segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CONSIDERAÇÃO DA TEORIA DE QUE FORAM LONGOS PERÍODOS DE TEMPO

Alguns estudiosos presumem que os dias de Gn 1 foram longos períodos de tempo, com o fim de harmonizá-los com os períodos geológicos. A opinião de que esses dias não eram dias comuns de vinte e quatro horas não era inteiramente alheia à teologia cristã primitiva, como E. C. Messenger o demonstra detalhadamente em sua erudita obra sobre Evolução e Teologia (Evolution and Theology). Mas alguns dos “pais da igreja” que declaravam que esses dias provavelmente não eram considerados como dias comuns, expressavam a opinião de que toda a obra da criação foi concluída num só momento, e que os dias constituíam apenas uma estrutura simbólica que facilitava a descrição da obra da criação de maneira ordenada, tornando-a mais inteligível para as mentes finitas. A opinião de que os dias da criação foram longos períodos tornou a vir para o primeiro plano em anos recentes, não, porém, como resultado de estudos exegéticos, mas sob a influência de declarações da ciência. Anteriormente ao século dezenove, os dias da criação eram geralmente considerados como dias literais. Mas, naturalmente, a interpretação humana é falível, e poderia ser revista à luz de novas descobertas. Se a exegese tradicional estiver em conflito, não meramente com teorias científicas – elas também são interpretações – mas com fatos bem estabelecidos, a reconsideração e a reinterpretação serão válidas. Contudo, dificilmente se pode sustentar que os supostos períodos geológicos requerem uma mudança frontal, desde que de modo nenhum são geralmente reconhecidos, mesmo nos círculos científicos, como fatos bem estabelecidos. Alguns eruditos cristãos, como Harris, Miley, Bettex e Geesink, supõem que os dias de Gênesis são dias geológicos, e tanto Shedd como Hodge chamam a atenção para o extraordinário acordo existente entre o registro bíblico da criação e o testemunho das rochas, e tendem a considerar os dias de Gênesis como períodos geológicos. Pode-se levantar a questão sobre se será exegeticamente possível conceber os dias de Gênesis como longos períodos de tempo. E então se deve admitir que a palavra yom nem sempre indica um período de vinte e quatro horas na Escritura, e nem sempre é empregada no mesmo sentido, mesmo na narrativa da criação. Pode significar o período de claridade, em distinção das trevas, Gn 1.5, 16, 18; dia e noite juntos, Gn 1.5, 8, 13 etc.; os seis dias juntos, Gn 2.4; e um período indefinido, assinalado em toda a sua extensão por algum traço característico, como tribulação, Sl 20.1, ira, Jó 20.28, prosperidade, Ec 7.14, ou salvação, 2 Co 6.2. Pois bem, alguns sustentam que a Bíblia favorece a idéia de que os dias da criação foram períodos indefinidos de tempo, e chamam a atenção para o seguinte: (a) O sol não foi criado antes do quarto dia e, portanto, a extensão dos dias anteriores ao quarto ainda não poderia ser determinada pela relação da terra com sol. Perfeitamente, mas isso não prova o ponto. É evidente que Deus estabelecera uma alternativa rítmica de luz e trevas, mesmo antes do quarto dia, e não há base para a suposição de que os dias assim mensurados tinham duração mais prolongada que os dias posteriores. Por que haveríamos de admitir que Deus aumentou enormemente a velocidade das revoluções da terra depois que a luz foi concentrada no sol? (b) Os referidos dias são dias de Deus, dias arquetípicos, dos quais os dias dos homens são meras copias ectípicas; e para Deus, mil anos são como um dia, Sl 90.4; 2 Pe 3.8. Mas este argumento se funda numa confusão do tempo e a eternidade. Deus ad intra não tem dias, mas habita na eternidade, exaltado muito acima de todas as limitações de tempo. Esta é também a idéia Ada em Sl 90.4 e 2 Pe 3.8. Os únicos dias reais de que Deus tem conhecimento são os dias deste mundo temporal-espacial. Como poderá seguir-se do fato de que Deus é exaltado acima das limitações de tempo, como existem neste mundo, onde o tempo é medido por dias, semanas, meses e anos – sim, como poderá resultar daí que um dia tanto pode ser um período de 100.000 anos como um período de vinte e quatro horas? (c) O sétimo dia, dia em que Deus descansou da Sua obra criadora, continua, segundo se diz, até à época atual e, portanto, deve ser considerado como um período de mil anos. É o sábado (sabbath, repouso), e esse repouso sabático jamais termina. Este argumento representa uma confusão semelhante à anterior. Toda a idéia de Deus iniciado a obra da criação num certo ponto do tempo e cessando depois de um período de seis dias, não se aplica a Deus como ele é em Si mesmo, mas somente aos resultados temporais da Sua atividade criadora. Ele é imutavelmente o mesmo por todas as eras. Seu repouso não é um período de tempo indefinidamente prolongado; é eterno. Por outro lado, o sábado da semana da criação teve duração igual à dos outros dias. Deus não somente descansou naquele dia, mas também o abençoou e o santificou, separando-o como dia de descanso para o homem, Ex 20.11. Dificilmente se aplicaria a todo o período que se estende da época d criação até aos dias atuais. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.148)