terça-feira, 27 de agosto de 2013

CONCEITOS ERRÔNEOS DA PRESERVAÇÃO DIVINA

A natureza desta obra de Deus nem sempre é compreendida acertadamente. Há duas maneiras de vê-la que devem ser evitadas: (a) Que é puramente negativa. Segundo o deísmo, a preservação divina consiste nisto: que Deus não destrói a obra das Suas mãos. Em virtude da criação, Deus dotou a matéria de certas propriedades, colocou-a sob leis inalteráveis e depois a deixou mover-se por si mesma, independentemente de todo suporte ou direção de fora. Esta é uma representação irracional, irreligiosa e antibíblica. É irracional porque implica que Deus comunicou auto-subsistência à criatura, quando a auto-existência e auto-sustentação são propriedades incomunicáveis, que caracterizam unicamente o Criador. A criatura jamais pode ser auto-sustentadora, mas precisa ser mantida dia a dia pelo poder absoluto do Criador. Daí, não se exigiria um ato positivo de onipotência da parte de Deus para aniquilar existências criadas. Uma simples retirada de suporte naturalmente redundaria em destruição. – Este conceito é irreligioso porque afasta Deus para Tão longe da Sua criação que a comunhão com Ele vem a ser uma impossibilidade prática. A história atesta claramente o fato de que ele invariavelmente quer a morte da religião. – Também é antibíblico, visto que pretende colocar Deus totalmente fora da Sua criação, ao passo que a Bíblia nos ensina em muitas passagens que Ele não é somente transcendente, mas também é imanente nas obras das Suas mãos. (b) Que é uma criação contínua. O panteísmo descreve a preservação como uma criação contínua, de modo que as criaturas ou causas secundárias são entendidas como não tendo existência real ou contínua, mas como emanando em cada momento sucessivo daquele misterioso Absoluto que é a base oculta de todas as coisas. Alguns não panteístas tinham uma idéia parecida da preservação. Descartes lançou as bases para essa concepção, e Malebranche a levou para o mais distante extremo coerente com o teísmo. Até Jonathan Edwards a ensina incidentalmente em sua obra sobre o pecado Original, e assim, perigosamente, quase chega a ensinar panteísmo. Esse modo de entender a preservação não dá lugar às causa secundárias e, portanto, leva necessariamente ao panteísmo. É contrário às nossas intuições originais e necessárias, que nos asseguram que somos causas de ação reais e auto-determinantes e, conseqüentemente, agentes morais. Além disso, fere a raiz mesma da ação livre, da responsabilidade moral, do governo moral e, portanto, da própria religião. Alguns teólogos reformados (calvinistas) também empregam a expressão “criação contínua”, mas com isso não ensinam a errônea doutrina que estamos focalizando. Desejam simplesmente acentuar o fato de que o mundo é mantido pelo mesmo poder que o criou. Em vista do fato de que a expressão está sujeita a ser mal entendida, é melhor evitá-la.(Teologia Sistemática - Louis Berkhof. Pg. 164)