segunda-feira, 16 de setembro de 2013

TENTATIVA PARA HARMONIZAR NARRATIVA DA CRIAÇÃO COM AS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA

a. Interpretação ideal ou alegórica. Dá proeminência à idéia, e não à letra da narrativa. Considera Gênesis 1 como uma descrição poética da obra criadora de Deus, apresentando-a com diferentes pontos de vista. Mas (1) é evidente que a narrativa foi feita com a intenção de construir um registro de fatos históricos, e assim é considerada na Escritura, cf. Ex 20.11; Ne 9.6; Sl 33.6, 9; 145.2-6; (2) ao capitulo inicial de Gênesis “faltam quase todos os elementos da poesia hebraica reconhecida como tal” (Strong); e (3) esta narrativa liga-se indissoluvelmente à historia subseqüente e, portanto, o ,ais natural é considerá-la historia fatual. b. Teoria mítica da filosofia moderna. A filosofia moderna foi alem da posição anterior. Não só rejeita a narrativa histórica da criação, mas também rejeita a idéia da criação, e considera o conteúdo de Gênesis 1 como um mito que incorpora uma lição religiosa. Não há alegoria intencional ai, é que se diz, mas apenas uma representação mítica e ingênua com um cerne ou núcleo religioso. Isso também contraria o fato de que Gênesis 1 certamente nos vem com a pretensão de ser uma narrativa histórica, e nas referencia bíblicas mencionadas acima, por certo que não é considerado mito. c. Teoria da restituição. Alguns teólogos tentaram conciliar a narrativa da criação com as descobertas da ciência no estudo da terra, adotando a teoria da restituição. Esta foi defendida por Chalmers, Buckland, Wisemann e Delitzsch, e supõe que transcorreu um longo período entre a criação primaria, mencionada em Gn 1.1, e a criação secundaria, descrita em Gn 1.3-31. Este longo período foi marcado por varias alterações catastróficas, resultando na destruição supostamente descrita pelas palavras “sem forma e vazia”. Então, deve-se ler o versículo dois: “É a terra se tornou sem forma e vazia”. Esta destruição foi seguida por uma restituição, quando Deus transformou o caos em cosmos, um mundo habitável para o homem. Esta teoria talvez ofereça alguma explicação dos diferentes estratos da terra, mas não oferece explicação dos fosseis das rochas, a menos que se admita que houve também sucessivas criações de animais seguidas de destruições em massa. Esta teoria nunca encontrou apoio nos círculos científicos, e não acha suporte na Escritura. A Bíblia não diz que a terra se tornou, mas que era sem forma e vazia. E mesmo que se possa traduzir o verbo hebraico hayetha por “tornou-se”, as palavras “sem forma e vazia” denotam uma condição não formada, e não uma condição resultante de destruição. Delitzsch combinou com esta teoria a idéia de que originalmente a terra era habitada por anjos, e que a queda ocorrida no mundo angélico foi destruição que resultou no referido no versículo 2. Por uma ou outra razão, este conceito é consideravelmente favorecido pelos dispensacionalistas dos dias atuais, que, para apóia-lo, recorrem a passagens como Is 24.1; Jr 4.23-26; Jó 9.4-7; 2 Pe 2.4. Mas, uma cuidadosa leitura destas mesmas passagens é suficiente para convencer o interessado de que elas não provam o ponto em questão, de maneira nenhuma. Alem disso, a Bíblia nos ensina claramente que Deus criou os céus e a terra “e todo o seu exercito” em seis dias, Gn 2.1; Êx 20.11. d. Teoria da harmonização. Procura harmonizar a Escritura com a ciência presumindo que os dias da criação foram períodos de milhares de anos. Em acréscimos ao que foi dito sobre isto nas considerações sobre os dias da criação, podemos dizer agora que a idéia de que os estratos da terra indicam possivelmente longos e sucessivos períodos de desenvolvimento da historia da sua origem, não passa de mera hipótese dos geólogos, hipótese baseada em generalizações infundadas. Queremos chamar a atenção para as seguintes considerações: (1) A geologia não somente é uma ciência nova, mas também ainda esta presa ao pensamento especulativo. Não pode ser considerada uma ciência indutiva, desde que em grande parte é fruto de um raciocínio a priori ou dedutivo. Spencer chamava-lhe “Ciência Ilógica” e ridicularizava os seus métodos, e Huxley falava da grande hipótese por ela apregoada como “não comprovada e improvável”. (2) Ate o presente, ela tem feito pouco mais que esgaravatar a supervicie da terra, e isso num número muito limitado de lugares. O resultado é que as suas conclusões são muitas vezes meras generalizações, baseadas em dados insuficientes. Fatos ocorridos nalguns lugares contradizem fatos observados noutros. (3) Mesmo que tivesse explorado grandes áreas em todas as partes do globo, só poderia dar-nos informação perfeitamente fidedigna sobre a sua história passada. Não se pode escrever a história de uma nação com base nos fatos observados em sua presente constituição e vida. (4) Os geólogos partiram logo da pressuposição de que os estratos das rochas achavam-se na mesma ordem em todo o globo terráqueo; e isso, calculando que a extensão do tempo requerido para a formação de cada um deles poderia determinar a idade da terra. Mas (a) viu-se que a ordem das rochas difere em várias localidades; (b) as experiências feitas para determinar o tempo requerido para a formação dos diferentes estratos levaram a resultados muito diferentes; e (c) viu-se que a teoria uniformitária de Lyell, de que a ação física e química de hoje é guia seguro para avaliar a de todas as épocas anteriores, não merece confiança. (5) Quando as tentativas de determinar a idade dos diversos estratos ou rochas por sua constituição mineral e mecânica falharam, os geólogos começaram a fazer dos fósseis o fator dominante. A paleontologia veio a ser a disciplina verdadeiramente importante, e sob a influência do princípio uniformitário de Leyll, desenvolveu-se e se tornou uma das importantes provas do evolucionismo. Simplesmente se pressupõe que certos fósseis são mais antigos que outros; e se se levanta a questão sobre qual a base em que se firma essa pressuposição, a resposta é que os fósseis se acham nas rochas mais antigas. Isto não passa de raciocínio em círculo. A idade das rochas é determinada pelos fósseis que elas contém, e a idade dos fósseis é determinada pelas rochas em que eles se acham. Mas nem sempre se encontram os fósseis na mesma ordem; às vezes a ordem é invertida. (6) a ordem dos fósseis, como agora determinada pela geologia, não corresponde à ordem que a narrativa da criação nos leva a esperar, de sorte que, mesmo a aceitação da hipótese geológica não atenderia ao propósito de harmonizar a Escritura com a ciência. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.153)