sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A CAUSA MOTORA DA EXPIAÇÃO

Ela se acha: 1. NO BENEPLÁCITO DE DEUS. Às vezes ela é descrita como se a causa motora da expiação estivesse no amor compassivo de Cristo pelos pecadores. Ele era tão bondoso e tão cheio de amor que a simples idéia de que os pecadores poderiam perder-se para sempre Lhe causava aversão. Daí, Ele se ofereceu como vitima no lugar deles, cumpriu a pena dando a Sua vida pelos transgressores e assim, pacificou um Deus irado. Nalguns casos, este conceito incita os homens a elogiarem Cristo por Seu sacrifício supremo, mas, ao mesmo tempo, a censurar a Deus por exigir e aceitar tal preço. Noutros casos, simplesmente leva os homens a deixar Deus de lado e a entoar louvores a Cristo em termos imoderados. Certamente que tal descrição está completamente errada, e com freqüência dá aos oponentes da doutrina da expiação pessoal e substitutiva ocasião para dizerem que esta doutrina pressupõe uma cisão na vida trinitária de Deus. Segundo este conceito, aparentemente Cristo recebe o que Lhe é devido, mas Deus fica privado da honra que Lhe cabe. De acordo com a escritura, a causa motora da expiação se acha no beneplácito, desta boa vontade de Deus. Foi predito que Ele viria ao mundo para cumprir a vontade de Deus, “... e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”, Is 53.10. Por ocasião do Seu nascimento, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”, Lc 2.14. A gloriosa mensagem de Jo 3.16 é que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Diz Paulo que Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai”, Gl 1.4. E ainda, “aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude, e que, havendo feito a paz pelo seu sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus”, Cl 1.19, 20. Não seria difícil acrescentar outras passagens similares. 2. NÃO NA VONTADE ARBITRÁRIA DE DEUS. Pode-se levantar a questão sobre se este beneplácito, esta boa vontade, deve ser considerado como uma vontade arbitrária, ou como uma vontade arraigada na própria natureza de Deus e em completa harmonia coma perfeições divinas. Duns Scotus a descreveu como se ela fosse apenas uma expressão arbitrária da soberania de Deus. Mas está em maior harmonia coma Escritura dizer que a boa vontade de Deus, de salvar os pecadores com uma expiação substitutiva, estava alicerçada no amor e na justiça de Deus. Foi o amor de Deus que providenciou um meio de livramento para os pecadores perdidos, Jo 3.16. E foi a justiça de Deus que exigiu que esse meio fosse de tal natureza que satisfizesse as exigências da lei, para que Deus fosse “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”, Rm 3.26. Em Rm 3.24, 25 encontramos os dois elementos juntos: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. Esta descrição nos livra da idéia de uma vontade arbitrária. 3. NO AMOR E NA JUSTIÇA COMBINADOS. É necessário evitar toda a qualquer unilateralidade nesta questão. Se dissermos que a expiação se funda somente na retidão e na justiça de Deus como causa motora da expiação, e daremos pretexto àqueles inimigos da teoria a satisfação, quanto à expiação, que gostam de descrevê-la como se implicasse que Deus é um ser vingativo, interessado unicamente em Sua honra. Se, por outro lado, consideráramos a expiação como pura expressão do amor de Deus, não faremos justiça à retidão e à veracidade de Deus, e reduziremos os sofrimentos e a morte de Cristo a um enigma inexplicável. O fato de que Deus entregou o Seu Filho unigênito a amargos sofrimentos e a uma morte ignominiosa não pode ser explicado somente com base no princípio do Seu amor. (Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.363)