terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Providência em Geral

1. HISTÓRIA DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA. Com a sua doutrina da providência a igreja tomou posição contra a noção dos epicureus de que o mundo é governado pelo acaso, e contra a idéia estóica de que ele é governado pelo destino. Desde o início os teólogos assumiram a posição de que Deus preserva e governa o mundo. Contudo, nem sempre tiveram eles uma concepção igualmente absoluta do domínio divino sobre todas as coisas. Devido à estreita conexão em ambas, a história da doutrina da providência segue, no essencial, a da doutrina da predestinação. Os primeiros”pais da igreja”não apresentam idéias definidas sobre o assunto. Em oposição à doutrina estóica do destino e em seu desejo de proteger a santidade de Deus, às vezes eles exageravam na ênfase ao livre arbítrio do homem, e nesse ponto manifestavam a tendência de negar o absoluto governo providencial de Deus com relação às ações pecaminosas. Agostinho tomou a dianteira no desenvolvimento desta doutrina. Contra as doutrinas do destino e do acaso, ele dava ênfase ao fato de que todas as coisas são preservadas e governadas pela soberana, sábia e bondosa vontade de Deus, mas afirmava o domínio de Deus igualmente sobre o bem e sobre o mal que há no mundo. Com a defesa da realidade das causas secundárias, ele salvaguardava a santidade de Deus e mantinha a responsabilidade do homem. Durante a Idade Média houve pouca controvérsia sobre o tema da providência divina. Nem um só concílio expressou-se sobre esta doutrina. O conceito predominante era o de Agostinho, que sujeitava tudo à vontade de Deus. Não significa, porém, que não havia idéias divergentes. O pelagianismo limitava a providência à vida natural, e excluía a vida ética. E os semipelagianos seguiam na mesma direção, conquanto nem todos fossem igualmente longe. Alguns dos escolásticos consideravam a conservação feita por Deus como uma continuação da Sua atividade criadora, enquanto outros faziam uma real distinção entre ambas. Em Tomaz de Aquino a doutrina da providência divina segue em geral a de Agostinho, e sustenta que a vontade de Deus, como determina pelas Suas perfeições, preserva e governa todas as coisas; ao passo que Duns Scotus e nominalistas como Biel e Occam declaravam que tudo depende da vontade arbitrária de Deus. Isso oi uma virtual introdução do governo do acaso. Em geral os reformadores subscreveram a doutrina agostiniana da providência divina, embora diferissem um tanto nos pormenores. Conquanto Lutero cresse na providência geral, ele não dava ênfase à preservação e ao governo divino do mundo em geral, como o fazia Calvino. Ele considerava a doutrina primordialmente em seus suportes soteriológicos. Os socinianos e os arminianos, embora não no mesmo grau, limitavam a providência de Deus salientando o poder independente do homem de tomar a iniciativa na ação e, assim, controlar a sua vida. O domínio do mundo realmente foi tirado das mãos de Deus e dado às mãos do homem. Nos séculos dezoito e dezenove a providência foi virtualmente eliminada por um deísmo que descrevia Deus como tendo-se afastado do mundo após a obra da criação; e por um panteísmo que identificava Deus com o mundo, obliterava a distinção entre a criação e a providência e negava a realidade das causas secundárias. E embora o deísmo possa hoje ser considerado uma coisa do passado, seu conceito do domínio e direção do mundo tem continuidade na posição das ciências naturais, de que o mundo é dominado e dirigido por um férreo sistema de leis. E a teologia liberal moderna, com a sua concepção panteísta da imanência de Deus, também tende a eliminar a doutrina d providência divina. (Teologia Sistemática - Louis Berkhof. Pg. 159)