terça-feira, 11 de setembro de 2012

Deus como Trindade em Unidade

A palavra “Trindade” não é tão expressiva como a palavra holandesa “Drieenheid”, pois pode simplesmente denotar o estado tríplice (ser três), sem qualquer implicação quanto à unidade dos três. Geralmente se entende, porém, que, como, termo técnico na teologia, inclui essa idéia. Mesmo porque, quando falamos da Trindade de Deus, nos referimos a uma trindade em unidade, e a uma unidade que é trina. 1. A PERSONALIDADE DE DEUS E A TRINDADE. Como acima foi exposto, os atributos comunicáveis de Deus salientam a Sua personalidade, desde que O revelam como um Ser moral bem como racional. Sua vida se nos apresenta claramente na Escritura como uma vida pessoal; e naturalmente, é da maior importância sustentar a verdade da personalidade de Deus, pois, sem ela não pode haver religião no real sentido da palavra: nem oração, nem comunhão pessoal, nem entrega confiante, nem confiante esperança. Visto que o homem foi criado à imagem de Deus, podemos compreender algo da vida pessoal de deus pela observação da personalidade como a conhecemos no homem. Contudo, precisamos ter o cuidado de não estabelecer a personalidade humana como padrão pelo qual avaliar a personalidade de Deus.A forma original da personalidade não está no homem, mas Deus; Sua personalidade é arquetípica, ao passo que a do homem é ectípica. Esta não é idêntica àquela, mas contém tênues traços de similaridade com ela. Não devemos dizer que o homem é pessoal e Deus é superpesssoal (expressão deveras infeliz), pois o que é superpessoal não é pessoal; ao invés disso, devemos dizer que, aquilo que aparece como imperfeito no homem, existe com infinita perfeição em Deus. A grande diferença entre ambos é que o homem é unipessoal, enquanto que Deus é tripessoal. E esta existência tripessoal é uma necessidade do Ser Divino, e em nenhum sentido resulta de uma escolha feita por Deus, Ele não poderia existir em nenhuma outra forma que não a forma tripessoal. Esta verdade tem sido defendida de várias maneiras. Uma argumentação muito comum em seu favor provém da própria idéia de personalidade. Shedd baseia o seu argumento na auto consciência geral do Deus triúno, como distinta da autoconsciência individual e particular de cada uma das Pessoas da Divindade, pois na autoconsciência o sujeito tem que se conhecer a si mesmo como objeto, e também percebe que o faz. Isso é possível em Deus em razão de Sua existência trina. Argumenta Shedd que Deus não poderia contemplar-se a Si mesmo, conhecer-se e comunicar-se Consigo mesmo, se não fosse trino em sua constituição. Bartlett apresenta de maneira interessante várias considerações para provar que Deus é necessariamente tripessoal. A argumentação que parte da personalidade, para provar ao menos que há pluralidade em Deus, pode ser expressa de forma semelhante a esta: Entre os homens o ego só se desperta para a consciência por meio do contato com o não-ego. A personalidade não se desenvolve nem existe na isolação, mas somente associada a outras pessoas. Daí, não é possível conceituar a personalidade de Deus independentemente de uma associação de pessoas iguais nele. Seu contato com Suas criaturas não se explica a Sua personalidade, do mesmo modo como o contato do homem com os animais não explica a sua personalidade. Em virtude da existência tripessoal de Deus, há uma infinita plenitude da vida divina nele. Paulo fala desta pleroma (plenitude) da Divindade em Ef 3.19 e Cl 1.9; 2.9. Em vista do fato de que há três pessoas em Deus dizer que Deus é pessoal é melhor do que falar dele como uma Pessoa. 