segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Aliança como Relação Puramente Legal e como Comunhão de Vida

Teólogos reformados da estirpe de Kuyper, Bavinck e Honing falam de dois lados da aliança, um externo e o outro interno. O dr. Vos emprega expressões mais específicas, quando distingue entre a aliança como uma relação e um lado moral. Pode-se considerar a aliança como um acordo entre duas partes, com condições e estipulações mútuas, e, portanto, como algo pertencente à esfera legal. Nesse sentido, a aliança pode existir, mesmo quando não se faz nada para realizar o seu propósito, a saber, a condição indicada por ela e para a qual ela chama, tendo-a como o verdadeiro ideal. As partes que vivem sob este acordo estão na aliança, visto que estão sujeitas às estipulações mútuas sobre as quais concordam. Na esfera legal tudo é considerado e regulado de maneira puramente objetiva. O fator determinante nessa esfera é simplesmente a relação que foi estabelecida, e não a atitude que se assume para com essa relação. A relação existe independentemente da inclinação ou falta de inclinação, gostos e aversões da pessoa quanto a ela. Parece que, à luz desta distinção, é preciso responder a pergunta: Quem faz parte da aliança da graça? Se se a pergunta com a relação legal em mente, e só com esta em mente, e realmente culminar na interrogativa, Quem são os que têm o dever de viver na aliança, e de quem se pode esperar que o façam? – a resposta será: Os crentes e seus filhos. Mas se a pergunta for feita com vistas à aliança como comunhão de vida, e assumir esta forma completamente diversa, em quem esta relação legal resulta numa viva comunhão com Cristo? – a resposta só poderá ser: Unicamente nos regenerados, que são dotados do princípio da fé; quer dizer, nos eleitos. Esta distinção tem base na Escritura. Quase não é necessário citar passagens que provam que a aliança é um pacto na esfera legal, pois é mais que evidente que temos um pacto dessa natureza sempre que duas partes concordam, na presença de Deus, em fazer certas coisas que afetam a sua relação mútua, ou que uma parte promete conferir certos benefícios à outra, pressupondo-se que a última cumpre as condições estabelecidas. Há na Escritura copiosas evidências de que a aliança da graça é um pacto dessa natureza. Há a condição da fé, Gn 15.6, comparado com Rm 4.3 em diante e 20 em diante; Hc 2.4; Gl 3.14-28; Hb 11; e há também a promessa de bênçãos espirituais e eternas, Gn 12.3; 17.7; Is 43.25; Ez 36.27; Rm 4.5 em diante; Gl 3.14, 18. Mas também é evidente que a aliança, em sua plena realização, é mais que isso, a saber, é comunhão de vida. Esta já pôde ser expressa simbolicamente no ato de passar entre as partes do animal imolado quando do estabelecimento da aliança com Abraão, Gn 15.9-17. Além disso, é indicada em passagens como Sl 25.14; 89.33, 34; 103.17, 18; Jr 31.33, 34 (Hb 8.10-12); Ez 36.25-28; 2 Co 6.16; Ap 21.2, 3. Surge agora a questão quanto à relação entre a permanência do pecador sob a “disciplina da aliança”, como uma relação legal, e sua vida na comunhão da aliança. Não se pode conceber a coexistência de ambas sem alguma ligação interna, mas ambas devem ser consideradas como sendo intimamente relacionadas uma com a outra, a fim de evitar-se todo dualismo. Quando alguém assume a relação pactual voluntariamente, naturalmente as duas devem ir juntas; do contrário, o resultado será uma relação falsa. Mas no caso dos que nascem na aliança a questão é mais difícil. Será então possível uma sem a outra? A aliança será, nesse caso, uma pura e simples relação legal na qual aquilo que devia ser- mas não é – toma o lugar das gloriosas realidades que constituem a razão de ser da aliança? Haverá alguma base razoável para esperar-se que a relação pactual resultará numa comunhão viva; que para o pecador, que por si mesmo é incapaz de crer, a aliança se tornará de fato uma viva realidade? Em resposta a essa questão pode-se dizer que, sem dúvida nenhuma, Deus deseja que a relação pactual redunde numa vida pactual. E Ele próprio garante, com Suas promessas ligadas à semente dos crentes, que isto se efetuará, não no caso de cada indivíduo, mas na semente da aliança, coletivamente. Com base na promessa de Deus, podemos crer que, sob uma fiel administração da aliança, a relação pactual, como regra geral, se concretizará plenamente numa vida pactual. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 283)