quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A segunda vinda, um evento único

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10. Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”. De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ). (Berkhof, L – Teologia Sistemática)