terça-feira, 22 de abril de 2014

O Ser de Deus Revelado em Seus Atributos

Da simplicidade de Deus segue-se que Deus e Seus atributos são um. Não devemos considerar os atributos como outras tantas partes que entram na composição de Deus, pois, ao contrário dos homens, Deus não é composto de diversas partes. Tampouco devemos considerá-los como alguma coisa acrescentada ao Ser de Deus, embora o nome, derivado de ad e tribuere, pareça apontar nessa direção, pois nenhum acréscimo jamais foi feito ao Ser de Deus, que eternamente perfeito. Comumente se diz em teologia que os atributos de Deus são o próprio Deus, como Ele se revelou a nós. Os escolásticos acentuavam o fato de que Deus é tudo quanto Ele tem. Ele tem vida, luz, sabedoria, amor, justiça, e se pode dizer com base na Escritura que Ele é vida, luz, sabedoria, amor, justiça. Os escolásticos afirmavam, ademais, que toda a essência de Deus é idêntica a cada um dos atributos, de modo que o conhecimento de Deus, é Deus, a vontade de Deus, é Deus, e assim por diante. Alguns deles chegaram mesmo a dizer que cada atributo é idêntico a cada um dos demais atributos, e que não existem distinções lógicas em Deus. Isto constitui um extremo muito perigoso. Embora se possa dizer que há uma interpenetração dos atributos de Deus, e que eles formam um todo harmonioso, estamos partindo em direção ao panteísmo quando eliminamos todas as distinções em Deus, e dizemos que a Sua auto-existência é a sua infinidade, que o Seu conhecimento é a Sua vontade, que o Seu amor é a Sua justiça, e vice-versa. Uma coisa característica dos nominalistas é que eles obtiveram todas as reais distinções em Deus. Eles temiam que, ao admitir reais distinções nele, correspondentes aos atributos atribuídos a Deus, eles poriam em perigo a simplicidade e a unidade de Deus, e, portanto, foram motivados por um propósito louvável. De acordo com eles, as perfeições do Ser divino existem somente em nosso pensamentos, sem nenhuma realidade correspondente no Ser Divino. Por outro lado, os realistas afirmavam a realidade das perfeições divinas. Eles compreenderam que a teoria dos nominalistas, coerentemente levada a diante, seguiria na direção de uma panteística negação de um Deus pessoal e, portanto, consideravam da máxima importância sustentar a realidade objetiva dos atributos de Deus. Ao mesmo tempo, eles procuravam salvaguardar a unidade e a simplicidade de Deus defendendo que toda a essência está em cada atributo: Deus é Tudo em todos; Tudo em cada um deles. Tomás de Aquino tinha o mesmo propósito em mente quando afirmava que os atributos não revelam o que Deus é em Si mesmo, nas profundezas do Seu Ser, mas somente o que Ele é em relação às Suas criaturas. Naturalmente devemos resguardar-nos contra o perigo de separar a essência divina dos atributos ou perfeições divinas, e também contra um falso conceito da sua relação mútua. Os atributos são reais determinativos do Ser Divino ou, noutras palavras, qualidades inerentes ao Ser de Deus. Shedd fala deles como “uma descrição analítica e bem próxima da essência”. Num sentido são idênticos, de modo que se pode dizer que as perfeições de Deus são o próprio Deus como Ele se nos revelou. É possível ir até mais longe e dizer como Shedd, “Toda a essência está em cada atributo, e cada atributo na essência”. E, devido à estreita relação existente entre a essência e os atributos, pode-se dizer que o conhecimento dos atributos leva consigo o conhecimento da essência divina. Seria um erro conceber a essência de Deus como existente por Si própria e anterior aos atributos, como também seria um erro conceber os atributos como características aditivas e acidentais do Ser Divino. São eles qualidades essenciais de Deus, inerentes ao Seu próprio Ser e com Ele coexistentes. Estas qualidades não podem ser alteradas sem alterar o Ser essencial de Deus. E desde que são qualidades essenciais, cada um deles revela-nos algum aspecto do Ser de Deus. QUESTIONÁRIO PRA PESQUISA: 1. Como podemos distinguir entre o Ser, a natureza, e a essência de Deus? 2. Como as idéias filosóficas sobre o Ser essencial de Deus diferem das idéias teológicas? 3. Que dizer da tendência de ver a essência de Deus no Absoluto, no amor, na personalidade? 4. Que quer dizer Otto quando a caracteriza como “o Santo” ou “o Numinoso”? 5. Por que é impossível ao homem compreender a Deus? 6. O pecado afetou de alguma forma a capacidade humana de conhecer a Deus? 7. Há alguma diferença entre o conceito de Lutero e o de Barth sobre o “Deus Oculto”? 8. Calvino difere deles nesse ponto? 9. Lutero compartilhou as idéias nominalistas de Occam, por quem foi influenciado noutros aspectos? 10. Como os Reformadores, em distinção dos escolásticos, consideravam o problema da existência de Deus? 11. Poderíamos Ter algum conhecimento de Deus, se Ele fosse um Ser puro, destituído de atributos? 12. Que conceitos errôneos dos atributos devem ser evitados? 13. Qual o conceito adequado? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: bavinck, Geref. Dogm. I, p.91-113; Kuyper, Dict. Dogm., De Deo I, p.124-158; Hodge, Syst. Theol. I, p.335-374; Shedd, Dogm. Theol.I, p.152-194; Thornwell, Collected Works, I, p. 104-172; Dorner, Syst. Of Chr. Doct. I, p.1870212; Orr, Chr. View of God and World, p.75-93; Otten, Manual of the Hist. Of Dogmas. I, p.254-260; Clark, The Chr. Doct. Of God, p. 56-70; Steenstra, The Being of God as Unity and Trinity, p.1-88; Thomson, The Christian Idea of God, p.117-159; Hendry, God the Creator (do ponto de vista barthiano); Warfield, Calvin and Calvinism, p. 131-185 (Calvin’s Doctrine of God). (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 38)