terça-feira, 1 de outubro de 2013

CRIAÇÃO PROPICIA AO MUNDO UMA EXISTÊNCIA DISTINTA E, TODAVIA, SEMPRE DEPENDENTE

a. O mundo tem existência distinta. Quer dizer que o mundo não é Deus, nem alguma parte de Deus, mas algo absolutamente distinto de Deus; e que difere de Deus, não meramente em grau, mas em suas propriedades essenciais. A doutrina da criação implica que, enquanto Deus é auto-existente e auto-suficiente, infinito e eterno, o mundo é dependente, finito e temporal. Um jamais poderá transformar-se no outro. Esta doutrina é um obstáculo absoluto para a antiga idéia de encarnação, bem como para todas as teorias panteísticas. O universo não é a forma de existência de Deus, nem a aparência fenomênica do Absoluto: e Deus não é simplesmente a vida ou a alma ou lei interna do mundo, mas frui Sua vida pessoal, eternidade completa, acima do mundo, com absoluta independência dele. Ele é o Deus transcendente, glorioso em santidade, temível em louvores, que opera maravilhas. Esta doutrina apóia-se em passagens da Escritura que (1) atestam a existência distinta do mundo, Is 42.5; At 17.24; (2) falam da imutabilidade de Deus, Sl 102.27; Ml 3.6; Tg 1.17; (3) traçam uma comparação entre Deus e a criatura, Sl 90.2: 102.25-27; 103. 15-17; Is 2.21; 22.17, etc.; e (4) falam do mundo como pecaminoso ou jazendo no pecado, Rm 1.18-32; 1 Jo 2.15-17, etc. b. O mundo é sempre dependente de Deus. Apesar de Deus ter dado ao mundo uma existência distinta da Sua, não se afastou do mundo após havê-lo criado, mas continuou na mais estreita conexão com ele. O universo não é como um relógio a que Deus deu corda e deixou andar sem mais nenhuma intervenção divina. Esta concepção deísta da criação não é nem bíblica nem científica. Deus não é somente o Deus transcendente, infinitamente exaltado acima de todas as Suas criaturas; é também o Deus imanente, presente em cada parte da Suas criação, e cujo Espírito age no mundo inteiro. Está essencialmente presente em todas as Suas criaturas, e não apenas per potentiam (por Seu poder), mas não está presente em cada uma delas da mesma maneira. Sua imanência não deve ser interpretada como extensão ilimitada através de todos os espaços do universo, nem como uma presença participativa, estando em parte aqui e em parte ali. Deus é espírito, e exatamente porque é espírito está presente em todos os lugares de modo completo. Dele se diz que enche o céu e a terra, Sl 139.7-10; Jr 23.24, constitui a esfera em que vivemos, nos movemos e existimos At 17.28, renova a face da terra por Seu Espírito, Sl 104.30, habita nos quebrantados de coração. Sl 51.11; Is 57.15, e na igreja como Seu templo, 1 Co 3.16; 6.19; Ef 2.22. Tanto a transcendência como a imanência, acham expressão numa mesma passagem da Escritura, a saber, Ef 4.6, onde o apóstolo diz que temos “um só Deus e pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. A doutrina da imanência divina foi dilatada a ponto de confundir-se com o panteísmo em grande parte da teologia moderna. O mundo, particularmente o homem, foi considerado como a manifestação fenomênica de Deus. A “teologia da crise”, assim chamada, representa forte reação a essa posição. Às vezes se pensa que esta teologia, com sua ênfase à “infinita diferença qualitativa” entre o tempo e a eternidade, a Deus como o “totalmente Outro” e o Deus oculto, e à distância que existe entre Deus e o homem, naturalmente elimina a imanência de Deus. Todavia, Brunner dá-nos a certeza de que não é assim. Diz ele: “Tem-se dito muito absurdo acerca da ‘teologia bartiana’, de que só tem percepção quanto à transcendência de Deus, e não quanto à Sua imanência. Como se nós também não estivéssemos cientes do fato de que Deus, o Criador, sustenta todas as coisas pelo Seu poder, de que Ele imprimiu a marca da Sua divindade no mundo e criou o homem à Sua imagem”. E Barth diz: “Deus estaria morto, se movesse o Seu mundo só fora dele, se Ele fosse uma ‘coisa em Si mesmo’, e não Aquele que é Um em todos, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, o princípio e o fim”. Estes homens se opõem à moderna concepção panteísta da imanência divina, e também à idéia de que, em virtude desta imanência, o mundo é uma luminosa revelação de Deus. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 128)