quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O PODER SOBERANO DE DEUS

A soberania de Deus acha expressão, não somente na vontade divina, mas também na onipotência de Deus, ou em Seu poder de executar a Sua vontade. Pode-se denominar o poder de Deus a eficaz energia da Sua natureza, ou a perfeição do Seu Ser pela qual Ele é a causalidade absoluta e suprema. É costume distinguir entre uma potentia Dei absoluta (um absoluto poder de Deus) e uma potentia Dei ordinata (poder ordenado de Deus). Contudo, a teologia reformada, calvinista, rejeita esta distinção no sentido em que a entendiam os escolásticos, que afirmavam que Deus, em virtude do Seu poder absoluto, pode efetuar contradições, e pode até pecar e aniquilar-se a Si próprio. Ao mesmo tempo, adota a distinção como expressão de uma verdade real, embora nem sempre a apresente do mesmo modo. De acordo com Hodge e Shedd, o poder absoluto é a eficiência divina, exercida sem a intervenção de causas secundárias; enquanto que o poder ordenado é a eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas secundárias. O conceito mais geral é exposto por Charnock como segue: “Absoluto é o poder pelo qual Deus é capaz de fazer o que Ele não fará, mas que tem possibilidade de ser feito; ordenado é o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer, isto é, o que Ele ordenou ou marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos, mas um e o mesmo poder. O Seu poder ordenado é parte do Seu poder absoluto; pois se Ele não tivesse poder para fazer tudo o que pudesse desejar, não teria poder para fazer tudo que deseja”. A potentia ordinata pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele, mediante o simples exercício da Sua vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. O poder de Deus, em seu exercício fatual, limita-se àquilo que o Seu decreto eterno abrange. Mas o exercício fatual do poder de Deus não representa os seus limites. Deus poderia fazer mais que isso, se fosse esta a Sua intenção. Nesse sentido podemos falar em potentia absoluta, ou poder absoluto de Deus. Deve-se manter esta posição contra aqueles que, como Schleiermacher e Strauss, sustentam que o poder de Deus se limita àquilo que Ele realiza de fato. Mas em nossa afirmação do poder absoluto de Deus precisamos acautelar-nos contra noções errôneas. A Bíblia nos ensina, por um lado, que o poder de Deus estende-se além daquilo que é realizado de fato, Gn 18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9; 26.53. Portanto, não podemos dizer que aquilo que Deus não realiza concretamente não Lhe é possível realizar. Mas, por outro lado, ela indica também que há muitas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar, mudar, e não pode negar-se a Si próprio, Nm 23.19; 1 Sm 15.29; 2 Tm 2.13; Hb 6.18; Tg 1.13, 17. Não há poder absoluto nele, divorciado de Suas perfeições, e em virtude do qual Ele pudesse fazer todo tipo de coisas inerentemente contraditórias entre si. A idéia da onipotência de Deus é expressa pelo nome ‘El-Shaddai; e a Bíblia fala a seu respeito em termos que não deixam dúvida, em passagens como Jó 9.12; Sl 115.3; Jr 32.17; Mt 19.26; Lc 1.37; Rm 1.20; Ef 1.19. Deus manifesta o Seu poder na criação, Rm 4.17; Is 44.24; nas obras da providencia, Hb 1.3; e na redenção de pecadores, 1 Co 1.24; Rm 1.16. QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Em que diferentes sentidos podemos falar da presciência de Deus? 2. Como os arminianos concebem esta presciência? 3. Quais as objeções à idéia jesuítica de uma scientia media? 4. Como devemos julgar a ênfase moderna ao amor de Deus como o atributo divino central e absolutamente determinante? 5. Que concepção tem Otto de “o Santo” e, Deus? 6. Qual a objeção à posição de que os castigos impostos por Deus servem simplesmente para reformar o pecador, ou dissuadir outros de pecar? 7. Como os socinianos e Grócio concebem a justiça retributiva de Deus? 8. É correto dizer que Deus pode fazer tudo, em virtude de sua onipotência? BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II p. 171-259; Kuyper, Dict. Dogm. De Deo I, p. 355-417; Vos, Geref. Dogm. I, p. 2-36; Hodge, Syst. Theol. I, p. 393-441; Shedd, Dogm. Theol. I, p. 359-392; Dabney, Syst. And Polem. Theol., p. 154-174; pope, Chr. Theol. I, p. 307-358; Watson, Theol. Inst., Part II Chap. II; Wilmers, Handbook of the Chr. Religion, p. 171-181; Harris, God, Creator and Lord of All I, p. 128-209; Charnock, The Existence and Attributes of God, Discourse III, VII-IX; Bates, On the Attributes; Clarke, The Christian Doctrine of God, p. 56-115; Snowden, The Personality of God; Adeney, The Christian Conception of God, p. 86-152; Macintosh, Theology as an Empirical Science, p. 159-194; Strong, Syst. Theol., p. 282-303. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 75)