terça-feira, 22 de abril de 2014

Sugestões Feitas Quanto às Divisões dos Atributos.

A questão da classificação dos atributos divinos tem ocupado a atenção dos teólogos por longo tempo. Várias classificações têm sido sugeridas, a maioria das quais distingue duas classes gerais. Estas classes são designadas por diferentes nomes e representam diferentes pontos de vista, mas substancialmente são as mesmas, nas diversas classificações. Destas, as mais importantes são as seguintes: 1. Uns falam de atributos naturais e atributos morais. Os primeiros, como auto-existência, simplicidade, infinidade, etc., pertencem à natureza constitutiva de Deus, de maneira distinta de Sua vontade. Os últimos, como na verdade, bondade, misericórdia, justiça, santidade, etc., qualificam-no como um Ser moral. A objeção a essa classificação é que os atributos morais, assim chamados, são tão verdadeiramente naturais (isto é, originais) em Deus como os demais. Dabney prefere esta divisão mas, em vista da objeção levantada, admite que os termos não são felizes. Ele opta por falar em atributos morais e não morais. 2. Outros distinguem entre atributos absolutos e relativos. Os primeiros pertencem à essência de Deus, considerada em si mesma, ao passo que os últimos pertencem à essência divina, considerada em relação à Sua criação. A primeira classe inclui atributos como auto-existência, imensidade e eternidade; a outra, atributos como onipresença e onisciência. Esta divisão parece partir do pressuposto de que podemos ter algum conhecimento de Deus como Ele é em si mesmo, inteiramente à parte das relações que mantém com as Suas criaturas. Mas não é assim, e, portanto, falando com propriedade, todas as perfeições de Deus são relativas, indicando o que Ele é em relação ao mundo. Evidentemente Strong não reconhece a objeção e dá preferência a esta divisão. 3. Ainda outros dividem as perfeições divinas em atributos imanentes ou intransitivos e emanentes ou transitivos. Strong combina esta divisão com a anterior quando fala de atributos absolutos ou imanentes e relativos ou transitivos. Os primeiros são aqueles que não se expõe nem operam fora da essência divina, mas permanecem imanentes, como imensidade, simplicidade, eternidade, etc.; e os últimos são os que se expõem e produzem efeitos externos quanto a Deus, como onipotência, benignidade, justiça, etc. Mas se alguns dos atributos divinos fossem puramente imanentes, todo conhecimento deles estaria excluído, ao que parece. H.B. Smith observa que cada um deles deve ser ao mesmo tempo imanente e transitivo. 4. A distinção mais comum é entre atributos incomunicáveis e comunicáveis. Os primeiros são aqueles aos quais nada análogo existe na criatura, como asseidade, simplicidade, imensidade, etc.; os últimos, aqueles com os quais as propriedades do espírito humano têm alguma analogia, como poder, bondade, misericórdia, retidão, etc. esta distinção não achou nenhum favor da parte dos luteranos, mas sempre foi popular nos círculos calvinistas, e se encontra em obras representativas como as dos professores de Leyden, Mastricht e Turretino. Todavia, desde o princípio percebeu-se que a distinção é insustentável, se não houver ressalva, visto que, de certo ponto de vista, todos os atributos podem ser denominados comunicáveis. Nenhuma das perfeições divinas é comunicável, na infinita perfeição em que estas existem em Deus e, ao mesmo tempo, há no homem tênues vestígios até mesmo dos chamados atributos incomunicáveis de Deus. Entre os teólogos reformados mais recentes há uma tendência para descartar-se desta distinção em favor de algumas outras divisões. Dick, Shedd e Vos mantém a velha divisão. Kuyper se expressa como estando insatisfeito com ela e, apesar disso, a reproduz em sua proposta, virtutes per antithesin e virtutes per synthesin: e bavinck, depois de seguir outra ordem na primeira edição da sua Dogmática, retorna a ela na Segunda edição. E, finalmente, os Hodge, H.B. Smith e Thornwell seguem uma divisão sugerida pelo Catecismo de Westminster (presbiteriano). Contudo, a classificação dos atributos em duas classes principais, como se vê na distinção que estamos considerando, é o fato inerente a todas as outras divisões, de modo que todas estão sujeitas à objeção de que evidentemente dividem o Ser de Deus em duas partes, que primeiro discute Deus como um Ser pessoal. Pode-se dizer que essa forma de tratamento não resulta numa concepção unitária e harmoniosa dos atributos divinos. Todavia, esta dificuldade pode ser aplainada se se estender claramente que as duas classes de atributos mencionadas não são estritamente coordenadas, mas que os atributos pertencentes à primeira classe qualificam os pertencentes à Segunda, de sorte que se pode dizer que Deus é único, absoluto, imutável e infinito em Seu conhecimento e sabedoria, em Sua bondade e amor, em Sua graça e misericórdia, em Sua justiça e santidade. Tendo isto em mente, e também lembrando que nenhum dos atributos de Deus é incomunicável no sentido de que eles estão no homem como estão em Deus, não vemos razão por que nos afastar da velha divisão que se tornou tão familiar na teologia reformada. Por razões práticas, parece mais desejável conservá-la. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Quais as objeções ao emprego do termo atributos quando aplicado a Deus? 2. As mesmas objeções se aplicam ao termo alemão “Eigenschaften” e ao holandês “eigenschappen”? 3. Que nome usa Calvino para eles? 4. Qual a objeção à concepção dos atributos como partes de Deus ou como acréscimos ao Ser Divino? 5. Que defeituosas concepções dos atributos eram comuns na Idade Média? 6. Em sua pesquisa dos atributos, os escolásticos seguiam um método a priori ou a posteriori, dedutivo ou indutivo? 7. Por que o seu método é inerentemente alheio à teologia da revelação? 8.Que classificações dos atributos foram sugeridas, além das mencionadas no texto? 9. Por que está virtualmente fora de questão dar uma divisão sem defeitos? 10. Que divisão é sugerida pelo Catecismo de Westminster? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II, p.100-123; Kuyper, Dict. Dogm., de Deo I, p.268-287; Honig, Geref. Dogm., p.182-185; Hodge, Syst. Theol. I, p. 368-376; Shedd, Dogm. Theol. I, p. 334-338; Thornwell, Collected Works, I, p.158-172; Dabney, Lectures on Theol., p.147-151; Pieper, Christl. Dogm. I, p. 524-536; Kaftan, Dogm., 168-181; Pope, Chr. Theol, I, p.287-291; Steenstra, The Being of God as Unity and Trinity, p. 89-111. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 49)