sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Fundamento Bíblico da Doutrina da Aliança das Obras

A difundida negação da aliança das obras torna imperativo o exame cuidadoso do seu fundamento escriturístico. 1. OS ELEMENTOS COMPONENTES DE UMA ALIANÇA ESTÃO PRESENTES NA NARRATIVA PRIMITIVA. Deve-se admitir que o termo “aliança” não se acha nos primeiros três capítulos de Gênesis, mas isto não equivale a dizer que eles não contêm os dados necessários para a formulação de uma doutrina da aliança. Não se vai inferir da ausência do termo “trindade” que a doutrina da Trindade não se acha na Bíblia. Todos os elementos componentes de uma aliança estão indicados na Escritura, e se os elementos estão presentes, não somente temos base para relacioná-los uns com os outros, num estudo sistemático da doutrina, mas também temos o dever de fazê-lo, dando à doutrina assim elaborada um nome apropriado. No caso em consideração, são mencionadas duas partes, é estabelecida uma condição, está claramente envolvida uma promessa de recompensa pela obediência, e é feita a ameaça de uma penalidade pela transgressão. Pode-se objetar ainda, que não lemos a descrição de um acordo sendo feito entre duas partes, nem dos termos firmados sendo aceitos por Adão, mas esta objeção não é insuperável. Não lemos o relato de um acordo explícito assim, bem como da aceitação por parte do homem, nos casos de Noé e Abrão. Deus e o homem não comparecem como partes iguais em nenhuma destas alianças. Todas as alianças de Deus são da natureza de disposições soberanas impostas ao homem. Deus é absolutamente soberano em Seus procedimentos para com o homem, e tem todo o direito de impor as condições que o último deve cumprir, para desfrutar o Seu favor. Além disso, mesmo em virtude da sua relação natural, Adão tinha o dever de obedecer a Deus; e quando foi estabelecida a relação pactual, essa obediência tornou-se também uma questão de interesse próprio. Quando entra em relações pactuais com os homens, é sempre Deus que estabelece os termos, e estes são termos misericordiosos, provenientes da Sua graça, de modo que Ele tem, deste ponto de vista igualmente, todo o direito de esperar que o homem lhes dará assentimento. No caso em consideração, Deus tinha apenas que anunciar a aliança, e o perfeito estado em que Adão vivia era garantia suficiente da sua aceitação. 2. HOUVE PROMESSA DE VIDA ETERNA. Alguns negam a existência de qualquer prova bíblica de tal promessa. Pois bem, é certo que não há registro explícito dessa promessa, mas ela está claramente implícita na alternativa da morte como o resultado da desobediência. A clara implicação do castigo anunciado é que, em caso de obediência, a morte não entraria no mundo, e isto só pode significar que a vida teria continuidade. Tem-se objetado que isto significa apenas a continuação da vida natural de Adão, e não daquilo que a Escritura chama de vida eterna. Mas a idéia bíblica de vida é vida em comunhão com Deus; e esta é a vida que Adão tinha, conquanto no caso dele ainda pudesse ser perdida. Se Adão se saísse bem da prova, esta vida não somente seria mantida, mas também deixaria de estar sujeita a ser perdida e, portanto, seria elevada a um plano mais alto. Paulo diz-nos expressamente em Rm 7.10 que o mandamento, que é a lei, era para a vida. Comentando este versículo, diz Hodge: “A lei foi destinada e adaptada para assegurar a vida, mas de fato veio a ser a causa da morte”. Isso está claramente indicado também em passagens como Rm 10.5; Gl 3.13. Ora, admite-se geralmente que esta gloriosa promessa de vida perene de modo nenhum estava implícita na relação natural de Adão com Deus, mas tinha base diferente. Mas admitir a existência de algo positivo aí, uma complacência especial de Deus, é aceitar o princípio da aliança. Pode continuar havendo alguma dúvida quanto à propriedade do nome “aliança das obras”, mas não pode haver quaisquer objeções válidas à idéia de aliança. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 207)