ts 4.16, e Jesus nos assegura que Ele os ressuscitará no ultimo dia, Jo 6.39, 30, 44, 54. De acordo com Thayer, Cremer-Koegel, Walker, Salmond, Zahn e outros, isto só pode significar o dia da consumação – o fim do mundo. Outro dos seus concomitantes será o julgamento do mundo, Mt 25.31-46, particularmente, também, o julgamento dos ímpios, 2 Ts 1.7-10, que os premilenistas colocam no fim do mundo. E, finalmente, junto com a segunda vinda ocorrerá a restauração de todas as coisas, At 3.20,21. A forte expressão “restauração de todas as cousas” é forte demais para referir-se a algo menos que o perfeito restabelecimento do estado de coisas anterior à queda do homem. Ela indica o restabelecimento de todas as coisas à sua condição antiga, e isto não se verá no milênio dos premilenistas. Até o pecado e a morte continuarão a destruir as suas vítimas durante aquele período. Como foi assinalado acima, várias coisas terão que ocorrer antes do retorno do Senhor. Deve-se ter isto em mente ao se fazer a leitura das passagens que falam da vinda do Senhor ou dos últimos dias como próximos, Mt 16.28; 24.34; Hb 10.25; Tg 5.9; 1 Pe 4.5; 1 Jo 2.18. Elas encontram sua explicação, em parte no fato de que, considerada na perspectiva de Deus, para quem um dia é como mil anos, e mil anos como um dia, a vinda sempre está próxima; em parte, na apresentação que a Bíblia faz dos tempos do Novo testamento como constituindo os últimos dias ou os últimos tempos; em parte, no fato de que o Senhor, ao falar da Sua vinda, nem sempre tem em mente o Seu regresso físico no fim dos tempos, mas pode referir-se à Sua vinda no Espírito Santo; e em parte, no característico escorço profético, em que não se faz clara distinção entre a vinda próxima do Senhor, na destruição de Jerusalém, e Sua vinda final, para julgar o mundo. Várias seitas muitas vezes têm feito para fixar a data exata da segunda vinda, mas essas tentativas sempre são enganosas. Jesus disse explicitamente: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai”, Mt 24.36. A declaração a respeito do Filho provavelmente significa que este conhecimento não estava incluído na revelação que Ele, na qualidade de Mediador, tinha que realizar. 2. O MODO DA SEGUNDA VINDA. Os seguintes pontos merecem ênfase aqui: a. Será uma vinda pessoal. Isto se deduz da afirmação feita pelos anjos aos discípulos no Monte da Ascensão: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir”, At 1.11. A pessoa de Jesus os estava deixando, e a pessoa de Jesus voltaria. No sistema do modernismo dos dias atuais não há lugar para um retorno pessoal de Jesus Cristo. Douglas Clyde Macintosh vê o regresso de Cristo no “progressivo domínio sobre os indivíduos e sobre a sociedade exercido pelos princípios morais e religiosos do cristianismo, isto é, pelo Espírito de Cristo”. William Newton Clarke diz “Não se deve esperar nenhum retorno visível de Cristo à terra, mas, sim, o longo e constante progresso do Seu reino espiritual. ... Se nosso Senhor tão somente completar a vinda espiritual que iniciou, não haverá necessidade de um advento visível para tornar perfeita a Sua glória na terra”. Segundo William Adams Brown, “Não mediante uma catástrofe abrupta, poderá ser, como na esperança cristã primitiva, mas pelo método mais lento e mais seguro da conquista espiritual, o ideal de Jesus ainda obterá a aquiescência universal que Ele merece, e o Seu espírito dominará o mundo. Esta é a verdade pela qual a doutrina do segundo advento permanece de pé”. Walter Rauschenbusch e Sailer Mathews falam da segunda vinda em termos similares. Estes e aqueles interpretam as vívidas descrições da segunda vinda de Cristo como representações figuradas da idéia de que o espírito de Cristo será uma crescente e penetrante influência na vida do mundo. Mas não se pode negar que essas representações não fazem justiça às