quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A TEORIA DO EXEMPLO

Esta teoria foi defendida pelos socinianos no século dezesseis, em oposição à doutrina dos Reformadores de que Cristo expiou vicariamente o pecado da humanidade. Seu princípio fundamental é que não existe justiça retributiva em Deus que exija absoluta e inexoravelmente que o pecado seja punido. Sua justiça não O impede de perdoar quem Ele quiser, sem exigir nenhuma satisfação. A morte de Cristo não expiou o pecado, nem levou Deus a perdoar o pecado. Cristo salva os homens revelando-lhes o caminho da fé e da obediência como o caminho da vida eterna, dando-lhes um exemplo de verdadeira obediência, tanto em Sua vida como em Sua morte, e inspirando-os a terem vida semelhante. Este conceito na verdade não estabelece nenhuma conexão direta entre a morte de Cristo e a salvação dos pecadores. Todavia, ele afirma que se pode dizer que a morte de Cristo expia os pecados do homem em vista do fato de que Cristo recebeu, como recompensa por Sua obediência até a morte, o poder de conceber vida eterna aos crentes. Esta teoria é objetável por várias razões. 1. É na verdade um ressurgimento e uma mistura de várias heresias antigas: do pelagianismo, com a sua negação da depravação humana e a sua afirmação da capacidade natural do homem para salvar-se; da doutrina adocionista, com a sua crença em que o homem Jesus foi adotado para ser o Filho Messiânico de Deus em função da Sua obediência; da doutrina de uma vontade arbitrária em Deus, apregoada por Duns Scotus; e da ênfase de alguns dos chamados “pais primitivos da igreja” à eficácia salvadora do exemplo de Cristo. Conseqüentemente, está exposta às objeções que militam contra esses conceitos. 2. É inteiramente antibíblica em sua idéia de Cristo como um mero homem, de qualidades excepcionais; em seu conceito de pecado, em que o caráter do pecado como culpa, tão fortemente acentuado pela palavra de Deus, é inteiramente ignorado; em sua ênfase unilateral ao significado redentor da vida de Cristo; e em sua apresentação da morte de Cristo como a morte de um mártir, ao mesmo tempo em que não explica a angustia de Cristo na cruz, tão diversa da maneira de morrer dos mártires. 3. Não explica a salvação dos que viveram antes da encarnação do Verbo e das crianças. Se a vida e os sofrimentos de Cristo salvam os pecadores tão somente por seu caráter exemplar, surge naturalmente a questão sobre como será que aqueles que viveram antes da vinda de Cristo e aqueles que morreram na infância podem auferir algum beneficio deles. Todavia, há clara prova bíblica de que a obra realizada por Cristo foi também retrospectiva em sua eficácia, e de que os pequeninos também partilham os benefícios da Sua morte expiatória. 4. Além disso, conquanto seja perfeitamente certo que Cristo é apresentado também como um exemplo na Escritura, em parte alguma é apresentado como um exemplo que os incrédulos devem imitar, e que os salvará se o fizerem; e, contudo, este é o pressuposto necessário da teoria em foco. O exemplo de Cristo é tal que somente o Seu povo pode segui-lo, e mesmo o Seu povo só pode assemelhar-se tenuemente a Ele. Ele é o nosso Redentor, antes de poder ser o nosso exemplo. (Berkhof, L – Teologia Sistemática pg383)