2. PROVA BÍBLICA DA DOUTRINA DA TRINDADE. A doutrina da Trindade depende decisivamente da revelação. É verdade que a razão humana pode sugerir algumas idéias para consubstanciar a doutrina, e que os homens, fundados em bases puramente filosóficas, por vezes abandonaram a idéia de uma unidade nua e crua em Deus, e apresentaram a idéia do movimento vivo e de auto-distinção. Também é verdade que a experiência cristã parece exigir algo parecido com esta construção da doutrina de Deus. Ao mesmo tempo, é uma doutrina que não teríamos conhecido, nem teríamos sido capazes de sustentar com algum grau de confiança, somente com base na experiência, e que foi trazida ao nosso conhecimento unicamente pela auto-revelação especial de Deus. Portanto, é de máxima importância reunir suas provas escriturísticas. a. Provas do Velho Testamento. Alguns dos primeiros pais da igreja, assim chamados, e mesmo alguns teólogos mais recentes, desconsiderando o caráter progressivo da revelação de Deus, opinaram que a doutrina da Trindade foi revelada completamente no Velho Testamento. Por outro lado, o socinianos e os arminianos eram de opinião que não há nada desta doutrina ali. Tanto aqueles como estes estavam enganados. O Velho Testamento não contém plena revelação da existência trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. É exatamente isto que se poderia esperar. A Bíblia nunca trata da doutrina da Trindade como uma verdade abstrata, mas revela a subsistência trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva, em certa medida em conexão com as obras da criação e da providência, mas particularmente em relação à obra de redenção. Sua revelação mais fundamental é revelação dada com fatos, antes que com palavras. E esta revelação vai tendo maior clareza, na medida em que a obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na encarnação do Filho e no derramamento do Espírito.E quanto mais a gloriosa realidade da Trindade é exposta nos fatos da história, mais claras vão sendo as afirmações da doutrina. Deve-se a mais completa revelação da Trindade no Novo Testamento ao fato de que o Verbo se fez carne, e que o Espírito Santo fez da igreja Sua habitação. Têm-se visto, por vezes, provas da Trindade na distinção entre Jeová e Elohim, e também no Plural Elohim, mas a primeira não tem nenhum fundamento, e a última é, para dizer o mínimo, duvidosa, embora ainda defendida por Rottenberg, em sua obra sobre De Triniteit in Israels Godsbegrip É muito mais plausível entender que as passagens em que Deus fala de Si mesmo no plural, Gn 1.26; 11.7, contêm uma indicação de distinções pessoais em Deus, conquanto não surgiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas. Indicações mais claras dessas distinções pessoais acham-se nas passagens que se referem ao Anjo de Jeová que, por um lado, é identificado com Jeová e, por outro, distingue-se dele. Ver Gn 16.7-13; 18.1.21; 19.1-28; Ml 3.1. E também nas passagens em que a Palavra e a Sabedoria de Deus são personificadas, Sl 33.4, 6; Pv 8.12-31. Em alguns casos mencionam-se mais de uma pessoa, Sl 33.6; 45.6, 7 (com. Hb 1.8,9), e noutros quem fala é Deus, que menciona o Messias e o Espírito, ou quem fala é o Messias, que menciona Deus e o Espírito, Is 48.16; 61.1; 63. 9,10. Assim, o Velho Testamento contém clara antecipação da revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento. b. Provas do Novo Testamento. O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da Divindade. Se no Velho Testamento Jeová é apresentado como o Redentor e Salvador do Seu povo, Jó 19.25; Sl 19.14; 78.35; 106.21; Is 41.14; 43.3, 11, 14; 47.4; 49.7, 26; 60.16; Jr 14.3; 50.14; Os 13.3, no Novo Testamento e o Filho de Deus distingue-se nessa capacidade, Mt 1.21; Lc 1.76-79; 2.17; Jo 4,42; At 5.3; Gl 3.13; 4.5; Fl 3.30; Tt 2.13, 14. E se no Velho Testamento é Jeová que habita em Israel e nos corações dos que O temem, Sl 74.2; 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9; Jl 3.17, 21; Zc 2.10, 11, no Novo testamento é o Espírito Santo que habita na igreja, At 2.4; Rm 8.9, 11; 1 Co 3.16; Gl 4.6; Ef 2.22; Tg 4.5 O Novo Testamento oferece clara revelação de Deus enviando Seu filho ao mundo, Jo 3.16; Gl 4.4; Hb 1.6; 1 Jo 4.9; e do pai e Filho enviando o Espírito, Jo 14.26; 15.26; 16.7; Gl 4.6. Vemos o pai dirigindo-se ao Filho, Mc 1.11; Lc 3.22, o Filho comunicando-se com o Pai, Mt 11.25, 26; 26.39; Jo 11.41; 12.27, 28, e o Espírito Santo orando a Deus nos corações dos crentes, Rm 8.26. Assim, as pessoas da Trindade, separadas, são expostas com clareza às nossas mentes. No batismo do Filho, o pai fala, ouvindo-se do céu a Sua voz, e o Espírito Santo desce na forma de pomba, Mt 3.16, 17. Na grande comissão Jesus menciona as três pessoas: “batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, Mt 28.19. Também são mencionadas juntamente em 1 Co 12. 