terça-feira, 1 de outubro de 2013

Número e organização dos Anjos

1. SEU NÚMERO. A Bíblia não contém nenhuma informação definida sobre o número dos anjos, ma mostra com muita clareza que constituem um poderoso exército. São repetidamente mencionados como exército dos céus ou de Deus, e esta expressão só por si já indica um grande número. Em Dt 33.2 lemos que “O Senhor veio de Sinai... das miríades de santos”, e m Sl 68.17 o poeta canta, “Os carros de Deus são vinte mil, sim, milhares de milhares. No meio deles está o Senhor: o Sinai tornou-se em santuário”. À pergunta de Jesus, dirigida a um espírito imundo, a resposta foi: “Legião é o meu nome, porque somos muitos”, Mc 5.9, 15. Nem sempre as legiões romanas eram numericamente iguais, mas em diferentes ocasiões variavam de 3000 a 6000 legionários. Em Getsêmani Jesus disse a um discípulo que queria defende-lo dos que vieram prende-lo: “Acaso pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?”, Mt 26.53. E finalmente, lemos em Ap 5.11: “Vi, e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares”. Em vista desses dados todos, é perfeitamente seguro dizer que os anjos constituem uma imensurável companhia, um poderoso exército. Eles não formam um organismo como a humanidade, pois são espíritos que não se casam e não nascem uns dos outros. Seu número total e completo foi criado no princípio; não há mais aumento em suas fileiras. 2. SUAS ORDENS. Conquanto os anjos não constituam um organismo, evidentemente estão organizados de algum modo. Isto decorre do fato de que, ao lado do nome geral “anjo”, a Bíblia emprega certos nomes específicos para indicar diferentes classes de anjos. O nome “anjo”, com o qual designamos de maneira geral os espíritos superiores, não é um nomem naturae na Escritura, mas, sim, um nomem officii. A palavra hebraica mal’ak significa simplesmente mensageiro, e serve para designar alguém que é enviado por homens, Jó 1.14; 1 Sm 11.3, ou por Deus, Ag 1.13; Ml 2.7; 3.1. O termo grego angelos também é freqüentemente aplicado a homens, Mt 11.10; Mc 1.2; Lc 7.24; 9.51; Gl 4.14. Não há na Escritura um nome geral, especificamente distintivo, para todos os seres espirituais. Eles são chamados filhos de Deus, Jó 1.6; 2.1; Sl 29.1; 89.6, espíritos, Hb 1.14; santos, Sl 89.5, 7; Zc 14.5; Dn 4.13, 17, 24. Contudo, há diversos nomes específicos que indicam diferentes classes de anjos. a. Querubins. A escritura menciona repetidamente os querubins. Eles guardam a entrada do paraíso, Gn 3.24, observam o propiciatório, Êx 25.18, 20; Sl 80.1; 99.1; Is 37.16; Hb 9.5, e constituem a carruagem de que Deus se serve para descer à terra, 2 Sm 22.11; Sl 18.10. Em Ez 1 e Ap 4 são representados como seres vivos em várias formas. Estas representações simbólicas servem simplesmente para demonstrar o seu extraordinário poder e majestade. Mais que outras criaturas, eles foram destinados a revelar o poder, a majestade e a glória de Deus, e a defender a santidade de Deus no jardim do Éden, no tabernáculo, no templo e na descida de Deus à terra. b. Serafins. Os serafins constituem uma classe de anjos proximamente relacionada com a anterior. São mencionados somente em Is 6.2,6. Também são representados simbolicamente em forma humana, mas com seis asas, duas cobrindo o rosto, duas os pés, e duas para a pronta execução das ordens do Senhor. Diferentemente dos querubins, permanecem como servidores em torno do trono do Rei celestial, cantam louvores a Ele e estão sempre prontos a fazer o que Ele manda. Enquanto que os querubins são os anjos poderosos, os serafins podem ser considerados os nobres entre os anjos. Ao passo que aqueles defendem a santidade de Deus, estes atendem ao propósito da reconciliação, e assim preparam os homens para aproximar-se apropriadamente de Deus. c. Principados, potestades, tronos e domínios. Em acréscimo aos anteriores, a Bíblia fala de certas classes de anjos, que ocupam lugares de autoridade no mundo angélico, como archai e Exouxiai (principados e potestades), Ef 3.10; Cl 2.10, thronoi (tronos), Cl 1.16, kyreotetoi (domínios), Ef 1.21; Cl 1.16 (nesta passagem, traduzido por “soberanias”, Almeida. Autorizada), e dynameis (poderes), Ef 1.21; 1 Pe 3.22. Estes nomes não indicam diferentes espécies de anjos, mas diferenças de classe ou de dignidade entre eles. d. Gabriel e Miguel. Diversamente de todos os outros anjos, estes dois são mencionados nominalmente. Gabriel * aparece em Dn 8.16; 9.21; Lc 1.19,26. A grande maioria dos comentadores o considera como um anjo criado, mas alguns deles negam que o nome Gabriel seja um nome próprio, vendo-o como um substantivo comum, com o sentido de homem de Deus – um sinônimo de anjo. Mas esta posição é insustentável. Alguns comentadores antigos e recentes vêem nele um ser incriado, alguns sugerindo até que ele poderia ser a terceira pessoa da Trindade Santa, sendo Miguel a segunda. Mas uma simples leitura das passagens em questão mostra a impossibilidade dessa interpretação. Gabriel pode ser um dos sete anjos dos quais se diz que se acham diante de Deus (Ap 8.2, Comp. Lc 1.19). Parece que sua função principal é servir de intermediário e intérprete de revelações divinas. O nome Miguel (literalmente, “quem como Deus?”) tem sido interpretado como um designativo da segunda pessoa da Trindade. Mas isto não é mais sustentável que a identificação de Gabriel com o Espírito Santo. Miguel é mencionado em Dn 10.13, 21; Jd 9; Ap.12.7. Por ser chamado “o arcanjo” em Jd 9, e pela expressão utilizada em Ap 12.7, parece que ele ocupa um importante lugar entre os anjos. As passagens de Daniel também indicam o fato de que ele é um príncipe entre eles. Vemos nele o valente guerreiro a librar as batalhas de Jeová contra os inimigos de Israel e contra os poderes malignos do mundo dos espíritos. Não é impossível que o título de “arcanjo” também se aplique a Gabriel e a uns poucos anjos mais. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 139)