descrições que se acham em passagens como At 1.11; 3.20, 21; Mt 24.44; 1 Co 15.22; Fp 3.20; Cl 3.4; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15-17; 2 Tm 4.8; Tt 2.13; Hb 9.28. Os próprios modernistas admitem isso quando dizem que estas passagens representam o antigo modo judaico de pensar. Eles têm uma nova e melhor luz sobre o assunto, mas é uma luz que se obscurece cada vez mais, em vista dos acontecimentos mundiais dos presentes dias. b. Será uma vinda física. Que a volta do Senhor será física se deduz de passagens como At 1.11; 3.20, 21; Hb 9.28; Ap 1.7. Jesus voltará corporalmente á terra. Há alguns que identificam a predita vinda do Senhor com a Sua vinda espiritual no dia de Pentecoste, e entendem que a parousia significa a presença espiritual do Senhor na igreja. Segundo a descrição que fazem, o Senhor voltou no Espírito Santo no dia de Pentecoste, e agora está presente (daí parousia) na igreja.Dão ênfase especial ao fato de que a palavra parousia significa presença. Ora, é mais que evidente que o Novo Testamento fala de uma vinda espiritual de Cristo, Mt 16.28; Jo 14.18, 23; Ap 3.20; mas esta vinda, quer à igreja no dia de Pentecoste, quer ao indivíduo em sua renovação espiritual, Gl 116, não pode ser identificada com o que a Bíblia apresenta como a segunda vinda de Cristo. É verdade que a palavra parousia significa presença, mas o doutor Vos demonstrou acertadamente que, em seu emprego religioso e escatológico, também significa chegada, e que no Novo Testamento a idéia de chegada ocupa o primeiro plano. Além disso, devemos ter em mente que existem outros termos no Novo Testamento que servem para designar a segunda vinda, a saber, apokalypsis, epiphaneia e phanerosis, cada um dos quais indica uma vinda que se pode ver. E, finalmente, não devemos esquecer que as epístolas se referem repetidamente à segunda vinda como um evento ainda futuro, Fp 3.20; 1 Ts 3.13; 4.15, 16; 2 Ts 1.7-10; Tt 2.13. isto não se enquadra na idéia de que a vinda já é um evento do passado. c. Será uma vinda visível. Isto se relaciona intimamente com o item anterior. Pode-se dizer que, se a vinda do Senhor será física, também será visível. Isto parece seguir-se como um fato lógico, mas os russelitas ou sectários da aurora do milênio não pensam assim. Afirmam eles que o retorno de Cristo e a inauguração do milênio deram-se invisivelmente em 1874, e que Cristo teria vindo com poder em 1914 com o propósito de remover a igreja e derribar os reinos do mundo. Quando passou o ano de 1914 sem o aparecimento de Cristo, eles buscaram um meio de escapar da dificuldade na conveniente teoria de que Ele permaneceu oculto porque o povo não manifesta arrependimento suficiente. Portanto, Cristo veio, e o fez invisivelmente. Todavia, a Escritura não nos deixa em dúvida quanto à visibilidade da volta do Senhor. Numerosas passagens a atestam, como Mt.24.30; 26.64; Mc 13.26; Lc 21.27; At 1.11; Cl 3.4; Tt 2.13; Hb 9.28; Ap 1.7. d. Será uma vinda repentina. Embora de um lado a Bíblia ensine que a vinda do Senhor será precedida por diversos sinais, ensina, de outro lado, que, de maneira igualmente enfática, a vinda será repentina, será inesperada, tomando de surpresa o povo, Mt 24.37-44; 25.1-12; Mc 13.33-37; 1 Ts 5.2, 3; Ap 3.3; 16.15. Isto não é contraditório, pois os sinais preditos não são de molde a designar o tempo exato. Os profetas indicaram certos sinais que precederiam a primeira vinda de Cristo e, contudo, Sua vinda tomou a muitos de surpresa. A maioria do povo não deu atenção aos sinais, fossem estes quais fossem. A Bíblia dá a entender que a medida da surpresa que haverá quando da vinda de Cristo será na razão inversa à medida da vigilância das pessoas. e. Será uma vinda gloriosa e triunfal. A segunda vinda de Cristo, conquanto pessoal, física e visível, será todavia muito diferente da Sua primeira vinda. Ele não voltará no corpo da Sua humilhação, mas num corpo glorificado e com vestes reais, Hb 9.28. As nuvens do céu serão Sua carruagem, Mt 24.30, os anjos Seu corpo de guarda, 2 Ts 1.7, os arcanjos Seus arautos, 1 Ts 4.16, e os santos de Deus serão o Seu glorioso séqüito, 1 Ts 3.13; 2 Ts 1.10. Ele virá como Rei dos reis e Senhor dos Senhores, triunfante sobre todas as forças do mal, havendo posto todos os Seus inimigos debaixo dos Seus pés, 1 Co 15.25; Ap 19.11-16. 