quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A TEORIA DA INFLUÊNCIA MORAL

Esta teoria foi propugnada por Abelardo, em oposição a Anselmo, e desde os seus dias encontrou muitos defensores ardorosos. A idéia fundamental é sempre a mesma, conquanto assumindo formas diferentes nas mãos de homens como Young, Maurice, Bushnell, Stevens, David Smith e muitos outros. A idéia fundamental é que não há nenhum princípio da natureza divina que necessariamente requeira satisfação da parte do pecador; e que a morte de Cristo não deve ser considerada como uma expiação pelo pecado. Foi meramente uma manifestação do amor de Deus, sofrendo Ele em todas as Suas criaturas pecadoras e com elas, e levando sobre Si as suas dores e os seus pesares. Este sofrimento não serviu para satisfazer a justiça divina, mas, sim, para revelar o amor divino, com vistas a abrandar os corações humanos e levá-los ao arrependimento. Ela garante aos pecadores que não há obstáculo algum da parte de Deus que O impeça de perdoar os seus pecados. Ele não somente pode fazê-lo sem receber qualquer satisfação, mas está mesmo ansioso para fazê-lo. O único requisito é que os pecadores venham a Ele com corações penitentes. As seguintes objeções podem ser apresentadas contra esta teoria: 1. Esta teoria é contrária aos claros ensinamentos da Escritura, a qual descreve a obra expiatória de Cristo como necessária, não primariamente para revelar o amor de Deus, mas, sim, para satisfazer a Sua justiça; considera os sofrimentos e a morte de Cristo como propiciatórios e penais; e ensina que o pecador não é suscetível de influência moral da obra sacrificial de Cristo, enquanto a justiça de Cristo não vier a ser sua pela fé. 2. Embora seja um fato indubitável que a cruz de Cristo foi a suprema manifestação do amor de Deus, só pode ser considerada como tal do ponto de vista da doutrina substitutiva e penal da expiação, segundo a qual os sofrimentos e a morte de Cristo foram absolutamente necessários para a salvação dos pecadores. Mas, de acordo com a teoria da influência moral, eles serviram apenas ao propósito de impressionar o homem, o que Deus poderia ter feito de muitas outras maneiras; e, portanto, não eram necessários. E se não eram necessários, foram na verdade uma cruel manifestação do amor de Deus – uma contradição de termos. Os sofrimentos e a morte de Cristo só foram uma demonstração do amor de Deus se este era o único meio de salvar os pecadores. 3. Esta teoria priva a expiação do seu caráter objetivo e, com isso, deixa de ser uma verdadeira teoria da expiação. É, no máximo, uma unilateral teoria da reconciliação. De fato, nem isso, pois a reconciliação subjetiva só é possível com base numa reconciliação objetiva. Ela realmente confunde o método de salvação escolhido por Deus para salvar o homem com a experiência que o homem salvo tem da salvação, pois, nesse conceito, a expiação consiste em seus efeitos na vida do crente, em união com Cristo. 4. Finalmente, esta teoria falha em seu próprio princípio. É verdade indubitável que o sofrimento necessário, isto é, o sofrimento por um propósito salvífico que não poderia ser realizado de nenhuma outra maneira, tem poder para causar profunda impressão. Mas o efeito de um sofrimento voluntário, inteiramente desnecessário e não exigido, é completamente diferente. De fato, isso é reprovado pela consciência cristã. (Berkhof, L – Teologia Sistemática pg382)