terça-feira, 11 de junho de 2013

O Caráter Essencial do Primeiro Pecado

O pecado é um dos mais tristes fenômenos da vida humana, e também o mais comum. Faz parte da experiência comum da humanidade e, portanto, impõe-se à atenção de todos os que não fecham deliberadamente os olhos para as realidades da vida humana. Há os que sonham por algum tempo com a bondade essencial do homem e falam com indulgência das palavras e ações isoladas que não se enquadram nos padrões éticos da boa sociedade, descrevendo-as como simples paixões e fraquezas, pelas quais o homem não é responsável e as quais prontamente cedem a medidas corretivas; mas, com o correr do tempo, com o fracasso de todas as medidas de reforma externa, e com a verificação de que a supressão de um mal só serve para liberar outro, essas pessoas ficam inevitavelmente desiludidas. Tomam consciência do fato de que estiveram lutando meramente com os sintomas de uma doença arraigada profundamente e que defrontam, não apenas o problema dos pecados, isto é, dos atos pecaminosos isolados, mas o problema muito maior e mais profundo do pecado, de um mal inerente à natureza humana. É exatamente o que estamos começando a presenciar na época atual. Muitos modernistas de hoje não hesitam em dizer que a doutrina de Rousseau a respeito da bondade inerente do homem evidenciou-se como um dos mais perniciosos ensinos do período do Iluminismo, e agora reclamam a presença de maior medida de realismo no reconhecimento do pecado. Assim, Walter Horton, que pleiteia uma teologia realista e acredita que esta requer a aceitação de alguns princípios marxistas, diz: “Creio que o cristianismo ortodoxo representa uma profunda compreensão de todo o predicamento humano. Creio que a dificuldade humana básica é aquela perversão da vontade, aquela traição contra a vontade divina, que se chama pecado; e creio que o pecador é, num certo sentido, uma enfermidade racial, transmissível de geração a geração. Ao afirmar essas coisas, os ‘pais’ cristãos e os reformadores protestantes falavam como realista, e podiam ter coletado pilhas de provas empíricas para suporte das suas idéias”. Em vista do fato de que o pecado é real e ninguém pode livrar-se dele na presente existência, não admira que os filósofos, como os teólogos, se decidiram a atracar-se com o problema do pecado, conquanto na filosofia seja mais conhecido como o problema do mal que do pecado, Consideramos abreviadamente algumas das mais importantes teorias filosóficas sobre o mal, antes de expormos a doutrina escriturística do pecado. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof – Pg. 221)