4-6; 2 Co 13.13; e 1 Pe 1.2. A única passagem que fala de tri-unidade é 1.Jo 5.7, mas sua genuinidade é duvidosa, razão pela qual foi eliminada das mais recentes edições críticas do Novo Testamento. 3. EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE. Pode-se discutir melhor, e resumidamente, a doutrina da Trindade em conexão com várias proposições que constituem um epítome da fé professada pela Igreja sobre estes pontos. a. Há no Ser Divino apenas uma essência indivisível (ousia, essentia). Deus é um em Seu se essencial, ou seja, em Sua natureza constitucional. Alguns dos primeiros pais da Igreja empregavam o termo “substantia” como Sinônimo de “essentia”, mas os escritores mais recentes evitaram esse emprego do termo, em vista do fato de que na igreja latina “substantia” era o termo utilizado pra traduzir “hypostasis”, bem como “ousia” e, portanto, era ambíguo. No presente, muitas vezes os dois vocábulos são empregados um pelo outro. Não há objeção a isto, desde que se tenha em mente que eles têm conotações ligeiramente diversas. Shedd os distingue como segue: “Essência vem de esse, ser, e denota o ser ativo. Substância vem de substare, e denota a possibilidade latente do ser. ...O termo essência descreve Deus como a soma total das perfeições infinitas; o termo substância O descreve como a base subjacente das atividades infinitas. O primeiro é, comparativamente, uma palavra ativa; o último, uma palavra passiva. O primeiro é, comparativamente, um termo espiritual; o último, material. Falamos de substância material, não de essência material”. Desde que já foi discutida acima a unidade de Deus, não é necessário demorar-nos em minúcias no presente contexto. Esta proposição concernente à unidade de Deus baseia-se em passagens como Dt 6.4; Tg 2.19, sobre a existência autônoma e a imutabilidade de Deus, e no fato d que Ele é identificado com as Suas perfeições, como quando é chamado vida, luz, verdade, justiça, e assim por diante. b. Neste único Ser Divino Há três Pessoas ou subsistências individuais, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Provam-no as várias passagens já citadas como válidas para consubstanciar a doutrina da Trindade. Para indicar estas distinções da Divindade, os escritores gregos geralmente empregavam o termo hypostasis, enquanto que os autores latinos utilizavam o termo persona e, às vezes, substantia. Como aquele podia levar a mal-entendidos e este era ambíguo, os eruditos cunharam a palavra subsistência. A variedade dos termos empregados mostra que sempre se sentiu que são inadequados. Geralmente se admite que a palavra “pessoa” é apenas uma expressão imperfeita da idéia. Na linguagem comum ela designa um indivíduo racional e moral separado, dotado de consciência própria, e consciente da sua identidade em meio a todas as mudanças. A experiência ensina que onde temos uma pessoa, temos também uma essência individual distinta. Toda pessoa é um indivíduo distinto e separado, em quem a natureza é individualizada. Mas em Deus não há três indivíduos justapostos e separados uns dos outros, mas somente auto-distinções pessoais dentro da essência divina, que é não só genericamente, mas também numericamente, uma só. Conseqüentemente, muitos preferiram falar de três hipóstases em Deus, três diferentes modos, não de manifestação, como ensinava Sabélio, mas de existência ou de subsistência. Daí diz Calvino: “Então, com pessoa, quero dizer uma subsistência na essência divina – uma subsistência que, conquanto relacionada com as outras duas, distingue-se delas por suas propriedades incomunicáveis”. Isso é perfeitamente permissível e pode proteger-nos de entendimento errôneo, mas não deve levar-nos a perder de vista o fato de que as auto-distinções do Ser Divino implicam um “Eu” e “Tu” no Ser de Deus, que assumem relações pessoais uns com os outros. Ver Mt 3.16; 4.1; Jô 1.18; 3.16; 5.20-22; 14.26; 15.26; 16.13-15. c. Toda a indivisa essência de Deus pertence igualmente a cada uma das três pessoas. Quer dizer que a essência não