terça-feira, 30 de julho de 2013

TRADUCIONISMO

De acordo com o traducionismo, as almas dos homens são reproduzidas juntamente com os corpos pela geração natural e, portanto, são transmitidas pelos pais aos filhos. Na Igreja primitiva Tertuliano, Rufino, Apolinário e Gregório de Nissa eram traducionistas. Desde os dias de Lutero o traducionismo tem sido o conceito geralmente aceito pela Igreja Luterana. Entre os reformados (calvinistas), tem o apoio de H.B. Smith e Shedd. A. H. Strong também tem preferência por ele. a. Argumentos em favor do traducionismo. Vários argumentos são aduzidos em favor dessa teoria. (1) Alega-se que é favorecida pela descrição bíblica segundo a qual (a) Deus uma única vez soprou nas narinas no homem o fôlego de vida, e depois deixou que o homem reproduzisse a espécie, Gn 1.28; 2.7; (b) a criação da alma de Eva estava incluída na de Adão, desde que se diz que ela foi feita “do homem” (1 Co 11.8), e nada se diz acerca da criação da sua alma, Gn 2.23; (c) Deus cessou a obra de criação depois de haver feito o homem, Gn 2.2; e (d) afirma-se que os descendentes estão nos lombos* dos seus pais, Gn 46.26; Hb 7.9,10. Cf. também passagens como Jô 3.6; 1.13; Rm 1.3; At 17.26. (2) tem o apoio da analogia da vida vegetal e animal, em que o aumento numérico é assegurado, não por um número continuadamente crescente de criações imediatas, diretas, mas pela derivação natural de novos indivíduos de um tronco paterno. Cf., porém, Sl 104.30. (3) A teoria procura também apoio na herança de peculiaridades mentais e tipos familiais, tantas vezes tão notórios e notáveis como semelhanças físicas, que não podem ser explicados pela educação ou pelo exemplo, desde que se evidenciam mesmo quando seus pais não vivem para criar os seus filhos. (4) Finalmente, ela parece oferecer a melhor base par a explicação da herança da depravação moral e espiritual, que é assunto da alma, e não do corpo. É muito comum combinar o traducionismo com a teoria realista para explicar o pecado original. b. Objeções ao traducionismo. Diversas objeções podem ser levantadas contra essa teoria. (1) É contrária à doutrina filosófica da simplicidade da alma. A alma é uma substância puramente espiritual que não admite divisão. A reprodução da alma pareceria implicar que a alma do filho se separa de algum modo da alma dos pais. Além disso, levanta-se a questão se ela se origina da alma do pai ou da mãe. Ou provém de ambos? Sendo assim, não é um composto? (2) para evitar a dificuldade recém-mencionada, esse conceito tem que recorrer a uma destas três teorias: (a) que a alma da criança teve uma existência anterior, uma espécie de preexistência; (b) que a alma está potencialmente presente na semente do homem ou da mulher ou de ambos, o que é materialismo; ou (c) que a alma é produzida, isto é, criada de algum modo pelos pais, o que faz deles criadores, em certo sentido. (3) O traducionismo parte do pressuposto de que, depois da criação original, deus só age mediatamente. Depois dos seis dias da criação a Sua obra criadora cessou. A contínua criação de almas, diz Delitzsch, é incoerente com a relação de Deus com o mundo. Pode-se, porém, levantar a questão: Que será, então, da doutrina da regeneração, que não é efetuada por causas secundárias? (4) Geralmente se alia à teoria do realismo, uma vez que é o único modo pelo qual pode explicar a culpa original. Fazendo isso, afirma a unidade numérica da substância de todas as almas humanas, posição insustentável; e também deixa de dar uma resposta satisfatória à questão, por que os homens são responsabilizados somente pelo primeiro pecado de Adão, e não pelos seus pecados subseqüentes, nem pelos pecados dos seus outros antepassados. (5) Finalmente, na forma imediatamente acima indicada, a teoria leva a dificuldades insuperáveis na cristologia. Se em Adão a natureza humana pecou globalmente, e esse pecado foi, portanto, o verdadeiro pecado de cada parte dessa natureza humana, não se pode fugir à conclusão de que a natureza humana de Cristo também foi pecadora e culpada, porque teria pecado de fato em Adão. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg 190)