sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

INTRODUÇÃO: O OFÍCIO PROFÉTICO

A. Observações Introdutórias Sobre os Ofícios em Geral. 1. A IDÉIA DOS OFÍCIOS NA NATUREZA. É costume falar de três ofícios com relação à obra de Cristo, a saber, os ofícios profético, sacerdotal e real. Embora alguns dos chamados pais primitivos da igreja já falassem dos diferentes ofícios de Cristo, Calvino foi o primeiro a reconhecer a importância de distinguir os três ofícios d Mediador e chamar a atenção para isto num capítulo específico das suas Institutas. Entre os luteranos , Gerhard foi o primeiro a desenvolver a doutrina dos três ofícios, e Quenstedt considerava a distinção tríplice como deveras não essencial e chamou a atenção para o fato de que alguns teólogos luteranos distinguiam somente dois ofícios, juntando o profético ao sacerdotal. Desde os dias da |Reforma, a distinção foi aceita em geral como um dos lugares comuns da teologia, embora não houvesse acordo geral quanto à importância relativa dos ofícios, nem quanto à sua interrelação. Uns colocavam em primeira plano o oficio profético, outros o sacerdotal, e ainda outros o real. Houve quem lhes aplicasse a idéia de sucessão cronológica, entendendo que Cristo agiu como profeta durante o Seu ministério público aqui na terra, como sacerdote em Seus sofrimentos finais e em sua morte na cruz, e como rei age agora, que está assentado à mão direita de Deus. Outros, porém, salientavam acertadamente o fato de que se deve entender que Ele agiu e age em Sua tríplice capacidade em Seu estado de humilhação e em Seu estado de exaltação. Os socinianos, na verdade, reconheciam só dois ofícios: Cristo agiu como profeta na terra, e age como rei no céu. Apesar de falarem também de Cristo como sacerdote, incluíam subordinadamente a Sal obra sacerdotal em Sua obra real e, portanto, não reconheciam o Seu sacerdócio terreno. Surgiu na Igreja Luterana considerável oposição à doutrina dos três ofícios de Cristo. Ernesti dá um sumário das objeções que apareceram Segundo ele, a divisão dos ofícios é puramente artificial; os termos profeta, sacerdote e rei não são empregados na Escritura no sentido presente nessa divisão; é impossível discriminar com clareza uma função em relação ass outras, na obra realizada por Cristo; e os termos, como utilizados na Escritura, só são aplicados num sentido figurado e, portanto, não devem ter significados precisos a eles afixados, designando partes particulares da obra de Cristo. Em resposta a isso, pode-se dizer que há pouca força na crítica ao uso dos termos, visto que são utilizados em todo o Velho Testamento como designativos daqueles que, nos ofícios de profeta, sacerdote e rei, tipificavam Cristo. A única critica realmente significativa se deve ao fato de que em Cristo os três ofícios estão agrupados numa pessoa. O resultado é que não podemos discriminar agudamente entre as diferentes funções constitutivas da obra oficial de Cristo. A obra mediatária é sempre realizada pela pessoa completa; nem uma só obra pode ser limitada a qualquer dos ofícios. Dos teólogos luteranos mais recentes, Reinhard, Doederlein, Storr e Bretschneider rejeitaram a distinção. Ritschl também lhe fez objeção, e afirmou que o termo “vocação” deveria tomar o lugar da palavra “oficio”, que se presta a mal entendidos. Disso, ele considerava a função ou atividade real de Cristo como primordial, e as funções profética e sacerdotal como secundárias e subordinadas, esta indicando a relação do homem com o mundo, e aquela, a sua relação com Deus. Ademais, ele acentuava o fato de que se deve afirmar o exercício da realeza profética e sacerdotal igualmente nos estados de humilhação e de exaltação. Haering segue a Titchl em sua negação dos três ofícios e em sua ênfase à vocação. A teologia modernista é avessa à idéia toda, em parte porque não gosta da terminologia das escolas, e em parte porque se nega a pensar em Cristo como uma personalidade oficial. Ela tem tanta apreciação por Cristo como o “Homem” ideal, o Ajudador amoroso e o Irmão Mais Velho, tão verdadeiramente humano, que teme considerá-lo como um funcionário mediatário formal, desde que isto seria capaz de desumanizá-lo. 2. A IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO. A distinção dos três ofícios de Cristo é valiosa e deve ser conservada, a despeito do fato de que a sua coerente aplicação aos dois estados de Cristo nem sempre é fácil e nem sempre tem sido igualmente feliz. Explica-se o fato de Cristo ter sido ungido para um tríplice ofício com o fato de que o homem foi originariamente destinado ao exercício desse tríplice ofício e respectiva obra. Como criado pro Deus, ele foi profeta, sacerdote e rei e, nestas qualidades, foi adotado de conhecimento e entendimento, de justiça e santidade, e de domínio sobre a criação inferior. O pecado afetou a vida toda do homem e se manifestou, não somente como ignorância e cegueira, erro e falsidade, mas também como injustiça, culpa e corrupção moral; e, em acréscimo, como enfermidade, morte e destruição. Daí, foi necessário que Cristo, como o nosso mediador, fosse profeta, sacerdote e rei. Como profeta, Ele representa Deus para com o homem; como Sacerdote, ele representa o homem na presença de Deus; e como Rei, ele exerce domínio e restabelece o domínio original do homem. O racionalismo só reconhece o Seu ofício profético; o misticismo, somente o Seu ofício sacerdotal; e o quiliasma* dá ênfase unilateral ao Seu oficio real futuro. (Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.352)