é dividida entre as três pessoas, mas está com a totalidade absoluta da sua perfeição em cada uma das pessoas, de modo que têm unidade numérica de essência. A natureza divina distingue-se da natureza humana em que pode subsistir total e indivisivelmente em mais de uma pessoa. Enquanto que três pessoas humanas têm apenas unidade de natureza ou essência, isto é, participam da mesma espécie de natureza ou essência, as pessoas da Divindade têm unidade numérica de essência, isto é, possuem a mesma essência, essência idêntica. A natureza humana pode ser considerada como uma espécie, da qual cada homem tem ma parcela individual, de sorte que há uma unidade específica (termo derivado de “espécie”); mas a natureza divina é indivisível e, portanto, idêntica, nas pessoas da Divindade. É numericamente uma e a mesma, pelo que a unidade da essência das pessoas é uma unidade numérica. Segue-se daí que a essência divina não é uma existência independente justaposta paralelamente às três pessoas. Ela não tem existência à parte e fora das três pessoas. Se tivesse, não haveria verdadeira unidade, mas uma divisão que levaria ao tetrateísmo. A distinção pessoal é uma, dentro da essência divina. Esta tem, nos termos usualmente empregados, três modos de subsistência. Outra conclusão que se tira da anterior é que não pode haver subordinação de uma pessoa a outra da Divindade quanto ao ser essencial, e, portanto, nenhuma diferença na dignidade pessoal.deve-se defender esta verdade contra o subordinacionismo de Orígenes e doutros chamados “pais da igreja” primitivos, dos arminianos, de Clarke e doutros teólogos anglicanos. A única subordinação de que podemos falar é uma subordinação quanto à ordem e ao relacionamento. É especialmente quando refletimos na relação das três pessoas da essência divina, que todas as analogias nos falham e ficamos profundamente conscientes de que a Trindade é um mistério que ultrapassa a nossa possibilidade de compreensão. É a incompreensível glória da Divindade. Assim como a natureza humana é tão rica, em sua amplíssima plenitude, que não pode ser incorporada, toda ela, num só indivíduo, e só obtém adequada expressão na humanidade como um todo, também o Ser Divino só se revela em Sua plenitude em Sua tríplice subsistência de Pai e Filho e Espírito Santo. d. A subsistência e as operações das três pessoas do Ser Divino são assinaladas por certa ordem definida. Há uma certa ordem na Trindade ontológica.Quanto à subsistência pessoal o Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espírito Santo é a terceira. Mal se precisa dizer que esta ordem não pertence a nenhuma prioridade de tempo ou de dignidade essencial, mas somente à ordem de derivação lógica. O Pai não é gerado por nenhuma das outras duas pessoas, nem delas procede; o Filho é eternamente gerado pelo Pai, e o Espírito procede do Pai e do Filho desde a eternidade. A geração e a processão ocorrem dentro do Ser Divino, e implicam certa subordinação quanto ao modo da subsistência pessoal, não porém subordinação no que se refere à posse da essência divina. Esta Trindade ontológica e sua ordem inerente constitui a base metafísica da Trindade econômica. Portanto, nada mais natural que a ordem existente na Trindade essencial se reflita nas opera ad extra (obras externas ao ser essencial) que se atribuem mais particularmente a cada uma das pessoas. A Escritura indica claramente esta ordem nas chamadas praepositiones distinctionales, ek, dia, e en, utilizadas para expressar a idéia de que todas as coisas provêm do Pai, mediante o Filho, e no Espírito Santo. e. há certos atributos pessoais pelos quais se distinguem as três pessoas. Chamam-se também opera ad intra, porque são obras realizadas no interior do Ser Divino e não se finalizam na criatura. São operações pessoais, não realizadas pelas três pessoas juntas, e são incomunicáveis. A geração é um ato exclusivo do Pai, a filiação pertence exclusivamente ao Filho, e a processão só pode ser atribuída ao Espírito Santo. Como opera ad intra, estas obras se distinguem das opera ad extra, que são as atividades e efeitos pelos quais a Trindade se manifesta exteriormente. Nunca estas obras