sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Doutrina da Aliança das Obras na História

A história da doutrina da aliança das obras é relativamente curta. Nos mais antigos “pais da igreja” raramente se acha a idéia da aliança, embora sejam mencionados os elementos que ela envolve, a saber, o mandamento probatório, a liberdade de escolha e a possibilidade do pecado e da morte. Em sua obra, De Civitate Dei (Da Cidade de Deus), Agostinho fala da relação que originariamente Adão mantinha com Deus como uma aliança (testamentum, pactum), enquanto que alguns outros inferiam o relacionamento pactual original da bem conhecida passagem de Os 6.7. Também na literatura escolástica e nos escritos dos reformadores todos os elementos que mais tarde entrariam na elaboração da doutrina da aliança das obras já estavam presentes, mas a doutrina ainda não se desenvolvera. Embora contendo algumas expressões que apontam para a imputação do pecado de Adão aos seus descendentes, vê-se claramente que, de modo geral, entendia-se a transmissão do pecado de maneira realista, e não federativa. Em sua análise das Institutas de Calvino, diz Thornwell: “A representação federal não foi apreendida como devia, mas, em seu lugar, certo realismo místico”. O desenvolvimento da doutrina da aliança da graça precedeu ao da doutrina da aliança das obras e lhe preparou o caminho. Quando se viu com clareza que a Escritura apresenta o caminho da salvação na forma de uma aliança, o paralelo que Paulo traça em Rm 5, entre Adão e Cristo, logo deu ocasião para se pensar também no estado de integridade em termos de uma aliança. De acordo com Heppe, a primeira obra a conter a descrição federal do meio de salvação foi a de Bullinger, Compendium of the Christian Religion (Compêndio da Religião Cristã); e Oleviano foi o verdadeiro fundador de uma teologia federal* em que o conceito de aliança foi, pela primeira vez, o princípio determinante do sistema todo. Das igrejas reformadas da Suíça e da Alemanha, a teologia federal passou para a Holanda e para as Ilhas Britânicas, principalmente para a Escócia. Seus mais antigos representantes na Holanda foram Gomarus, Trelcatius, Ravensperger e principalmente Cloppenburg. Este é considerado o precursor de Coceio (Coccejus), muitas vezes chamado equivocadamente “o pai da teologia federal”. A real distinção de Coceio está, pelo menos em parte, no fato de que ele procurou substituir o método escolástico habitual de estudar teologia, muito comum em sua época, por um método que ele considerava mais bíblico. Neste aspecto, ele foi seguido por Burmannus e Witsius. Coceio e seus seguidores não foram os únicos a abraçar a doutrina da aliança das obras. Outros o fizeram, como Voetius, Mastricht, à Marck e De Moor. Ypij e Dermount assinalam que, naqueles dias, era heresia negar a aliança das obras. Os socinianos rejeitaram totalmente esta doutrina, visto não crerem na imputação do pecado de Adão aos seus descendentes; e alguns dos arminianos, como Episcopius, Limborgh, venema e J. Alting, que diziam tratar-se de uma doutrina humana, deram seguimento ao processo condenatório. Em meados do século dezoito, quando a doutrina da aliança das obras caíra em quase completo olvido, Comrie e Holtius, em sua co-produção intitulada Examen van Het Ontwerp van Tolerantie, trouxeram-na mais uma vez à atenção da igreja. Na Escócia, várias obras importantes foram escritas sobre as alianças, a aliança das obras inclusive, como as de Fisher (Marrow of Modern Divinity, A Medula da Teologia Moderna), Ball, Blake, Gib e Boston. Diz Walker: “Pode-se descrever a velha teologia da Escócia como teologia da aliança”. A doutrina encontrou reconhecimento oficial na Confissão de Westminster e na Formula Consensus Helvetica (Sistema de Consenso Suíço). É significativo que a doutrina da aliança das obras teve fraca receptividade na teologia católico-romana e na luterana. A explicação disso está em sua atitude para com a doutrina da imputação imediata do pecado de Adão aos seus descendentes. Sob a influencia do racionalismo e da teoria da imputação mediata, de Placeu (Placaeus), que também encontrou aceitação na teologia da Nova Inglaterra, a doutrina da aliança foi entrando aos poucos em eclipse. Mesmo eruditos conservadores como Doedes e Van Oosterzee, na Holanda, a rejeitaram; e na teologia da Nova Inglaterra ela teve curta duração. Na Escócia a situação não é muito melhor. Hugh Martin já escrevera em sua obra sobre a Expiação (The Atonement, publicada em 1887): “Já começou a acontecer., tememos nós, que a teologia federal está sofrendo atualmente um grau de negligencia que não faz bom prenúncio para o futuro imediato da igreja entre nós”. E conquanto em nosso país* eruditos presbiterianos como os Hodge, Thornwell, Breckenridge e Dabney levem na devida conta a doutrina em suas obras teológicas, nas igrejas que eles representam ela perdeu quase toda a sua vitalidade. Na Holanda houve um avivamento da teologia federal sob a influencia de Kuyper e Bavinck, e pela graça de Deus ela continua sendo uma viva realidade nos corações e nas mentes do povo. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 205)