segunda-feira, 29 de abril de 2013

TEORIA DAS TRÊS DISPENSAÇÕES

Irineu falava em três alianças, a primeira caracterizada pela lei escrita no coração, a segunda, pela lei como mandamento externo dado no Sinai, e a terceira, pela lei restabelecida no coração pela operação do Espírito Santo; e assim ele sugeriu a idéia de três dispensações. Coceio distinguia três dispensações da aliança da graça, a primeira ante legem, a segunda sub lege e a terceira post legem (respectivamente, antes da lei, sob a lei e após a lei). Ele fazia, pois, aguda distinção entre a administração da aliança posterior a Moisés. Pois bem, é indubitavelmente certo que há considerável diferença entre a administração da aliança antes e depois da dádiva da lei, mas a similaridade é maior que a diferença, de modo que não se justifica coordenar a obra de Moisés com a de Cristo como uma linha divisória da administração da aliança. Pode –se notar os seguintes pontos de diferença: a. Na graça como a manifesta característica da aliança. No período patriarcal a graça, como a característica da aliança, projetou-se mais proeminentemente que no período posterior. A promessa estava mais na primeira plana, Rm 4.13; Gl 3.18. Contudo, mesmo isto não deve ser indevidamente salientado, como se não houvesse fardos legais, quer morais quer cerimoniais, antes do tempo de Moisés, e como se não houvesse promessa da graça durante o período da lei. A substância da lei estava em vigor antes de Moisés, e já exigiam sacrifícios. E promessas decorrentes da graça acham-se com abundancia nos escritos pós-mosaicos. O único ponto real de diferença é este: Uma vez que a lei constituía para Israel uma explícita recordação das exigências da aliança das obras, havia maior perigo de confundir o caminho da lei com o caminho da salvação. E a história de Israel nos ensina que ele não escapou desse perigo. b. Na ênfase ao caráter espiritual das bênçãos. O caráter espiritual das bênçãos sobressaía mais claramente no período patriarcal. Abraão, Isaque e Jacó eram simples residentes temporários na terra da promessa, morando lá como estrangeiros e peregrinos. A promessa temporal da aliança ainda não se cumprira. Daí, havia menor risco de fixar a atenção exclusivamente nas bênçãos materiais, como os judeus fizeram mais tarde. Os primeiros patriarcas tinham uma compreensão mais clara do sentido simbólico daquelas posses materiais, e buscavam uma cidade celestial, Gl 4,25, 26; Hb 11.9,10. c. No entendimento da destinação universal da aliança. A destinação universal da aliança era mais claramente evidente no período patriarcal. Foi dito a Abrão que em sua semente seriam abençoadas todas as nações do mundo, Gn 22.18; Rm 4.13-17; Gl 3.8. Aos poucos os judeus foram perdendo de vista este fato importante, e passaram a supor que as bênçãos da aliança estavam restritas à nação judaica. Todavia, os últimos profetas deram ênfase à universalidade das promessas, e assim reviveram a consciência da significação mundial da aliança. Mas, conquanto existissem essas diferenças, havia diversos pontos importantes em que os períodos pré e pós-mosaicos concordavam e nos quais ambos, em conjunto, diferiam da dispensação cristã. Enquanto a diferença entre ambos era apenas de grau, a sua diferença em comum da dispensação do Novo Testamento é de contraste. Em contraste com a dispensação cristã, os períodos do Velho Testamento concordam: a. Na apresentação do mediador como semente ainda futura. Todo o Velho Testamento aponta para então futura vinda do Messias. Este olhar prospectivo caracteriza o proto-evangelho, a promessa feita aos patriarcas, todo o ritual mosaico e as mensagens centrais dos profetas. b. Na prefiguração em cerimônias e tipos do Redentor por vir. É Certo que estes aumentaram depois da entrega da lei, mas estavam presentes muito tempo antes disso. Já nos primitivos dias de Caim e Abel eram oferecidos sacrifícios, e estes tinham também um caráter peculiar, ou seja, expiatório, apontando para o grande sacrifício de Jesus Cristo. Os que serviam como sacerdotes eram sombras e símbolos do grande Sumo sacerdote vindouro. Em distinção do Velho Testamento, o Novo é mais comemorativo que prefigurativo. c. Na prefiguração das vicissitudes dos que estavam destinados a compartilhar as realidades espirituais da aliança na carreira terrena dos grupos que estavam em relação pactual com Deus. A peregrinação dos patriarcas na Terra Santa, a servidão no Egito, a entrada em Canaã, apontavam para coisas espirituais superiores no futuro. No Novo Testamento, esses tipos todos alcançam o seu cumprimento e, portanto, cessam. Com base em tudo quanto acima foi dito, é preferível seguir as linhas tradicionais distinguindo apenas duas dispensações ou administrações, quais sejam, a do Velho Testamento e a do Novo; e subdividir a primeira em vários períodos ou estágios da revelação da aliança da graça. (Teologia Sistemática – L. Berkhof. Pg 288)