terça-feira, 1 de outubro de 2013

Teorias Divergentes a Respeito da origem do Mundo

A doutrina bíblica não é a única maneira de ver a origem do mundo. Três teorias alternativas, que foram sugeridas, merecem breve estudo aqui. 1. TEORIA DUALISTA. Nem sempre o dualismo é apresentado de modo igual, mas, em sua formação mais usual, estabelece dois princípios auto-existentes, Deus e a matéria, distintos um do outro e, ao mesmo tempo, co-eternos. Contudo, a matéria original é tida apenas como uma substância negativa e imperfeita (às vezes considerada má), que é subordinada a Deus e instrumento da Sua vontade (Platão, Aristóteles, os gnósticos, os maniqueus). Segundo essa teoria, Deus não é o Criador, mas apenas o estruturador e artífice do mundo. Essa conceituação é objetável por várias razões: (a) É errônea em sua idéia fundamental de que era preciso existir alguma substância da qual foi criado o mundo, desde que ex nihilo nihil fit. Esta máxima só é verdadeira como expressão da idéia de que nenhum evento tem lugar sem alguma causa, e é falsa se tem o sentido de afirmar que nada poderia ser feito, a não ser com o uso de material preexistente. A doutrina da criação não dispensa uma causa absolutamente suficiente do mundo na vontade soberana de Deus. (b) Sua descrição da matéria como eterna é fundamentalmente falha. Se a matéria fosse eterna, teria que ser infinita em todos os sentidos, pois não poderia ser infinita num aspecto (duração) e finita noutros. Mas é impossível que dois infinitos ou absolutos coexistam. O absoluto e o relativo podem existir simultaneamente, mas só pode haver um ser absoluto e auto-existente. (c) É antifilosófico postular duas substâncias eternas, quando uma só causa auto-existente é perfeitamente adequada para explicar todos os fatos. Por essa razão a filosofia não se satisfaz com uma explicação dualista do mundo, mas procura dar uma interpretação monistas do universo. (d) Se a teoria presume – como faz nalgumas de suas formas – a existência de um princípio eterno do mal, não há absolutamente nenhuma garantia de que o bem triunfará sobre o mal no mundo. Ao que parece, aquilo que é eternamente necessário terá que se manter sempre, e jamais cair. 2. A TEORIA DA EMANAÇÃO, EM VÁRIAS FORMAS. Essa teoria pretende que o mundo é uma emanação necessária do Ser divino. De acordo com ela, Deus e o mundo são essencialmente um, sendo este a manifestação fenomênica daquele. A idéia de emanação é característica de todas as teorias panteístas, embora nem sempre apresentada da mesma maneira. Aqui, de novo, podemos registrar várias objeções: (a) Este conceito da origem do mundo virtualmente nega a infinidade e a transcendência de Deus por aplicar-lhe um princípio de evolução, de crescimento e progresso, que caracteriza somente o finito e imperfeito; e por identifica-lo com o mundo. Assim, todos os objetos visíveis vêm a ser apenas modificações transitórias de uma essência auto-existente, inconsciente e impessoal, que pode ser denominada Deus, natureza, ou Absoluto. (b) Essa teoria furta a soberania de Deus, despojando-o do Seu poder de auto-determinação em relação ao mundo. Fica reduzido à base oculta da qual emanam necessariamente as criaturas, e que determina o seu movimento mediante uma inflexível necessidade da natureza. Ao mesmo tempo, priva todas as criaturas racionais da sua relativa independência, da sua liberdade e do seu caráter moral. (c) Ela compromete igualmente a santidade de Deus de modo deveras grave. Faz de Deus o responsável por tudo quanto acontece no mundo, tanto pelo mal como pelo bem. Esta é, naturalmente, uma gravíssima conseqüência da teoria, conseqüência da qual os panteístas nunca puderam escapar. 3. A TEORIA DA EVOLUÇÃO. Às vezes se fala da teoria da evolução como se pudesse ser uma substituta da doutrina da criação. Mas, evidentemente é um erro. É certo que não pode substituir a criação no sentido de originação absoluta, desde que pressupõe alguma coisa que evolui, e esta, em última instância, tem que ser eterna ou criada, de maneira que, depois de tudo, o evolucionista precisa escolher entre a eternidade da matéria e a doutrina da criação. No máximo, pode-se imaginar que serve como substituta da chamada criação secundária, mediante a qual foi dada forma à substância já existente. (a) Alguns evolucionistas, como Haeckel, por exemplo, crêem na eternidade da matéria, e atribuem a origem da vida à geração espontânea. Mas, a crença na eternidade da matéria é não só decididamente anticristã e até mesmo ateísta; é também geralmente desacreditada. A idéia de que a matéria, com a energia como sua propriedade universal e inseparável, é suficiente para a explicação do mundo, acha pouco apoio nos círculos científicos atuais. Sente-se que um universo material, composto de partes finitas (átomos, elétrons etc.) não pode ser infinito; e aquilo que está sujeito a constante mudança não pode ser eterno. Ademais, vai ficando cada vez mais claro que a matéria e a força ou energia cegas não podem explicar a vida e a personalidade, a inteligência e a vontade livre. E a idéia de geração espontânea é pura hipótese, não somente não verificada, mas também praticamente desacreditada. A lei geral da natureza, ao que parece, é “omne vivum e vivo” ou “ex vivo” (tudo que é vivo provém do que é vivo). (b) Outros evolucionistas advogam o que chamam de evolução teísta. Esta postula a existência de Deus por trás do universo, que age nele, em geral de acordo com as inalteráveis leis da natureza e por meio de forças físicas somente, mas nalguns casos mediante intervenção miraculosa, como, por exemplo, no caso do início absoluto, do início da vida e do início da existência racional, como também moral. A isso muitas vezes se tem chamado zombeteiramente, teoria do “tapa-brecha” (“stop-gap”). É realmente uma vergonha, dizer que Deus é chamado, a intervalos periódicos, a socorrer a natureza, remediando os abismos vazios que bocejam aos pés dela. A doutrina da criação não é isso, nem tampouco uma coerente teoria da evolução, porquanto se define a evolução como “uma série de alterações graduais e progressivas, efetuadas por meio de forças residentes” (Lê Conte).* De fato, evolução teística é uma contradição de termos. É tão destrutiva para a fé na doutrina bíblica da criação como a evolução naturalista; e recorrendo à atividade criadora de Deus de vez em quando, anula também a hipótese evolucionista. Além dessas duas conceituações, podemos mencionar também a evolução criadora, de Bérgson, e a evolução emergente, de C. Lloyd Morgan. O primeiro é um panteísta vitalista, cuja teoria envolve a negação da personalidade de Deus; e o último chega, por fim, à conclusão de que não lhe é possível explicar os emergentes, assim chamados, sem incluir algum fator último, que se poderia chamar “Deus”.** (Tologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 132)