terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Natureza dos Anjos

Sob o título, vários pontos pedem consideração. 1. DIFERENTEMENTE DE DEUS, OS ANJOS SÃO SERES CRIADOS. Às vezes tem sido negada a criação dos anjos, mas é ensinada com clareza na Escritura. Não é certo que as passagens que falam da criação do exército do céu (Gn 2.1; Sl 33.6; Ne 9,6) se referem à criação dos anjos, e não do exército de astros; mas Sl 148.2,5 e Cl 1.16 falam claramente da criação dos anjos (comp. 1 Rs 22.19; Sl 103.20,21). A ocasião em que foram criados não pode ser fixada definidamente. A opinião de alguns, baseada em Jó 38.7, de que foram criados antes de todas as outras coisas, realmente não tem o apoio da Escritura. Quanto sabemos, nenhuma obra criadora precedeu à criação dos céus e da terra. A passagem do Livro de Jó (38.7) na verdade ensina, com veia poética, que eles estavam presentes na fundação do mundo, como também as estrelas estavam, não, porém, que eles existiam antes da criação primária de céus e terra. A idéia de que a criação dos céus foi completada no primeiro dia, e que a criação dos anjos foi simplesmente uma parte da obra do dia, é também uma suposição não comprovada, embora o fato de que a declaração de Gn 1.2 só se aplica à terra pareça favorece-la. Possivelmente a criação dos céus não foi completada num só momento, como tampouco a da terra. Ao que parece, a única afirmação segura é que foram criados antes do sétimo dia. Pelo menos é o que se deduz de passagens como Gn 2.1; ex 20.11; Jó 38.7; Ne 9.6. 2. OS ANJOS SÃO SERES ESPIRITUAIS E INCORPÓREOS. Este ponto sempre foi debatido. Os judeus e muitos dos primeiros “pais da igreja” lhes atribuíam corpos tênues ou ígneos; mas a igreja da Idade Média chegou à conclusão de que são seres espirituais puros. Todavia, mesmo depois disso alguns teólogos católicos romanos, arminianos, e até mesmo luteranos e reformados (calvinistas), lhes atribuíram certa corporalidade, sumamente sutil e pura. Consideravam a idéia de uma natureza puramente espiritual e incorpórea metafisicamente inconcebível, bem como incompatível com a noção de criatura. Também recorriam ao fato de que os anjos estão sujeitos a limitações espaciais, movem-se de lugar a lugar, e às vezes eram vistos pelos homens. Mas todos estes argumentos são mais que neutralizados pelas explícitas afirmações da Escritura de que os anjos são pneumata, Mt 8.16; 12.45; Lc 7.21; 8.2; 11.26; At 19.12; Ef 6.12; Hb 1.14. Não têm carne e ossos, Lc 24.39, não se casam, Mt 22.30, podem estar presentes em grande número num espaço muito limitado, Lc 8.30, e são invisíveis, Cl 1.16. Passagens como Sl 104.4 (comp. Hb 1.7); Mt 22.30; e 1 Co 11.10 não provam a corporalidade dos anjos. Tampouco a provam as descrições simbólicas dos anjos na profecia de Ezequiel e no Livro de Apocalipse, nem os seus aparecimentos em formas corporais, embora seja difícil dizer se os corpos que eles assumiram em certas ocasiões eram reais ou apenas aparentes. É evidente, porém, que eles são criaturas e, portanto, limitados e finitos, apesar de terem mais livre relação com o espaço e o tempo do que o homem. Não podemos atribuir-lhes ubi definitivum (localização definida). Eles não podem estar em dois ou mais lugares simultaneamente. 3. SÃO SERES RACIONAIS, MORAIS E IMORTAIS. Quer dizer que são seres pessoais, dotados de inteligência e vontade. O fato de que são seres inteligentes parece inferir-se imediatamente do fato de que são espíritos; mas também a Bíblia ensina isso explicitamente, 2 Sm 14.20; Mt 24.36; Ef 3.10; 1 Pe 2.11. Embora não oniscientes, são superiores aos homens em conhecimento, Mt 24.36. Além disso, têm natureza moral e, nesta qualidade, estão sob obrigação moral; são recompensados pela obediência, e punidos pela desobediência. A Bíblia fala dos anjos que permaneceram leais como “santos anjos”, Mt 25.31; Mc 8.38; Lc 9.26; At 10.22; Ap 14.10, e retrata os que caíram como mentirosos e pecadores, Jo 8.44; 1 Jo 3.8-10. os anjos bons são também imortais, no sentido de que não estão sujeitos à morte. Quanto a isso se diz que os santos do céu são semelhantes a eles, Lc 20.35, 36. Em acréscimo a isso tudo, é-lhes atribuído grande poder. Eles formam o exército de Deus, uma hoste de heróis poderosos, sempre prontos a fazer o que o Senhor mandar, Sl 103.20; Cl 1.16; Ef 1.21; 3.10; Hb 1.14; e os anjos maus formam o exército de Satanás, empenhados em destruir a obra do Senhor, Lc 11.21; 2 Ts 2.9; 1 Pe 5.8. 4. HÁ ANJOS BONS E ANJOS MAUS. A Bíblia dá pouca informação a respeito do estado original dos anjos. Lemos, porém, que no fim de Sua obra criadora Deus viu tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Além disso, Jo 8.44; 2 Pe 2.4; Jd 6 pressupõe uma boa condição original de todos os anjos. Os anjos bons são chamados “anjos eleitos”, 1 Tm 5.21. Estes evidentemente receberam, além da graça de que foram dotados todos os anjos, graça suficiente para habita-los a manter a sua posição, uma graça especial, de perseverança, pela qual foram confirmados em sua condição. Tem havido muita especulação inútil acerca do tempo e do caráter da queda dos anjos. Contudo, a teologia protestante em geral contentou-se em saber que os anjos bons conservaram o seu estado original, foram confirmados em sua condição, e agora são incapazes de pecar. São chamados não somente santos anjos, mas também anjos de luz, 2 Co 11.14. Sempre contemplam a face de Deus, Mt 18.10, servem-nos de exemplos na prática da vontade de Deus, Mt 6.10, e têm vida imortal, Lc 20.36. (Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 137)