se devem exclusivamente a uma das pessoas, mas sempre são obras do Ser Divino completo. Ao mesmo tempo, é verdade que, na ordem econômica das obras de Deus, algumas das obras ad extra são atribuídas mais particularmente a uma pessoa, algumas mais especialmente a outra, e assim com cada uma das três pessoas divinas. Conquanto sejam obras das três pessoas conjuntamente, atribui-se a criação primariamente ao Pai, e redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Esta ordem das operações divinas indica a ordem essencial de Deus e forma a base daquilo que geralmente se conhece como Trindade econômica. f. a igreja confessa que a Trindade é um ministério que transcende a compreensão do homem. A Trindade é um mistério, não somente no sentido bíblico de que se trata de uma verdade anteriormente oculta e depois revelada, mas também no sentido de que o homem não pode compreendê-la e não pode torná-la inteligível. É inteligível em algumas de suas relações e de seus modos de manifestação, mas é ininteligível em sua natureza essencial. Os numerosos esforços feitos para explicar o mistério foram especulativos, e não teológicos. Invariavelmente redundaram no desenvolvimento de conceitos triteístas ou modalistas de Deus, na negação ou da unidade da essência divina ou da realidade das distinções pessoais dentro da essência. A real dificuldade está na relação em que as pessoas da Divindade estão com a essência divina e uma com as outras; e esta é uma dificuldade que a igreja não é capaz de remover, podendo apenas tentar reduzi-la a suas apropriadas proporções mediante uma apropriada definição de termos. Ela jamais tentou explicar o mistério da Trindade, mas procurou somente formular a doutrina de modo que fossem evitados os erros que a ameaçam. 4. VÁRIAS ANALOGIAS SUGERIDAS PARA LANÇAR LUZ SOBRE O ASSUNTO. Desde os albores da era cristã fizeram-se tentativas para lançar luz sobre o Ser trinitário de Deus, sobre a trindade na unidade e a unidade na trindade, com analogias extraídas de várias fontes. Embora defeituosas, não se pode negar tiveram algum valor na discussão trinitária. Isto se aplica particularmente às analogias oriundas da natureza constitucional ou da psicologia do homem. Em vista do fato de que o homem foi criado à imagem de Deus, é simplesmente natural admitir que, se existem vestígios da vida trinitária nas criaturas, os mais claros deles hão de achar-se no homem. a. Algumas dessas analogias ou ilustrações foram tiradas da natureza inanimada e do reino vegetal, como a da água da nascente, o riacho e o rio, ou a do vapor subindo na atmosfera, a nuvem e a chuva, ou a da chuva, a neve e o gelo; e como a da árvore com a sua raiz, o seu tronco e os seus ramos. Estas e todas as demais ilustrações similares são muito defeituosas. É evidente que lhes falta inteiramente a idéia de personalidade; e conquanto exemplifiquem uma natureza ou substancia comum, não são exemplos de uma essência comum que esteja presente, não apenas em parte, mas em sua inteireza, em cada uma de suas partes ou formas constituintes. b. Outras, de maior importância, foram extraídas da vida do homem, particularmente da constituição da mente humana e seus processos. Estas foram consideradas especialmente relevantes porque o homem é portador da imagem de Deus. A esta classe pertencem as analogias da unidade psicológica de intelecto, afetos e vontade (Agostinho); da unidade lógica de tese, antítese e síntese (Hegel); e da unidade metafísica de sujeito, objeto e sujeito-objeto (Olshausen, Shedd). Em todos estes casos temos certa trindade numa unidade, mas nenhuma Tri-personalidade numa unidade de substancia. c. Tem-se chamado a atenção também para a natureza do amor, que pressupõe um sujeito e um objeto e requer a união de ambos, de modo que, quando o amor concretiza perfeitamente a sua obra, três elementos são incluídos. Mas é fácil ver que esta analogia é defeituosa, desde que coordena duas pessoas e um relacionamento. Não ilustra, absolutamente, uma tri-personalidade. Além disso, refere-se apenas a uma qualidade, e não a uma substancia possuída em comum pelo sujeito e pelo objeto. (Berkhof, L – Teologia Sistemática)