quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Teoria Mística

A teoria mística tem em comum com a teoria da influencia moral isto – que ela concebe a expiação exclusivamente como exercendo influencia sobre o homem e produzindo uma mudança nele. Ao mesmo tempo, difere da teoria da influencia moral no sentido de que concebe a mudança operada no homem, não primordialmente como uma mudança ética ocorrida na vida consciente do homem, mas como uma profunda mudança na vida subconsciente e produzida de maneira mística. O principio básico desta teoria é que, na encarnação, a vida divina penetrou na vida da humanidade, afim de eleva-la ao nível da divina. Cristo possuía natureza humana com a sua corrupção e predisposição inata para o mal moral: mas, pela influencia do Espírito Santo, pôde evitar a manifestação dessa corrupção em pecado fatual, purificou gradativamente a natureza humana e, com a Sua morte extirpou completamente essa depravação original e reuniu aquela natureza a Deus. Ele penetrou na vida da humanidade como um fermento transformador, e a transformação resultante constituiu a Sua redenção. Esta é, com efeito, embora com diferenças nos pormenores, a teoria de Scheleiermacher, Edward Irving, Mecken e Stier. Mesmo Kohlbruegge parecia inclinado a aceita-la, até certo ponto. Pesam sobre ela, porém, as seguintes dificuldades: 1. Não leva em conta a culpa do homem. De acordo com a escritura, é preciso que a culpa seja removida para que ele possa ser purificado da sua corrupção; mas a teoria mística, desconsiderando a culpa do pecado, preocupa-se unicamente com a expulsão da corrupção do pecado. Desconhece toda e qualquer justificação e entende que a salvação consiste na santificação subjetiva. 2. Apóia-se em falsos princípios, segundo os quais vê na ordem natural do universo uma exaustiva expressão da vontade e da natureza de Deus, considera o pecado exclusivamente como uma força do mal moral no mundo, força que não envolve culpa e não merece punição, e entende a punição como simples reação da lei do universo contra o transgressor, e de modo nenhum como uma revelação da ira pessoal de Deus contra o pecado. 3. Contradiz a escritura quando declara que Cristo participa da corrupção do pecado e da depravação hereditária, e deduz a necessidade da Sua morte da pecaminosidade da Sua natureza (nem todos fazem isto). Fazendo isso, ela torna impossível considerá-lo como Salvador sem pecado que, precisamente por causa da Sua impecabilidade, pôde tomar o lugar dos pecadores e cumprir a pena por eles. 4. Não tem resposta para a questão sobre como os que viveram antes da encarnação do verbo podem participar da redenção de Jesus Cristo. Se Cristo, de algum modo realista, expeliu a corrupção do pecado durante o tempo da Sua peregrinação na terra, e atualmente continua a expeli-la; e se a salvação do homem depende deste processo subjetivo, como então os santos do velho testamento poderiam ter parte nesta salvação? (Berkhof, L – Teologia Sistemática pg385)