quinta-feira, 7 de março de 2013

UMA TRÍPLICE COMUNICAÇÃO RESULTANTE DA ENCARNAÇÃO

a. Uma communicatio idiomatum ou comunicação de propriedades. Significa que as propriedades de ambas as naturezas, a humana e a divina, passaram a ser propriedades da pessoa e, portanto, são atribuídas à pessoa. Pode-se dizer que a pessoa é toda-poderosa, onisciente, onipresente, e assim por diante, mas também se pode dizer que é um varão de dores, de conhecimento e poder limitados, e sujeito às necessidades e misérias humanas. Devemos ter o cuidado de não entender a expressão no sentido de que alguma coisa peculiar à natureza divina foi comunicada ou transmitida à natureza humana, e vice-versa; nem que há uma interpretação das duas naturezas, com o resultado que o divino é humanizado e o humano é divinizado (Roma). A Divindade não pode participar da fraqueza humana; tampouco pode o homem compartilhar nenhuma das perfeições essenciais do soberano Deus. b. Uma communicatio apotelesmatum ou operationum (comunicação da obra consumada). Significa que a obra redentora de Cristo, e particularmente o resultado final dessa obra, o apotelema, leva um caráter divino-humano. Analisando isto, podemos dizer que significa: (1) que a causa eficiente da obra redentora de Cristo é o sujeito pessoal único e indiviso que caracteriza Cristo; (2) que essa obra é realizada pela cooperação das duas naturezas; (3) que cada uma das duas naturezas age usando a sua própria energeia (eficácia; poder eficaz) especial; e (4) que, não obstante, o resultado forma uma unidade indivisa, porquanto é obra realizada por uma única pessoa. c. Uma communicatio charismatum ou gratiarum (comunicação de graças ou dons). Significa que a natureza humana de Cristo, desde o primeiro momento de sua existência foi adornada com todas as classes de ricos e gloriosos dons, como por exemplo, (1) a gratia unionis cum persona tou Logou (graça de união com a pessoa do Logos), isto é, a graça e a glória de estar unida ao Logos divino, também chamada gratia eminentiae (graça da eminência), pela qual a natureza humana é elevada acima de todas as criaturas e até se torna objeto de adoração; e (2) a gratia habitualis (graça habitual*), que consiste daqueles dons do espírito, em particular os do intelecto, da vontade e de poder, pelos quais a natureza humana de Cristo foi exaltada acima de todas as criaturas inteligentes. Especialmente a impecabilidade de Cristo, o non posse peccare, deve ser mencionado aqui. (Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.318)