3. O PROPÓSITO DA SEGUNDA VINDA. Cristo voltará no fim do mundo com o propósito de introduzir a era vindoura, o estado eterno de coisas, e o fará inaugurando e completando dois eventos formidáveis, quais sejam, a ressurreição dos mortos e o juízo final, Mt 13.49, 50; 16.27; 24.3; 25.14-46; Lc 9.26; 19.15, 26, 27; Jo 5.25-29; At 17.31; Rm 2.3-16; 1 Co 4.5; 15.23; 2 Co 5.10; Fp 3.20, 21; 1 Ts 4.13-17; 2 Ts 1.7-10; 2.7, 8; 2 Tm 4.1, 8; 2 Pe 3.10-13; Jd 14, 15; Ap 20.11-15; 22.12. Na descrição da Escritura, como já foi dado a ver no item anterior, o fim do mundo, o dia do Senhor, a ressurreição física dos mortos e o juízo final coincidem. Esse grande ponto decisivo trará também a destruição de todos os poderes malignos hostis ao reino de Deus, 2 Ts 2.8; Ap 20.14. Pode-se duvidar disto, caso se leiam as passagens pertinentes doutra maneira, se Ap 20.1-6 não tivesse sido estabelecido por alguns como o padrão pelo qual todo o restante do Novo Testamento deve ser interpretado. De acordo com os premilenistas, a segunda vinda de Cristo atenderá primariamente ao propósito de estabelecer o reino visível de Cristo e Seus santos na terra, e de inaugurar o real dia da salvação para o mundo. Isto envolverá o arrebatamento, a ressurreição dos justos, as bodas do Cordeiro, e os juízos sobre os inimigos de Deus. Mas as outras ressurreições e os outros juízos se seguirão a diversos intervalos, e a ultima ressurreição e o juízo final estarão separados da segunda vinda por mil anos. As objeções a este conceito foram dadas acima, em parte, e em parte serão mencionadas nos capítulos subseqüentes. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Por que o termo parousia não pode ser traduzido simplesmente por “presença” onde quer que se encontre? 2. Em que diferentes sentidos a Bíblia fala da vinda de Cristo? 3. Como devemos interpretar Mt 16.28; 24.34? 4. O discurso de Jesus registrado em Mt 24 fala de uma única vinda? 5. A doutrina da restauração nacional dos judeus envolve necessariamente a doutrina do milênio? 6. Mt 23.39; Lc 13.35; 21.24; At 1.6, 7 ensinam tal restauração? 7. Em Dn 11.36 e segtes. Daniel se refere a Antíoco Epifânio como um tipo do Anticristo? 8. Como as bestas de Ap 13 se relacionam com o Anticristo? 9. Deve-se identificar o homem do pecado, de que Paulo fala, como o Anticristo? 10. Qual é o poder restringente mencionado em 2 Ts 2.6, 7? 11. Os apóstolos ensinam que o Senhor poderia voltar durante a existência deles na terra? 12. O Novo Testamento autoriza a idéia de que a frase “o fim” ou “o fim do mundo” significa simplesmente “o fim da era”? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 712-753; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 117-245; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie, p. 22,23; id., Pauline Eschatology, p. 72-135;Hodge, Syst., Theol. III, p. 790-836; Pieper, Christ. Dogm. III, p. 579-584; Valentine, Chr. Theol. II, p. 407-411; Schmid, Doct. Theol. of the Ev. Luth. Church,p. 645-657; Strong, Syst. Theol., p. 1003-1015; Pope, Chr. Theol. III, p. 387-397; Hovey, Eschatology, p23-78; Kliefoth, Eschatologie, p. 126-147, 191-225; Mackintosh, Immortality and the Future, p. 130-148; Kennedy, St. Paul’s Conceptions of the Last Things, p. 158-193; Salmond, Chr. Doct. Of Immortality,p. 241-251; Snowden, The Coming od the Lord, p. 123-171. (Berkhof, L – Teologia Sistemática)