quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A vontade de Deus em relação ao pecado

A doutrina da vontade de Deus muitas vezes dá surgimento a graves questões. Levantam-se aqui problemas que nunca foram resolvidos e que provavelmente são insolúveis para o homem. (1) Diz-se que, se a vontade decretatória de Deus determinou também a entrada do pecado no mundo, com isso Deus é o autor do pecado e realmente quer uma coisa contrária às Suas perfeições morais. Para fugirem à dificuldade, os arminianos dizem que a vontade de Deus, permitindo o pecado, depende do Seu pré-conhecimento do curso que o homem escolheria. Os teólogos reformados (calvinistas), embora mantendo, com base em passagens como At 2.23; 3.8; etc., que a vontade decretatória de Deus inclui também os atos pecaminosos do homem, sempre têm o cuidado de assinalar que se deve conceber isto de modo que não se faça de Deus o autor do pecado. Admitem francamente que não podem resolver a dificuldade, mas ao mesmo tempo fazem algumas valiosas distinções de comprovada utilidade. A maioria deles insiste em que a vontade de Deus quanto ao pecado é de permitir o pecado, e não de efetuá-lo, pois Ele realiza o bem moral. Esta terminologia é permissível, supondo-se que seja compreendida corretamente. Deve-se ter em mente que a vontade de Deus de permitir o pecado leva consigo a certeza de que o pecado virá a ocorrer. Outros chamam a tenção para o fato de que, embora os termos “vontade” e “querer” possam incluir a idéia de complacência ou deleite, às vezes indicam uma simples determinação da vontade; e que, portanto, a vontade de Deus de permitir o pecado não implica necessariamente que Ele tem deleite ou prazer no pecado. (2) Diz-se, ainda, que a vontade decretatória de Deus e Sua vontade preceptiva muitas vezes são contraditórias, que Sua vontade decretatória inclui muitas coisas que Ele proíbe em Sua vontade preceptiva, e exclui muitas coisas que Ele ordena em Sua vontade preceptiva, cf. Gn 22; Êx 4.21-23; 2 Rs 20.1-7; At 2.23. Todavia, é de grande importância sustentar tanto a vontade decretatória como a preceptiva, mas com o definido entendimento de que, embora nos pareçam diversas, são fundamentalmente uma só em Deus. Conquanto uma solução perfeitamente satisfatória da dificuldade esteja fora de questão no presente, podemos aproximar-nos de uma solução. Quando falamos da vontade decretatória e da vontade preceptiva de Deus, empregamos a palavra “vontade” em dois sentidos diferentes. Pela primeira, Deus determinou o que Ele fará ou o que virá a acontecer; na segunda Ele nos revela o que estamos na obrigação de fazer. Ao mesmo tempo, devemos lembrar-nos de que a lei moral, a regra do nosso viver, é também, em certo sentido, a encarnação da vontade de Deus. É uma expressão da Sua natureza santa e daquilo que esta naturalmente requer de todas as criaturas morais. Daí, outra observação pode ser acrescentada à anterior. A vontade decretatória e a vontade preceptiva de Deus não estão em conflito no sentido de que na primeira Ele tem prazer no pecado e na segunda não; nem no sentido de que, de acordo com a primeira, Ele não quer a salvação de todos os indivíduos como uma violação positiva, e de acordo com a segunda, quer. Mesmo de acordo com a vontade decretatória Deus não tem prazer no pecado; e mesmo de acordo com a vontade preceptiva Ele não quer a salvação de todos os indivíduos com uma volição positiva. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.72)