terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Doutrina dos Anjos na História

Existem claras evidências da crença na existência dos anjos desde o início da era cristã. Uns eram considerados bons, e outros maus. Os primeiros eram tidos em alta estima, como seres pessoais de elevada categoria, dotados de liberdade moral, engajados no jubiloso serviço de Deus, e empregados por Deus para atender ao bem-estar dos homens. De acordo com alguns dos primeiros pias da igreja, assim chamados, os anjos têm corpos perfeitos e etéreos. A convicção geral era que os anjos forma criados bons, mas alguns abusaram da sua liberdade e caíram, apartando-se de Deus. Satanás, que era originariamente um anjo de classe eminente, era considerado o chefe deles. Entendia-se que a causa da sua queda estava no orgulho e numa ambição pecaminosa, enquanto que a queda dos seus subordinados era atribuída à sua cobiça das filhas dos homens. Este conceito baseava-se no que nesse tempo constituía a interpretação comum de Gn 6.2. Ao lado da idéia geral de que os anjos bons atendem às necessidades e ao bem-estar dos crentes, a noção específica de anjos da guarda para igrejas individuais e pessoas individuais era agasalhada por alguns. Calamidades de várias espécies, como doenças, acidentes e perdas, muitas vezes eram atribuídas à influência danosa de espíritos maus. A idéia de uma hierarquia de anjos já surgia (Clemente de Alexandria), mas não era considerado próprio prestar culto a anjo nenhum. Com o passar do tempo, os anjos continuaram a ser considerados como espíritos bem-aventurados, superiores aos homens em conhecimento, e livres do embaraço de grosseiros corpos materiais. Conquanto alguns lhes atribuíssem excelentes corpos etéreos, houve crescente incerteza sobre se eles têm algum tipo de corpo. Os que ainda se apegavam à idéia de que são seres corpóreos faziam-no, parece, no interesse da verdade de que estão sujeitos a limitações espaciais. Dionísio Areopagita dividiu os anjos em três classes, a primeira consistindo de tronos, querubins e serafins, a segunda de domínios e poderes, e a terceira de principados, arcanjos e anjos. Os da primeira classe eram descritos como gozando a mais estreita comunhão com Deus; os da segunda, como iluminados pelos primeiros; e os da terceira, como iluminados pelos segundos. Essa classificação foi adotada por diversos escritores posteriores. Agostinho dava ênfase ao fato de que os anjos bons, por sua obediência, foram recompensados com o dom da perseverança, dom que trouxe consigo a segurança de que eles jamais cairiam. Ainda se considerava o orgulho como a causa da queda de Satanás, mas a idéia de que os demais anjos caíram em conseqüência da sua cobiça das filhas dos homens, embora ainda defendida por alguns, foi desaparecendo aos poucos, sob a influência de uma exegese melhor de Gn 6.2. Atribuía-se aos anjos que não caíram uma influência benéfica, ao passo que se acreditava que os anjos decaídos corrompem os corações dos homens, estimulam a heresia e geram moléstias e calamidades. As tendências politeístas de muitos dos convertidos ao cristianismo fomentavam uma inclinação para dar culto aos anjos. Esta prática foi condenada formalmente por um concílio reunido em Laodicéia no quarto século. Durante a Idade Média ainda havia alguns que se inclinavam a admitir que os anjos têm corpos etéreos, mas a opinião predominante era de que são incorpóreos. As aparições angélicas eram explicadas com a admissão de que, em tais casos, os anjos adotavam formas corporais temporárias, para fins de revelação. Vários pontos estiveram em discussão entre os escolásticos. Quanto ao tempo em que os anjos foram criados, a opinião dominante era que foram criados no mesmo tempo da criação do universo material. Embora alguns sustentassem que os anjos foram criados no estado de graça, a opinião mais comum era que foram criados somente num estado de perfeição natural. Havia pouca diferença de opinião sobre se se pode dizer que os anjos ocupam um lugar. A resposta comum a esta questão era afirmativa, conquanto se assinalasse que a presença deles no espaço não é circunscritiva, mas definitiva, visto que somente os corpos podem estar circunscritivamente no espaço. Embora todos os escolásticos concordassem que o conhecimento dos anjos é limitado, os tomistas e os scotistas diferiam consideravelmente no concernente à natureza desse conhecimento. Todos admitiam que os anjos receberam conhecimento infuso quando de sua criação, mas Tomaz de Aquino negava, enquanto Duns Scotus afirmava, que eles podiam adquirir novo conhecimento através da sua atividade intelectual. O primeiro sustentava que o conhecimento dos anjos é puramente intuitivo, mas o último asseverava que esse conhecimento também pode ser discursivo. A idéia de anjo da guarda encontrou considerável apoio durante a Idade Média. O período da Reforma não trouxe nada de novo, quanto à doutrina dos anjos. Tanto Lutero como Calvino tinham vívida concepção do ministério dos anjos, e particularmente da presença e poder de Satanás. Calvino acentuava o fato de que Satanás está debaixo do controle divino, e de que, embora seja às vezes instrumento de Deus, só pode agir dentro de limites prescritos. Os teólogos protestantes consideravam geralmente os anjos como seres espirituais puros, apesar de Zanchius e Grotius ainda falarem deles como possuidores de corpos etéreos. Quanto à obra realizada pelos anjos bons, a opinião geral era que sua tarefa especial consiste em atender aos herdeiros da salvação. Contudo, não havia acordo geral sobre a existência de anjos da guarda. Uns favoreciam este conceito, outros se opunham a ele, e ainda outros se recusavam a expressar-se sobre este ponto. A Confissão Belga diz, no Artigo XII, que trata da criação: “Ele criou também os anjos bons, para serem Seus mensageiros e servirem Seus eleitos, alguns dos quais caíram daquele estado de perfeição em que Deus os criara, para eterna perdição deles; e os outros, pela graça de Deus, permaneceram firmes e continuaram em seu primitivo estado. Os demônios e os maus espíritos são depravados que são inimigos de Deus e de todo bem, no máximo de sua capacidade, como assassinos que lutam pela ruína da igreja e de cada um dos seus membros, e pela destruição de todos, com os seus vis estratagemas; e, portanto, por sua iniqüidade, estão sentenciados à perdição eterna, em diária expectação dos seus horríveis tormentos”. Até o presente, os católicos romanos geralmente consideravam os anjos como espíritos puros, enquanto que alguns protestantes, como Emmons, Ebrard, Kurtz, Delitzsch e outros, ainda lhes atribuíam algum tipo especial de corpo. Mas a grande maioria dos últimos tinha o conceito oposto. Swedenborg sustentava que todos os anjos eram originariamente homens e existem em forma corporal. Sua posição no mundo angélico depende de sua vida neste mundo. O racionalismo do século dezoito negava sem rebuços a existência dos anjos e explicava o que a Bíblia ensina a respeito deles como uma espécie de acomodação. Alguns teólogos liberais modernos consideram que vale a pena reter a idéia fundamental expressa na doutrina dos anjos. Eles vêem nela uma representação simbólica do cuidado protetor de Deus e de Sua disposição para dar ajuda e socorro. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 135)