terça-feira, 4 de junho de 2013

Punições Naturais e positivas

Uma distinção muito comum aplicada às punições pelo pecado é entre as penalidades naturais e as positivas. Há punições que são resultados naturais do pecado e das quais os homens não podem escapar por serem as conseqüências inevitáveis do pecado. O homem não se salva delas pelo arrependimento e perdão. Nalguns casos elas podem ser abrandadas, e até neutralizadas, pelos meios que Deus colocou à nossa disposição, mas noutros casos elas permanecem e servem de lembranças das nossas transgressões passadas. O preguiçoso cai na pobreza, o ébrio se arruína e à sua família, o fornicário contrai moléstia repugnante e incurável e ao criminoso sobrevém pesado fardo de vergonha e, mesmo quando sai dos muros da prisão, acha extremamente difícil começar vida nova. A Bíblia fala dessas punições em Jó 4.8; Sl 9.15; 94.23; Pv 5.22; 24.14; 31.3. Mas há também punições no sentido mais comum da palavra e mais diretamente ligadas à lei. Pressupõem não apenas as leis naturais da vida, mas também uma lei positiva do grande Legislador, acrescida de sanções. Não são penalidades que resultam naturalmente da natureza da transgressão, mas, sim, penalidades ligadas às transgressões por decretos divinos. São sobrepostas pela lei divina, que é de autoridade absoluta. É a esse tipo de punição que a Bíblia se refere normalmente. Isso está particularmente patente no Velho Testamento. Deus deu a Israel um minucioso código de leis para regulamentar a sua vida civil, moral e religiosa, e estipulou claramente a punição a ser aplicada a cada transgressão; cf Êx 20 a 23. E embora muitos dos regulamentos civis e religiosos dessa lei, na forma em que foram transmitidos, fossem destinados unicamente a Israel, os princípios fundamentais que encarnam aplicam-se igualmente na dispensação do Novo Testamento. Numa conceituação bíblica da penalidade do pecado, teremos que levar em conta o resultado natural bem como o resultado necessário da voluntária oposição a Deus e a penalidade legalmente estabelecida e adaptada por Deus à ofensa. Agora, há alguns unitários, universalistas e modernistas que negam a existência de qualquer punição do pecado, exceto as conseqüências que resultam da ação pecaminosa. A punição não é a execução de uma sentença pronunciada pelo Ser divino com base nos méritos do caso em apreço, mas é apenas a operação de uma lei geral. Esta posição é tomada por J. F. Clarke, Thayer, Willianson e Washington Gladden. Este último diz: “A teologia antiga fazia esta penalidade (a penalidade do pecado) consistir em sofrimentos infligidos ao pecador por um processo judicial na vida futura... A penalidade do pecado é o pecado. Tudo que o homem semear, isso ele ceifará”. A idéia não é nova; estava presente na mente de Dante, pois em seu famoso poema os tormentos do inferno simbolizam as conseqüências do pecado; e Schelling a tinha em mente, quando falou da história do mundo como o julgamento do mundo. Há, porém, copiosas evidências na Escritura de que essa idéia é completamente antibíblica. A Bíblia fala de penalidades que em nenhum sentido são resultados ou conseqüências naturais do pecado, por exemplo, em Êx. 32.33; Lv 26.21; Nm 15.31; 1 Cr 10.13; Sl 11.6; 75.8; Is 1.24, 28; Mt 3.10; 24.51. Todas estas passagens falam de uma punição do pecado por um ato direto de Deus. Além disso, segundo o conceito em foco, realmente não há recompensa ou punição; a virtude e o vício naturalmente incluem os seus diversos produtos. Ademais, segundo essa posição, não há boa razão para considerar o sofrimento como punição, pois ela nega a culpa, e é exatamente a culpa que faz do sofrimento uma punição. E depois, em muitos casos não é o culpado que recebe o castigo mais severo, mas o inocente, como, por exemplo, os dependentes de um beberrão ou de um devasso. Finalmente, nesse conceito, o céu e o inferno não são lugares de futura recompensa e castigo, mas estados mentais ou condições em que os homens se acham aqui e agora Washington Gladden expressa isso de maneira a mais explícita. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof Pg. 253)