quinta-feira, 7 de março de 2013

A TEORIA DA ENCARNAÇÃO GRADUAL

Dorner foi um dos primeiros e maiores oponentes da doutrina quenósica. Ele empreendeu a tarefa de sugerir outra teoria que, evitando os erros do quenosismo, fizesse plena justiça à humanidade de Cristo. Ele se propôs resolver o problema com a teoria de uma encarnação gradual ou progressiva. Segundo ele, a encarnação não foi um ato consumado no momento da concepção de Jesus, mas um processo gradual pelo qual o Logos foi-se juntando em proporção crescente ao Homem singular e representativo (virtualmente uma nova criação), Cristo Jesus, até que a união plena se consumou finalmente por ocasião da ressurreição. A união redundou no Deus-homem, caracterizado por uma só consciência e uma só vontade. Neste Deus-homem o Logos não supre a personalidade, mas lhe dá sua qualidade divina. Essa teoria não tem suporte na Escritura, que sempre representa a encarnação como fato instantâneo, e não como um processo. Ela vai dar logicamente no nestorianismo, ou seja, na doutrina das duas pessoas no Mediador. E desde que não vê a sede real da personalidade no homem Jesus, subverte completamente a real preexistência de nosso Senhor. Rothe e Bovon são dois mais importantes defensores dessa doutrina. A crucial diferença entre as teorias antigas e as realmente modernas sobre a pessoa de Cristo está no fato de que estas, como também se vê na teoria de Dorner, distinguem a pessoa do Logos, entendida como um modo especial da vida pessoal de Deus – distinguem-na, dizemos, da personalidade de Cristo como uma pessoa humana concreta, de qualidade singularmente divina. De acordo com as teorias modernas, não é o Logos que constitui o ego de Cristo, mas, sim, é o homem Jesus que o faz. A personalidade de Jesus é humana quanto ao tipo de consciência e também quanto ao crescimento moral, mas ao mesmo tempo é singularmente receptiva para com o divino, e assim constitui realmente o clímax de uma encarnação da qual a humanidade mesma é a expressão cósmica geral. Isso também é verdade quanto à teoria sugerida por Sanday em sua obra intitulada Christologies Ancient and Modern (Cristologia Antigas e Modernas), uma teoria que procura dar uma explicação psicológica da pessoa de Jesus, com vistas a fazer justiça tanto ao humano como ao divino em Jesus. Sanday dá ênfase ao fato de que a consciência subliminar (o subconsciente) é a adequada sede de toda permanência divina na alma humana, ou da ação divina sobre ela; e sustenta que a mesma consciência subliminar, ou um ego subliminar correspondente, é também a sede ou o lócus adequado da divindade do Cristo encarnado. A consciência comum de Jesus era a consciência humana, mas ocasionalmente ocorria nele uma irrupção da consciência divina do ego subliminar. Essa teoria tem sido criticada severamente, e com razão. Ela atribui ao subliminar da vida do homem uma importância que ele não possui, supõe erroneamente que a divindade pode ser localizada nalgum lugar particular da pessoa de Cristo, e sugere uma descrição de Cristo, como apenas intermitentemente cônscio da Sua divindade, que não se harmoniza com os dados da Escritura. A teoria em foco revela mais uma vez a loucura de tentar dar uma explicação psicológica da pessoa de Cristo. Além de Sanday, eis alguns dos mais influentes representantes da cristologia moderna: Kunge, Schaerder, Kaehler, Moberly e Du Bose. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Que mudança o século dezoito efetuou na cristologia? 2. Que causas contribuíram para a generalizada rejeição atual da divindade de Cristo? 3. Como os críticos que a rejeitam tratam as provas bíblicas da divindade de Cristo? 4. Conseguiu a Escola-Liberal-de-Jesus (liberal-Jesus-School) apresentar um tolerável retrato de Jesus que realmente se enquadra nos fatos? 5. Qual a distinção entre o Jesus da história e o Cristo da fé, e a que propósito serve? 6. Que dizer do argumento, aut Deus auto homo non bônus?* 7. Como é que, às vezes, a realidade da humanidade de Cristo é posta em perigo? 8. Havia um só consciente ou um duplo consciente em Cristo? 9. Uma ou duas vontades? 10. Sobre que bases é negada a consciência messiânica de Jesus? 11. Como pode ser defendida? 12. Jesus considerava a messianidade apenas como uma dignidade que viria a pertencer-lhe no futuro? 13. A escola escatológica leva alguma vantagem sobre a escola liberal (modernista)? 14. Em que divergem os conceitos dos reformados (calvinistas), dos luteranos e dos católicos romanos sobre a união das duas naturezas de Cristo? 15. Que ensina a Formula Concordiae sobre este ponto? 16. Em que consistiu a controvérsia de Giessen-Tuebingen? 17. Como Kant, Hegel e Schleiermacher entendem essa união? 18. Em que aspecto as teorias quenósicas revelam a influencia de Hegel? 19. Como a concepção moderna da imanência de Deus afeta as cristologias mais recentes? 20. A teoria psicológica de Sanday é uma elaboração aceitável? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. III, p. 264-349; Kuyper, Dict Dogm., De Christo I, p. 62-II, p.58; Vos, The Self-Disclsure of Jesus, p. 35-103; Temple, The Boyhood Consciousness of Christ; Orr, The Cristian View of God and the World, p. 248-257; H.R. Mackintosh, The Soct. Of the Person of Jesus Christ, p. 141-284; Liddon, The Divinity of our Lord; Relton, A Study in Christology, p. 3-222; Warfield, Christology and Criticism, Lectures VI-VIII; Rostron, The Christology of St. Paul, p. 196-229; Schweitzer, The Quest of the Historical Jesus; La Touche, The Person of Christ in Modern Thought; Gore, The Reconstruction of Belief, p. 297-526; Hoing, De Persoon Van den Middelaar in de Nieuwere Duitsche Dogmatiek**; Sheldon, Hist. Of Chr. Doct. II, p. 134-137, 348-353; Krauth, Conservative Reformation and Its Theology, p. 456-517; Bruce, The Humiliation of Christ, Lectures III, IV, V; Loofs, What Is the Truth about Jesus Christ?, cap. VI; Sanday, Christologies, Ancient and Modern, capítulos III, IV, VII; Cooke, The Incarnation and Recent Criticism, cap X; Brunner, The Mediator, especialmente o capítulo XII. (Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.325)